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Filosofia Islâmica
Nestes tempos conturbados em que o denegrir das diferenças civilizacionais, está na ordem do dia, lembremos alguns, em nome de todos, que tanto contribuíram para o enriquecimento da cultura ocidental.
A importância desse facto torna-se enorme quando se considera que o Ocidente deve aos filósofos árabes quase toda a perseveração do pensamento grego, sobretudo do aristotélico.
El-Kindi (Yussuf Ishak) (801 /873)
O primeiro filósofo de origem puramente árabe, é também médico e dentista.
Dotado de um saber enciclopédico, goza de grande prestígio na Europa medieval e renascentista, sob o nome latino de Alkindus.
Conhece a filosofia grega pelas suas traduções feitas a partir do siríaco e do grego, em especial de Platão, Aristóteles e Plotinio.
É o percursor da filosofia greco-mulçumana (falsafa), que define como “o conhecimento da realidade das coisas segundo as capacidades humanas”
Na sua qualidade de erudito tão à vontade em filosofia, lógica, física ou matemática como em medicina, história ou música, redigiu cerca de 250 breves tratados, quase todos desaparecidos.
É um dos primeiros pensadores muçulmanos a abordar a questão da Criação, eterna segundo o aristotelismo, tentando resolver o problema entre emanação e criação. E isto no próprio momento em que a filosofia muçulmana experimenta a necessidade de estabelecer uma harmonia entre razão e revelação.
Al-Farabi (Abu Nasser) (872/950)
Na esteira de El-Kindi, é o primeiro no Islão a estabelecer, no Inventário das Ciências, uma classificação das ciências e do saber, determinante para o ensino, e a definir-lhe os princípio e os limites. É o primeiro comentador de Aristóteles, o que será muito útil, mais tarde, a Avicena para aprofundar o seu conhecimento do filósofo grego.
Al-Farabi reúne num ponto de vista único as doutrinas de Aristóteles e de Platão, do qual adapta A República ao contexto muçulmano. Do seu ponto de vista, só um escol de filósofos esclarecidos, capazes de ascese e de distanciamento em relação ao mundo sensível, pode ter acesso à «cidade perfeita».
O principal mérito de Al-Farabi, autor igualmente de tratados de física e matemática, e de inaugurar uma verdadeira disciplina filosófica no Islão. É considerado por toda a civilização muçulmana como um dos seus maiores espíritos.
Avicena (Abu Ali El-Hossein Ibn Sina) (980/1037)
Prestigiado médico, é considerado o «Príncipe dos Médicos» com a sua obra o Cânone da Medicina, inspirada pelos estudos do grego Galeno e que será uma das bases do nosso ensino médico na Europa até ao século XVIII.
Foi o continuador da tradição aristotélico-platónica de Al-Farabi, inspirando-se neste último para a sua concepção da hierarquia das inteligências.
Segundo ele, o conhecimento baseia-se na realidade dos seus objectos, a cujas diferenças categorias correspondem diversos modos hierárquicos de inteligência.
Mais do que a sua teoria da abstracção, segundo a qual a alma desvinculada do sensível recebe o influxo do intelecto agente, exerceram considerável influência na escolástica dos séculos XIII e XIV,as suas reelaborações de alguns conceitos de Al.Farabi, tais como a noção de existência (esse), que Avicena considera como acidente que se acrescenta à essência.
Cognominado «o Mestre dos Mestres» pelos seus contemporâneos, ele tenta antes de muitos outros filósofos muçulmanos, como Averrois, conciliar o dogma alcorânico com um racionalismo aristotélico matizado de neoplatonismo.
Averróis (Abu El-Walid ibn Ruvhd) (1126/1198)
Uma das figuras mais destacadas do El-Andaluz, filósofo, médico e jurista, exerceu grande influência filosófica sobre o pensamento ocidental até ao Renascimento italiano.
Racionalista a seu modo e defensor da unidade filosófica do género humano, Averrois considera que, sendo embora o Alcorão infalível, compete apesar de tudo ao filósofo militar em prol da unidade da Verdade, o que implica o recurso à análise dos laços entre Razão e Revelação, iguais como fonte de verdade, partindo da teoria lógica de Aristóteles e da sua própria apreciação da validade dos métodos da teologia.
No Tratado Decisivo, Averróis explica como é possível ser simultaneamente um muçulmano sincero e um filósofo.
Para além de um importante trado médico, as suas duas obras filosóficas mais importantes são A Destruição das Destruições, que critica o neoplatonismo de Avicena, e o Livro do Desvelamento.
Averróis procurou conciliar a filosofia com a religião muçulmana. Segundo a sua teoria, o Mundo é eterno, o que não contradiz a sua criação por Deus, já que foi criado desde toda a eternidade.
A relação entre Deus e a Criação (o Criador e o Mundo) não é a da causa com efeito, mas a relação que tem o fundamento com aquilo que nele se funda. A Criação não é mais do que a emanação do primeiro princípio criador: Deus.
A afirmação da eternidade do Mundo implica a afirmação da eternidade da matéria e suas formas. Por outro lado, a participação do entendimento passivo, na inteligência divina agente, permite-lhe ascender até ela e chegar a fundir-se na sua unidade. Neste sentido, Averróis não admite a imortalidade pessoal, mas apenas a união com Deus.
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Filosofia Islâmica
Nestes tempos conturbados em que o denegrir das diferenças civilizacionais, está na ordem do dia, lembremos alguns, em nome de todos, que tanto contribuíram para o enriquecimento da cultura ocidental.
A importância desse facto torna-se enorme quando se considera que o Ocidente deve aos filósofos árabes quase toda a perseveração do pensamento grego, sobretudo do aristotélico.
El-Kindi (Yussuf Ishak) (801 /873)
O primeiro filósofo de origem puramente árabe, é também médico e dentista.
Dotado de um saber enciclopédico, goza de grande prestígio na Europa medieval e renascentista, sob o nome latino de Alkindus.
Conhece a filosofia grega pelas suas traduções feitas a partir do siríaco e do grego, em especial de Platão, Aristóteles e Plotinio.
É o percursor da filosofia greco-mulçumana (falsafa), que define como “o conhecimento da realidade das coisas segundo as capacidades humanas”
Na sua qualidade de erudito tão à vontade em filosofia, lógica, física ou matemática como em medicina, história ou música, redigiu cerca de 250 breves tratados, quase todos desaparecidos.
É um dos primeiros pensadores muçulmanos a abordar a questão da Criação, eterna segundo o aristotelismo, tentando resolver o problema entre emanação e criação. E isto no próprio momento em que a filosofia muçulmana experimenta a necessidade de estabelecer uma harmonia entre razão e revelação.
Al-Farabi (Abu Nasser) (872/950)
Na esteira de El-Kindi, é o primeiro no Islão a estabelecer, no Inventário das Ciências, uma classificação das ciências e do saber, determinante para o ensino, e a definir-lhe os princípio e os limites. É o primeiro comentador de Aristóteles, o que será muito útil, mais tarde, a Avicena para aprofundar o seu conhecimento do filósofo grego.
Al-Farabi reúne num ponto de vista único as doutrinas de Aristóteles e de Platão, do qual adapta A República ao contexto muçulmano. Do seu ponto de vista, só um escol de filósofos esclarecidos, capazes de ascese e de distanciamento em relação ao mundo sensível, pode ter acesso à «cidade perfeita».
O principal mérito de Al-Farabi, autor igualmente de tratados de física e matemática, e de inaugurar uma verdadeira disciplina filosófica no Islão. É considerado por toda a civilização muçulmana como um dos seus maiores espíritos.
Avicena (Abu Ali El-Hossein Ibn Sina) (980/1037)
Prestigiado médico, é considerado o «Príncipe dos Médicos» com a sua obra o Cânone da Medicina, inspirada pelos estudos do grego Galeno e que será uma das bases do nosso ensino médico na Europa até ao século XVIII.
Foi o continuador da tradição aristotélico-platónica de Al-Farabi, inspirando-se neste último para a sua concepção da hierarquia das inteligências.
Segundo ele, o conhecimento baseia-se na realidade dos seus objectos, a cujas diferenças categorias correspondem diversos modos hierárquicos de inteligência.
Mais do que a sua teoria da abstracção, segundo a qual a alma desvinculada do sensível recebe o influxo do intelecto agente, exerceram considerável influência na escolástica dos séculos XIII e XIV,as suas reelaborações de alguns conceitos de Al.Farabi, tais como a noção de existência (esse), que Avicena considera como acidente que se acrescenta à essência.
Cognominado «o Mestre dos Mestres» pelos seus contemporâneos, ele tenta antes de muitos outros filósofos muçulmanos, como Averrois, conciliar o dogma alcorânico com um racionalismo aristotélico matizado de neoplatonismo.
Averróis (Abu El-Walid ibn Ruvhd) (1126/1198)
Uma das figuras mais destacadas do El-Andaluz, filósofo, médico e jurista, exerceu grande influência filosófica sobre o pensamento ocidental até ao Renascimento italiano.
Racionalista a seu modo e defensor da unidade filosófica do género humano, Averrois considera que, sendo embora o Alcorão infalível, compete apesar de tudo ao filósofo militar em prol da unidade da Verdade, o que implica o recurso à análise dos laços entre Razão e Revelação, iguais como fonte de verdade, partindo da teoria lógica de Aristóteles e da sua própria apreciação da validade dos métodos da teologia.
No Tratado Decisivo, Averróis explica como é possível ser simultaneamente um muçulmano sincero e um filósofo.
Para além de um importante trado médico, as suas duas obras filosóficas mais importantes são A Destruição das Destruições, que critica o neoplatonismo de Avicena, e o Livro do Desvelamento.
Averróis procurou conciliar a filosofia com a religião muçulmana. Segundo a sua teoria, o Mundo é eterno, o que não contradiz a sua criação por Deus, já que foi criado desde toda a eternidade.
A relação entre Deus e a Criação (o Criador e o Mundo) não é a da causa com efeito, mas a relação que tem o fundamento com aquilo que nele se funda. A Criação não é mais do que a emanação do primeiro princípio criador: Deus.
A afirmação da eternidade do Mundo implica a afirmação da eternidade da matéria e suas formas. Por outro lado, a participação do entendimento passivo, na inteligência divina agente, permite-lhe ascender até ela e chegar a fundir-se na sua unidade. Neste sentido, Averróis não admite a imortalidade pessoal, mas apenas a união com Deus.
17 Comments:
Augusto,
Muito interessante estas breves apresentações que partilhas aqui connosco de perfis de pessoas que realmente foram importantes para o desenvolvimento da humanidade, mas que devido ao facto de não serem ocidentais acabam por ficar um pouco na sombra. A verdade é que o mundo não é só o ocidente, e devemos procurar saber mais sobre o oriente, sem nos deixarmos intoxicar só com aquilo que nos querem mostrar, e que infelizmente, costuma ser só o lado negativo dessa cultura oriental.
Abraço.
daqui se deduz que política e filosofia andam, há muito, dissociadas...
Interessante esta incursão na Filosofia Islâmica.
Boa semana
P.S.- Quem tem falta de tempo é o ANT, não sou eu.
Aqui está mais um tema interessantíssimo e que dá muito gosto ler.
Abraços
mais uma boa descrição como costume e a oportunidade de aprender.
um abraço
Excelente Augusto. Meia dúzia de magníficos exemplos que deviam ser enfiados pelas goelas abaixo dos mais fervorosos defensores do «Choque de Civilizações».
Augusto, é sempre um gosto vir até ao teu quintal. Aprendemos sempre alguma coisa de bom e vamos daqui com a sensação de que falta dar-te um aperto de mão e dizer-te obrigado.
Gostaria muito de ir ao jantar mas não vou poder ir por razões familiares. Se fosse um alomoço, lá estaria. Assim, fico roendo as unhas mas...
Abraço
ola augusto. é sempre bom passar por aqui porque se vamos embora a saber mais alguma coisa.
parabéns.
abraço da leonoreta
Mais uma boa escolha para enriquecer o nosso conhecimento. Mudando de assunto já sabes das razões porque infelizmente não posso particular convosco o jantar convívio do próximo sábado, com pena minha. Sexta-feira irei novamente ser visto pelo cirurgião para avaliar do meu problema que espero em breve seja solucionado uma vez não ter paciência para suportar o sofrimento nem o mal estar.
Não deixo contudo de desejar que o vosso jantar convívio para o qual já estão inscritos vários participantes alguns dos quais já tive o prazer de conhecer, a quem envio um grande abraço, decorra num ambiente de franca camaradagem. Um abraço do Raul
Queria dizer: "participar" e não particular
brilhante
brilhante
brilhante.
é um verdadeiro prazer ler quem muito leu e pensou....
beijo. enorme!!!!!!!!!!!
Gosto do que sempre aqui venho encontrar. Gosto de encontrar explicações, opiniões e de sobre elas reflectir. Obrigada.
Olá!
Se estes fossem do lado de cá eram os maiores, mas são na mesma!
Parabéns e bom fim-de-semana
agora aqui: www.cadernos-amf.blogspot.com Abraço.
Um artigo bastante interessante.
Autoriza-me que o divulgue numa das páginas do Momentos e Documentos?
Bom Fim de Semana
Augusto,
Agradeço o seu comentário ao post «Democracia Viva». Ele trouxe-me aqui a esta fonte de sabedoria, onde os temas são tratado com profundidade académica, e escolhidos com muita ponderação e oportunidade.
Voltarei mais vezes e vou inserir um link no «Do Mirante», http://joaobarbeita.blogspot.com , onde espero os seus comentários.
Um abraço
A. João Soares
Uma viagem didáctica pelo perfil de alguns nomes, responsáveis pela evolução humana. Que o mundo não é apenas a ocidental civilização em que alguns nos querem fazer crer e... alinhar.
abraço.
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