sábado, janeiro 21, 2006

Filogenia dos ancestrais humanos
(continuação)

Há cerca de 2,6 milhões de anos, na África Oriental desenvolveu-se uma nova raça do antepassado humano, o Paranthropus aethiopicus.
As suas evidências fósseis, que consistiam em alguns crânios incompletos, com mandíbulas e dentes, foram encontradas no Rift Valley, em West Turkana, no Kénia e em Omo na Etiópia.
O seu tamanho corporal é semelhante ao seu sequente Paranthropus boisei, continuando a apresentar um acentuado dimorfismo sexual.
Capacidade craniana pequena, cerca de 400 cm3, onde é nitidamente visível, no topo do crânio a crista sagital. Não existem vestígios de qualquer uso de utensílios.
O habitat era a savana semi-árida, embora por vezes andassem na floresta.
Apesar da filogenia do Paranthropus aethiopicus não ser fácil de compreender, o que provocou muitos debates na comunidade científica, toma-se como provável, ter sido o elo de ligação entre o Australopitecos africano e Paranthropus boisei.

Paranthropus boisei


No período de tempo entre 2,3 e 1,2 milhões de anos, a África Ocidental foi habitada pelo ancestral Paranthropus boisei. As suas evidências fósseis foram encontradas em Olduvai Gorge, Tazânia e em Koobi Fora, West Turkana, Kénia.
Habitavam as áreas secas da savana que existiam na África Ocidental.
Com a ocorrência de grandes alterações climatéricas verificadas neste período, a adaptação deverá ter sido crítica para sobreviver, com os antigos recursos reduzidos ou mesmo esgotados. O Paranthropus boisei não foi capaz de efectuar a adaptação em face da mudança, pelo que o seu desaparecimento ocorreu há cerca de 1,2 milhões de anos.


Coexistiu com o seu sucessor Paranthropus rubustus e manteve com ele uma existência interactiva.
Corporalmente mais desenvolvido que os seus antecessores, continua a ser visível o dimorfismo sexual.
O crânio dos machos é maior do que o das fêmeas e de construção mais pesada, com uma capacidade craniana de 510 cm3.
Pode ser observada uma grande crista sagital no topo do crânio, uma face baixa formada por um largo arco zygomático e dentes que se projectam para a frente das fossas nasais.
A relação dos maciços dentes molares com os relativos pequenos dentes incisivos, reflecte a adaptação para uma forte mastigação.
As condições difíceis em que vivia, exigiram-lhe uma dieta composta por rijos alimentos fibrosos.
Vêm-se os contrafortes da mandíbula com uma massa grossa de ossos até aos molares, onde os músculos ramus convergem com o corpo da mandíbula. Estes contrafortes são uma adaptação estrutural para ajudar a mandíbula a suportar a pressão exercida pelos músculos da mastigação. A massa muscular descia da crista sagital onde estava fixa até à mandíbula, formando desta forma um poderoso aparelho mastigador.

Paranthropus Rubustus



Há cerca de 2,2 a 1,2 milhões de anos, a África Meridional foi habitada por uma robusta espécie do primitivo humano, o Paranthropus rubustus. Desde a sua primeira descoberta em 1938 até à última em 1948, foi evidente que ele apresentava uma morfologia muito diferente dos primitivos humanos já conhecidos, o que lhe emprestava já uma grande evolução.
A descoberta de um rubustus jovem, numa caverna em Swartkranz, na África do Sul, cujo crânio apresentava perfurações feitas pelos dentes caninos de um leopardo, sugere que este primitivo hominídeo viveu ao mesmo tempo que os grandes predadores das planícies africanas.
Tinha uma aparência alta, o peso rondava os 45 Kg, com uma estrutura larga e com uma capacidade craniana entre os 500 e os 600 cm3
A face pesada é de forma plana, sem fonte e vastas sobrancelhas.
As suas mãos eram muito parecidas com as do homem actual, com uma longa palma, capaz de fazer movimentos e manipular objectos.
As adaptações do crânio estavam ligadas com um “pesado complexo de mastigação”. Este complexo permitia a estes primitivos humanos comerem grandes quantidades de rija comida fibrosa.
Os arcos zygomáticos são grandes e destacados para fora da face. A sua inclinação muito extensa, cria um grande espaço entre o arco e o cérebro, e a abertura é conhecida como a fossa temporal.
Dois conjuntos de músculos estão associados à secção de moer necessária para processar estes tipos de comida; o complexo masseter, que estão fixados no fundo do arco zygomático, e os músculos temporais que passam por baixo do arco e fixam-se no cimo do crânio.
A expansão para a frente dos dentes molares cria mais espaço para os músculos temporais passarem por baixo do arco zygométrico, e o incrementado tamanho dos arcos proporciona mais espaço para acomodar um grande músculo masseter.
Outra característica do crânio rubustus é a presença de uma proeminente crista sagital, maior no macho do que na fêmea, um ossudo espinhaço que percorre todo o cumprimento do cimo do crânio. Este ossudo espinhaço providência um ponto de fixação para os grandes músculos temporais.
Em relação aos dentes, estes apresentavam uma arcada dental parabólica, molares bastante largos e pré-molares com espesso esmalte, dentes incisivos muito pequenos, maxilares maciços, dentes completamente lisos.
Face achatada, causada pela posição anterior dos molares, e o tamanho extremamente grande dos molares e pré-molares, são características típicas das formas dos rubustus.
Estas características são a chave para o desenvolvimento de uma mastigação complexa destinada a processar comida fibrosa rija. A posição anterior dos molares criou espaço para grandes músculos de mastigação atrás do arco zygomático. Os grandes molares e pré-molares proporcionam grandes superfícies para moer os alimentos rijos.
A mastigação maciça é característica das últimas três espécies, atingindo o seu maior desenvolvimento com Paranthropus rubustus.

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Velas com tradição

O Creoula, último veleiro da frota da nossa saga bacalhoeira, é hoje navio de treino de mar para jovens a quem o mar ainda representa o espírito da aventura dos nossos antepassados.
Veleiro com cerca de 67 metros de comprimento, quatro mastros e uma área vélica de 1.240 m2, navegar nele é a concretização do sonho de qualquer amante da navegação à vela.
Inspirado nas linhas das antigas escunas canadianas, foi construído em 1937 num tempo recorde de 62 dias. Em Junho de 1937 efectuou a sua primeira campanha do bacalhau.
O navio foi modernamente equipado, com luz eléctrica, grupos de motores para esgoto, incêndio, baldeação, lavagem de peixe e manobra do ferro e das velas. Foi também equipado com aparelho de TSF e câmaras frigoríficas para o isco. As velas feitas de lona de algodão, foram manufacturadas pelos próprios marinheiros e pescadores.
Internamente dividia-se em três secções. Na central ficava o porão do peixe, agora transformado em aposentos dos instruendos. Na ré o alojamento dos oficiais e casa das máquinas e na zona de vante ficava o alojamento dos pescadores, paiol de mantimentos e as câmaras frigoríficas do isco.
Na nossa história marítima, o mar sempre foi palco da tragédia, e o Creoula não fugiu à tradição, quando a 10 de Outubro de 1938, durante um temporal, uma onda de grandes dimensões varreu o convés arrastando consigo o imediato e três pescadores que pareceram no acidente, causando simultaneamente avultados estragos materiais no navio, entre os quais a perda de 28 doris.
As águas geladas da Terra Nova e da Gronelândia que têm saudades das suas 37 campanhas, generosamente sempre lhe propiciaram boas pescarias. Como lugre bacalhoeiro navegou mais de 300.000 milhas.
Em 1973 foi a sua última campanha, sendo o único veleiro a ir aos bancos da Terra Nova, constratando com os modernos arrastões que participavam na campanha desse ano.
Mas o progresso não se compadece com o romantismo e foi considerado economicamente inviável. O seu brilhante passado foi esquecido e finda a campanha foi abatido ao serviço.

Eu fui um dos bafejados pela sorte, naveguei nele durante uma semana. Foi a concretização de um sonho da juventude. Já era meu conhecido de longa data, quando o Tejo era o porto de partida para a faina bacalhoeira.
De todos os veleiros concentrados no Tejo, e eram muitos nessa altura, o Creoula era o preferido aos olhos da criança que eu era.
Percorria a pé toda a margem do Tejo desde Belém até Alcântara, deliciando a vista com os veleiros, tantos mastros, vergas e cordame, enquanto a imaginação me colocava a bordo de todos eles e neles navegava ao sabor do vento.
Quando foi abatido à frota em 1973, e passou a ser usado como depósito de carvão, sem mastros, desfigurado, sujo e enferrujado, não era mais que um cadáver esperando ser desmantelado.
Mas a minha amizade por ele nunca esmoreceu e, periodicamente ia visitá-lo à doca do Cais do Sodré, onde estava atracado. Não me lembro se chorava ou falava com ele tentando confortá-lo do seu fado. Só me lembro que ficava muito tempo ao pé dele, como se fosse um amigo muito chegado.
Durou muitos anos a sua agonia, até que os homens para quem o perfume preferido é o cheiro do mar, lhe devolveram a dignidade perdida.
Com cerca de 45 anos de idade, e como membro de uma escola de vela, tive a oportunidade de voltar a encontrar o meu velho amigo e nele ter embarcado e, durante uma semana com ele navegar.
Quando embarquei, fi-lo tão devagar, como que uma surpresa lhe quisesse causar. Recebeu-me de braços abertos e logo todo o barco me quis mostrar. Olhou-me de soslaio com um sorriso matreiro, querendo saber se não me tinha esquecido dos comprimidos para não enjoar.
Nem comprimidos, nem botas de borracha, nem fato de oleado, nada podia faltar, um bom marinheiro havia-se em terra antes de ir para o mar.
Com o pano todo aberto, adornado pelo vento, sulcando as ondas, vivemos intensamente todos os momentos, quer limpando o convés, quer governando-o ao leme, quer manobrando as velas ou ainda verificando a sua posição para no rumo não se enganar.
Nada ficou por fazer, ver ou tocar, movido pela consciência de que dificilmente juntos voltaríamos a navegar.
Na despedida, no convés, trocamos um longo olhar que uma lágrima fez saltar.
Hoje, quando passa, não me vê, tão compenetrado vai na sua rota, mas eu paro sempre para lhe acenar com o olhar da saudade.

sábado, janeiro 14, 2006

Maquiavel

Nicolau Maquiavel é considerado um dos maiores e mais controversos pensadores do Renascimento, nasceu em Florença a 3 de Maio de 1469, e morreu em 20 de Junho de 1527.
Nada se sabe sobre a sua vida, para além de ser filho de um jurista, até 1498, data em que na sequência da expulsão de Savarola que dirigia os destinos da República de Florença, e da fundação de uma segunda república por Soderini, foi convidado para entrar ao serviço da administração da República como secretário do Conselho dos Dez da Guerra, instituição que tratava dos assuntos da guerra e da diplomacia.
Ao serviço da Chancelaria viajou exaustivamente, participando em diversas embaixadas às cortes italianas e europeias, conhecendo diversos dirigentes políticos como Luís XII, o imperador Maximiliano, o Papa Júlio II e César Bórgia que estava estabelecido na Romagna, tornando-se um exímio conhecedor dos mecanismos políticos vigentes na época.
Em 1502 casou com Marietta Corsini, de quem teve quatro filhos e duas filhas.
Em 1504 inspirado nas suas leituras sobre a História Romana, apresentou um plano para reorganizar as forças militares de Florença, que foi aceite, e em 1509, obtém um enorme êxito ao dirigir um pequeno exército miliciano de Florença numa operação de socorro a Pisa.
Em Agosto de 1512, devido à invasão espanhola do território da república, a população depôs Soderini e voltou a reeleger os Médicis. Maquiavel foi demitido em 7 de Novembro do mesmo ano, devido à sua ligação ao governo republicano, retirando-se da vida pública.
Em 1513, suspeito de envolvimento numa conspiração contra o novo governo, foi preso e torturado.
Tirando algumas nomeações para postos temporários e sem importância, passou a dedicar-se à escrita em Sam Casciano, perto de Florença.
Em Maio de 1527, com nova expulsão dos Médicis de Florença, tentou recuperar o seu ligar na Chancelaria, mas foi-lhe recusado devido à reputação que O Príncipe já lhe tinha granjeado. Pouco tempo depois morreu, imediatamente a seguir ao saque de Roma.
Durante os séculos XVI e XVII, o seu nome foi o sinónimo de crueldade, em especial na Inglaterra, onde utilizavam o diminutivo Nick para evocar o diabo.
A vida de Maquiavel decorreu durante o período de maior esplendor de Florença, mas também o mais marcado pela instabilidade política, pela guerra, pela intriga entre os estados italianos, incluindo os Estados da Igreja.
É no exílio na sua propriedade de Sam Casciano que escreveu as suas principais obras. Os discursos sobre a primeira década de Tito Lívio, O Príncipe e a História de Florença.
Maquiavel foi o primeiro a conceber a política e os fenómenos sociais, cuja novidade era a separação da política da ética.
Para Maquiavel, a política tinha um único fim: conquistar e manter o poder. Tudo o resto, a religião e a moral, que era associado à política nada tinha a ver com este aspecto fundamental. No seu pensamento o que verdadeiramente interessa para a conquista do poder é ser calculista; saber o que fazer, o que dizer e como actuar em cada situação.
Fundamentando-se neste princípio, descreveu no O Príncipe única e simplesmente os meios a utilizar pelos indivíduos que procuram conquistar e manter o poder. Afirmava que todo o julgamento moral deve ser secundário na conquista, consolidação e manutenção do poder.
A feitura deste livro tinha como objectivo bajular os Médicis, na esperança que lhe atribuíssem uma colocação de destaque.

Alguns enxertos de O Príncipe

“Deve saber-se que há dois modos de vencer um com as leis, outro com a força: o primeiro é próprio dos homens, o segundo dos animais; mas porque muitas vezes o primeiro não basta, convém recorrer ao segundo”

“Todos concordam que é muito louvável um príncipe respeitar a sua palavra e viver com integridade, sem astúcias nem embustes. Contudo, a experiência do nosso tempo mostra-nos que se tornaram grandes príncipes, os que não, ligaram muita importância à fé dada e que souberam cativar, pela manha, o espírito dos homens e, no fim, ultrapassar aqueles que se basearam na lealdade.”

“Por conseguinte, não é necessário que um príncipe possua todas as qualidades mencionadas, mas convêm que aparente tê-las. Atrever-me-ia a dizer antes que, tê-las e observá-las sempre, é prejudicial e que aparentar tê-las é inútil: como parecer piedoso, fiel, humano, integro, religioso, etc., mas ter sempre o ânimo preparado para, na altura que convenha, tu poderes e saberes fazer o contrário.”

“Deve-se ter-se presente que um príncipe, e sobretudo um príncipe novo, não pode observar todas aquelas coisas pelas quais os homens têm fama de bons, tendo mesmo necessidade, para manter o Estado, de proceder contra a fé, contra a caridade, contra a humanidade, contra a religião. É preciso mesmo que tenha ânimo disposto a mudar segundo o que lhe mandem os ventos e as variações da fortuna e, como acima disse, não se separar do bem podendo fazê-lo, mas saber entrar no mal se for necessário.”

Esta cartilha do ditador, ainda hoje é lida e seguida por muita gente. Não olhar aos meios para alcançar os fins pretendidos.

sábado, janeiro 07, 2006

A Evolução do pensamento filosófico

Não sendo os Gregos os primeiros a pensarem no mundo e nos seus fenómenos, foram, contudo, os primeiros a separarem-se das crenças religiosas tradicionais para pensarem de maneira racional sobre o mundo, os seus fenómenos, as suas causas e efeitos. Com os Gregos apareceu pela primeira vez na história da Humanidade a necessidade de explicar o mundo e os seus fenómenos através do pensamento puro.
É com os pensadores Jónios da escola de Mitelo, Tales, Anaximandro e Anaxímenes que nascem as bases de um embrião de ciência. A este período do pensamento grego chama-se Período Naturista, porque a nascente especulação dos filósofos é voltada para o mundo exterior, em que julgam também achar o princípio de todas as coisas.

O primeiro filósofo da escola de Mitelo, foi Tales (Mitelo 624 a.C. a 547 a.C.) Nada se sabe com segurança acerca da sua vida, pois, como Sócrates, nunca escreveu nada. Teria aprendido os seus conhecimentos de astronomia e de matemática quando esteve no Egipto.
Ao empenhar-se em buscar explicações racionais para fenómenos da Natureza sem recorrer a explicações míticas, é considerado o pai da filosofia grega e o primeiro filósofo a surgir no Ocidente.
No que diz respeito ao problema do elemento original, Tales chega a esta conclusão: “A água é a fonte de tudo”. Segundo Aristóteles, Tales baseava esta hipótese no facto de as plantas e animais precisarem de humidade; o calor da vida nasce, portanto da humidade.
A água era o princípio formador da matéria porque o que é quente precisa da humidade para viver, o morto se resseca, todos os alimentos estão cheios de seiva. É natural que as coisas se nutram daquilo de que provêm. A água é o princípio da natureza húmida, que contem todas as coisas, e a terra repousa sobre a água.
Em filosofia pura, Tales chegou à seguinte conclusão: todo o visível, ao ser analisado mais profundamente, toma um aspecto diferente do que apresenta aos olhos do profano.


Anaximandro (Mitelo 610 a.C. a 546 a.C.) foi discípulo e sucessor de Tales. Escreveu o primeiro texto filosófico conhecido, intitulado Sobre a Natureza e vai mais longe que o seu mestre na procura do elemento original.
Para Anaximandro considerar a água como origem de tudo não o satisfazia, pois, para fazer passar a água do estado sólido ao líquido, é necessário calor, tal como sucede para fazer passar do estado líquido ao gasoso.
Havia, por consequência, dois princípios primordiais de base: sólido ou frio e o calor. Anaximandro faz nascer esses dois princípios da “separação” de uma matéria original que se encontra nos diferentes aspectos da matéria. Chama a essa matéria infinito (ápeiron), ou “o sem forma e sem limite”.
Dela nascem todas as coisas, por divisão, e para lá voltam, para nela desaparecerem. Todas as coisas devem desaparecer, sendo esse o seu castigo por se terem separado do todo.
Anaximandro vê na transformação e desaparecimento das coisas e no ciclo contínuo do nascimento e da morte a obra de uma poderosa lei da Natureza. Esta aparece-lhe, ao mesmo tempo, como uma ordem que se estende a todas as coisas e que castiga o indivíduo pelo seu “hybris” (orgulho ímpio, a soberba pessoal em relação aos deuses), expresso no próprio facto da sua individualidade. O egoísmo.
Segundo Anaximandro, só merecia ser chamada “divina” uma existência não diferenciada nesse elemento primeiro, infinito, onde residia toda a força.. Ao estabelecer que o princípio de todas as coisas seria o “indeterminado”, Anaximandro deslocou o problema do plano físico material para o plano espiritual.

Anaxímenes (Mileto 585 a.C. a 525 a.C.) Discípulo de Anaximandro, apresentava o ar como origem de tudo o que existe e, com a sua teoria sobre a condensação e rarefacção, contribuiu para o avanço do pensamento científico.
Para ele, o ar era o elemento primordial, de que todas as coisas resultavam e a que retornavam, por um duplo movimento de condensação e rarefacção. Os graus de condensação correspondiam às densidades de diversos tipos de matéria.
Quando distribuído uniformemente, o ar era ar atmosférico invisível. Pela condensação, torna-se visível e forma nuvens donde cai a chuva. Anaxímenes conclui portanto, que quando o ar se condensa ainda mais, se formam matérias sólidas, como a terra e as pedras.
Chegou portanto, pela via do pensamento, à conclusão de que toda a matéria se pode tornar mais ou menos densa e apresentar sob a forma sólida, depois sob a forma líquida e, em seguida, sob a forma gasosa, ou seja alterar o modo de condensação e rarefacção.
Mas quando Anaxímenes emprega a palavra que se traduz por “ar”, pensa em qualquer coisa de mais abstracto. Ela queira significar uma “alma do mundo” que tudo penetra e dá vida. Aliás, diz: “A nossa alma também é ar”.
Com a evolução do pensamento destes três filósofos, consagrando como elemento primordial, primeiro a água depois o calor e por fim o ar, verificamos que o pensamento, inicialmente materialista, passa a espiritual, abrindo assim as portas para os grandes pensadores que se lhes seguiram.