quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Lembranças IX

O edifício do serviço de cirurgia tinha dois andares, o rés do chão onde ficavam as enfermarias dos doentes que aguardavam intervenções cirúrgicas ou estavam em pós operatório. Em ambos os casos, os doentes não eram feridos de guerra, mas tão só doentes de qualquer doença, apendicite, hérnias, quistos etc. e sinistrados ligeiros dos exercícios de treino nos quartéis. Também neste piso ficava o serviço de urgência, que normalmente é designado por banco. Esta do banco está bem adjectivada, se pensarmos no tempo de espera, sentados no banco, que passamos nas urgências dos hospitais para sermos atendidos.
No hospital militar não havia banco, todos os sinistrados eram prontamente atendidos, e olhem que eram muitos. Estávamos em guerra e a preparação militar procurava recrear situações o mais reais possíveis, inclusive o uso de munições verdadeiras. Todos os dias recebíamos sinistrados com membros fracturados, e por vezes alguns com uma ou outra bala extraviada alojada. Tínhamos mesmo muito trabalho.
Enquanto instruendos do curso de enfermagem, não nos era autorizado circular noutro local que não fosse no rés do chão. Todo o serviço prático era feito nas enfermarias e na sala de tratamentos do serviço. Mas a curiosidade é grande e começamos a conjecturar o que estaria nas enfermarias do piso superior. Havia unanimidade na resposta, eram os feridos mais graves vindos da guerra.
Às nossas perguntas, o sargento monitor, respondia que tínhamos tempo de ver o que por lá se passava, por agora que ficassemos por onde estávamos para não atrapalhar.
O grupo de alunos de enfermagem, era muito mais pequeno que o pelotão de Mafra o propiciou um melhor conhecimentos uns dos outros, e dar início a amizades. Fiz dois amigos, o Galrinho e o Victor, que foram meus camaradas no hospital durante todo o tempo até passarmos à disponibilidade juntos.
Um dia também o curso chegou ao fim, após ter aprendido a dar injecções na perfeição, fazer suturas, pensos, curar feridas, fazer gessos, medir a tensão arterial, um sem fim de coisas, que por muitas que fossem, eram muito poucas comparado com o que viríamos a aprender na prática no futuro exercício da especialidade.
Eu e os meus amigos ficámos nos três primeiros lugares do curso, o que nos deu colocação imediata no serviço de cirurgia (a especialidade cimeira do hospital). Postas as divisas de cabo miliciano, fomo-nos apresentar ao sargento chefe das enfermarias do serviço de cirurgia, que ficava no primeiro andar, o tal onde não queriam que nós fossemos espreitar, para um suposto estágio pós formação.
O chefe das enfermarias era um primeiro sargento do quadro, lateiro como se dizia na gíria, mas ao contrário do que era normal com estes sargentos, era uma óptima pessoa, sempre bem disposto, e pronto a ajudar no que quer que fosse. Só impunha uma condição: ausentar-se sempre que precisava para exercer a sua profissão, não no exército mas na vida civil. Entre outras coisas era massagista no Sporting. Mas fora o pecado, o gajo era mesmo porreiro, o que se reflectiu e muito na nossa vida hospitalar. Não me lembro do seu nome, mas vou passar a trata-lo por António.
O nosso primeiro dá licença?, pedimos nós à entrada do seu gabinete, que era simultaneamente o gabinete médico, para entrarmos. Entrem, respondeu ele olhando para nós sentado atrás de uma secretária, e com um sorriso estendeu a mão e cumprimentou-nos. Então foram vocês que me saíram na rifa? É verdade respondeu um de nós. Vocês eram enfermeiros na vida civil antes entrarem para a tropa? Voltou a perguntar. Não, tirámos o curso de enfermagem aqui no hospital e vimos estagiar.
Após uma breve pausa, apoiou os cotovelos na secretária, uniu as mãos e pousando o queixo sobre elas disse. Estou f…., tenho seis enfermarias e só tenho quatro enfermeiros com experiência, os outros foram todos mobilizados para o Ultramar na semana passada. Não sei o que o Horta quer que faça (o Horta era o coronel médico director do hospital). O pomba branca (era a alcunha do sargento ajudante, enfermeiro mor do hospital) não liga nenhuma, só se interessa pela limpeza, o resto a gente que se desenrasque. Isto não um serviço de medicina, aqui temos muito mais trabalho.
Findas as lamentações nova pausa, esta mais prolongada. Endireitou as costas na cadeira, cruzou os braços sobre o peito e com a voz num tom mais sério interrompeu o silêncio. Têm de se desenrascar, não há estágio nenhum, dois de vocês vão tomar conta das duas enfermarias que não têm enfermeiro, até vão aprender mais depressa. O terceiro fica aqui comigo a tratar da m… da papelada.
Mas nosso primeiro, não temos prática para tratar dos doentes, argumentou o Galrinho. Não faz mal eu estou aqui para vos ajudar, contrapôs.
Nova pausa. Os olhos dele agora sorriam maliciosamente, e nós entendemos que a escolha da distribuição era nossa. E decidimos, uma enfermaria para mim, outra para o Galrinho e a escrita para o Victor, que tinha o estômago mais fraco para digerir tal petisco. A escrita do serviço, por seu lado, também não era coisa fácil. Ler os boletins médicos, com aquela letra horrível que mais parece linguagem em cifra, para ver as prescrições medicamentosas e fazer as respectivas requisições, tratar das altas, transferências, exames médicos etc.
O sargento visivelmente satisfeito, levantou-se, dirigiu-se para a porta, e com um gesto de convite a indicar a saída do gabinete, disse: o meu nome é António e agora vou mostrar as dependências do hotel.

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Em tempo de eleições vale a pena recordar



Que a democracia é um governo em que a soberania é exercida pelo povo, ou seja a organização interna do Estado em que cabe ao povo a origem e o exercício do poder político, e em que o povo é governado pelos seus legítimos representantes. Assegura, pois, a simbiose e a intercomunicação entre os governantes e os governados, no contexto de um Estado de Direito.
A democracia é uma vivência popular, cuja existência depende fundamentalmente da formação pedagógica do povo.
A formação da opinião pública é essencial, quer ao nível da componente participativa de todos os cidadãos, quer na escolha dos seus representantes, quer no controlo das decisões dos órgãos do poder político. Sem um espírito esclarecido, a democracia é um logro, ficando-se por um mero exercício de competição pelo poder entre grupos de interesses.
A complexidade da moderna sociedade, exige uma maior interferência dos cidadãos nos vários processos de decisão, uma maior transparência da actividade do “estado-administração”, e a observância dos programas eleitorais, fundamento da opção de escolha.
Sendo democracia implicitamente participativa, também o é representativa, na qual os partidos políticos assumem um papel fundamental, pelo que devem estar estruturados, internamente, com uma democraticidade actuante. Daí a necessidade, para além da ética que nenhum texto poderá substituir na prática política, existir uma lei dos partidos, que regulamentasse o seu funcionamento democrático.
A democracia política sem o complemento necessário de democracia social e económica não passará de um mero axioma de direito público.

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

IMOHTEP, o médico do Egipto



Entre toda a população do antigo Egipto, não pertencente à realeza, um homem se notabilizou para sempre, devido ao seu saber e ao seu comportamento. Imhotep “esse que vem em paz”, um dos personagens antigos mais conhecidos do mundo de hoje. Provavelmente, temos um conhecimento dele muito maior do que do seu soberano Djoser (2630 a 2611 a.C.), o segundo rei da terceira dinastia.
Existiu como uma personagem mitológica nas mentes dos estudiosos, até ao fim do século XIX, em que pelas descobertas efectuadas, ficou estabelecido ter existido como uma personagem historicamente real.
Foi o primeiro arquitecto nomeado do mundo, e reconhecido também como médico, sacerdote, escriba, sábio, poeta, astrólogo e vizir.
Pode ter vivido não só no reinado de Djoser como dos quatro reis seguintes. Nas inscrições em estátuas de reis podem-se ver os títulos de Imhotep como “vizir do rei”, de “o primeiro a seguir ao rei”, do “administrador da casa grande”, “do nobre hereditário”, “do principal sacerdote de Heliopolis”, “do escultor principal”, e “do carpinteiro principal”.
Dos detalhes da sua vida pouco se sabe, pouco sobreviveu, para além das numerosas estátuas e estatuetas. Algumas mostram-no como um homem vulgar, vestido com uma roupa simples. Outras mostram-no como um sábio sentado numa cadeira com um rolo de papiro sobre os joelhos.
Alguns cientistas supõem que Imhotep terá nascido em Ankhtowë, nos subúrbios da cidade de Memfis, outros sugerem que ele nasceu na vila de Gebeleine, ao sul de Tebas. Seu pai, Kanofer, poderá ter sido um arquitecto. Sua mãe poderia ter sido Khreduonkl ou a outra esposa, Ronfrenofert, mas nenhuma é tomada como certa.
Proveniente de um nascimento modesto, depressa se notabilizou devido ao seu génio, talentos naturais e dedicação.
Como sacerdote chefe do templo de Heliopolis, era o principal sacerdote do Egipto, na sua época.
Como arquitecto é o primeiro construtor de pirâmides conhecido. É lhe atribuída a construção de todo o complexo da pirâmide de degraus de Djoser em Sappara, a colaboração na pirâmide inacabada de Sekhemkhet, e também na construção do templo de Edfu.

Os melhores escritos conhecidas de Imhotep são textos de medicina. Como médico, Imhotep é acreditado como o autor, segundo o papiro de Edwin Smith, de 90 termos anatómicos e a descrição de 48 ferimentos. Fundou uma escola de medicina em Mênfis, conhecida como “Asklepion” que permaneceu famosa por dois mil anos. Tudo isto ocorreu 2.200 anos, antes que o pai da medicina ocidental Hipócrates tivesse aparecido.
Imhotep diagnosticou e tratou cerca de 200 doenças, 15 doenças do abdómen, 11 da bexiga, 10 do recto, 29 dos olhos, e 18 da pele, do cabelo e da língua., a tuberculose, pedra da vesícula, apendicite e artrite.
Também praticou a cirurgia, para a qual foram encontrados diversos instrumentos cirúrgicos em diversas escavações, e foi dentista. Imhotep extraía os remédios das plantas. Conhecia a posição e a função dos órgãos e da circulação do sistema sanguíneo.
Os egípcios eram médicos muito avançados para o seu tempo. Eram mestres na anatomia humana e na cura de doenças devido às possibilidades que a dissecação na mumificação proporcionava. Esta envolvia a remoção da maioria dos órgãos internos incluindo o cérebro, os pulmões, o pâncreas, o fígado, o baço, o coração e o intestino. De todos estes órgãos o que menos importância tinha para os egípcios era o cérebro, que extraído com pinças próprias pelas fossas nasais, era atirado fora enquanto os outros órgãos eram guardados nos vasos canopos.
Os egípcios tiveram, o que é compreensível, um conhecimento básico das funções dos órgãos dentro do corpo.

Os médicos egípcios também frequentemente se especializavam, “médico do olho do palácio”, “médico das entranhas do estômago do palácio”, “o guardião do ânus” etc.
O papiro Kahun é um texto que nos fala da ginecologia, que trata dos órgãos de reprodução, concepção, testes de gravidez, o parto e a concepção.
Graças aos papiros médicos, sabe-se de muitos tratamentos usados nas prescrições egípcias para a cura de doenças e como eram tratadas as fracturas ósseas.
Usavam para o tratamento das doenças, uma variedade muito grande de substâncias provenientes de plantas, minerais e animais como a urina de alguns destes. Souberam usar supositórios, fazer purgas e utilizavam frequentemente o óleo de rícino.
Os egípcios acreditavam que a doença e a morte eram causadas por um deus, ou por alguma força sobrenatural. Tiveram os curandeiros, que descobriam a entidade particular que causava a doença e a tentavam expulsar com rituais e talismãs, contudo, para além dos curandeiros, existiam os médicos com as suas prescrições e tratamentos, algumas vezes com um cunho de magia também.

Uma das doenças mais comuns entre os antigos egípcios , era uma infecção provocada pelo caracol da água. As pessoas eram infectadas pelo contacto com o caracol. O gérmen da infecção aderia à pele e entrava no sistema sanguíneo do hospedeiro, causando anemia, perda de apetite, infecção urinária, perda de forças e outros males.
Sofriam também de outras doenças provenientes dos insectos como a malária, a cólera e devido à má nutrição a tuberculose.
Imhopet é um exemplo do culto da personalidade. Aproximadamente 100 anos após a sua morte, foi considerado como um semideus médico. Em aproximadamente 525 a.C., cerca de 2.000 anos após a sua morte, foi elevado à categoria de um deus, e substituiu Nefertum na tríade grande em Mênfis. No Cânon de Turin era considerado como filho de Ptah. Imhotep foi, conjuntamente Amenhotep, os únicos egípcios mortais que alcançaram o estatuto de deuses. Foi também associado com Thoth, deus da sabedoria, da escrita e da aprendizagem.

Posteriormente foi adorado mesmo pelos cristãos antigos como um Cristo. Os primeiros cristãos adoptaram para seu uso aqueles formulários, quer medicinais quer pagãos, constituindo uma verdadeira tradição.
Foi adorado na Grécia onde foi identificado com o seu deus da medicina Aslepius. Foi honrado pelos Romanos e os imperadores Claudius e Tibérius colocaram inscrições nas paredes dos seus templos egípcios, elogios a Imhotep. Encontrou um lugar na tradição árabe, especialmente em Saqqara, onde se pensa que o seu tumulo se encontra.
Imhotep viveu até muito tarde, tendo morrido aparentemente durante o reinado de Huni, o último faraó da terceira dinastia. O seu túmulo ainda não foi encontrado, contudo, pensa-se que se encontra em Saqqara, à espera que o descubram.

sábado, fevereiro 05, 2005

Lembranças VIII

Gozada a licença de fim de semana, apresentei-me no domingo às 21 horas no Hospital Militar Principal, onde encontrei alguns dos meus camaradas de Mafra também destacados para enfermeiros.
Depois de os cumprimentar fomo-nos apresentar ao Oficial de Dia. Esperámos cerca de meia hora à porta do seu gabinete, até aparecer um cabo, com uma apresentação tão desleixada, inconcebível para a disciplina a que estávamos habituados, que perguntou o que queríamos. Vimo-nos apresentar ao oficial de dia. Com um olhar enfastiado indagou; de onde vêm? De Mafra nosso cabo, respondemos muito aprumados. Têm onde ficar em Lisboa? Voltou a perguntar. Sim temos, respondemos de novo. Então toca a andar para casa e passem por cá amanhã de manhã para a presentação. Voltou-nos as costas e foi-se embora. Seguimo-lo com o olhar e verificamos que entrava no gabinete do oficial de dia e se sentou em cima da secretária deste que estava recostado num cadeirão a jogar às cartas, com outras pessoas que por estarem de costas não conseguimos identificar o posto.
Após uns momentos de espanto, alguém exclamou, malta vamo-nos embora, parece que saímos do inferno e caímos no céu.
Nas segunda feira seguinte lá nos encontrávamos de novo, no meio de uma confusão de trajos civis, fardas e batas de enfermagem, numa coabitação do mais informal possível. Ninguém saudava ninguém. Os médicos eram tratados por doutores como de um hospital civil se tratasse, os sargentos trajando à civil só eram reconhecidos quando usavam bata com as respectivas divisas.
Após uma longa espera, apareceu um sargento amanuense que nos pediu as guias de marcha. Depois do almoço fomos informados do local onde iríamos ter as aulas de enfermagem, horários e respectivo programa.
O curso de enfermagem compunha-se de duas partes distintas. A teórica, que era ministrada num complexo de edifícios situados na Avenida Infante Santo, do lado esquerdo de quem desce, por um oficial médico, e a prática, nas instalações do serviço de cirurgia, no outro lado da mesma avenida, mesmo em frente, por um sargento enfermeiro.
Repensando melhor o meu destino militar, cheguei à conclusão de que, se tinha de tirar um curso de enfermagem, esse curso para além de enriquecer os meus conhecimentos, quem sabe se ainda me poderia vir a ser útil um dia na vida civil. Com este pensamento resolvi aplicar-me seriamente no curso com o objectivo de ser um enfermeiro o mais qualificado possível.
Das aulas teóricas, além de chatas, pois o médico que as ministrava não tinha o mínimo de habilidade didáctica, não há nada de especial a salientar, o que já não se pode dizer das práticas, onde assisti às cenas mais hilariantes, protagonizadas por alguns dos meus camaradas, que querendo mostrar a sua destreza na aprendizagem, expunham-se ao ridículo geral.
Para quem inicia a parte prática da enfermagem, sem sombra de dúvida, o aprender a dar injecções não é muito fácil. A lição era ministrada pelo sargento monitor, não utilizando para tal qualquer simulacro de paciente, mas sim directamente nos doentes.
O mais complicado, por incrível que pareça, é o espetar da agulha na nádega do paciente. A introdução da agulha exige duas coisas: primeiro que ela penetre bem fundo, segundo que essa penetração não cause dor. Com a prática os dois objectivos são conseguidos sem qualquer dificuldade, mas para quem se vai iniciar nestas espetadelas, uma força invisível trava normalmente a mão no momento de espetar, não conseguindo a agulha penetrar na carne.
Na primeira aula, o sargento depois de explicar teoricamente a técnica, fez uma demonstração de como se pode espetar correctamente a agulha sem causar dor. É preciso lembrar que as agulhas naquela altura, eram mais primitivas que as que são agora usadas, o que equivale a dizer que eram mais grossas.
Pegando na agulha pelo canhão que a liga à seringa, com dois dedos o polegar e o indicador voltada para baixo, isto é paralela à palma da mão, mas sem tocar nela, com um movimento brusco, bate com força com as costas da mão no rabo do paciente, em seguida espeta a agulha e para finalizar, já com a mão livre, volta a dar uma palmada enérgica com a palma da mão aberta no mesmo sítio. A ideia era provocar duas dores relativamente pequenas para despistar, a introdução da agulha no intervalo destas, ficando o doente somente com a impressão das palmadas e não da espetadela da agulha.
Isto dito assim parece fácil, mas não o é, é preciso muita prática para o fazer. O que o sargento quis é que treinássemos a introdução da agulha com um só golpe forte e rápido. Claro que a tudo isto temos de acrescentar o protesto e medo das cobaias, que não tinham outro remédio se não aguentar, mas que tornavam as coisas mais difíceis, ficando muito tensos enrijando a nádega onde íamos espetar a agulha.
Enquanto todos ensaiávamos pela primeira vez o espetar da agulha, com algum nervosismo que nos fazia tremer a mão, colocando-a com uma pancada só no rabo do doente e muitas vezes o travão do subconsciente, limitava-nos a força no momento final, ficando a agulha só parcialmente espetada, um dos nossos colegas, digo camaradas, julgando-se já senhor da técnica, resolveu pura e simplesmente imitar a técnica da demonstração do sargento. Bate com as costas da mão, espeta a agulha em seguida e depois de dar a palmada final com a palma da mão aberta, verifica que não está agulha nenhuma na nádega do doente. Completamente fora de si, desesperado, começa a procurar a agulha no rabo do doente, pensando que sem querer tinha enterrado a agulha toda inclusive o canhão. Claro que o que ocorreu foi a agulha ao embater na nádega que esta estava tensa, e não ia com a força suficiente, esta saltou sem que ele desse por isso. Foi um coro de gargalhadas na enfermaria, só não foi geral porque o doente vitima desta estupidez não achou graça nenhuma.
Na tropa encontramos sempre, como se diz agora, cada cromo.