sábado, junho 23, 2007

Este já está

Não esfreguei a lâmpada de Aladino, mas o gigante acedeu ao meu desejo e, a apresentação do meu livro correu muito bem.
Com apresentação do engenheiro Henrique Sousa do blog Hora Absurda e do doutor Firmino Mendes do blog Sopa de Nabos e com uma assistência de cerca de 50 pessoas entre amigos (dos quais muitos blogs) e familiares, o lançamento do livro superou a minha expectativa.
Quero agradecer a todos que estiveram presentes, a todos que simpaticamente me enviaram mensagens e ainda a todos aqueles que por imprevistos de última hora, não puderam estar presentes.

A TODOS, TODOS O MEU MUITO OBRIGADO





Estes? Claro, sou eu e o meu livro!


Um dos momentos da apresentação. Não me engasguei muito.


Amigos e filha, porque para o ditado estar completo só me faltava escrever um livro.


Familiares


Mais amigos


Não fiquei muito bem na fotografia, mas estava feliz.


A minha cara metade, bonita como sempre.


Uma vista geral do Ondajazz.


Confraternização de Amigos, no jantar que se seguiu

Se tudo correr bem, para o ano há mais.

sábado, junho 09, 2007

Lançamento do livro


No próximo dia 21 de Junho, pelas 19h30, vai ter lugar a sessão de lançamento do meu primeiro livro “Onde estiveste, Jesus?” no Ondajazz - Travessa Arco de Jesus,7 Campo das Cebolas. Estão todos convidados.
Não vale a pena disfarçar, a emoção é grande.

sábado, junho 02, 2007

Coisas do Mar

A traineira que zarpara de Sesimbra por volta das 23.00 horas, dobrava o cabo Espichel, rumo ao Atlântico que banha o areal que se entrepõem entre a Costa da Caparica e a Praia do Meco, cinco milhas, mar adentro.
Este era o local escolhido pelo mestre da embarcação, para pescar sardinha, estávamos na época dela e, os cardumes silenciosos, em águas não muito profundas, deslocavam-se ao longo da costa. A campanha em amena conversa, acomodava-se num camarote colectivo, situado à proa, enquanto o mestre da embarcação e o mestre da aberta, um de mãos na roda do leme e outro de olho na sonda, perscrutavam as águas frias do oceano, na procura dos cardumes.
Por volta das 02.00 horas, o mestre da aberta, apontando para a grafia das ondas visíveis no visor da sonda, que flectiam o aparecimento de um cardume, indagou o mestre da embarcação, qual era a sua opinião em relação à dimensão do cardume.
- Não me parece mau, deve dar pelo menos meio porão de peixe.
Chamada a campanha, deu-se início às manobras de cerco ao cardume.
O cerco consistia em lançar ao mar o bote que se encontrava à popa, varado sobre as redes que a ele tinha fixada uma das extremidades, enquanto a traineira descrevia um círculo à volta do cardume, terminando o seu rumo quando voltava a encontrar o bote, unindo as duas extremidades da rede. Ficava em tão formado um saco sem fundo. Suspensa átona de água por bóias de cortiça, a parte inferior mergulhava nas águas devido ao peso dos chumbos colocados nela. Desta forma, o peixe ficava aprisionado, mas para o trazer à superfície era necessário fechar o saco na parte inferior, que puxado para cima, obrigaria o peixe também a vir à superfície. O lançamento da rede, o posterior fecho do saco e o alar da rede, eram dirigidos por um homem experiente, o número dois do pesqueiro, o mestre da aberta.
Como em todas profissões, há dias que não correm também como outros e, nessa noite, o bote, preso nas redes, teimava em não querer deslizar para dentro de água. O mestre da aberta, de nome João, em cima das redes procurava desesperadamente soltar o bote, consciente de que o cardume não se compadecia com atrasos.
A ansiedade de quem sabe, que nem sempre a sorte está do seu lado e, quando ela aparece não pode ser desperdiçada, no seu esforço para descer o bote, negligenciava a segurança que tanto obrigava os outros a observar e, num momento de infortúnio, o bote solta-se, cai na água, arrasta a rede e o destino impiedoso leva a rede a arrastar o mestre da aberta, ensarilhado nela, para dentro de água.
- O João caiu ao mar! O João caiu ao mar! Parem o barco! Parem o barco, pelo amor de Deus! - Gritava um dos pecadores que assistira à queda, gesticulando freneticamente para o mestre que se encontrava na cabine do leme.
Os outros prontamente correram para a amurada, na esperança de o verem e o poderem socorrer, mas noite escura como breu, não permitia qualquer visibilidade, onde o mar e céu, se confundiam na escuridão.
Mas se a visibilidade era praticamente nula, a aflição dos que estavam abordo aumentava conforme o barco, mesmo com o motor parado, impelido por uma inércia cruel, se afastava cada vez mais do local onde o bote se encontrava a flutuar.
Enquanto os colegas, correndo da popa à proa, em ambos os bordos, empunhando varas e chalavares, desesperavam na busca, a rede, que arrastava o João para o fundo, descia lentamente nas águas escuras do oceano.
Após a surpresa da queda e, tomou consciência do que se estava a passar, tentou libertar-se das redes, mas estas, como ainda não estavam esticadas, tufadas, prendiam-lhe as botas de água de cano alto até às virilhas. Como era um homem que não perdia a calma facilmente e um razoável nadador, em apneia, com os filhos na mente e nos lábios cerrados, Nossa Senhora dos Navegantes, aguardava que a rede, na sua descida, ficasse esticada.
Entretanto, com o motor no mínimo à vante, o mestre deu meia volta e colocou o barco a pairar perto do local onde o João tinha caído ao mar, ordenando que todas as luzes da faina do convés fossem acesas.
Já a cerca de dez metros de profundidade onde os segundos pareciam uma eternidade, pode ver a claridade das luzes do barco reflectidas na superfície do mar. O primeiro impulso, foi agradecer à sua padroeira, mas ao tentar abrir a boca, a água que engoliu, obrigou-o a fechá-la.
Os companheiros, para quem o andamento do relógio não era o mesmo do João, contavam o tempo, na esperança de que este, num gesto piedoso, andasse mais devagar.
- Já lá está há dois minutos! Alguém gritou desesperado. Enquanto outros, prevendo o fim da ampulheta da vida, começavam a chorar o amigo.
A rede que entretanto tinha parado a sua descida, não esticava, pois o banco de areia onde ela poisara estava a uma profundidade inferior à altura da rede. João sentado no fundo, faz um esforço tremendo para descalçar as botas, que cheias de água, eram um lastro fatal. A apneia estava a esgotar-se, quando conseguiu tirar a última bota.
- Ai meu Deus! Já passaram três minutos! Está morto! Está morto! Gritou um dos pescadores por entre soluços. Debruçada sobre a amurada, a esperança de alguns, teimava em não ir borda fora, continuando a gritar por ele.
Agarra-se a rede e tenta desesperadamente subir por ela, mas laça, em vez de lhe proporcionar uma subida rápida, não, ia descendo à medida que ele a puxava. A força anímica, começava a negar-lhe a sua ajuda e, uma sensação de abandono motivada pela resignação, começou a insinuar-se.
- Quatro minutos! Acabou! Maldita vida esta! – Foi a vez do mestre manifestar o seu pesar. A maior parte dos homens, sentados no convés choravam a perda do amigo. Na amurada, alguns, pateticamente, continuavam a gritar por ele, o mais junto que podiam da água, como que implorando ao amar a devolução do amigo.
Num momento, a rede esticou e, com último alento da vontade, da qual o ar já não fazia parte, começou a subir por ela rapidamente e, mais rápido acabou por ser a subida, quando começou a ser audível o pranto que se instalara a bordo da embarcação.
Emergiu perto do bote, tossindo a água bebida, que lhe dificultava a ânsia de respirar.
Com uma não, agarrada ao bote, chorou, chorou, primeiro a salvação, depois, o agradecimento à devoção.
Refeito, verificou que a traineira se encontrava a poucos metros e, quando ouviu, o choro convulsivo dos companheiros, voltou a chorar com eles. Depois, içou-se para o bote e de pé, gritou:
- Eh malta! Parem com essa choradeira, venham mas é buscar-me, que estou todo encharcado.

Homenagem a todos aqueles que não tiveram o fim feliz de João. Ainda há quem tenha a lata de regatear o preço do peixe.