sexta-feira, novembro 10, 2006

Origem da vida
(quarta parte)
Se o Renascimento descobriu o mundo, que a cristandade da Idade Média havia exorcizado, também foi nele que o Humanismo elaborou uma concepção do mundo cujo centro fosse o próprio homem. Assim, frente ao pensamento teológico medieval, a religiosidade humanista quis chegar a Deus por meio do exercício da razão. É no Humanismo que se origina todo o pensamento moderno.
O egocentrismo humano, leva a maior parte dos cientistas, a acreditarem que a matéria física é a realidade final. Presumem que todo o universo, incluindo a Vida, pode ser explicado em termos de intervenção da matéria, experimentada e provada em laboratório. Este materialismo que peca por um grande défice filosófico, limita a capacidade criativa dos cientistas, obcecados pela materialização daquilo que é imaterializável. Utilizando a fiabilidade do que consideram perfeito, a matemática, pretendem através desta chegar a Deus.

Nos primeiros instantes do fenómeno, o que possivelmente o explica, o espaço de tempo entre o zero e 10-43s conhecido como o tempo de Planck, não há lei física nem matemática que o possam avaliar, limitando-se a conjecturar como o imutável se tornou mutável. E nisto, meu caro Peter, não são melhores que o meu Anaxágoras, mesmo sem prémio Nobel, quando diz: Todas as coisas estavam juntas em número e pequenez; pois o pequeno era ilimitado

Continuemos com a hipótese bioquímica de Oparine

Os primeiros seres vivos da Terra, eram unicelulares, heterotróficos e alimentavam-se de substâncias existentes nos oceanos. Heterotófico (diz-se quando são incapazes de efectuar a síntese da molécula orgânica, sendo parasita, isto é extraem de outros organismos os materiais orgânicos necessários à sua vida).
Com o passar do tempo, o número desses seres primitivos aumentou muito. Os alimentos existentes nos oceanos foram lentamente tornando-se insuficientes para todos.

Mas milhões de anos depois, após muitas modificações ocorridas no material genético, alguns desses seres tornaram-se capazes de produzir clorofila e fazer a fotossíntese. Surgiram então os primeiros seres autotróficos, que produziam o alimento necessário para manter a vida na Terra.
Foi a partir desses dois tipos de seres que se desenvolveu a vida na Terra. Eles foram-se diferenciando cada vez mais e lentamente originando todos os seres vivos que conhecemos hoje, inclusive o homem.
Os primeiros seres vivos, portanto, teriam surgido a partir da recombinação e aglutinação das substâncias químicas presentes no planeta Terra primitivo.

Conforme afirma o nosso amigo Sousa, e que tem a minha total concordância, “a matéria a níveis bastantes elementares, “sabe” como actuar, possui um determinado nível de consciência”, contudo, defendo que não têm conhecimento do seu processo evolutivo, tal como nós não tivemos da nossa evolução do Australopitecos para o Homo.

Talvez esta teoria científica de Oparine nos forneça uma pista para a origem da vida, mas tal como no Big Bang, a origem das substâncias primordiais, fica por explicar.

"Não há provas de que a vida se tenha originado a partir de matéria sem vida. Apenas o ADN é conhecido como capaz de produzir ADN. Nenhuma interacção química de moléculas tem ao menos chegado perto de produzir esse código ultra-complexo que é tão essencial a toda a vida existente."

“…uma tentativa de explicar a formação do código genético a partir dos componentes químicos do ADN…é comparável à suposição de que o texto de um livro surgiu da moléculas do papel onde as frases aparecem, e não de qualquer fonte externa de informação.”

“… a pura química de uma célula não é suficiente para explicar o funcionamento de uma célula, embora o funcionamento seja químico. As operações químicas são controladas por informações que não residem nos átomos e moléculas das células. Há um autor que transcende o material de que esses filamentos são feitos. O autor primeiramente concebe a informação necessária para fazer uma célula, então a escreveu e depois a fixou em um mecanismo que a pusesse em prática – assim as células constroem-se sozinhas a partir da informação…”

O que é que vos parece se aplicarmos o raciocínio anterior para a ocorrência do Big Bang?

Como sugeri anteriormente, o segredo está no próprio homem em si, como portador de todos os segredos da Natureza. Se ao invés de querer descobrir todos os segredos do Universo envolvente, se se interiorizasse na descoberta do seu próprio universo, possivelmente nada descobriria para além da sua insignificância no contexto Universal, o que para mim já era uma grande descoberta.

“Não se pode ensinar nada a um homem; pode apenas ajudá-lo a encontrar a resposta dentro dele mesmo”. Galileu Galilei

(continua)

19 Comments:

Blogger bettips said...

Olha, vim ler-te e dar-te um abraço. Gostei muito das tuas palavras sobre "olho por olho"! Dum equilíbrio notável.

10:46 da tarde  
Blogger Peter said...

Olá Augusto, belo texto.

Bom fds.

1:14 da tarde  
Blogger Rosalina Simão Nunes said...

começo a ficar bastante curiosa sobre o capítulo final.

2:17 da tarde  
Blogger H. Sousa said...

Caro Augusto,
Tinha colocado um comentário com uma dúvida sobre as citações mas não ficou gravado. Nem é tão importante.
A tal "consciência" que reconheço na mais ínfima porção de matéria (palavra com a qual designamos "algo" de que é constituída a nossa realidade), será, como disse o Peter, o conjunto de leis que a rege e que leva, nomeadamente, ao aparecimento da vida. Esse "algo", que nós ocidentais julgamos sempre sólido e bem determinado no tempo e no espaço, pode não o ser. Veja-se o excelente artigo a esse respeito da bluegift em Conversas de Xaxa IV, que levou físicos como Niels Bohr e Schrödinger a tender para a filosofia chinesa, nomeadamente para o Taoismo, que eu, infelizmente, desconheço quase por completo.

3:56 da tarde  
Blogger Peter said...

Augusto

Não sei se este pequeno excerto da obra de António Damásio, “O Sentimento de Si”, poderá ser um contributo:

"Embora eu não veja a consciência como o apogeu da evolução biológica, encaro-a como um ponto de viragem na longa história da vida. Mesmo quando recorremos à simples e clássica definição de "consciência" do dicionário – "a percepção pelo organismo do seu próprio ser e do seu ambiente" – conseguimos facilmente imaginar como "a consciência" deve ter permitido à evolução humana uma nova ordem de criações que não seriam possíveis sem ela : a consciência moral, a religião, a organização social e política, as artes, as ciências e a tecnologia. A "consciência" é a função biológica crítica que nos permite conhecer a tristeza ou a alegria, sentir a dor ou o prazer, sentir a vergonha ou o orgulho, chorar a morte ou o amor que se perdeu. Tanto o "pathos" como "o desejo" são produtos da "consciência". Sem ela, nenhum desses estados pessoais poderia ser conhecido por cada um de nós. Não culpem a Eva pelo facto de "conhecer", culpem "a consciência", mas agradeçam-lhe também.
(...)
A influência de factores desconhecidos sobre a mente humana é um facto bem aceite. Na Antiguidade, esses factores desconhecidos chamavam-se "deuses" e "destino.”

4:24 da tarde  
Blogger Alberto Oliveira said...

... mas eu penso que o homem já tem essa consciência: a " da sua insignificância no contexto Universal... " embora não o queira admitir. Daí a sua envolvência na tentativa de descobrir "os segredos do Universo envolvente".

Abraço.

9:22 da tarde  
Blogger augustoM said...

Olá Peter

Em primeiro lugar agradeço o teu comentário que transcreve o texto de António Damásio, que muito vem contribuir para o tema que venho abordando. Concordo plenamente com o que ele diz, já o tinha referido de forma sintética no meu primeiro texto, quando disse que a consciência do tempo nasce precisamente quando homem tem consciência dele mesmo, individualizando-se do meio envolvente. As consciências sequentes são a consequência da evolução dessa primeira consciência.
Um abraço. Augusto

9:53 da tarde  
Blogger augustoM said...

Olá Sousa

Já li o texto que o Peter colocou, mas um senão coloco ao que é dito. O Budismo é aceite como uma religião, com diversos ramos e interpretações diferentes, onde são encaixadas as mais diversas concepções religiosas inclusive da vida, não tendo nenhum dos ramos budistas nada a haver com Buda, o Siddharta Gautama, que não foi mais do que um filósofo da ética humana oriental, sem qualquer conexão religiosa. Para ele não há deus nem criação, mas sim um estágio superior de onde vimos e para onde voltaremos, o Nirvana, através da sublimação das nossas acções, através das reincarnações. Tenho um texto que aborda o assunto, publicado não há muito tempo, que se chama Samsara. No próximo texto, o último, faço uma abordagem nesta óptica.
Um abraço. Augusto

10:12 da tarde  
Blogger Peter said...

Meu caro Augusto

Estive lendo novamente o seu primeiro texto e vê-se que o mesmo se inspira de facto no livro “O implacável Tempo”, de Henrique Sousa, que estou lendo com prazer.

Também li o que o meu amigo escreveu:
“O despertar da consciência da individualidade, leva-o ao reconhecimento da sua finitude, e com ela, o aparecimento do primeiro conceito de Tempo, o tempo da duração da sua existência.”
Segundo escreve nesse seu comentário, concorda plenamente com o que diz António Damásio e já o referira no texto acima transcrito, o que tornava dispensável o texto original que agora lhe enviei.

No comentário para o n/comum amigo Henrique Sousa, refere:
“Já li o texto que o Peter colocou, mas um senão coloco ao que é dito. O Budismo é aceite como uma religião, com diversos ramos e interpretações diferentes, onde são encaixadas as mais diversas concepções religiosas inclusive da vida, não tendo nenhum dos ramos budistas nada a haver com Buda”

Julgo não ter dito que o Budismo é uma religião, mas se disse, agradeço a sua rectificação.

Refere ainda no mesmo comentário:
“Tenho um texto que aborda o assunto, publicado não há muito tempo, que se chama Samsara. No próximo texto, o último, faço uma abordagem nesta óptica.”

Curioso como sou, já passei pela "http://pt.wikipedia.org/wiki/Samsara" para me esclarecer, mas cá estarei para o ler.

Abraço, Peter

1:53 da manhã  
Blogger hfm said...

Gosto do texto, gosto dos comentários, gosto do que a partir deles posso seguir.

10:59 da manhã  
Blogger Ulisses Martins said...

Excelentes posts! Parabéns pelas magníficas aulas.
1 Abraço

9:18 da tarde  
Blogger contradicoes said...

E desta forma consegues
prender a nossa atenção
em capítulos encerres
a tua dissertação

Com um abraço do Raul

10:44 da tarde  
Blogger Diogo said...

Caro Agusto, veja este vídeo. Não tem tanto a ver com a origem da vida mas antes com o seu fim:

Esta foi a resposta do “Correspondente para os assuntos do Médio Oriente» Aasif Mandvi, do Daily Show, à pergunta de Jon Stewart sobre a descrição que a Secretária de Estado Condoleezza Rice fez da horrível violência no Médio Oriente, chamando-lhe «dores de parto». Rice acrescentou também que cada crise traz consigo uma oportunidade.

Jon Stewart: Então não há ressentimentos pelas mudanças terem sido impingidas aí?

Aasif: Não, não, de forma nenhuma. Ao longo dos anos, habituámo-nos a pensar em nós como vocês pensam de nós: minúsculas gotas abstractas num possível campo petrolífero. Estamos sempre desejosos de experimentar as últimas teorias dos vossos cientistas políticos.


Jon Stewart: É uma forma incrível de enfrentar uma situação terrível.

Aasif: Penso que não é diferente da forma como a vossa nação reagiu aos acontecimentos do 11 de Setembro. Um dia difícil, uma grande oportunidade.

Vídeo – 4:18m

10:20 da manhã  
Blogger Å®t Øf £övë said...

Augusto,
A conclusão que eu vou tirando de tudo isto, é que os seres vivos são tão perfeitos que são eles que se adaptam às condições em que forçosamente vão sendo inseridos. Isto mostra a perfeição e a harmonia de todo o universo.
Quanto á questão de fundo. Como é que se deu o Big Bang, eu não sei a resposta, mas acredita que todo este debate que venho seguindo aqui, me tem permitido ajudar a encontrar resposta dentro de mim mesmo.
Concordo inteiramente com esta frase final.
Abraço.

11:15 da tarde  
Blogger Fátima Santos said...

apaguei tudo porque sei pouco e o que sei mistura-se demais com o que sinto
Gosto de vos "ouvir"

10:48 da manhã  
Blogger Diogo said...

Tenho alguma dificuldade em aceitar o Big Bang. Esta teoria baseou-se sobretudo no desvio para o vermelho de linhas espectrais de estrelas. Chegou-se à conclusão que quanto mais distantes estavam, maior era o desvio para o vermelho, e portanto mais depressa se afastavam. Mas coloco duas questões:

1 – A maior parte do universo é composta por gases e poeiras. Não poderá dar-se o caso de a radiação de menos comprimento de onda ser absorvida? De manhã e à tarde a luz do sol é vermelha. Mas ao meio dia é amarela. A diferença deve-se ao maior volume de atmosfera que a luz tem de atravessar. Não poderá acontecer o mesmo com a luz das estrelas?

2 – Se o sol não estiver exactamente no centro do Big Bang, então estrelas que estejam a distâncias iguais de nós, mas em direcções distintas, deverão mostrar diferentes desvios para o vermelho. Porque umas estar-se-ão, consoante o centro do Big Bang, a afastar-se mais depressa do que outras.

Um abraço

6:29 da tarde  
Blogger david santos said...

Obrigado, Augusto. Muito útil o que aqui nos apresenta.
Parabéns.

6:24 da tarde  
Blogger Diogo said...

Então Augusto? Não tenho direito ao contraditório em relação às minhas opiniões sobre o Big Bang, que coloquei 6 comentários atrás?

Um abraço

6:56 da tarde  
Blogger augustoM said...

Claro que tens, Sofocleto, mas eu não serei a pessoa indicada para o fazer,sou muito fraco em cosmologia, tenho pena que os comentadores especializados não tenham lido o tem comentário, contudo a única cois que posso contrapor é que o Sol não está no centro do Big Bang, e que segundo Hubble, quanto maior for a distância entre as galáxias maior será a velocidade, independentemente da direcção de observação.
Eu procuro ajuizar os factos mais pelo lado filosófico do que pelo físico, que penso estar espartilhado por leis mais interessadas em arranjar uma verdade do que procurar a verdade em si, se é que é possível conhecer a verdade.
Um abraço. Augusto

7:40 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home