Jantar de Inverno
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A VIDA
(segunda parte)
Se nos debruçarmos sobre o que os ocidentais dizem, retirando o misticismo religioso, verificamos que são consentâneos em que a Vida é um estágio para atingir outro, que por sua vez se teria originado noutro, num contínuo fluxo, infinito. O próprio conceito de alma corrobora esta ideia. Para eles a definição de Vida já é mais abrangente, pois inclui nela a própria morte.
Há culturas que tentam dar um significado à Vida a partir da morte, ou seja, a morte é uma passagem de uma vida para outra, o que é o mesmo que dizer que a Vida não finda com ela. A Vida que vem de trás, é presente, e continuará no futuro, a sua única diferença é forma de se manifestar.
Diz-nos Aristóteles no seu Ser enquanto Ser.
… o ser divino, a realidade primeira e suprema da qual todo o resto procura aproximar-se, limitando a sua perfeição imutável. As coisas se transformam porque desejam encontrar a sua essência total e perfeita. Imutável como a essência divina.
Tal desejo explica por que há o devir e porque o devir é eterno, pois as coisas naturais nunca poderão alcançar o que desejam, isto é, a perfeição imutável.
Se pensarmos bem, verificamos que a nossa vida alicerça-se no desejo, seja ele qual for,
Incluindo o desejo de não morrer. Sublimado o desejo, a vida perderá a razão da sua existência. (Siddharta Gautama)
A cultura ocidental, onde o material se sobrepõe ao espiritual, alimenta o desejo como um fim em si da própria vida, onde a insatisfação do desejo se traduz em dor, passando esta a ser o paradigma da sua manifestação.
A vida manifesta-se sempre na dor, salvo algum momento fugaz onde a ilusão da satisfação do desejo se traduz em efémera felicidade.
Entendo Platão quando afirma que o Mundo está entre o ser (ideia) e o não ser (matéria), e é o devir ordenado, como o adequado conhecimento sensível está entre o saber e o não saber, mas já não posso entender a existência de um Demiurgo, desempenhando o papel de mediador entre as ideias e a matéria, à qual comunica o movimento e a vida, a ordem e a harmonia. Estaríamos em presença de uma acto de criação, pelo menos intermédio, ficando por explicar a origem do criador.
Aristóteles, que em desacordo com Platão, não julga o mundo das coisas sensíveis, um mundo aparente e ilusório, não deixa de apresentar o seu Primeiro Motor, o ser Divino, que é o princípio que move a realidade. Também o criador ficou por explicar.
Mas não especulemos a criação e limitemo-nos à Vida.
O que constato é que a Vida se manifesta pelo sensitivo não como o Tudo, mas como uma das suas particularidades, que na sua totalidade formam o absoluto.
No dizer de Aristóteles, o mundo universal não subsiste por si próprio, mas por indução do particular para o universal, onde todos os particulares se fundem.
Erradamente parte-se do conhecimento empírico, sensível, para tentar chegar ao conhecimento intelectual, que tem por sua característica a universalidade, conceptual, imutabilidade, o absoluto do conceito, devido o conhecimento humano ser confrontado com elementos que não se podem explicar mediante a sensação.
É o sensitivo que materializa a Vida, sem ele não tínhamos consciência dela, e sem essa consciência ela não existiria. O sensitivo origina o desejo e este por sua vez o egoísmo, que consubstanciado na individualidade, personalidade, vaidade, orgulho e arrogância, nos leva a não admitir que estamos inseridos num Tudo, mas só admitirmos o que o nosso egocentrismo consente. (Possivelmente um desejo de eternidade)
A subordinação ao sensitivo, condiciona-nos ao que vimos, ao que ouvimos, ao que cheiramos, ao que apalpamos e ao que saboreamos, do que resulta a ilusão indutiva de uma realidade que por ser a única que somos capazes de percepcionar, a julgamos como a verdade primeira, subjugando o Tudo a ela em vez de a aceitarmos como uma emanação dele, sem dele se separar.
Não compreendendo a morte, tomamo-la como fim dessa nossa realidade, não aceitando que ela possa ser o acordar do sonho.
Tanto a manifestação da Vida como da Morte, são o espaço intermédio entre o Tudo e o Nada, onde estes se não opõem mas se sobrepõem.
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A VIDA
(segunda parte)
Se nos debruçarmos sobre o que os ocidentais dizem, retirando o misticismo religioso, verificamos que são consentâneos em que a Vida é um estágio para atingir outro, que por sua vez se teria originado noutro, num contínuo fluxo, infinito. O próprio conceito de alma corrobora esta ideia. Para eles a definição de Vida já é mais abrangente, pois inclui nela a própria morte.
Há culturas que tentam dar um significado à Vida a partir da morte, ou seja, a morte é uma passagem de uma vida para outra, o que é o mesmo que dizer que a Vida não finda com ela. A Vida que vem de trás, é presente, e continuará no futuro, a sua única diferença é forma de se manifestar.
Diz-nos Aristóteles no seu Ser enquanto Ser.
… o ser divino, a realidade primeira e suprema da qual todo o resto procura aproximar-se, limitando a sua perfeição imutável. As coisas se transformam porque desejam encontrar a sua essência total e perfeita. Imutável como a essência divina.
Tal desejo explica por que há o devir e porque o devir é eterno, pois as coisas naturais nunca poderão alcançar o que desejam, isto é, a perfeição imutável.
Se pensarmos bem, verificamos que a nossa vida alicerça-se no desejo, seja ele qual for,
Incluindo o desejo de não morrer. Sublimado o desejo, a vida perderá a razão da sua existência. (Siddharta Gautama)
A cultura ocidental, onde o material se sobrepõe ao espiritual, alimenta o desejo como um fim em si da própria vida, onde a insatisfação do desejo se traduz em dor, passando esta a ser o paradigma da sua manifestação.
A vida manifesta-se sempre na dor, salvo algum momento fugaz onde a ilusão da satisfação do desejo se traduz em efémera felicidade.
Entendo Platão quando afirma que o Mundo está entre o ser (ideia) e o não ser (matéria), e é o devir ordenado, como o adequado conhecimento sensível está entre o saber e o não saber, mas já não posso entender a existência de um Demiurgo, desempenhando o papel de mediador entre as ideias e a matéria, à qual comunica o movimento e a vida, a ordem e a harmonia. Estaríamos em presença de uma acto de criação, pelo menos intermédio, ficando por explicar a origem do criador.
Aristóteles, que em desacordo com Platão, não julga o mundo das coisas sensíveis, um mundo aparente e ilusório, não deixa de apresentar o seu Primeiro Motor, o ser Divino, que é o princípio que move a realidade. Também o criador ficou por explicar.
Mas não especulemos a criação e limitemo-nos à Vida.
O que constato é que a Vida se manifesta pelo sensitivo não como o Tudo, mas como uma das suas particularidades, que na sua totalidade formam o absoluto.
No dizer de Aristóteles, o mundo universal não subsiste por si próprio, mas por indução do particular para o universal, onde todos os particulares se fundem.
Erradamente parte-se do conhecimento empírico, sensível, para tentar chegar ao conhecimento intelectual, que tem por sua característica a universalidade, conceptual, imutabilidade, o absoluto do conceito, devido o conhecimento humano ser confrontado com elementos que não se podem explicar mediante a sensação.
É o sensitivo que materializa a Vida, sem ele não tínhamos consciência dela, e sem essa consciência ela não existiria. O sensitivo origina o desejo e este por sua vez o egoísmo, que consubstanciado na individualidade, personalidade, vaidade, orgulho e arrogância, nos leva a não admitir que estamos inseridos num Tudo, mas só admitirmos o que o nosso egocentrismo consente. (Possivelmente um desejo de eternidade)
A subordinação ao sensitivo, condiciona-nos ao que vimos, ao que ouvimos, ao que cheiramos, ao que apalpamos e ao que saboreamos, do que resulta a ilusão indutiva de uma realidade que por ser a única que somos capazes de percepcionar, a julgamos como a verdade primeira, subjugando o Tudo a ela em vez de a aceitarmos como uma emanação dele, sem dele se separar.
Não compreendendo a morte, tomamo-la como fim dessa nossa realidade, não aceitando que ela possa ser o acordar do sonho.
Tanto a manifestação da Vida como da Morte, são o espaço intermédio entre o Tudo e o Nada, onde estes se não opõem mas se sobrepõem.
11 Comments:
É muito agradável ver a vida assim "partida" e desfrutar esta bela leitura!
Abraços
ola augusto.
claro que apesar das muitas explicaçoes que aristoteles e o seu mestre, platão, pudessem arranjar o criador ficaria sempre por explicar pois é no perido helenistico que começa a surgir a ideia do deus uno na grécia.
mas o artigo está uma maravilha.
nunca me arrependo de vir aqui.
abraço da leonoreta
Augusto,
Para mim a vida é o momento, por isso procuro-a viver o mais intensamente possível. A vida para mim é isso, e apenas isso, porque eu só acredito no que vejo, em alguma coisa do que ouço, no que cheiro, no que é palpável, e no que consigo saborear. Quanto à morte, e à vida para além dela, vou esperar para ver...
Abraço.
A vida é uma passagem para a outra margem, parafraseando um cantor cujo nome agora não me lembro. E nisto tudo há um elemento muito importante chamado desejo.Será eléctrico? O desejo de não partir para parte incerta levou e leva muitos pensadores a investigar, a pensar, a dissertar sobre o assunto. Cá por mim, que não sei de onde vim e muito menos para onde vou, resta-me viver cada dia como se fosse o último desta passagem por cá sem deixar adiar o coração Este tem prioridade.
Posso não ter dito nada mas palavras, que não contei, disse muitas.
Já agora, onde é esse jantarinho?
Beijinhos
Tomei conhecimento do jantar de Inverno. Não me é possível assumir compromissos com muita antecedência, pois normalmente as contas saiem furadas.
Vamos ver, ainda falta muito tempo.
De qualquer modo, obrigado pelo convite.
Mais uma excelente abordagem dentro do que já nos habituas-te. E tendo exactamente a ver com a minha vida meu caro amigo Augusto, temo se continuar assim a não poder também partilhar com os vários participantes que certamente se irão inscrever no próximo jantar agendado para o dia 27 deste mês se até lá não melhorar. Trata-se dum problema de saúde cuja solução segundo opinião duma familiar médica, poderá ter de passar por uma intervenção cirúrgica. Por mim a dificuldade está apenas em não poder ser já amanhã ou nos próximos dias uma vez o mal estar que me causa não me permitir outra permanência para além daquela a que sou obrigado em termos profissionais. Espero entretanto conseguir melhorar. Se tal acontecer
até lá, farei sem hesitação a minha inscrição. Um abraço e continuação de um excelente 2007
Raul
Augusto
Ora bem...se eu for, será a minha 1ª vez numa jantarada dessas - no entanto, não coloco qualquer duvida em como nesse jantar se poderá ler poemas de Cesário.
No meu ponto de vista é tão digno como outro qualquer.
É isso mesmo:
Aguardemos a minha inscrição.
Não me é possível assumir compromissos com muita antecedência, devido a problemas de saúde, mas...penso que em cima do dia 24 direi algo.
Muito obrigado pela visita.
Beijokas.
Há dois dias que tento mas não consigo comentar. Só para lhe dizer que continuo, como sempre, atenta leitora. Desta vez servida por belas citações.
"a Vida é um estágio para atingir outro, que por sua vez se teria originado noutro, num contínuo fluxo, infinito..."
olá Augusto
Abraço ;)
claro que sim querido Augusto. de novo.
saí. regressei.
estou aqui.
de novo.
:)))))
a saborear esta "Vida".
antiga e renovada. pela tua mão.
obrigada.
sempre.
abraçossssssssssssss.
"Nada pode ser mais assombroso que a vida. Salvo a escrita."
Ibn Zerhani
Citação respigada do livro "Os Jardins da Memória" de Orhan Pamuk.
Óptimo fim-de-semana!
abraço.
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