sábado, janeiro 07, 2006

A Evolução do pensamento filosófico

Não sendo os Gregos os primeiros a pensarem no mundo e nos seus fenómenos, foram, contudo, os primeiros a separarem-se das crenças religiosas tradicionais para pensarem de maneira racional sobre o mundo, os seus fenómenos, as suas causas e efeitos. Com os Gregos apareceu pela primeira vez na história da Humanidade a necessidade de explicar o mundo e os seus fenómenos através do pensamento puro.
É com os pensadores Jónios da escola de Mitelo, Tales, Anaximandro e Anaxímenes que nascem as bases de um embrião de ciência. A este período do pensamento grego chama-se Período Naturista, porque a nascente especulação dos filósofos é voltada para o mundo exterior, em que julgam também achar o princípio de todas as coisas.

O primeiro filósofo da escola de Mitelo, foi Tales (Mitelo 624 a.C. a 547 a.C.) Nada se sabe com segurança acerca da sua vida, pois, como Sócrates, nunca escreveu nada. Teria aprendido os seus conhecimentos de astronomia e de matemática quando esteve no Egipto.
Ao empenhar-se em buscar explicações racionais para fenómenos da Natureza sem recorrer a explicações míticas, é considerado o pai da filosofia grega e o primeiro filósofo a surgir no Ocidente.
No que diz respeito ao problema do elemento original, Tales chega a esta conclusão: “A água é a fonte de tudo”. Segundo Aristóteles, Tales baseava esta hipótese no facto de as plantas e animais precisarem de humidade; o calor da vida nasce, portanto da humidade.
A água era o princípio formador da matéria porque o que é quente precisa da humidade para viver, o morto se resseca, todos os alimentos estão cheios de seiva. É natural que as coisas se nutram daquilo de que provêm. A água é o princípio da natureza húmida, que contem todas as coisas, e a terra repousa sobre a água.
Em filosofia pura, Tales chegou à seguinte conclusão: todo o visível, ao ser analisado mais profundamente, toma um aspecto diferente do que apresenta aos olhos do profano.


Anaximandro (Mitelo 610 a.C. a 546 a.C.) foi discípulo e sucessor de Tales. Escreveu o primeiro texto filosófico conhecido, intitulado Sobre a Natureza e vai mais longe que o seu mestre na procura do elemento original.
Para Anaximandro considerar a água como origem de tudo não o satisfazia, pois, para fazer passar a água do estado sólido ao líquido, é necessário calor, tal como sucede para fazer passar do estado líquido ao gasoso.
Havia, por consequência, dois princípios primordiais de base: sólido ou frio e o calor. Anaximandro faz nascer esses dois princípios da “separação” de uma matéria original que se encontra nos diferentes aspectos da matéria. Chama a essa matéria infinito (ápeiron), ou “o sem forma e sem limite”.
Dela nascem todas as coisas, por divisão, e para lá voltam, para nela desaparecerem. Todas as coisas devem desaparecer, sendo esse o seu castigo por se terem separado do todo.
Anaximandro vê na transformação e desaparecimento das coisas e no ciclo contínuo do nascimento e da morte a obra de uma poderosa lei da Natureza. Esta aparece-lhe, ao mesmo tempo, como uma ordem que se estende a todas as coisas e que castiga o indivíduo pelo seu “hybris” (orgulho ímpio, a soberba pessoal em relação aos deuses), expresso no próprio facto da sua individualidade. O egoísmo.
Segundo Anaximandro, só merecia ser chamada “divina” uma existência não diferenciada nesse elemento primeiro, infinito, onde residia toda a força.. Ao estabelecer que o princípio de todas as coisas seria o “indeterminado”, Anaximandro deslocou o problema do plano físico material para o plano espiritual.

Anaxímenes (Mileto 585 a.C. a 525 a.C.) Discípulo de Anaximandro, apresentava o ar como origem de tudo o que existe e, com a sua teoria sobre a condensação e rarefacção, contribuiu para o avanço do pensamento científico.
Para ele, o ar era o elemento primordial, de que todas as coisas resultavam e a que retornavam, por um duplo movimento de condensação e rarefacção. Os graus de condensação correspondiam às densidades de diversos tipos de matéria.
Quando distribuído uniformemente, o ar era ar atmosférico invisível. Pela condensação, torna-se visível e forma nuvens donde cai a chuva. Anaxímenes conclui portanto, que quando o ar se condensa ainda mais, se formam matérias sólidas, como a terra e as pedras.
Chegou portanto, pela via do pensamento, à conclusão de que toda a matéria se pode tornar mais ou menos densa e apresentar sob a forma sólida, depois sob a forma líquida e, em seguida, sob a forma gasosa, ou seja alterar o modo de condensação e rarefacção.
Mas quando Anaxímenes emprega a palavra que se traduz por “ar”, pensa em qualquer coisa de mais abstracto. Ela queira significar uma “alma do mundo” que tudo penetra e dá vida. Aliás, diz: “A nossa alma também é ar”.
Com a evolução do pensamento destes três filósofos, consagrando como elemento primordial, primeiro a água depois o calor e por fim o ar, verificamos que o pensamento, inicialmente materialista, passa a espiritual, abrindo assim as portas para os grandes pensadores que se lhes seguiram.

14 Comments:

Blogger Maria Carvalho said...

Estou sempre a aprender cada vez que te visito, Augusto. Beijinhos, bom fim de semana.

8:51 da tarde  
Blogger Unknown said...

A Talles atribui-se, também, um famoso teorema: "um feixe de rectas paralelas interceptado por duas, ou mais, secantes determinam entre si segmentos de recta proporcionais". Tinha de defender a minha área, né?
A filosofia e a matemática ainda continuam ligadas...
Beijinhos, Augusto.

PS - não vou poder ir a este almoço. Tenho nesse mesmo dia o jantar dos 25 anos da minha escola.

7:03 da tarde  
Blogger Å®t Øf £övë said...

Augusto,
Gostei de ler.
Por aqui é possível aprender sempre algo de interessante.
Abraço.

11:44 da tarde  
Blogger hfm said...

Gosto destas leituras. Um abraço

2:21 da tarde  
Blogger augustoM said...

Princesa, o jantar é de um grupo de blogs, exclusivamente de pessoas que têm blogs. A Associação de 25 de Aril é o local escolhido por uma questão delogistica, que não tem nada a haver com política, para realizar o jantar.
Em todos os nossos encontros a política e a religião ficam à porta.

5:26 da tarde  
Blogger isabel mendes ferreira said...

está bem...vou tentar suavizar...abrindo as portas ao espírito....do vento?

b.e.i.j.o.

8:54 da tarde  
Blogger por um fio said...

Curioso ter encontrado este blog num momento preciso em que me aproximei da Filosofia para encontrar explicações para alguns problemas actuais. E tenho encontrado filósofos recentes com os quais tenho sentido imensa sintonia e me têm ajudado nesta difícil peregrinação.
Heide-de aqui voltar.

10:31 da tarde  
Blogger Peter said...

Olá Augusto! Filosofia? Passo.

10:56 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Pois é... a verdade é que nunca gostei de Filosofia.

6:21 da tarde  
Blogger Leonor said...

ola augusto. gosto de pensar na semelhança das doutrinas d socrates e de jesus dominadas pelo humanismo.

e depois... ambos nao escreveram nada. escreveram por eles. e ambos foram mortos por falarem de mais.

quanto ao eu deixar uma vez por semana os meus alunos conduzirem a aula... eu faço isso. sabes o que acontece? vejo neles os meus tiques. eles imitam-me.
serve tambem para me emendar quando vejo que insistem muito num ponto negativo.

abraço da leonoreta

8:16 da tarde  
Blogger isabel mendes ferreira said...

venho só deixaR UM BEIJO. HELENICO.

3:39 da tarde  
Blogger oasis dossonhos said...

Olá Augusto
Um bom ano para ti e para todos aqueles que amas.
Um abraço por esta permanência luminosa.
Luís

7:23 da tarde  
Blogger H. Sousa said...

Caro amigo:
Um tema que me é caro! Felicito-o pela escolha. Porém, uma coisa me fez comichão: Tales, que noutras línguas se poderá escrever Thales ou Talles como alguém pôs nos comentários, e que foi o pai da Filosofia ocidental, era de Mileto. Mas encontro por duas vezes, Mitelo. Foi propositado? Ou também se pode dizer Mitelo em vez de Mileto?
Abraços

12:06 da manhã  
Blogger artesanatobacelar said...

parabens, seu blogger tem assuntos que me ajudou muito na escola!abraço!

7:42 da tarde  

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