sábado, julho 29, 2006

Filogenia dos ancestrais humanos

Cro-Magnon (I)
Estudos actuais, apontam para a hipótese de ter havido duas emigrações para fora de África, que teriam tido lugar em dois períodos diferentes: uma com 700.000 anos teria conduzido ao Homo de Neanthertal, que evoluiu na zona temperada da Europa e no Médio Oriente, outra, que evoluiu em África até aproximadamente 100.000 anos, conduziu ao Homo sapiens sapiens.
O Homo sapiens expande-se através de África, Europa e Ásia, removendo as outras arcaicas populações existentes, provenientes do Homo erectus.
A população do moderno Homo sapiens sapiens, começou a crescer rapidamente há cerca de 50.000 – 40.000 anos, tendo no mesmo período ocorridos a variação entre raças.
É durante este período que emigra para novas regiões. A emigração para as distantes áreas do Norte, coincide com fim de um longo período frio, que começara aproximadamente há 75.000 anos.
Há 50.000 anos, chegam pela primeira vez à Austrália, que como não estava ligada por terra ao sudeste da Ásia, é provável que os primeiros australianos tenham viajado em jangadas. Entre 35.000 – 30.000 anos existiram caçadores de grandes mamíferos no nordeste da Sibéria. Por volta de há 30.000, verificou-se a emigração para América do Norte, através do estreito de Bering.
Esta ligação intercontinental entre a Sibéria e a América do Norte, é devido ao abaixamento do nível do mar durante a última Idade do Gelo.

A trágica consequência da emigração do homem nas novas regiões, foi a extinção de muitas espécies animais indígenas dessas áreas. Há 11.000 anos os caçadores humanos do Novo Mundo, tinham extinto 135 espécies de mamíferos, incluindo ¾ dos grandes mamíferos.
Perseguindo a caça em idas e vindas, por milénios, os bandos percorriam vastas extensões, e assim, espalharam-se por todos os continentes.
O Homo sapiens sapiens entrou na Europa há cerca de 35.000 anos e perpetuou-se até hoje.
Com cerca de 28.000 anos, foi encontrado, pela primeira vez, em Les Eysie, França, os restos fósseis do Homo sapiens sapiens, a que foi dado o nome de Homem de Cro Magnon.
Os Cro magnons apresentavam grandes diferenças em relação aos Neanthertais já existentes.
Um maior cérebro, com um volume médio de 1.300 cm3.


O crânio é menor mas mais comprido e a face menos alongada, com menor prognatismo. Um alto e arqueado crânio com uma alta, suave e vertical testa, um sulco da testa menos proeminente e dentes mais pequenos. O supro orbital desapareceu. A parte traseira do crânio não apresenta o toro transversal do erectus, nem o bolo occipital do Neanthertal.
Anatomicamente são caracterizados por uma construção menos robusta do seu corpo e esqueleto que os machos que os Neanthertais.
As fêmeas são só ligeiramente mais pequenas, na média, que os machos, diminuindo, assim, o dimorfismo sexual.
Estes primeiros Europeus, com o auxílio dos recursos da sua avançada cultura e tecnologia, foram capazes de se especializarem e competirem com os grandes carnívoros pelas suas presas, e adaptarem-se às severas condições de vida da Idade do Gelo. Vivendo perto do gelo perseguiam os caribus e renas; os caçadores na Europa Central e Ocidental praticavam a perigosa caça ao mamute.


Os locais onde o Homo sapiens sapiens viveu, apresentam evidências de que sepultavam os seus mortos, o que demonstra já a existência de uma prática cultural. Muitos enterramentos da Europa Central, datam de há 20.000 anos.


A figura anterior, à esquerda,representa um múltiplo enterramento. O indivíduo do centro apresenta uma escoliose da espinha, um crânio assimétrico, e a perna direita mal desenvolvida. O macho à esquerda apresenta uma estaca que teria penetrado na anca. O grande macho, à direita, está deitado com a face para baixo. O seu crânio estava ornamentado com colares de dentes de lobo, e coberto com pele de raposa do ártico e lascas de marfim.
A pintura da direita representa a reconstituição do enterramento de um caçador de mamutes, encontrado em Predmostí, na Europa Central. O vermelho do ocre está a ser espalhado na sepultura, a qual será coberta com parte da omoplata de um mamute.
Continua.

sábado, julho 22, 2006

HOPE

Ás 23.00 horas do dia 5 de Março de 2210, algures nos Estados Unidos da América,
foi premido o botão que ordena o lançamento do míssil portador da nova arma de destruição massiva. Uma arma tão letal, que destruirá tudo o que estiver vivo num raio de 500Km. Objectivo, a província de Sheanxi no centro da China.


Nos primeiros cem anos do terceiro milénio, devido ao contínuo crescimento da degradação atmosférica, o buraco na camada de ozono atingiu 1/5 da atmosfera da Terra.
O consequente aquecimento levou ao desaparecimento das calotes polares e ao degelo dos glaciares, que fizeram submergir 1/3 da terra seca e propiciou grandes alterações climatéricas, com amplitudes térmicas extremas, quer sazonais quer diurnas. A inclemência do clima concorreu, por sua vez, para a aridez progressiva dos solos.
O espaço seco dos continentes diminuiu drasticamente, e a falta de espaço originou concentrações populacionais impensáveis, reduzindo cada vez mais o solo ainda produtivo; se não morres porque ainda tens espaço para por os pés, morres porque não tens onde cultivares o que comes.
Como náufragos que se debatem por um lugar na jangada, a população mundial, destrói-se freneticamente, na procura de espaço para subsistir, que cada vez é mais reduzido.
Já não era a religião, a economia ou qualquer pretensão hegemónica, razões de outras guerras, o motivo desta era conquista de espaço vital para sobreviverem, sendo o direito da ocupação o direito do mais forte.
Durante os últimos cem anos, as potências lançam-se numa corrida à matança: quem primeiro suprimir as populações a eliminar, ganham o direito à ocupação. O genocídio não é de unidades de milhões, mas milhares de milhões.
Como a conquista de todo o espaço vital não era suficiente para as necessidades das potências, passou o próprio espaço destas a ser cobiçado por elas mesmas. E nesta pretensão, os Estados Unidos da América, tomaram a iniciativa em 5 de Março de 2210.
A sobrevivência a este Apocalipse, segundo os cientistas, é de probabilidade extremamente baixa, quase nula. Com o progressivo aumento do buraco do ozono, a Terra irá sofrer um aquecimento solar tão grande, que será humanamente impossível viver com tais temperaturas.
Um grupo de cientistas canalizou as suas preocupações, não para evitar o irremediável, mas para que a espécie em si não desapareça, ainda que não tenha sido descoberto outro planeta com possibilidades de lhe dar continuidade, num raio espacial, a uma distância de 100 anos, do tempo da Terra.
Um dos problemas que subsistia, era capacidade das naves não ser tão grande que pudesse albergar uma multidão de emigrantes, e a possibilidade de construir milhares de naves não ser exequível.
Também para a maior parte deles, não era admissível o último acto desumano da humanidade, decidir quem fica para morrer e quem irá tentar a sua chance de sobrevivência. Como seria possível salvar a nossa espécie?



Ano 2300 da nossa era, uma nave com cerca de 100 metros, formada por cinco corpos acoplados, vagueia no espaço, há cerca de 100 anos, com rumo indefinido. Na parte exterior da sua fuselagem não existe qualquer identificação de nacionalidade ou proveniência, apenas em letras bem grandes se pode ler HOPE.
Sem tripulação, totalmente computorizada, tem a vontade própria para que foi programada. Tudo nela funcionou, funciona e funcionará, gerido unicamente pelo computador. No primeiro corpo, está o centro nevrálgico, o “cérebro” de todo o sistema, no último, os mecanismos de impulsão que lhe proporcionam a deslocação e as manobras.
Os dois seguintes, grandes armazéns, acumulam todas as mercadorias que foram relacionadas como fundamentais para o projecto.
No central, o mais sofisticado, o seu interior tem a aparência de um laboratório, onde os terminais do computador são quatro robots, que executam as tarefas programadas.
Num dos lados do módulo, a todo o comprimento, existem diversos silos com instrumentos de regulação e vigilância, sob constante atenção dos robots.
Neles viajam, em estado de vida latente, que foi preparada para durar milhares de anos, triliões e triliões de espermatozóides, milhares de óvulos e milhares da mais recente descoberta da ciência, úteros.
A forma encontrada pelos cientistas para fazerem emigrar milhares de humanos, num espaço reduzido.
Se algum dia a nave encontrar um planeta habitável pelo homem, os óvulos de pois de fecundados pelos espermatozóides, serão inseridos nos úteros, onde terá lugar a formação de novas vidas.
Tudo será assistido por dezenas de robots que se encontram armazenados, bem como os cuidados com os recém nascidos, o ensino dos adolescentes, e mais tarde a formação dos adultos, transmitindo-lhes todos os conhecimentos necessários, para começarem uma nova vida.
Tudo o que necessitarão para o êxito do projecto, está nos módulos de armazenagem, sementes, máquinas, livros, etc.
A grande esperança dos cientistas que criaram o projecto e ficaram na Terra, é que estes seres, apesar de serem humanos, por não terem tido contacto com a humanidade, estejam imunes à sua maldade.

sábado, julho 15, 2006

Palmira

Quando hoje os turistas visitam as ruínas, de arquitectura helenística de Palmira, perdidas num oásis do deserto sírio, a meio caminho entre Damasco e o Eufrades,
muitos deles possivelmente, não sabem que estão em presença do que resta do maior Entreposto Comercial da Antiguidade.
Fundada em 280 a.C. por uma guarnição militar macedónica, estabelecida pelos Selêncidas, viria a crescer de importância na zona até se tornar ponto obrigatório de todas as rotas das caravanas e lugar privilegiado de trocas comerciais.
Com autonomia tolerada pelos Romanos, que para além do pessoal aduaneiro que controlava e onerava com impostos as mercadorias estrangeira, não se intrometia na sua política interna
O comércio enriqueceu o oásis, onde era ponto obrigatório de paragem, da rota da seda, da rota do incenso, bem como caravanas de especiarias, pedras preciosas, perfumes, pelo que os comerciantes de Palmira depressa a fizeram competir com outras cidades dando-lhe uma imagem externa configurada por sumptuosos edifícios de modelo Helénico.
Mas importância de Palmira não era só comercial, devido à sua situação geográfica, era um ponto estratégico da maior importância, pois ficava na fronteira dos dois maiores inimigos na época. Os Partos e Roma. A sua neutralidade elegeu-a como lugar onde os Partos e os Romanos podiam trocar as suas mercadorias.
Por volta de 250, o xeque beduíno Odenato, que tinha tomado conta do oásis, conseguiu de uma forma surpreendente tornar-se o senhor de Palmira, no seio das duas potências beligerantes.
Odenato, tornou-se o melhor aliado de Roma, defendendo eficazmente os seus interesses na guerra contra os Partos e a sua importância foi tal que chegou até a imiscuir-se nos assuntos internos do Império Romano.
Roma recompensou os seus préstimos nomeando-o governador-geral do império para todo o Oriente.
A inveja de vários oficiais romanos, levou-os ao assassinato de Odenato em 267.
Como seu filho era menor, foi sua mãe, Zenóbia, quem assumiu o governo. Alguns historiadores põem em evidência o que esta mulher era para a Antiguidade: “No seu rosto de cor trigueira escura, os seus belíssimos olhos negros resplandeciam com um fogo divino e os seus dentes, de uma brancura deslumbrante, pareciam pérolas. Na Assembleia Popular apresentava-se como um rei, com o seu capacete e uma capa de púrpura adornada de pedras preciosas.”
Mas Palmira era demasiado pequena para as ambições desta mulher. Primeiro apodera-se de toda a Síria, de pois em 268, aproveitando o esforço romano a Ocidente, enviou ao Egipto um exército, que lhe deu a posse no Nilo, o que melhoraria consideravelmente os contactos comerciais de Palmira com o Ocidente. Ao mesmo tempo ocupou o antigo Reino Nabateu, onde se encontrava o importante centro caravaneiro de Petra. Deste modo, Zenóbia tomava conta de todos os pontos caravaneiros do Próximo Oriente.
Procurou também, penetrar na Ásia Menor e dominar o acesso ao mar Negro, ocupando a Calcedónia, na margem oriental do Bósforo, frente à actual cidade de Istambul.
Esta política era um claro desafio a Roma, que por seu lado se via envolvida na Itália Central em lutas contra os Alamanos e nos Balcãs contra os Godos.
O Imperador Aureliano, prometeu reconhecê-la e ao seu filho como soberanos do Oriente, desde que se retirassem do Egipto. Apostando nas dificuldades dos Romanos, recusou, nomeando-se a si própria e ao seu filho imperadores do Oriente.
Mas Roma era Roma com inesgotáveis recursos bélicos, e Aureliano à frente de um exército enfrentou as tropas de Palmira em Antoquia, às quais infringiu uma pesada derrota. Na sua marcha para Palmira, em Emesa travou a batalha decisiva onde a cavalaria do império de Palmira foi derrotada pela a sua infantaria. Andados mais cem quilómetros e estava diante das muralhas de Palmira.
“Ordeno a rendição da cidade e prometo segurança para a tua vida, Zenóbia, com a condição de tu e os teus fiéis venham fixar residência num lugar que indicarei e que o excelentíssimo Senado terá aprovado. Deverás entregar as jóias, a prata, o ouro, a seda, os cavalos e os camelos ao Tesouro Público romano; os cidadãos de Palmira não perderão os seus direitos.”
Zenóbia respondeu-lhe: “prefiro morrer como rainha a viver em condições que entendo serem indignas.”
Contava com a ajuda, sobretudo dos povos persas e de tribos árabes do deserto, que nunca chegaram. Desesperada, tentou fugir para território persa com o filho, mas o destino quis que ela fosse capturada pelos Romanos.
Deste modo, a riqueza de Palmira, acumulada após mais de três séculos de comércio, foi transferida para o Tesouro Público de Roma, e Zenóbia foi trazida como prisioneira para Roma e incluída na marcha triunfal de Aureliano, à maneira de troféu.
Mais tarde casou com um senador romano e acabou os seus dias como uma distinta matrona romana numa vila em Tibur.

sexta-feira, julho 07, 2006

A metamorfose

No primeiro dia reconheceu que ao não permitir a liberdade de expressão, quer escrita quer falada, não consentindo com isso qualquer tipo de contestação à sua actuação, especialmente da parte de alguma elite intelectual, ela incorria numa impopularidade perante a sociedade, que pela indução intelectual aspirava à Liberdade, não sabendo muito bem, em muitos dos casos, o que isso significava.
Repensou a sua actuação e chegou à conclusão cientifica de que a diferença entre o proibir a contestação ou não lhe dar ouvidos ia dar na mesma coisa, com a vantagem de lhe ser reconhecido o mérito de conceder a liberdade de contestar, condição que lhe parecia suficiente para satisfazer as massas.
E no final do dia, permitiu a liberdade de expressão.

No segundo dia olhou para as prisões e para a polícia política, os suas seus instrumentos de repressão, que a tornava tão odiada, mas se no dia anterior tinha permitido a liberdade de expressão e contestação ao desbarato, estes instrumentos já não faziam mais do que dar despesa sem qualquer utilização útil.
Antes do final do dia, fechou as prisões e despediu a polícia. Mas como é bom andar sempre a par das novidades, autorizou as escutas telefónicas indiscriminadamente.

No terceiro dia os fumos da poluição trouxeram-lhe à memória o patronato, implicitamente lembrou-se como defendia e bem os seus interesses, os quais contemplavam a exploração da mão de obra, parcos direitos laborais e muito especialmente o não direito à greve. O pacto social vigente era de todos quietos e calados para receberem algumas migalhas, porque o bolo ficava noutras mesas. Por tudo isto a sua imagem era constantemente vilipendiada pelo descontentamento e contestação da classe laboral, que ansiava pelo alvitrado direito à greve.
Pensou, pensou, e concluiu que recusar o direito à greve tinha o mesmo efeito prático que o dar, caso fossem introduzido algum reforço legislativo neoliberal. Todos ficariam contentes, uns porque tinham o direito à greve, os outros porque viam nesse reforço legislativo a possibilidade de implementar a precariedade no emprego, o despedimento arbitrário e bloquearem os aumentos salariais.
Nem esperou pelo fim do dia, contente por agradar a todos, a meio da tarde autorizou a direito à greve e fez publicar a legislação laboral de cariz neoliberal.

No quarto dia foi despertada pela gritaria que vinha de um campo de futebol que ficava perto, e falando alto disse: “Ora aí está, é preso por ter cão e é preso por não ter”.
Recriminam-me os intelectuais de dopar o povo com o futebol e com a religião para que não pensem noutras coisas, são o ópio do povo dizem eles. Mas se faço a vontade a estes, os outros que estão viciados, esfolam-me vivo, pois já não podem passar sem eles.
Pensou, analisou e concluiu que para uma decisão ter êxito, o fundamental é sempre agradar à maioria, consegue-se que esqueçam o resto e nos aplaudam pelo que decidimos.
E no final do dia ordenou a construção de muitos estádios de futebol, mesmo sem ter dinheiro para o fazer, com a consolação de ficar empenhada por uma boa causa, e apelou ao patriotismo futebolístico. Quanto à religião concedeu à Igreja o direito para deliberar sobre o cardápio dos pecados.

No quinto dia de manhã, quando desfolhava nostalgicamente o livro da “pirata assada” da sua infância, amargamente lembrou-se das injustas acusações que lhe faziam de não educar convenientemente o povo.
Ela que tinha semeado tantas escolas primárias por esse país fora, convencida de que saber fazer o nome e que a soma de dois mais dois era igual a quatro era a cultura base indispensável, via e ouvia os ingratos intelectuais acusarem-na de não dar cultura ao povo, só o permitindo a um pequeno grupo de privilegiados.
Pensou, pensou, e quando já estava a ficar desanimada por não encontrar solução, gritou eureka, quando, num repente, lhe surgiu a chave da solução. Se é cultura que querem, a que faz falta mais aquela que para nada serve, então aqui vai.
No fim do dia liberalizou a abertura das faculdades privadas, com miríades de cursos de que ninguém ainda tinha ouvido falar nem sabiam para que serviam.

No sexto dia acordou constipada, tinha o nariz entupido e alguma febre. Chamou o médico da Caixa a casa. Talvez a terapia não fosse a melhor, mas era barata e podia ser ministrada a todos. Mas até nisso era contestada e acusada de não dar à população os melhores cuidados de saúde, em especial nos hospitalares.
Depois de pensar e repensar como poderia solucionar o problema sem gastar mais dinheiro, chegou à conclusão de que se os hospitais não estivessem sob a responsabilidade do Estado, já ninguém podia reclamar a má qualidade dos serviços.
No fim do dia decretou a privatização dos hospitais, deixando aos privados a responsabilidade da qualidade dos serviços médicos e os lucros que só eram prejuízos para o Estado antes de privatizar.

No sétimo dia descansou, cansada mas feliz pelo que tinha feito, e verificando que o seu nome já não fazia sentido, mudou-o.

sábado, julho 01, 2006





Os Etruscos


Segundo Heródoto, os Etruscos eram originários da Lídia, na Ásia Menor. Uma prolongada fome obrigou-os a emigrar.
É incontestado que a cultura etrusca apresenta traços orientais.
A interpretação dos presságios através do exame das entranhas dos animais sacrificados, semelhantes às efectuadas na Babilónia e do voo das aves, faz parte da arte divinatória dos Orientais que passou para os Etruscos, que, por seu turno a ensinaram aos Romanos.
A introdução do rito da inumação, em face ao rito da incineração, característica dos povos existentes quando da sua chegada. O gosto pela riqueza e pelo fausto sepulcral, são notas dominantes das civilizações orientais.
A arquitectura apresenta semelhanças notáveis com o Oriente. Contrariamente aos templos gregos e aos posteriores romanos, os templos etruscos são construídos sobre uma plataforma elevada, como era comum no Oriente; nota-se nessa construção a influência dos zigguartes dos Sumérios.
A habitação etrusca caracterizava-se por uma casa com um átrio, uma sala nobre na frente da casa e três portas no fundo desta sala davam acesso às divisões interiores. Este modelo de habitação viria a ser copiado pelos Romanos.

Vizinhos, os Etruscos receberam as influências culturais dos gregos, que depressa se torna mais forte do que as orientais, podendo mesmo dizer-se que a arte etrusca é um produto da arte grega; a escultura mostra quanto foi grande a influência das lendas e mitos gregos sobre o espírito dos Etruscos. Faziam adaptações das narrativas ao seu próprio meio, possuindo nomeadamente uma lenda de Ulisses, ainda que se afaste da versão homérica. A própria futura mitologia romana não provem directamente das divindades helénicas, mas de uma versão adaptada pelos Etruscos.
A arte copiava os modelos gregos, contudo os Etruscos imprimiam a esses modelos o seu cunho próprio. Quando entraram pela primeira vez em contacto com a arte grega, esta ainda se encontrava numa fase arcaica da sua evolução, e quando esta passou à fase clássica, a arte etrusca não acompanhou essa evolução. As figuras gregas passaram a representar tipos de ideais, enquanto as etruscas, executadas com um impiedoso realismo, mostram-nos figuras gordas e barrigudas.
Os mais belos tesouros artísticos deixados pelos Etruscos são os seus esplêndidos túmulos, com as paredes ornamentadas com frescos, rivalizando com as câmaras funerárias egípcias.
Para os Etruscos, como para os Egípcios, a morte e as cerimónias fúnebres tinham, no plano religioso grande importância. A morte inspirava aos Etruscos um terror sem limites. Nenhum povo europeu imaginou criaturas mais pavorosas do que os demónios etruscos.
Os Etruscos ornamentavam os seus túmulos com cenas escolhidas entre as mais divertidas da vida terrena, como se quisessem arranjar compensação para a morte.
No início do século V a.C., os Etruscos estavam no auge do seu poder. A Etrúria estava organizada numa liga que reunia doze cidades estado ricas e poderosas, possuindo cada uma completa autonomia. Na sua intervenção na história, as cidades etruscas unidas representavam uma forte potência unida. Em seguida a pressão dos Celtas vindos no Norte, e dos Gregos, vindos do Sul, tornou-lhes a vida mais difícil.
Tanto no mar como em terra, os Etruscos eram uma potência considerável. Era nos seus portos que se fazia o intercâmbio dos produtos entre a Grécia e o Oriente. Aproveitavam o ódio mortal que separava os Fenícios dos Gregos, navegavam até Corinto onde iam levar os produtos à Grécia provenientes do oriente, e navegavam para Cartago levando o artesanato grego.
O comércio e a navegação levaram a riqueza ao país, tornando os Etruscos dependentes de necessidades mais extravagantes de que os seus vizinhos, especialmente os habitantes daquela insípida cidade do Lácio, que mais tarde viria a dominar o mundo, Roma, onde era proverbial a moleza dos efeminados Etruscos.
Nesse tempo o poder dividia-se entre o monarca, o Senado e a Assembleia Curiata. O monarca era vitalício, exercia o poder de chefe político, militar, supremo juiz e supremo sacerdote. O Senado formado pelos trezentos patriarcas, controlava o poder do monarca e indicava três nomes para substitui-lo quando morria. A Assembleia Curiata, composta de patrícios, escolhia qual dos três seria o novo monarca, decidia sobre as guerras e votava as leis propostas pelo Senado.
Os escritores gregos e romanos cantaram a beleza das mulheres etruscas e as pinturas tumulares confirmam o que foi dito por eles. Estas damas passavam, sem dúvida, muito do seu tempo a tratar da sua aparência externa. Eram–lhes concedidas funções políticas, encontrando-se agrupadas numa confederação.
Em meados do século VII a.C., os Etruscos atravessaram o Tibre e dominaram Roma, entre 616 e 509 a.C. Foi com eles que os Romanos aprenderam a trabalhar melhor a terra, usando sistemas de drenagem, desenvolveram o artesanato, passaram a usar moeda nas suas transacções comerciais, adquiriram novas crenças e práticas religiosas, como adivinhações das vontades dos deuses através do voo das aves e das entranhas dos animais.
Neste período os patrícios viram o seu poder enfraquecido, pois os Etruscos não diferenciavam dos plebeus, permitindo inclusive que os mais ricos desta classe social, participassem no exército.
Em 509 a.C. os patrícios rebelaram-se, depondo o último rei etrusco, Tarquínio o Soberbo e organizaram uma nova forma de governo na qual tinham plenos poderes, a Repúb
lica.
Atacados pelos Gregos, aliaram-se aos Cartagineses, inimigo hereditário dos Gregos, mas a sorte não estava com eles. Em 480 a.C., ano em que os Gregos metropolitanos venceram os Persas, os gregos ocidentais infligiram uma esmagadora derrota aos Cartagineses e seis anos mais tarde foi a vez do tirano de Siracusa, Híeron, esmagar os Etruscos perto de Cumas.
Esta derrota marca uma viragem na história dos Etruscos. A partir dessa a altura, a sua decadência foi ininterrupta, e o seu território ocupado pelos Celtas, Samnitas e pelos Romanos.