sexta-feira, março 30, 2007

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O Judaísmo
(primeira parte)

As raízes

Na mais remota antiguidade o território situado entre a embocadura os rios Tigre e Eufrades, era um pântano coberto de floresta virgem, mato e extensos canaviais de bambus. A luxuriante vegetação atraiu os povos que se tinham instalado nos desertos do Ocidente e nas montanhas do Leste.
Há cerca de 3.000 aC., entraram na região novas tribos em vagas sucessivas. Os recém-chegados com maior interesse, que se estabeleceram na embocadura dos rios, foram os Sumérios, portadores de uma cultura que parece ter as mesmas raízes dos povos que se instalaram, na mesma altura, no Vale do Indo e fundaram uma sociedade assaz evoluída.
Na região dos Sumérios nasceram cidades, sem dúvida das mais antigas do Mundo. A mais célebre foi Ur, a Ur dos Caldeus, como vem referenciada no Velho Testamento. Foi a cidade natal de Abraão.

Os Sumérios viam a origem de todas as coisas em dois princípios opostos: Apsu, princípio masculino, o princípio do bem, e Tiamat, princípio feminino, o princípio do mal. Apsu era o pai do mar e das plantas, enquanto Tiamat era a mãe do lodo e dos monstros.
Da reunião destes dois princípios nasciam deuses: em primeiro lugar, o deus do Céu e a deusa da Terra. Tinham três filhos, os maiores deuses propriamente ditos. Anu, que reinava no Céu, Ea, que reinava no mar, e Enlil, que reinava na Terra.
Acreditavam que os deuses tinham criado o homem para os servir. Para criar o homem, Ea tomara um pouco de argila e misturou-a com o sangue de um outro deus que tinha morto: e assim surgiu um novo ser. (E com o barro Deus fez o homem, Génesis)
O homem participa, portanto, tanto do divino como do terrestre – é a “imagem dos deuses” - (Deus fez o homem à sua semelhança, Génesis), mas como Enil era o deus da Terra, a Suméria e toda a humanidade estavam sob o seu poder.
Os três deuses também tinham criado o Sol, a Lua e os planetas. Diversos deuses eram associados aos corpos celestes, ideia retomada por civilizações posteriores.
A ideia do pecado original também aparece na literatura suméria. Nos arquivos de El-Amarna, como na biblioteca de Assurbanipal, aparecem fragmentos de uma primeira narrativa, cujo herói é Adapa, “a semente da humanidade”, isto é, o primeiro homem.
Mas este Adapa deu um passo em falso que lhe fez perder a imortalidade, assim como à sua descendência. (È fácil identificar Adapa como o Adão da Bíblia).
Adapa era filho de Ea. Seu pai tinha-lhe legado a sabedoria, mas não a vida eterna. Este primeiro homem era bateleiro e vivia da pesca. Habitava perto do templo de Ea, onde oferecia a seu pai e senhor o pão, a bebida e o peixe que pescava.
Mas, um dia em que pescava no mar alto, o vento sul voltou-lhe o barco. Furioso, Adapa conseguiu agarrar-se às asas de um demónio e arrancar-lhas, de forma que o demónio já não pode voar.
Quando Anu, o deus do Céu, teve conhecimento do acto de Adapa, encolerizou-se e chamou o culpado. Ea que sabia o perigo que ameaçava o filho aconselhou-o a não comer pão e nem beber água que o deus do Céu lhe oferecesse, pois perderia a vida.
Mas as coisas não se passaram como Ea tinha imaginado. Adapa chegou ao Céu e Anu, quando o viu, perdeu a sua cólera. Não só perdoou a Adapa, como ainda decidiu, num belo gesto, mostrar-se mais generoso do que Ea. Ordenou aos seus servidores que presenteassem o seu convidado o pão e a água que dão a imortalidade.
Adapa, não esquecendo o conselho de Ea, recusou o que lhe era oferecido. Anu ordenou então aos espíritos que o serviam: “ Tomai conta dele e mandai-o de novo para a Terra”. Este mal entendido privou, assim, Adapa da imortalidade. ( Expulsão de Adão do paraíso)
Enlil estava descontente com os homens e com a aprovação dos outros deuses, resolveu castigá-los pelos seus pecados enviando-lhes uma terrível inundação. Mas Ea opunha-se a este projecto e deu dele conhecimento ao seu amigo Utanapishtim. Este construiu então um barco, que o protegeu, assim como à sua família e aos seus animais. Em seguida, os outros deuses também lamentaram ter enviado o Dilúvio e alegraram-se com o facto de o género humano ter sobrevivido à inundação. ( Passagem bíblica de Noé e o dilúvio).

Os Sumérios faziam uma ideia muito sóbria a respeito do que os esperava depois da morte. O homem sob a forma de espírito, continuava a sua existência nos infernos. Depois da morte ninguém alcançava a felicidade, por isso os Sumérios prestavam culto aos seus deuses sem outra esperança senão a de adquirirem bens terrestres, como a riqueza e a saúde.
Contemporâneo de Abraão é Hamurábi que compilou as leis que formam o famoso Código de Hmurábi. Influenciadoras dos Mandamentos de Moisés, vários aspectos das leis israelitas expostas em O Êxodo mostram uma acentuada parecença com as leis de Hamurábi.
Também mais tarde, durante o exílio na Babilónia, os Judeus foram influenciados pela religião de Zaratustra. Monoteísta, a sua doutrina só conhece a existência de um único deus, Ahura-Mazda.
(continua)

sexta-feira, março 23, 2007

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JAMBO!
NI DO LANGU DE JINA BWANA AUGUSTO


Rendido à música e ao tema, hoje não vou abordar nenhum tema de Filosofia, quer Oriental ou Ocidental, mas convidá-los, a escutar a Filosofia africana, através da música do blog.

A letra em Swahili

Kiseo sobet
Nwan Gaza nguvu hyeni mbololo
Mwangaza maridadi dunia
Kiseo sobet
Nwangaza nguvu kiseo uima
Nwangaza loboiyet
Kiseo numbilwe

Indet sobet maisha kimnatet
Nwangaza mbololo maridadi
Tangus maumbile nguvu liseo sobet
Maridadie loboiyet
Nyororo mumbilwe

Tradução da tradução possível de swahili para inglês, o poema, mesmo assim, é um maravilhoso hino à vida e à Natureza.

Maravilhosa vida
Luz tão forte mas suave
Belo mundo brilhante
Maravilhosa vida
Brilhante bela vida
Forte beleza de vida
Maravilhosa Natura

Forte Natura
Suave beleza brilhante
Suave Natura beleza de vida
Maravilhosa luz
Suave gentil Natura

Swahili é o idioma Bantu com maior número de falantes. É uma das línguas do Quénia, Tanzânia e do Uganda, embora as suas raízes, os povos Suaíli, sejam originários apenas das regiões costeiras.
É uma língua africana que pertence ao subgrupo sabaki das línguas banto. É falada por 50.000.000 pessoas no mundo, incluindo, além dos países que a têm como língua não oficial, Uganda e a República Democrática do Congo. É também falado com alguma frequência nas áreas urbanas do Burundi e do Ruanda, no Sul da Somália até ao Norte de Moçambique (ao longo do litoral da África Oriental), na Zâmbia e no Sul da Etiópia. Existem também algumas comunidades de falantes de swahili em Madagáster e nas ilhas Comores.
Contudo, a maior parte dos seus falantes não a usam como língua materna. Crê-se que apenas 2 a 3 milhões, 50.000.000 estão nesta situação, o que significa que a grande maioria fala como língua materna outro idioma.


Texto retirado da Wikipedia

sábado, março 17, 2007

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Livre arbítrio?

O conceito mais profundamente arreigado ao ser humano é a presumível capacidade do livre arbítrio.
É esta ilusão que o leva a admitir que as opções na vida são da sua livre escolha.
Eu decido, escolho, opto, tenho discernimento, calculo, avalio.
É com esta falsa subjectividade, que acreditamos estar em contacto cognitivo com o mundo objectivo, que nasce o senso de separação e a inevitável dependência.

Analisemos as “nossas” decisões, as “nossas” acções, as “nossas”crenças e suas compreensões, que aconteceram no passado. Peguemos nelas por estarmos absolutamente convencidos, de que eram “nossas”, e que surgiram pela nossa vontade independente.
Em seguida, procuremos o pensamento ou acção imediatamente precedente. O que tínhamos pensado ou feito antes desse pensamento de análise. E daí, novamente para a acção ou pensamento precedente. E assim por diante.
Se formos suficientemente honestos connosco próprios, e recuarmos o suficiente, chegaremos, em toda e qualquer acção ou pensamento, dos quais estávamos convencidos de que eram “nossos”, a um ponto, que foi a ocorrência de um pensamento não-volutivo, que apareceu do nada, e que agiu como o despoletar para todo esse processo de iniciar o nosso eu.
Este “pensamento-despoletador” original, por assumir uma autoria, transforma-se em “nosso” pensamento, originando o “eu”, que desencadeia uma série de pensamentos secundários, convertendo-os em “nossas” decisões.
A Física Quântica descreve o “pensamento” como uma “função de onda” que representa uma probabilidade particular, e essa ocorrência não-volutiva é considerada como um “colapso” de uma função particular da onda, dentro do Infinito Campo de Todas as Funções de Ondas. Além disso as experiências neurocirúrgicas mostram que entre o pensamento não-volutivo original e o seguimento da autoria, existe um lapso de tempo de 500 milésimos de segundo.
O surgimento da autoria, a produção de pensamentos secundários, é o condicionamento-no-momento.

Que se entende por condicionamento-no-momento?

Fomos nós que escolhemos qual o espermatozóide, entre milhões ejaculados pelo nosso pai, para fertilizar o óvulo da nossa mãe, formando o complexo óvulo-esperma, com uma estrutura de DNA única?
É essa estrutura de ADN, que vai sofrer todos os impactos genéticos dos nossos pais e de nossos avós e se formos mais além, da nossa Mãe Africana há alguns milhões de anos, e os impactos das intervenções do meio-ambiente, como a educação ou ausência dela, valores sociais, intervenções vindas do campo religioso, etc. dentro dos quais nós crescemos e não tivemos qualquer controle, para formar o “condicionamento-no-momento” no seu complexo psicológico.
A intervenção continua, momento a momento, alterando, apurando e mudando a estrutura original de ADN, daí o termo “condicionamento-no-momento”. É este condicionamento-no-momento que caracteriza a nossa resposta, a uma intervenção, naquele momento.

O nosso quotidiano é invadido por influências externas que o condicionam, levando as nossas decisões a não serem genuínas mas condicionadas por ele. O que era moda ontem, hoje é dejá vu, sem que para isso tivéssemos a mais pequena interferência, contudo, inconscientemente rejeitamos a anterior para aceitarmos a actual, como se esta tivesse sido escolhida por nós.

Somos uma espécie de computador, sem liberdade para produzir qualquer resposta, excepto as que estão carregadas no sistema operacional.
A diferença é que no computador, nós podemos desinstalar o que está carregado, e no computador biológico, o pensamento não-volutivo não pode ser desistalado, pois ele faz parte da nossa essência.
O livre arbítrio, conforme nós o queremos entender, não existe, sendo as nossas acções ou pensamentos, sempre condicionados pelos anteriores.

A feitura deste texto foi inspirada num site da net, dedicado a conjecturas filosóficas, de onde retirei algumas dicas.

sábado, março 10, 2007


O Zen

A prática Zen é a filosofia oriental mais difícil de ser compreendida pelo Ocidente.
O Zen não é um sistema fundamentado na lógica nem na análise, é o oposto à lógica e ao modo dualista de pensar. Zen é uma escola budista que tem por objectivo chegar à Iluminação, ou satori, entendida como o resultado inexorável de uma prática bem conduzida. Tem por base o auto conhecimento e a autoconfiança, e ensina que a natureza de Buda, ou seja, a potencialidade para atingir a Iluminação, é inerente a todas as pessoas, que a ignorância faz com que fiquem adormecidas.
Tentar definir o Zen é como tentar prender o vento numa caixa.
Não é nem contemplativo nem activista, porque é as duas coisas ao mesmo tempo.
Foi organizado com a finalidade de pôr a salvação ao alcance de todos, para que cada um realize a sua natureza de Buda e conquiste a Iluminação.
O Zen nada tem a ensinar, nem impõe qualquer conjunto de doutrinas aos seus seguidores. O seus adeptos podem formular conjuntos de doutrinas, formulando-as por sua conta e para benefício próprio, e não do Zen. No Zen não há livros sagrados ou afirmações dogmáticas, nem fórmulas simbólicas através da qual se obtenha um acesso à sua significação. O Zen nada ensina, qualquer ensinamento que exista no Zen vem mediante a nossa mente. Ensinamo-nos a nós mesmos, o Zen meramente aponta o caminho.
Para resumir ocidentalmente a prática Zen, pode-se dizer que ela é o mergulho mais profundo em nós mesmos.
É o despertar do homem para a sua essência intrínseca verdadeira e disposição de permanecer receptivo ao Ser no seu interior, a fim de manifestá-lo no seu mundo, livremente e sem medo.
O conhecimento de tudo que bloqueia o caminho do despertar e da renovação é decisivo para toda prática que visa forjar um homem novo.
Como o que constitui o bloqueio é o eu que define, com a sua forma de consciência e seu sistema de vida, a partir dos quais o homem identificado com esse eu sente e pensa,
o objectivo central do Zen é abolir essa identificação, é derrubar o eu e a sua carapaça, demolindo o seu sistema de vida.
Porém, tudo isto supõe um pré-requesito: é preciso que aquele que busca esteja realmente disposta a encontrar; que o praticante esteja realmente disposto a aprender, isto é, que se prontifique a seguir o seu guia, sentir-se como aluno.
Na prática Zen a ligação discípulo-mestre é fundamental.
Só se pode chamar de discípulo quem é capaz de ter uma inabalável confiança e cativado pelo incondicional, é capaz de se submeter a qualquer situação e suportar os rigores da senda através da qual o mestre o guia.
Os métodos para a prática Zen exigem rigoroso treinamento e variam de acordo com a seita que os pratica. Entre esses métodos desta-se o dos Koan, adoptado pela escola Rinzai, que consiste em dar ao discípulo uma frase paradoxal para que medite sobre ela. Existem mais de 1.700 Koans do tipo: “se tens um bastão, te darei um; se não tens, tirarei o que possuis” ou ainda: “qual o som de uma só mão batendo palmas?”. Os Koans devem ser repetidos individualmente e constantemente.
Outro método é o zazen, que consiste em meditação sentada e é a base da escola Soto.
De pernas cruzadas, coluna erecta, sem pensar em nada de especial, mas também sem reprimir os pensamentos que surgem na mente, o discípulo se exercita. Há ainda o método nembutsu, invocação contínua do Buda Amida.
TUDO OU NADA está escrito em letras maiúsculas sobre o portal da sala de práticas frequentada pelo discípulo. Este deixa tudo para trás, e só uma certeza o acompanha: de agora em diante, ele não irá mais se deparar com a arbitrariedade, mas com o olhar da sabedoria que, ao concentrar-se na sua essência intrínseca, se vale de qualquer meio para trazê-la à tona, para reavivá-la, pois o significado da morte que ele espera não é a morte propriamente dita, mas a Vida que transcende a vida e a morte. Não se trata da destruição da existência, mas do Ser que se irradia através da vida.

Para os menos avisados e dominados pela mítica oriental, convêm assinalar o que a prática Zen não é.

Para atingir um estado de graça. Ter visões. Ver luzes brancas, róseas ou azuladas. Para cultivar poderes especiais. Para ter sentimentos agradáveis, felizes. Para se sentir bem, em vez de mal. Para se estar sempre calmo ou controlado. Para conseguir um estado corporal de saúde absoluta, ou protecção contra qualquer tipo de doença grave.
Para alcançar um estado em que a pessoa conhece tudo de tudo. Para alcançar uma espiritualidade, pelo menos como a palavra costuma ser entendida.
Todos esperamos mudar, chegar a um lugar! Essa é em si uma falácia básica. Porem o contemplar desse desejo começa a esclarecê-lo e a prática essencial de nossa vida se altera conforme a executamos. Começamos a compreender que o nosso desejo de ser melhor, de chegar a algum lugar, é a ilusão em si, a fonte de todo o sofrimento.


Originário da Índia, o Zen remonta ao sermão da flor, em que Buda, cercado de discípulos revirou uma flor nas suas mãos e sorriu em silêncio. A transformação do Budismo indiano na doutrina, hoje conhecida pelo nome de Zen, e em chinês Ch’an, deve-se ao filósofo chinês Zhuangzi, contudo o seu maior expoente foi Bodhidharma, mestre indiano que chegou à China cerca do ano 520, durante o reinado do imperador Wu-ti (502-540), que era um budista devoto.
Conta-se que o imperador convidou Bodhidharma a visitar o seu palácio, e a fim de este lhe transmitir os seus ensinamentos, perguntou:

“Tenho construído muitos templos, copiado inúmeros sutras e ordenado muitos monges, desde que me tornei imperador. Portanto, pergunto-lhe: qual é o meu mérito?”

“Nenhum!”
, respondeu Bodhidharma.

O imperador insistiu: “Por que não tenho mérito?”

Bodhidharma replicou: “Fazer as coisas para obter mérito tem um motivo impuro e só revelará o fruto mesquinho do renascimento.”

O imperador, um tanto aborrecido, então perguntou: “Qual é o princípio mais importante do Budismo?”

Ao que Bodhidharma respondeu: “Um grande vazio. Nada sagrado.”

O imperador agora confuso e bastante indignado inquiriu: “Quem é este que está diante de mim?”

Bodhidharma falou: “Eu não sei.”

Também diz a tradição, que vendo que o imperador não entendeu, Bodhidharma cruzou o rio para Shaolin, onde ficou em meditação durante nove anos, voltado para a parede de uma gruta.
A Dinastia T’ang (620-906) foi a Idade de Ouro do Zen na China.
Depois de Bodhidharma, formaram-se diversas escolas de prática de Zen, mas duas se destacaram, que viriam a tomar o nome de Rinzai e Soto, quando da sua introdução no Japão entre os séculos XII e XIII. A seita Rinzai foi pregada pelo monge chinês Eisai, a Soto pelo monge chinês Dogen.
Em 1184, Eisai construiu o primeiro templo do Zen no Japão, que se chamava Shofuku-ji e ainda hoje existe. Mais tarde mudou-se para Kyoto onde se estabeleceu definitivamente.
Entre os séculos XIII e XIV passou a ser muito popular na classe dos Samurais que dominavam o Japão. Os Samurais valorizaram a imediata praticabilidade do treinamento, que era adaptado para satisfazer as necessidades daqueles tempos de turbulência. A coragem e a determinação dos guerreiros fizeram deles discípulos particularmente fortes, criando o sistema “Guerreiro Zen”, com o seu Koan próprio.
Entretanto, o Soto Zen desenvolvia-se independente da agitação política.
Dogen dedicou-se à prática zazen. A essência fundamental do Zen, que ele ensinava, era que a prática ou actividade do dia-a-dia, é a expressão da própria Iluminação. Por este motivo, começou a dar grande ênfase aos detalhes da actividade quotidiana, e encarava cada momento como uma oportunidade de expressar a gratidão pela natureza de Buda.
Em 1236, Dogen fundou o seu próprio templo e a sua fama de mestre começou a espalhar-se. Nada tinha em comum com as lutas do poder aristocrático e militar do seu tempo, e combinando com a sua insistência em afirmar que homens e mulheres eram igualmente capazes de realizar o Caminho de Buda, fez do Soto uma tradição sem classes.
Os ensinamentos de Dogen tiveram um incomensurável impacto sobre o Zen Japonês e nenhum discípulo bem intencionado poderá desprezar a sua obra.
O Zen exerceu grande influência no espírito e na cultura japonesa. A cerimónia do chá, a arte do arco, do manejo da espada, a jardinagem e a pintura empregavam os princípios básicos do Zen. Nos séculos XIV e XV foi adoptado como religião oficial, mas a partir do século XVII começou a ser perseguido e abandonado.

Este caminho
Ninguém já o percorre,
Salvo o crepúsculo.

De que árvore florida
Chega? Não sei.
Mas é seu perfume

Bashô Matsuo (1644-1694), considerado o primeiro e maior poeta japonês. Versátil, os seus poemas sugerem os mais variados estados de espírito: humor, depressão, euforia, confusão,… permitindo uma consciência da grandiosidade da natureza (física e humana).
O tema foi basedo em textos de:
Thich Nhat Hann e Shunryu Suzuki

sábado, março 03, 2007

Quem sou eu?

Esta é a pergunta que muitas vezes fazemos, procurando com ela encontrar a justificação existencial da identidade de “nós mesmos”.

O que é se entende por realidade existencial da identidade que assumimos?

Se definirmos a realidade existencial como aquilo que a consubstancia sem depender de “outros” para a própria existência de “nós mesmos”.

Teremos “nós mesmos” como - um nome – uma mulher, um homem – uma esposa, um marido, uma solteira, um solteiro – um filho, um pai – um amigo, um cidadão – uma entidade com convicções e valores – uma busca espiritual – um organismo sensitivo com livre arbítrio – um conjunto de conhecimentos.

Estes são os principais fundamentos/definição com os quais construímos a nossa própria identidade, contudo, nenhum deles existe por si mesmo.

Imaginemos, por hipótese, que somos o único ser existente e questionemos.

Sem os “outros”, o nosso nome teria algum significado?

Sem os “outros” a identidade que assumimos como de mulher, de casada, de mãe, tem algum significado?

Sem os “outros” o conceito de amigo e de cidadão teria algum significado?

Sem os “outros”, as convicções, a busca espiritual e o conhecimento, teria algum significado?

Sem os “outros”, a convicção de ser um organismo humano com livre arbítrio, tem algum significado?

De que forma, o fundamento/definição, pode conter a realidade da nossa identidade?

Quando, se pensarmos bem, nem o conhecimento completo do nosso aspecto físico temos.

Sem os “outros” Quem sabe qual é a configuração da sua face, a cor do seu cabelo ou o formato das costas?

Concluímos que: sem os “outros” aquilo que consubstancia a existência de “nós mesmos”, não tem nenhum significado.

A afirmação de Descartes, eu penso logo existo, não é suficientemente abrangente, porque na realidade, essa existência não contempla a identidade.

A identidade de “nós mesmos” como coisa individual não existe, é o resultado de uma interacção de conjunto com todos os “outros”, o singular só pode existir na pluralidade.

Quem sou eu? É uma tentativa do singular se demarcar do colectivo, que sem ele a resposta teria de ser, Nada