sexta-feira, janeiro 28, 2005

Lilith, mito hebreu


Os mitos hebreus tradicionais normalmente ampliam ou alteram radicalmente as histórias contadas na Génesis do Antigo Testamento: é o caso de Lilith.
Lilith é um demónio feminino particularmente temido pelos hebreus. É mencionada uma única vez na Bíblia (Is 34, 14) “ nela se reúnem hienas e gatos selvagens, e os sátiros chamarão uns pelos outros; a escuridão habita nesses lugares e neles encontra o seu repouso” Aqui a escuridão é Lilith, figura fantasma que habita no breu.
A Lilith hebraica liga-se aos lilitu, espíritos fêmeas da demonologia babilónica. O Talmude, o Midrash e a literatura posterior, especialmente a cabalista, criaram gradualmente uma imagem dela que a torna símbolo da feminilidade negativa. É uma sedutora, criatura alada de compridos cabelos, que vem surpreender quem dorme sozinho em casa.
Sendo rebelde, aspira a ser igual ao homem: criada do mesmo barro que ele, e não tirada da sua costela como Eva, segundo a Génesis do Antigo Testamento, ela foi antes de Eva, a primeira esposa de Adão e recusou deitar-se debaixo dele no momento do amor.
É, por fim, a mulher que privilegia o ataque às parturientes e aos recém-nascidos. O seu lugar na hierarquia das trevas é especialmente elevado: é a companheira de Samael, anjo da morte, serpente primordial, chefe de todos os satanases.
O terror que ela inspira está na origem de práticas mágicas destinadas a proteger da sua influência maléfica: amuletos presos à cama da mulher que está de parto ou atados ao pescoço do bebé, invocando os três anjos encarregados de neutralizar a sua acção, na noite de vigília antes da circuncisão.

A história de Lilith segundo a tradição hebraica.

Deus criou o homem não tendo previsto a procriação. Assim Adão tentou a cópula com as fêmeas dos outros animais, mas não encontrava satisfação no acto. Consequentemente disse a Deus: “cada criatura tem uma fêmea apropriada menos eu”, e Deus com pena remediou esta injustiça.
Deus criou então Lilith, a primeira mulher, dando-lhe a forma de Adão, mas fê-la com imundice e sedimentos em vez do barro com que tinha feito Adão.
Lilith para além da união com Adão tinha relações com Naamah das quais tiveram inúmeros demónios, que flagelam ainda a humanidade. Reza também a tradição, que muitas gerações mais tarde, Lilith esteve no julgamento de Salomão disfarçada de prostituta de Jerusalém.
Adão e Lilith nunca conseguiram viver em harmonia. Quando Adão desejou ter relações sexuais com Lilith, esta reclamou: “porquê a obrigação de eu ficar debaixo de ti? “Eu fui feita também de poeira e consequentemente sou igual a ti”. Quando Adão tentou forçar Lilith, esta com raiva, expressou o nome mágico de Deus, elevou-se no ar e foi-se embora.
Adão queixou-se a Deus: “eu fui abandonado pela minha companheira”. Deus então, incumbiu os anjos Senoy, Sansenoy e Semangelof de irem buscar Lilith.
Encontraram-na nas margens do Mar Vermelho, numa região onde abundavam sensuais e lascivos demónios. “Retorna para Adão imediatamente ou nós afogamos-te”, disseram os anjos.
Lilith retorquiu: “como posso retornar para Adão e viver como uma dona de casa honesta, depois de estar no Mar Vermelho?”
“Será a tua morte se recusares”, responderam os anjos. “Como posso eu morrer?”, respondeu Lilith outra vez, “ quando Deus me fez, incumbiu-me de velar por todas as crianças recém-nascidas: meninos até ao oitavo dia, dia da circuncisão; as meninas até ao vigésimo dia. Contudo terão de ter os vossos três nomes escritos no amuleto de cada criança, eu prometo poupá-los.”
Os anjos concordaram; mas Lilith foi punida por Deus fazendo cem das suas crianças e do demónio desapareceram diariamente, e se não podia destruir alguma criança por esta ter o amuleto, agiria com raiva contra as suas próprias.
Lilith contudo escapou à inevitabilidade da morte que alcançou Adão. Lilith e Naamah não estrangulavam somente as crianças, mas seduziam também os homens que dormiam sozinhos, pois estariam mais receptíveis às suas tentações.
Esta é a história tradicional hebraica de Lilith, mas então o Adão ficou solteiro?
Não, a tradição hebraica também tem a resposta. Impávido pela sua falha para dar a Adão uma companhia apropriada, Deus tentou outra vez, e prestou mais atenção quando construía a anatomia de uma mulher: usou ossos, tecidos, músculos, sangue e segregações glandulares e depois cobriu com pele todo o corpo, colocando cabelo nos lugares certos.
Apesar da sua beleza, a visão dela causou uma tal aversão a Adão, que Deus resolveu substitui-la, não se sabendo para onde ela foi.
Deus tentou uma terceira vez, agindo mais prudentemente. Utilizou uma costela de Adão, enquanto este dormia, e deu-lhe forma de mulher, pintou-lhe o cabelo e adornou-a como uma noiva, antes de acordar Adão.
Sarada a ferida, Adão acordou e disse, esta será chamada de “mulher”, porque foi criada a partir de um homem. Eva era o seu nome que quer dizer “a mãe de todo o vivo”.
Este texto proveniente de uma pesquisa que efectuei, é dedicado à Ana Maria das Águas de Março.


sábado, janeiro 22, 2005

O matriacado

Quando no século passado as mulheres iniciaram os movimentos emancipadores da mulher, decerto que ao fazerem-no não reivindicavam um direito já possuído, mas um direito que queriam vir a possuir.
Manifestação de um desconhecimento total de qual foi o papel da mulher no princípio das sociedades e a sua influência. No princípio foi em volta dela que todas as sociedades se desenvolveram, sendo atribuído à mulher o papel mais elevado que se posa imaginar numa sociedade, a autoridade suprema: o sistema de matriarcado.
Na Pré-história os núcleos populacionais agrupavam-se em volta das mulheres, pois estas na sua condição mais sedentária, durante o Neolítico, cultivavam com os seus filhos os campos, constituindo por isso o fundamento da vida social.
Pode-nos parecer inverosímil, mas a agricultura foi uma invenção das mulheres, que durante vários milénios ficou sob o seu controle, enquanto os homens se dedicavam exclusivamente à caça, o que os levava a fazer ausências muito prolongadas, diminuindo significativamente a sua influência no quotidiano do grupo.
A família composta pela mãe e filhos, formava uma unidade económica auto-suficiente: a mãe proporcionava os alimentos vegetais, os filhos a pesca e a caça miúda, pelo que era muito grande a influência feminina na sociedade. Ela desempenhava o principal papel no campo económico, regia a estrutura social e exercia o poder.
Entre a mãe e os filhos existiam laços muito fortes, contudo, não existia vinculação homem/mulher, nem vínculo entre pai e filho. A principal razão residia no facto de que o homem desconhecia ser pai dos seus filhos. Os cientistas partem do pressuposto de que a ignorância da paternidade, foi o principal facto que propiciou a fase matriarcal.
Pode-nos parecer incrível, mas a verdade é que durante os tempos ancestrais, a espécie humana não relacionava o acto sexual com a gravidez.
No grupo o poder da mãe aparece essencialmente como fonte de toda a vida, nessa época em que a união conjugal não existia.
A expressão “como fonte de toda a vida”, expressa a crença arcaica de que a mulher criava sozinha um novo ser, acreditando que a reprodução seria assexuada, sem a intervenção do homem. Por isso não surpreende que não existisse nenhuma relação causa/efeito do acto sexual.
O aparecimento da gravidez, nos meses posteriores ao acto sexual, era atribuída à relação entre a mulher e a Deusa Terra, apostolando da origem da matriarca posteriormente.
Na savana a mulher ocupava uma posição de privilégio, pela razão de ser a única portadora do milagre da procriação.
Com o tempo a Deusa Terra deu lugar à Deusa Agrícola. Sem dúvida que a sua representante humana foi uma mulher, a mais poderosa, a mais sábia. A sua posição de Grande Sacerdotisa, autêntica rainha suprema, tornou-se hereditária. Um dos primeiros cultos que aparece comum a todas as culturas do Neolítico, mesmo algumas já sob a direcção patriarcal, é o da deusa da fertilidade, representada por uma estatueta de mulher nua e gorda.
No princípio todas as sociedades matriarcais passaram por uma primeira etapa matrilinear, donde a descendência por linha feminina era universal no período arcaico.
As instituições matriarcais sobreviveram até ao aparecimento dos primeiros Estados, nos quais nos primeiros tempos, a herança ao trono se fazia por via matrilinear, o que põe em evidência destacada a presença do matriarcado arcaico. Segundo os cientistas Hawkes e Woolley, pode-se afirmar que descendentes matrilineares chegaram até às civilizações egípcia e cretense. As primeiras sociedades neolíticas, enquanto duraram no tempo e no espaço, deram à mulher a mais alta condição que jamais haviam conhecido.
Assim na Pré-história e em algumas regiões nos princípios da história, existiu uma sociedade matriarcal pacífica (Virginal) na qual o feminino tinha o principal papel no mundo social. As mulheres exerciam a sua autoridade sobre os seus descendentes matrilineares reunidos em tribos independentes: exercia o poder político, económico e religioso. Nas mais antigas culturas agrícolas, mandaram, sem sombra para dúvidas, as mulheres: a Grande Mãe inclusive tem ao seu serviço uma corte de donzelas, filhas, netas e parentes.
Viviam em plácidas comunidades sem guerras. A autoridade era exercida legitimamente por descendência matrilineare da Mãe Ancestral/Deusa que havia dado origem ao povoado.
A vida matriarcal era pautada por uma integração profunda com a natureza, baseada na colaboração, na tolerância e nas trocas solidárias. Os instintos não eram reprimidos e psicologicamente havia ênfase para os sentimentos e intuição.
Nessas sociedades não existiam estruturas hierárquicas autoritárias ou disputas motivadas pela competição. Ao contrário, as instituições eram colectivas e baseadas na partilha dos alimentos e bens.
Citando Leornardo Boff: “ É o tempo das grandes deusas que inspiram organizações sociais marcadas pela cooperação, pela reverência em face da vida e dos seus mistérios (…) A natureza não é vista como um meio a ser conquistado, mas como uma totalidade da qual cada ser humano é parte e parcela e com a qual deve viver em harmonia, no respeito e na veneração.”
Citando Heide Götther Abendroth “Pesquisas modernas sobre o Matriarcado analisam e afectam todos os campos do conhecimento. Elas modificam a nossa compreensão da história, que tem sido determinada pela visão patriarcal. E modificaram a nossa visão do mundo e da vida, e mesmo da nossa pessoa como um todo.”
Em 3.000 a.C. aproximadamente, este modelo de vida baseado na colaboração e na intimidade com a natureza, passou a ser substituído por sistemas patriarcais.
Com o advento civilizacional, o uso das tecnologias, o sentido de posse e de competição e consequentemente a guerra, o homem começou a usurpar o poder político às mulheres e mais tarde o religioso.
Com o patriarcado ocorreu a supervalorização do intelecto e do pensamento lógico-racional, em detrimento do corpo, dos instintos e da emoção. A religião transformou a deusa da fertilidade numa prostituta que tem só como fim a perdição do homem.
A civilização relegou a mulher para segundo plano, no qual se manteve aproximadamente quatro milénios, estando só agora a dar os primeiros passos no sentido da sua revalorização.

terça-feira, janeiro 18, 2005

Lembranças VII

Na altura que entrei para o exército, vivia com a minha família, pais, três irmãos e avó, no bairro social do Restelo, não confundir com o bairro aristocrático do Restelo.
Neste bairro, mandado construir por Salazar para pessoas com rendimentos não muito elevados, a classe média baixa, como se chamava na altura, só foi permitida a ocupação das casas por famílias com um mínimo de três filhos.
A dimensão do bairro, como ainda hoje é visível é muito grande, cerca de 600 vivendas geminadas, o que multiplicadas pelo número médio de 3,5 filhos por casa dava um população aproximada de 2.100 jovens.
O bairro era atravessado por três artérias principais as quais se cruzavam com outra de igual largura, central, que dividia o bairro em dois, de um lado os números pares do outro os ímpares. Era nesta artéria central que ficava a parte social do bairro, comércio e cafés etc., sempre muito movimentada durante todo o dia. Da parte da manhã, com o pretexto das compras todas as matriarcas iam ao centro, como era conhecida a artéria, aproveitando o ensejo para porem a conversa em dia umas com as outras em plena rua ou nos cafés, pelo menos até às onze horas, pois havia que fazer o almoço. Na parte da tarde o movimento amainava, para recrudescer depois do jantar. A televisão, ainda só acessível a uma classe mais endinheirada, não monopolizava, como hoje, as atenções.
Era o horário nobre. Famílias inteiras, depois do jantar, deslocavam-se então para os cafés, formando grupos conforme as amizades, passando horas em animada conversa, recolhendo a casa entre as 10,30 e as 11 horas, pois o dia seguinte era de trabalho. Ao sábado a saída nocturna, prolongava-se um pouco mais.
No verão, com as noites mais convidativas, aquela convivência nocturna, comparada com o que se vê hoje, garanto que era edílica. Nas esplanadas dos cafés pairava uma atmosfera de conversas delicadas e cordiais, até com uma certa cerimónia nas relações, interrompidas aqui e ali por alguma gargalhada incontida. É preciso esclarecer que os patriarcas, apesar de não terem grandes ordenados, o que era habitual na altura, eram de uma maneira geral pessoas muito educadas e alguns deles com boa formação intelectual, devido ao facto de muitos serem professores. Havia até um certo cuidado no vestir, especialmente por parte das matriarcas.
A juventude, essa convivia em cafés separados, pois quer o seu ruído ou a sua expressão mais informal, assim o exigia. Também alguns namoricos ficavam mais facilitados.
De manhã era a debandada geral, correria dos mais atrasados para apanhar o comboio que ficava a cerca de dez minutos de distância, para o emprego ou para a escola. Noventa porcento dos patriarcas não tinham automóvel, os filhos nem aspiração. Como já referi os ordenados não eram grandes e havia muitas bocas para alimentar e muitos estudos a pagar, embora esse custo não fosse tão elevado como é hoje. À tarde era o regresso, mais calmo sem correrias.
Aos sábados, as boites de hoje, eram substituídas pelos bailes que organizávamos nas poucas garagens existentes ou nas próprias casas, onde os rapazes levavam as bebidas e as raparigas a comida, e ao som do Elvis, Billy Holiday, Johnny Halliday, Pat Boon……….., passávamos as noites, competindo a ver quem melhor executava os passes de dança da moda, estávamos no auge do Rock and Roll. Nós de fato e gravata, elas de vestido curto e rodado, emprestávamos ao baile um cenário digno de um filme musical holliwoodesco.
Eram outros tempos, melhores ou piores não discuto, mas numa coisa levámos vantagem, não havia drogas nem muitas das coisas horríveis de hoje. A convivência era o que marcava o compasso do quotidiano.
Foi neste ambiente que cresci, e de que tenho muito boas recordações e ao qual voltarei mais tarde, que a partir de um certo sábado da minha memória o centro se transformou completamente. Os jovens alegres e despreocupados de uma sexta feira que já pertencia ao passado e que não voltaria mais, começaram a dar lugar aos militares. Infantes, marinheiros, aviadores, uns soldados outros sargentos ou oficiais, conforme as habilitações, todos com as suas fardas passaram, às dezenas, a decorar os cafés do centro. Porque era ao sábado que todos tinham folga no quartel para vir a casa. Tinha rebentado a guerra em África. O recrutamento da juventude estava em marcha, era só aguardar te a idade regulamentar para ser chamado. Iria inverter-se o ciclo natural da vida, os filhos morrerem primeiro que os pais.


domingo, janeiro 16, 2005

Apelo para a Humanidade

Tivemos a tristeza de ver recentemente o Tsunami, causando uma grande destruição e vitimando um número inconcebível de pessoas em sete países da Ásia. Sabemos que esse tipo de facto é um acontecimento natural, porém havemos de analisar e acrescentar que a intensidade desse tsunami mostra-nos claramente que o desequilíbrio ambiental é, incontestavelmente, potencializador de forças naturais deste porte. Cabe a nós, definitivamente, uma reflexão séria sobre o assunto e buscarmos maneiras mais correctas de lidarmos com o espaço que vivemos, para que não sejamos nós os responsáveis por catástrofes desta natureza.

Nós blogueiros, propomos desde já, unirmo-nos em um alerta para a humanidade, e implantarmos cada um de nós, a nosso modo e em nosso ambiente, medidas práticas de mudanças!

É tempo de se falar abertamente. É tempo de se abordarem as questões em profundidade e não de forma restritiva. É tempo enfim, de se falar a sério sobre a questão ambiental e ecológica. Sobre a humanidade!

E com razão. É que cada vez mais se toma consciência de que o combate pela preservação, não tem fronteiras, não é regionalizável e de que a resposta ou é global ou não será resposta.

As chuvas ácidas, o efeito de estufa, a poluição dos rios e dos mares, a destruição das florestas, não têm azimute nem pátria, nem região. Ou se combatem a nível global ou ninguém se exime dos seus efeitos.

As pessoas ainda respiram. Mas por quanto tempo?

Os desertos ainda deixam que reverdejem alguns espaços estuantes de vida. Mas vão avançando sempre.

Ainda há manchas florestais não decepadas nem ardidas. Mas é cada vez mais grave o deficit florestal.

Ainda há saldos de crude por extrair, de urânio e cobre por desenterrar, de carvão e ferro para alimentar as grandes metalurgias do mundo. Mas à custa de sucessivas reduções de reservas naturais não renováveis.

Na sua singeleza, o caso é este:

Até agora temos assistido a um modelo de desenvolvimento que resolve as suas crises crescendo cada vez mais. Só que quanto mais se consome, mais apelo se faz à delapidação de recursos naturais finitos e não renováveis, o que vale por dizer que não é essa uma solução durável, mas ela mesma finita em si e no tempo que dura. Por outras palavras: é ela mesmo uma solução a prazo.

Significa isto que, ou arrepiamos caminho, ou a vida sobre a terra está condenada a durar apenas o que durar o consumo dos recursos naturais de que depende.

Não nos iludamos. A ciência não contém todas as respostas. Antes é portadora das mais dramáticas apreensões.

O que há de novo e preocupante nos dias de hoje, é um modelo de desenvolvimento meramente crescimentista – pior do que isso, cegamente crescimentista – que gasta o capital finito de preciosos recursos naturais não renováveis, que de relativamente escassos tendem a sê-lo absolutamente. E se podemos continuar a viver sem urânio, sem ferro, sem carvão e sem petróleo, não subsistiremos sem ar e sem água, para não ir além dos exemplos mais frisantes.

Daí a necessidade absoluta de uma resposta global. Tão só esta necessidade de globalização das respostas, dá-nos a real dimensão do problema e a medida das dificuldades das soluções. Lêem-se o Tratado de Roma, O Acto Único Europeu e mais recentemente as conclusões da Conferência de Quioto, do Rio de Janeiro e Joanesburgo, onde ficou bem patente a relutância dos países mais industrializados, particularmente dos Estados Unidos, em aceitar a redução do nível de emissões. Regista-se a falta de empenhamento ecológico e ambiental das comunidades internacionais e dos respectivos governos, que persistem nas teses neoliberais onde uma economia cega desumanizada e sem rosto acabará por nos conduzir para um beco sem saída.

Por outro lado todos temos sido incapazes de uma visão mais ampla e intemporal. Se houver ar puro até ao fim dos nossos dias, quem vier depois que se cuide!... e continuamos alegremente a esbanjar a água do cantil.

Será que o empresário que projectou a fábrica está psicológica ou culturalmente preparado para aceitar sem sofismas nem reservas as conclusões de uma avaliação séria do respectivo impacto ambiental?
Mesmo sem sacrificar os padrões de crescimento perverso a que temos ligados os nossos hábitos, há medidas a tomar que não se tomam, como por exemplo:


Levar até ao limite do seu relativo potencial o uso da energia solar e da energia eólica.

Levar até ao limite a preferência da energia hidráulica sobre a energia térmica.

Regressar à preferência dos adubos orgânicos sobre os adubos químicos.

Corrigir o excessivo uso dos pesticidas.

Travar enquanto é tempo a fúria do descartável, da embalagem de plástico, dos artigos de intencional duração.

Regressar ao domínio do transporte ferroviário sobre o rodoviário.

Repensar a dimensão irracional do transporte urbano em geral e do automóvel em particular.

Repensar, aliás, a loucura em que se está tornando o próprio fenómeno do urbanismo.

Reformular a concepção das cidades e das orlas costeiras

Dito de outro modo: a moda política tende a ser, um constante apelo às terapêuticas de crescimento pelo crescimento. È tarde demais para desconhecermos que, quando a produção cresce, as reservas naturais diminuem.

Há porém um fenómeno que nem sempre se associa ás preocupações da humanidade. Refiro-me à explosão demográfica.

Com mais ou menos rigor matemático, é sabido que a população cresce em progressão geométrica e os alimentos em progressão aritmética. Assim, em menos de meio século, a população do globo cresceu duas vezes e meia !...
Nos últimos dez anos, crescemos mil milhões!... Sem grande esforço mental, compreendemos aonde nos levará esta situação.

Se é de um homem mais sensato e responsável que se precisa, um homem que olhe amorosamente para este belo planeta que recebeu em excelentes condições de conservação e está metodicamente destruindo; de um homem que jure a si mesmo em cadeia com os seus semelhantes, fazer o que for preciso para que o ar permaneça respirável, que a água seja instrumento de vida e dela portadora, e os equilíbrios naturais retomem o ciclo da auto sustentação, empenhemo-nos desde já nessa tarefa, com persistência e determinação.

Se é a continuação da vida sobre a terra que está em causa, e em segunda linha a qualidade de vida, para quê perder mais tempo?...

Por isso apelamos a todos quantos se queiram associar a este movimento pela preservação Natureza, pela Paz e pelo desenvolvimento harmonioso da Humanidade, para subscreverem este Apelo.

Ao fazê-lo estamos a afirmar a nossa cidadania, enquanto pessoas livres, que olham com preocupação o futuro da Humanidade, o futuro dos nossos filhos!