sábado, abril 28, 2007

Porque hoje não é
O Dia Mundial da Criança


(Para lavar a alma, recomendo que oiçam a música toda)

O grau de desenvolvimento de civilização de um povo, é fundamentalmente aferido, independente das outras características que para ele concorrem, pelo seu grau de Evolução, pelo que só podemos entender por civilização, embora aceitemos a sua diversidade cultural, quando os valores que lhe são intrínsecos se baseiem na humanização das populações.

Assim sendo, se considerarmos Evolução, a sublimação do animalesco em prole da humanização, podemos definir Evolução como a substituição da individual agressividade dos instintos primários, pelo respeito pelo colectivo, onde os valores individuais de cada um são respeitados e valorizados.

Estes pressupostos, infelizmente, não são os adoptados para consubstanciar civilização, mas o nível tecnológico atingido, ficando o conceito evolutivo, acima descrito, comprometido pelo conceito evolutivo/tecnológico, paradigma das modernas sociedades.

A tecnologia é que passa a definir o grau de civilização, dissociando-o da própria Evolução humana, do que resulta, para uma boa parte de população, viver em dois tempos diferentes, o actual tecnológico e um passado ainda por evoluir.

Saber utilizar as tecnologias postas à nossa disposição, não quer dizer que sejamos pessoas evoluídas, caso o comportamento apresente um déficit evolutivo. Não é por se vestir um fato e por gravata a um selvagem que ele o deixa de ser.

Uma das manifestações da falta de Evolução, é o desprezo pela condição da criança, que devido à sua fragilidade se torna um alvo preferencial para actuação da parte animalesca residual que não foi superada.

Usurpada do seu estatuto de ser privilegiado, é abusivamente utilizada passando pela degradação e o ignóbil, que concorrem muitas vezes para a sua destruição.

Interrogo-me muitas vezes de como é possível tratar as crianças de forma tão cruel. Que espécie de pessoa estará por detrás de tais actos. Será mesmo pessoa? Ou um bicho com forma de gente? Um predador é de certeza.

Não existe um perfil definido do predador, ele aparece inserido praticamente em todos os grupos sociais, em todos os povos, independentemente do grau de civilização assumido. Muitos actuam para satisfação própria, outros utilizam os mais diversos pretextos para justificar os seus actos.

Se os predadores fossem poucos, poderíamos até considerá-los como aberrações da própria sociedade, mas o seu elevado número, leva-nos a pensar de que não estamos em presença da excepção, mas de algo muito mais preocupante, que vivemos numa sociedade mista formada por indivíduos com diferentes graus de Evolução, que a tecnologia, só por si, não consegue superar a diferença.

Se por um lado, não consigo justificar de outra forma a existência do abominável predador, por outro, o que passivamente assiste à sua acção deixa-me, no mínimo, apreensivo.

Salvo as excepções que fundamentam a regra, parece que o mundo está divido entre os que fazem mal e os que pela sua passividade consentem, como se de uma escala evolutiva se tratasse.

Tamanha indiferença até parece obsceno, onde a definição do importante, não é o resultado do discernimento dos sentimentos, mas a dependência do egoísmo.

Como é que alguém, verdadeiramente civilizado, pode ficar insensível?

Aos maus-tratos a que crianças são sujeitas pelos pais, que podem atingir formas sádicas e até culminarem com morte delas.

Aos maus-tratos a que as crianças são sujeitas pelas instituições.

Ao repúdio social e abandono à sua sorte.

À sujeição das crianças a sórdidas satisfações sexuais que podem chegar a incluir meninos de muito tenra idade. Não aceito como doente uma mente que sente prazer em ter relações sexuais com crianças, só a irracionalidade faz sentido.

À exploração das crianças pelo trabalho miseravelmente pago, onde muitas vezes é obrigada a executar tarefas perigosas ou de esforço físico superior às suas capacidades. Mas a maldade é tão imensurável que pode chegar à escravatura. Segundo o último senso, existem no mundo cerca de 200 milhões de crianças escravas.

Ao menino soldado. É com horror que assistimos ao ignóbil recrutamento de crianças para engrossarem as fileiras das guerrilhas. Ludibriando a ingenuidade, nalguns casos, ou pelo rapto, noutros, a criança é tornada refém do grupo guerrilheiro, que a obriga a trocar o brinquedo pela arma. O seu fim é mais que previsível.

Às intifadas, onde elas são os protagonistas. Meninos armados de pedras de um lado, contra modernas e mortíferas armas do outro. O desfecho, muitas das vezes, tende a ser um banho de sangue da ingenuidade.

Também ao recrutamento de suicidas que procura, cada vez mais, os “voluntários” nas camadas mais jovens da população.

À guerra onde os beligerantes reivindicam o direito aos efeitos colaterais, mesmo sabendo que as maiores vítimas desses efeitos, são as crianças.

E se isto tudo não ferir a sensibilidade, que dizer do elevado número de crianças que morre, de forma horrível, todos os dias à fome, só porque nós lhe negamos as nossas sobras.

Ao que estão sujeitas as queridas crianças do Mundo, que por não serem os nossos filhos, são perfilhadas pela indiferença.

E o mundo o que é que faz? Para lavar as mãos, hipocritamente, dá-lhes uma Carta de Direitos. E nós? Choramos lágrimas de crocodilo.

segunda-feira, abril 23, 2007

Judaísmo
(quarta parte)

Época Talmúdica

Soba o domínio helénico, no tempo dos selêucidas, o povo judeu votou novamente a sofrer, pois estes soberanos, além de o sobrecarregarem com impostos, persegui-o pelo seu culto. Antíoco Epífano mandou erigir uma estátua de Júpitar Olímpico no meio do Templo e, matou todos os judeus que não quiseram substituir as suas crenças pela nova divindade.
Surgiu então uma família cujos membros eram detentores de grande talento militar, os macabeus. O primeiro que resistiu aos decretos de Antíoco, foi Matias, que o combateu nas montanhas. Seu filho, Judas Macabeu, entrou vitorioso em Jerusalém e restabeleceu o culto divino e os seu irmãos Joinatan e Simão, após a sua morte, continuaram a luta pela liberdade, até obrigar Antíoco a aceitar a paz.
O helenismo largamente difundido na Judeia, onde o sentido grego da vida, mais superficial e cheio da formosura da natureza, havia entusiasmado muitos judeus que, haviam começado a sentir o peso da sua doutrina mãe, demasiada séria e de formas de vida muito severas.
Na Judeia o helenismo foi combatido com armas pelos macabeus e verbalmente pela obra incansável e contínua dos sábios, os quais, que com o decorrer dos séculos foram substituindo os profetas. Enquanto os “hassidim”, isto é, os puros, se afastavam da vida política, surgiu uma nova seita: a dos saduceus. Estes, arreigados ao sentido literal do código sacerdotal da Tóra, rechaçavam a lei oral que era difundida entre o povo por outra ceita: os fariseus.
Os fariseus representavam o verdadeiro elemento salvador do judaísmo. Estabeleceram uma doutrina intermediária entre a dos saduceus, rígidos sacerdotes que, apesar do seu sacerdócio, dedicavam demasiado tempo à vida mundana, e a dos essénios, que com o seu ascetismo e a sua vida contemplativa, esqueciam-se da vida humana. Os fariseus, por seguirem a lei oral, foram os iniciadores do vastíssimo trabalho que se conhece com o nome de Mishná.
A partir de então, os judeus foram dominados por vários povos em expansão. Mas o domínio efectivo da região deu-se em 63 a.C., quando a palestina foi incorporada numa potência que dominava quase todo o mundo da época: o Império Romano. De início, não houve interferência nas crenças religiosas dos judeus, mas, com o passar do tempo, os romanos ridicularizavam a religião judaica e procuravam impor o culto do imperador, coisa que para os judeus era a pior das humilhações e da recusa dos judeus em reconhecê-lo como tal, foi ordenada a destruição de Jerusalém.
Os judeus esperavam ansiosamente o momento da sua libertação, que terminaria com a vinda do Messias, que libertaria o povo judeu.
Foi neste clima tenso que nasceu Jesus de Nazaré. Ele tornou-se um importante pregador de ideias renovadoras para o judaísmo. Jesus, na sua época, não conseguiu obter muitos adeptos, pois não viam nele o líder militar que desejavam, por isso não o aceitavam como Messias.
O segundo momento da diáspora acontece no ano 70, com a destruição de Jerusalém pelos romanos. A partir desse momento, algumas famílias judaicas imigram para diversos países da Ásia Menor e sul da Europa, formando comunidades que mantêm a religião e os hábitos culturais.
Empurrados pelo islamismo, os judeus do norte de África imigram para a Península Ibérica. Expulsos de lá pela cristandade, no selo XV, imigram para a Holanda, Balcãs, Turquia, Palestina e, estimulados pela colonização europeia, chegam ao continente americano.
O período que se inicia com a edição da Mishaná, no ano 200, prolonga-se até aos meados do século V. Durante cerca de três séculos, três fenómenos importantes determinam o curso da história judaica: a decadência do Império Romano, a gradual diminuição da importância de Israel no conjunto do povo judaico e a ascensão do cristianismo, até se tornar a religião oficial do Império Romano. Estes três fenómenos contribuíram para o deslocamento do centro cultural e económico do povo judeu para Leste, onde no Império Parto, as condições mais favoráveis vão permitir um aumento extraordinário da actividade judaica.
A comunidade babilónica passou a assumir a liderança do judaísmo dando continuidade à tarefa das gerações precedentes. A grande contribuição desta comunidade para o judaísmo foi o Talmud, que guiou o povo judeu durante os séculos que seguiram.

A Tora Oral foi ensinada boca a boca através de gerações até ao século III, quando foi anotada num enorme documento, constituído por muitos volumes, chamado Mishná. No século V, tornou-se muito vasta e confusa para as pessoas entenderem, e a explicação oral foi escrita numa colecção megacolossal que explica melhor e mais minuciosamente a Mishná. É o Talmude- explicação da Mishná.
A composição do Talmud caracteriza-se por seis ordens (sedarim); cada uma compreende um ramo especial de prescrições religiosas e doutrinárias: Seraim, da regulamentação da distribuição de bens e produtos da terra aos sacerdotes, aos pobres e a outros beneficiários; Moed, preceitos sobre o calendário judaico, o sábado, os dias de festas e os dias de jejum; Nashim, prescrições de direito matrimonial; Nesikim, prescrições de direito civil e penal; Kodashim, preceitos rituais; Toharot, sobre impurezas e purificações.
A história do povo judaico não pode ser dissociada da história da sua religião. Há uma ligação íntima que torna difícil falar delas separadamente. A sua forma vida e cultura, é alicerçada em fundamentos religiosos.

sábado, abril 21, 2007

Thinking Blogger Award

Foi um verdadeiro, como dizem os ingleses, serependity, a minha entrada na blogsfera, onde a feitura semanal de textos, sobre os mais diversos temas, acabou por despertar em mim uma vontade de escrever que, com o passar do tempo, passou a tornar-se uma parte incontornável da minha vida.
Para tal, muito concorreram todos os leitores do meu blog, com os seus estimulantes comentários, onde a concordância, a crítica ou o contraditório, mereceram sempre a maior atenção da minha parte.

Não sou muito dado às “correntes” que por vezes trespassam pelos blogs, mas esta, pelo seu objectivo, não lhe posso ficar indiferente, quando o que está em causa, não é uma “vã glória” mas o reconhecimento pelos meus pares, de quanto somos importantes uns para os outros.

É nesta importância, que reside a solidariedade que leva à amizade, sempre subjacente à escolha e, não poderia ser de outra forma, pois a escolha, face à qualidade, é muito difícil.

Agradeço à Leonor, companheira destas andanças, quase desde o princípio, ter-me incluindo na sua escolha. Pessoalmente, só nos vimos, e de longe, uma só vez, mas todas as semanas, sem falhar, avisto-me com o seu talento, que não pára de surpreender.
Cronista por excelência do quotidiano, onde o despercebido assume notoriedade.

Obrigado Leonor.

Como tenho de escolher:

Henrique Sousa do Hora absurda IV

Isabel Mendes Ferreira do O Piano

Firmino Mendes do Sopa de Nabos

Raul do Insinuações

Perplexo do Universos Assimétricos


E para que a “maré” não se perca, os cinco blogs escolhidos deverão pôr mais cinco, da sua preferência, a navegar e atribuir-lhes a etiquetazinha que aparece à direita e colocar nos respectivos blogs.

domingo, abril 15, 2007

Fotos de Jantar Bloguista em Os Convivas do Costume

O Judaísmo
(terceira parte)

Época Bíblica II

Os Hebreus tornaram-se tão numerosos e fortes, que os reis do Egipto, temerosos da sua importância, decidiram submetê-los à escravidão, para evitar um possível levantamento contra o seu poder. Já em estado de escravidão, o número não parava de aumentar, o que levou o faraó a decretar a morte de todos os filhos varões que nascessem naquele povo.
Este estado de escravidão durou aproximadamente até ao ano 1.200 a.C., quando Moisés recebeu junto ao Monte Sinai uma ordem de Deus para se dirigir ao faraó e exigir dele a liberdade para o seu povo.
Efectivamente, por decreto divino, Moisés organizou o grande êxodo dos Hebreus, que segundo a Bíblia eram cerca de 600.000.
Em busca da terra prometida atravessaram o golfo ocidental do Mar Vermelho, e erraram durante 40 anos no deserto, experimentando todas as dificuldades da vida nómada.
Ao pé do Monte Sinai, Moisés deu aos Hebreus o Decálogo, ou seja, os Dez Mandamentos, o supremo código da humanidade. Mas, além dos Dez Mandamentos Moisés estabeleceu uma longa legislação moral, judicial e cerimonial, que formou a base de toda a cultura hebraica posterior. Esta legislação, cheia de sabedoria e de padrões muito mais elevados do que de todos os povos da época, está contida nos cinco primeiros livros da Bíblia, denominados em grego “Pentateuco” e em hebraico, simplesmente Tora, ou Lei.
Antes de morrer, Moisés nomeou como sucessor Josué, o qual, depois de atravessar o Jordão e derrotar os povos que se opunham à sua marcha vitoriosa, distribuiu as terras conquistadas entre as doze tribos.
Durante cerca de duzentos anos viveram assim na terra de Canaã, em uma confederação, sem rei nem governo central, unidos apenas pela descendência história comum e pelas leis que Moisés lhes havia estabelecido. Como não existia uma autoridade central, cada tribo governava-se sozinha.
Esta divisão em tribos dificultava a melhor condução nas lutas contra os antigos habitantes da região, que resistiam à penetração dos Hebreus.
Surgiram então chefes de qualidades militares que ficaram conhecidos como Juízes: Otoniel, Débora, Gedão e Samuel.
O governo dos Juízes evoluiu e impulsionou os Hebreus a instituírem um governo monárquico, cujo primeiro rei foi Saul.
Seguiu-se David, e com ele o expansionismo militar e a prosperidade. Durante o seu reinado, Jerusalém é escolhida para capital do Estado o que simbolizava a unificação das tribos do Norte e do Sul da Palestina.
Salomão, filho de David, desenvolve o comércio e a agricultura com excelentes resultados. Construiu o Templo de Jeová. Conhece a célebre rainha de Sabá. O fausto e a riqueza que marcaram o seu governo exigiam constantes aumentos de impostos, criando um clima de insatisfação no povo hebreu.
O filho de Salomão, Rehavan, ainda era mais exigente que o pai na cobrança de impostos para seu benefício pessoal, o que levou à revolta das tribos que se dividiram formando dois grandes reinos: ao norte foi formado o reino de Israel, composto de dez tribos, que escolheram Omri para rei. Apesar da veneração a Jeová, foi introduzido o culto a vários deuses.
O culto e o fausto da corte pesavam sobre os camponeses que pagavam os impostos. Nesse momento, o movimento profético ganhou força. O profeta Elias lidera a oposição à dinastia omrida, e depois de uma rebelião unge rei Jehu e a ordem foi de novo restabelecida.
Em 723 a.C. o rei assírio Sargão II invadiu Israel e destruiu a capital Samaria, tornado Israel numa província assíria e grande parte dos seus habitantes foi transferida para a Mesopotâmia.
Ao sul, o reino de Judá, composto pelas outras duas tribos e com capital em Jerusalém, aliado ao Egipto, resistiu aos assírios, mas acabou por sucumbir a Nabucodosor II, rei da Babilónia que destruiu Jerusalém e o Templo, transferindo o rei e os mais ilustres habitantes da região bem como grande parte do povo para Babilónia. Este episódio é chamado na Bíblia como cativeiro babilónico, pois ali permaneceram durante 50 anos.
Esta primeira migração forçada é o início da diáspora, pois após a sua libertação, por Ciro, rei dos Persas, só uma parte dos hebreus regressou a Jerusalém. Alguns emigraram para vários países do Oriente.
Os Hebreus recém chegados foram bem tratados pelas autoridades babilónicas e tinham ampla liberdade económica, social e religiosa, podendo organizar-se como quisessem. Daqui para a frente, os guias do povo passam a ser principalmente os chefes religiosos.
Os Hebreus que regressaram à Palestina, estabeleceram-se numa região chamada Judeia, daí passarem-se a chamar de Judeus e ali ergueram novamente o Templo e com o tempo foram eliminando as diferenças entre os filhos de Israel e de Judá.
O povo judeu, que até ao cativeiro da Babilónia fora predominantemente agrícola passou a exercer uma nova actividade, o comércio, que lhe facilitou a dispersão pelo mundo.
Mantendo uma religião nacional, fez desta, o seu princípio de identidade racial. Não obstante, assimilou elementos da religião persa. O Livro de Tobias, narrando uma viagem à Pérsia, ilustra a situação do sincretismo religioso judeu-persa, sendo de salientar a presença do anjo Rafael, uma figura do panteão zoroástrico.
Em função às inovações, dividiu-se o povo, dito eleito, em:
Judeus tradicionais, que virão a ser chamados Saduceus, restritos à Lei de Moisés sem os profetas, e os judeus inovadores, entre os quais se destacarão depois os Fariseus, zelotas e essénios, que crestaram à Lei os livros dos profetas.
Continua)

sábado, abril 07, 2007

Jantar bloguista da Primavera
Para informações e inscrições clicar aqui

O jantar está previsto para as 20.00 horas, mas a concentração, no bar do restaurante, para iniciar a cavaqueira é a partir das 18.30. Todos cedinho para a conversa ser longa

O judaísmo
(segunda parte)

Época Bíblica I

Abraão nasceu em Ur, cidade dos Caldeus, uma das maiores metrópoles e mais importantes do mundo antigo.
Se Abraão cresceu e atingiu a maioridade numa cidade que era um dos centros mais altamente civilizados daquele tempo, porque se terá Taré, seu pai, e a sua família mudado para Harã, um lugar muito distante ao norte do vale do Eufrades, distando de Ur cerca de mil e quinhentos quilómetros? O motivo não se sabe ao certo, mas fosse qual fosse a razão, o facto é que a mudança ocorreu.
Segundo o Livro Génises do Antigo Testamento, Taré, juntamente com a sua família, abandonou a cidade de Ur, na Mesopotâmia, e desceu em direcção ao Sul, pelas margens do Eufrades. Taré era membro de uma tribo semita, do grupo étnico descendente de Sem (filho do lendário Noé). A data da emigração de Ur para Harã corresponde à Idade Patriarcal da Bíblia que por sua vez corresponde ao período médio da Idade do Bronze de 2.000 – 1.500 aC.
Pouco se sabe sobre a vida de Taré e sua família em Harã. Com a morte de Taré, a liderança da tribo ficou com Abraão.
As primeiras informações referentes a Abraão são dadas pela Bíblia, quando Deus lhe falou dizendo que devia deixar a casa de seu pai e partir para uma terra que Ele lhe indicaria. E prometeu-lhe: “de ti farei uma grande nação, e te engrandecerei.”
Abraão obedeceu e partiu para Canaã. Viajou pela rota mais directa, seguindo para o Sul ao longo das margens do rio Balki e depois atravessando o deserto sírio chega a Tadmor, mais conhecida como Palmira.
Daí teria andado mais cerca de duzentos quilómetros até Damasco. O Caminho que tomou a seguir até armar o seu primeiro acampamento em frente da antiga cidade de Siquém, não se sabe.
A casa de Abraão era muito grande com um elevado número de servos e escravos e muitos rebanhos e manadas.
Este grupo deve ter parecido uma terrível ameaça aos habitantes de Canaã, cuja terra estava sujeita a frequentes invasões nómadas. Além disso reinava uma grande seca, a água era escassa e os pastos tinham sido tosados até à raiz.
Por causa da seca, as áreas de pasto de Canaã não podiam suportar os rebanhos e manadas de Abraão, de modo que, como muitos nómadas desse tempo, Abraão teve de procurar refúgio na terra irrigada pelo imenso Nilo.
Tomaram então a direcção do deserto da Judeia, passando pela cidade de Jebeus, que devido ao seu crescimento em tamanho e importância mais tarde viria a ser conhecida como a famosa cidade de Jerusalém. Depois, em direcção ao Sul, desce da região elevada da Judeia até à região de Bersheva. Depois, numa caminhada de trezentos e vinte quilómetros, chega à fronteira egípcia.
A entrada no Egipto deveu-se ao facto, segundo parece, de que Abraão era uma pessoa bastante importante, ao ponto de o Faraó ter procurado fazer uma aliança com ele. Foi dito ao faraó que Sara, mulher de extrema beleza, era irmã de Abraão, o faraó levou-a para o seu palácio. Nessa mesma noite soube que Sara era, na realidade, esposa de Abraão e, irritado por ter sido enganado, baniu Abraão e o seu povo das terras do Egipto.
Pastoreando os seus rebanhos, Abraão inicia a viagem de regresso ao Norte, regressando às montanhas secas de Canaã, onde uma vez mais voltou a sentir dificuldades por causa dos pastos. Como não eram aceites pelas gentes de Canaã, armou os seus servos tomou posse da região, onde ele e o seu povo cresceram e prosperaram.
Foi aí que Deus apareceu novamente a Abraão e repetiu a Sua promessa de que ele se tornaria pai de muitas nações e que ele e sua semente herdariam a terra de Canaã (Palestina) para sempre.
Foi aí que Agar, serva de Sara, lhe deu um filho, chamado Ismael, que estava destinado a ser o antepassado do povo árabe. Aí, também, a idosa Sara, que há muito tempo era estéril, deu a Abraão o seu bem amado filho Isaac.
Abraão passou o seu poder patriarcal a seu filho Isaac e deste para Jacob que depois o passou para os seus doze filhos. Um deles, chamado José foi vendido pelos irmãos como escravo. Os ismaelitas que o compraram eram um grupo de mercadores que se dirigiam para o Egipto, onde venderam José.
Chegou ao Egipto no período entre o Médio e o Novo Império, durante a dominação dos Hicsos, um povo de origem semita como ele.
Sabe-se que José ascendeu a uma posição de grande destaque sob o reinado de um dos faraós hicsos. Entrou como escravo e tornou-se primeiro-ministro graças à sua habilidade de interpretar os misteriosos sonhos do faraó. Predisse uma grande fome e salvou a nação, pondo de lado o trigo de sete anos de fartura para serem usados durante os sete anos da fome.
Na qualidade de primeiro-ministro chamou os seus irmãos e o seu povo para o Egipto e estabeleceu-os na rica região do delta conhecida na Bíblia com o nome de Gósen.
Os Filhos de Israel – a família de José e as famílias dos seus onze irmãos, que constituíam as Doze Tribos - estabeleceram-se permanentemente no Egipto nessa época, fazendo dele a sua pátria durante as doze ou catorze gerações seguintes, até ao tempo de Moisés.
Não haviam passados muitos anos depois da morte de José quando chegou para o Egipto o dia do ajuste de contas coma expulsão dos Hicsos do país. Os príncipes naturais do Egipto começaram a revoltar-se. O Príncipe Ames derrotou os Hicsos com um considerável exército. A recordação dos anos de humilhação sob os Hicsos suscitou uma atitude militante e agressiva entre os egípcios. Nos anos que se seguiram o Egipto tornou-se uma potência temida.
(continua)