sexta-feira, dezembro 29, 2006

Jantar de Inverno
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A VIDA
(primeira parte)

Não é objectivo deste texto falar de como se originou a Vida, já tratado anteriormente, mas por exigência do suporte, de um forma sinóptica e ligeira, abordar a Vida propriamente dita.

A maior inquietude do homem desde que teve conhecimento da sua existência até hoje, é sem dúvida, a morte. Ela representa o seu fim. O temor que lhe inspira, leva-o a tentar esquecê-la, como se com isso tivesse a esperança de ser esquecido por ela.

Mas em todos os momentos da vida, por muito que esteja esquecida, a morte está sempre presente, sendo a fronteira entre elas, tão ténue e imprevisível, que seria ajuizado estar preparado para a cruzar.

Pelo contrário, a satisfação dos apetites é demasiado desejada, para que possa aceitar um dia ter de os perder.

Obcecado com a perda, tenta obstinadamente evitá-la, não conseguindo melhor que a criação para si de um conceito superior, que julga suficiente para subalternizar a morte, a Vida, como se esta fosse o estágio fundamental e a outra uma intrusa indesejável.

O vocábulo Vida, é o singular de uma enorme pluralidade, onde seu sentido se esbate na diversidade do que se equaciona.

A palavra Vida só pode ser considerada no âmbito do nosso planeta, pois ela foi escolhida pelos seus habitantes como seu sinónimo e de tudo “vivo” que com ele interage, sendo a sua forma mais abrangente o conceito de Gaia, o planeta vivo.

Querer dar-lhe uma universalidade para além do que etimologicamente o vocábulo traduz é um erro, que cometido, limitará todas as formas de pensamento chegarem mais longe.

Diversas abordagens podem ser feitas à Vida: biológica, filosófica, temporal, psíquica, etc. Em todas elas são encontradas definições circunscritas a vidas, mas nunca à Vida como um Tudo no seu sentido mais absoluto. A palavra para tal representação não existe, pois o homem nunca poderia criar uma palavra para aquilo que desconhece, por isso, Vida, tem de lhe ser, única e simplesmente, subjectiva.

Li algures alguém que dizia: «o que procuro incessantemente e nunca encontrei resposta e sempre tenho lido que não existe, é uma definição suficientemente abrangente da Vida, pelo menos aplicada aqui na Terra»

A preocupação do autor e de muitas pessoas, é a prova de que para eles se poderia dar um significado, se não ilimitado, muito mais abrangente de Vida, mas que a obsessão da morte, os inibem de imaginar um sentido para além do que lhes é cognoscível: «nem que fosse só na Terra».

Querer dar um significado diferente à Vida do que ela referência, é como querer agarrar o ar com as mãos, ou como diz a prática Zen, ouvir o bater de palmas com uma só mão.
Não há lei científica que o consiga, nem um postulado que por definição, ficaria por provar.
Segundo Platão, não se pode admitir que do sensitivo – particular, mutável e relativo – se possa de algum modo tirar o conceito universal, imutável, absoluto.

Ao interrogarmo-nos, porquê vivemos se temos de morrer, tiramos todo o sentido à Vida, limitamos o nosso horizonte do conhecimento e ficamos reduzidos a uma causa efeito de que não compreendemos o sentido.

Porquê nos deixaram saborear e depois retiram, quando a habituação passou a ser o nosso próprio paradigma?

A falta de compreensão leva-nos a questionar de onde viemos e para onde vamos, qual o sentido da Vida, o que é ela afinal, mas ao questionarmos não temos em mente a Vida em si mas a inquietude da morte.

É o medo da finitude que nos leva a tentar compreender o que é a Vida, pois a finitude é a sua perda.

Há quem procure compreender a Vida a partir da morte.
Será realmente a morte o fim de tudo? Se a conseguirmos compreender ficaremos a compreender a Vida. Tão importante é uma como a outra, completam-se num único fundamento, se algum fundamento pode ser equacionado, que na minha modesta opinião é incognoscível, e o incognoscível é o limite do nosso pensamento.

Será a morte o fim da Vida ou na realidade o princípio dela?
Como a Vida e a morte não são exclusivo dos ocidentais, não devemos menosprezar o que a esse respeito pensam os orientais. Nestes assuntos civilizacionais, convém não esquecer que toda a nossa cultura tem origem neles, que pela mão dos Gregos chegou até nós, quando moldaram a nossa maneira de pensar.
(continua)

domingo, dezembro 17, 2006


BOAS FESTAS


Enquanto o espírito do Natal, pelo menos uma vez por ano, pairar sobre o homem, a humanidade ainda pode ter esperança.

Um Feliz Natal, e que o Novo Ano, vos traga tudo de bom que a vida vos possa oferecer, são os votos do Klepsidra

sábado, dezembro 09, 2006

Os Celtas (II)
Na cultura céltica, a comunhão entre o homem e a Natureza é o seu fundamento religiosos, onde a Voz da Floresta, é a ponte mítica entre o mundo dos deuses e dos homens.
Enfatizava a terra e a Deusa Mãe, enquanto os Druidas criavam diversos deuses às formas de expressão da Natureza, e que a imortalidade da alma, chega ao aperfeiçoamento através das reincarnações.
Admitiam o livre arbítrio do homem, mas que era responsável pelo próprio destino. Toda a acção era livre, boa ou má, mas teria sempre uma consequência.
Estamos em presença da Sansara e do Karma dos povos do sub continente Indiano. Esta similaridade sugere um estudo mais aprofundado da origem dos Celtas e dos povos que deram origem aos Indús.
Mesmo livre nos seus actos, o celta era responsável socialmente por eles, existindo a pena de morte para os criminosos.
A crença druida afirmava que o homem teria a ajuda dos espíritos protectores na sua libertação dos ciclos reencarnatórios, por isso a transmissão dos conhecimentos aos vindouros, para que estivessem igualmente aptos a entenderem a lei de causa efeito, era obrigatório.
Não admitiam a veneração da Divindade em templos, faziam dos campos e florestas os seus locais de cerimónia.
Formavam círculos mágicos visando a interacção com a força telúrica. Os Druidas usavam túnicas brancas e em algumas cerimónias ligadas à fecundidade da Natureza, os participantes não usavam vestes.
Por ignorância ou maldade, os padres cristãos acusavam os Celtas de rituais eróticos, quando na realidade os rituais eram consagrações à Deusa Mãe.
A realização das cerimónias celtas não se prendiam somente com o lugar, também tinham a ver com a época do ano, com determinadas efemérides, pelo que ocorriam em datas precisas, ocasiões em que interagiam mais facilmente com as forças da Natureza.
O sacerdócio não era exclusividade masculina, existiam sacerdotisas, Druidas femininos, que exerciam um papel mais relevante que os sacerdotes. Os Celtas eram muito dedicados à fertilidade, ao crescimento da família, ao aumento da produção animal e agrícola, e isto estava directamente ligado ao lado feminino da Natureza.
Também ela é mais sensitiva do que o homem no que respeita ao sobrenatural, o que propiciava, mais facilmente, a interacção da energia nas cerimónias, tornando-se privilegiada na comunicação com o sobrenatural.
Algumas mulheres, sentiam em si mesmas o Espírito dos seus ancestrais. Leitora do Oráculo e o seu eco mítico, a Mulher tornou-se legisladora e poderosa.
A cultura céltica adoptou no seu sistema religioso, a via matriarcal, que aos poucos, passou para a vida social. O patriarcado ficou responsável pelos assuntos da guerra, enquanto o matriarcado dos assuntos do Espírito, do Social e da Legislatura, em suma, da Cultura.
Os Celtas sabiam viver em harmonia com a terra, da importância de a manter sadia, evitando a sua destruição.
A bravura dos Celtas em batalha é lendária. Desprezavam com frequência as armaduras, indo combater de corpo nu, coberto de pinturas. Os homens e as mulheres na sociedade celta eram iguais; a igualdade de cargos e desempenho eram consideradas iguais para ambos os sexos. As mulheres tinham uma condição social igual à dos homens, combatendo muitas vezes ao lado deles, demonstrando serem excelentes guerreiras.

sábado, dezembro 02, 2006

Os Celtas (I)
Os Celtas, surgiram na Europa Central em meados do II milénio a.C. Originários dos povos indo-europeus do continente asiático, na época do Bronze Tardio, espalharam-se por todo continente europeu a partir da Idade do ferro, onde predominaram durante centenas de anos antes da ascensão e conquista romana.
Apesar de se terem espalhado por longas distâncias e países diferentes, a cultura céltica nunca se fragmentou, estendendo a sua influência por todo o continente europeu, desde as ilhas britânicas até aos Balcãs e Anatólia.
Começaram a ocupar as margens do Danúbio e Sul da Alemanha a partir de 600 a.C.
A partir daí entre os séculos VI e III a.C., espalham-se por toda a Europa chegando à Turquia e à Ásia Menor.
O período de Hallstatt, originário na Alta Áustria, desenvolveu-se entre o os séculos VII e VI a.C., quando foram exploradas as primeiras jazidas de ferro, o que propiciou o aparecimento de armas de ferro e com estas o aparecimento de uma oligarquia constituída por forças militares, que se passou a estabelecer-se em povoações fortificadas.
A cultura de Hallstatt estendeu-se à Alemanha meridional e oriental, nordeste de França, sudoeste da Inglaterra e península Ibérica. A difusão da siderurgia, a arte decorativa geométrica, os ritos funerais de sepultamento e incineração, as fortificações e sobretudo o armamento de ferro, são os elementos mais representativos desse período.
Da evolução de Hallstatt e do contacto com os povos mediterrânicos nasceu a cultura La Tène, na Suiça, que se desenvolveu a partir do século V a.C. Por influência dos Gregos e Etruscos, passaram a elaborar novas formas artísticas, substituindo os motivos geométricos pelos florais, animais e humanos. A cerâmica aperfeiçoou-se com o aparecimento da roda de oleiro.
Em 700/600 a.C. os Celtas eram numerosos na Lorena e na Borgonha. Na era de La Tène a sua civilização atingiu as ilhas Britânicas e a Gália Central. No século V ocuparam a Armónia e o vale do Ródano e depois a Boémia. No século IV chegavam a Itália estabelecendo-se na região que viria a ser conhecida mais tarde como a Gália Cisalpina. Chegaram a Roma em 390 a.C.
No Leste da Europa ocuparam o noroeste da Hungria, sudoeste da Eslováquia e parte da Transilvânia.
Durante o século III a.C. a expansão celta alcançou a Macedónia a Anatólia onde fundaram o reino da Galácia. Expulsos dessa região, instalam-se nas terras da futura BulgáriaA expansão céltica foi detida pelo poderio romano. Deficitários de uma unidade política, a sua decadência prolongou-se até ao século I a.C., momento em que todas as tribos Celtas no continente foram vencidas e subjugadas pelos Romanos, mas nas ilhas britânicas, estes tiveram de para na Muralha de Adriano, conseguindo os Celtas da Irlanda e País de Gales preservarem toda a sua entidade cultural.
Os Celtas dominaram a Europa Central e Ocidental por milhares de anos, mas só mais recentemente a sua cultura influenciou a Europa. Na velha província romana, chamada Lusitânia, os Celtas entraram pelo Norte, Centro e Sul, vindo a dar origem aos nossos antepassados Celtibéricos.
(continua)