
(parte primeira)
O Hinduísmo é uma das religiões mais antigas do Mundo. Não há um fundador, ao contrário de tantas outras, mas na verdade o resultado de uma interacção de valores, filosofias e crenças, oriundas de diferentes povos e culturas.
Até chegarmos ao Hinduísmo, como é conhecido hoje, podemos dividir o processo evolutivo da sua construção em quatro fases: pré-védica, védica, bramânica e hinduísta, propriamente dita.
Pré-védica
Por volta de 4.000 anos a.C., depois da revolução neolítica na Mesopotâmia, os habitantes do extremo noroeste do subcontinente Indiano, iniciam a transição do estado nómada para o da agricultura sedentária.
Cerca de 2.500 a.C. desenvolveu-se no vale do Indo, actual Paquistão, uma civilização muito avançada, os Dávridas, totalmente pacíficos e de pele e olhos escuros, que deram origem aquilo que normalmente se chama A Cultura do Índico, protagonizada por cidades-estado. Altamente desenvolvidas, com planeamento urbanístico, escrita, organização política e social e arte cerâmica, das quais se evidenciaram Mohenjo-Daro e Harapa, cujo florescimento durou cerca de mil anos (de 2.500 a 1.500 a.C.) para desaparecer abruptamente, esmagadas pelas invasões arianas, que reduziram os antigos Drávidas à condição de “párias”. Conheciam a roda e foram eles os primeiros utilizadores do algodão.
Pouco se sabe sobre a sua religião, contudo, as mais recentes escavações encontraram provas da manifestação de culto a Shakti, Mãe Divina. Sendo estranho a ausência de templos, foram encontradas figurinhas em terracota, pedra ou bronze, representando personagens humanas de postura Yoga e em estado de meditação.
Por hinos védicos se referirem com desprezo aos habitantes desta civilização como adoradores do falo, e posteriormente no Hinduísmo, o culto do falo estar ligado à adoração de Xiva, poderá concluir-se a existência da adoração de um Proto-Xiva.
Védica
Acredita-se que os indo-europeus (Arianos) tenham sido inicialmente uma única nação estabelecida na Ásia centro-ocidental, no Cáucaso.
Dali derivaram para a Índia (Vedas), para a Ásia Menor (Hititas, Hicsos e Lídios), para o planalto do Irão (Persas e Medos), Europa (Celtas, Gregos, Latinos, Germânicos e Eslavos).
Aproximadamente a partir do ano 1.400 a.C. os Árias (Arianos) «Vedas» entraram pela “terra dos cincos rios”,o Penjab. O termo «veda», que significa conhecimento, deve-se ao facto de os conhecimentos a seu respeito, provirem dos Vedas, hinos religiosos e cânticos para sacrifícios litúrgicos.
Os invasores devastaram cidades, mas deixaram uma das colecções mais extraordinárias do Mundo, os Vedas, textos sagrados escritos em sânscrito, divididos em quatro livros básicos, Samhita Rigvega, Yajurveda, Samaveda e Artharvaveda e comentários: Brahmans, Aranyakas e Upanishads.
Segundo a tradição hindu, esse Conhecimento foi revelado no início da Criação aos primeiros mestres, pelo próprio Criador na forma de primeiro Mestre, Dakshinamurti, e transmitido oralmente de mestre a discípulo, pelo que se considera que os Vedas são Apaurussheya, isto é, não foram criados pelo homem.
Desta religião primitiva sairá aquilo a que chamamos Bramanismo. Se quisermos fazer uma distinção entre Bramanismo e Hinduísmo, diríamos que o Bramanismo se confunde parcialmente como vedismo no sentido de que se designa a religião das épocas arcaicas, enquanto o Hinduísmo se refere à evolução religiosa no seu conjunto.
Na realidade, a tradição da literatura bramânica religiosa comporta mais do que os quatro Vedas. É dividida em Shruiti, (revelação) e Smrti, (tradição memorizada).
A revelação compreende:
1 - «A tríplice Ciência», composta pelos três Vedas mais nobres: o Rig Veda, ou veda das estrofes, composto por milhares de hinos, expondo a mitologia: o Yajur Veda, ou Veda das fórmulas, isolados (recensão dita Branca) ou com comentários (recensão dita Negra): e o Sama Veda, ou veda das melodias, muitas vezes um arranjo musical das estrofes do Rig Veda.
2 – O quarto Veda, o Artharvan Veda, considerado menor em virtude dos seus indícios mágicos.
3 – Os Brâmanes, comentários em prosa sobre os ritos ou as fórmulas, sobretudo dos três primeiros Vedas.
4 – Os Aranyakas, ou (tratados da floresta), destinados a serem recitados longe das cidades.
5 Os Upanishads, ou «aproximações», tratados puramente especulativos.
A tradição memorizada agrupa por seu lado:
1 – Os Sutras, ou «aforismos», que descrevem minuciosamente os ritos (como os Brâmanas)
2 – Outros versículos, que dizem respeito, por exemplo, ao direito e ao ritual doméstico.
O vedismo, é sobretudo uma mitologia complicada. Umas vezes caridosa, outras maléfica, as 33 divindades, divididas em divindades terrestres, atmosféricas e celestes, de boa vontade intervêm, como em Homero, nos assuntos humanos. Suas funções são tríplices, correspondem a uma tríplice divisão da sociedade. Existem deuses soberanos, associados à casta sacerdotal, deuses guerreiros e deuses patronos de actividades humanas. Nos cultos védicos, os pedidos mais solicitados aos deuses são vida longa, bens materiais e filhos homens.
Dyaus Pitar, o deus-pai, é um “deus ocioso”, de papel insignificante. O mais importante é Varuma, deus soberano, que mantém as leis cósmicas e morais, castigando os infractores. A ele é associado Mitra, deus dos contratos e da justiça.
Entre os deuses guerreiros, a figura dominante é Indra, que chefiou os invasores arianos na sua marcha pela conquista da Índia. Entre os aliados estão os Maruts, jovens que cavalgam as nuvens, produtores de chuvas e tempestades, também chamados “filhos de Rudra”. Esta última viria a tornar-se uma das principais figuras do Hinduísmo som o nome de Shiva.
Acima de tudo, o culto assenta no sacrifício, para os quais existem divindades específicas como Soma, líquido sagrado e Agni, o fogo que leva para o alto, na fumaça e nas chamas as oferendas dos sacerdotes aos deuses. Troca elevada, mas troca para assegurar a ligação entre os mortais e os deuses, que têm necessidade uns dos outros. Além dos deuses, existe um número indeterminado de demónios chamados Asuras.
(continua)