sábado, outubro 14, 2006

Já houve tempos em que as classes sociais se dividiam em clero, nobreza e povo. Os tempos evoluem, mas os melros são sempre os mesmos, e vimos aparecer como quem não quer a coisa, a burguesia. Como esta mais parecia a antiga nobreza tão desprezada pelo povo, teve, como se diz hoje, de criar um novo paradigma das classes sociais, mais “democrático”, que esbatesse o fosso existente inicialmente, na dicotomia rico ou pobre, e desse a ideia que a diferença, anteriormente existente entre elas, tinha desaparecido. Em vez das duas tradicionais classes, excluindo o clero que continua na sua tradicional “pobreza”, passaram a haver 6 classes definidas e uma indefinida.

Classe média alta
-Carro de grande cilindrada e marca prestigiante, normalmente mais do que um, comprados a pronto.
- Férias em destinos muito chiques e sofisticados, sobretudo dispendiosos.
- Habita em sumptuosas vivendas ou luxuosos condomínios de luxo, sendo privilegiada a localização em lugares elitistas, onde o seu elevado custo selecciona os habitantes.
- Transportes públicos? Não sabem da existência.
- A sua aspiração é ter uma vida de rico.

Classe média média
- Carro de grande cilindrada e marca prestigiante, em muitos casos, o segundo carro é indispensável, mas comprados a prestações.
- Férias em destinos, que pela sua vulgaridade, são económicos, pagos normalmente com o subsídio de férias ou com algumas facilidades bancárias.
- Habita no limbo das zonas chiques, em bons apartamentos ou em condomínios fechados, que sem o luxo dos anteriores não passam de gaiolas, que leva toda a vida a pagar.
- Transportes públicos? Que horror. Não suporta o mau cheiro do populacho
- A sua aspiração é levar a mesma vida que a classe média alta.

Classe média baixa
- O carro já não é da gama alta, novo ou usado é sempre comprado a prestações.
- Férias no Algarve ou em destinos em promoção, onde as facilidades bancárias têm um papel fundamental.
As opções que têm de ser levadas em conta, muitas vezes levam a esquecer que o comer bem também faz parte da vida.
- Habita em zonas não nobres, mas com bons apartamentos, em prédios que parecem colmeias. Por vezes nem a vida inteira chega para pagar a casa.
- Transportes públicos? Isso é para os pelintras.
- A sua aspiração. Se não tiver o que os outros têm, não tem qualidade de vida.

Pobre remediado
- Carro de fraca cilindrada usado, com pelo menos 10 anos. As prestações são o único meio que o pode propiciar.
- Férias nas praias portuguesas, perto do local de habitação, há que ir voltar todos os dias.
- Habita em locais considerados populares, apartamento em segunda mão e pequeno, alugado, o banco não quer nada com tesos.
- Transportes públicos? Têm um carrinho para quê? Só a partir do meio do mês quando não há dinheiro para a gasolina é que os utilizam.
- A sua aspiração é ter o melhor carro possível. As opções são: ou o supérfluo ou a barriga, o dinheiro por muito que estique não chega realmente para tudo. È um cidadão como os outros, os direitos devem ser iguais.

Pobre de menos recursos
- O carro está a cair de podre, mas anda o que é importante, mais que não seja quando há dinheiro para a gasolina.
- Férias? Talvez, de quando em vez, numa praia próxima como sardinha em lata, que esteja ao alcance do raio de mobilidade do seu carro.
- Habita em bairros degradados, ou em bairros sociais.
- O transporte público é o eleito, pelo menos não avaria.
- Aspiração. Além do carrito, que o Benfica ganhe o campeonato

Pobre à séria
- Carro! Não tem.
- Férias! O que é isso? É alguma coisa que se coma?
- Habita numa barraca.
- Transportes públicos são para ele um luxo nem sempre possível
- Aspiração? Não aspira a nada, porque o nada já ele tem.

A pobreza envergonhada e clandestina
Apesar da sua existência já ser muito significativa, pouco ou nada se pode quantificar.
Refugiada na clandestinidade, finge que o não é, vivendo muitas vezes a ilusão de que pobre é o vizinho do lado, defraudando intencionalmente as estatísticas da pobreza.

O aparecimento destas classes sociais, com excepção das duas últimas por razões óbvias, encurtou a ponte entre ricos e pobres, cuja ilusão da sua aproximação se confina ao automóvel, tornando-o no objecto mais desejado.

19 Comments:

Blogger isabel mendes ferreira said...

brilhante!!!!!!!!!!!!!


____________________podia ficar aqui e dissertar que não conseguiria dizer / contar o enorme prazer que foi ler...
repito-me.
BRILHANTE!!!!!!!!!!!

________________________

beijos.

6:06 da tarde  
Blogger Å®t Øf £övë said...

Augusto,
Brilhante analise à nossa sociedade actual. Está muito verdadeira e realista. Em resumo chegamos à conclusão que, grosso modo, só há duas classes sociais, a classe média, e os pobres. Infelizmente a pirâmide que esta analise sugere tem cada vez mais a base alargada.
Bom domingo.
Abraço.

12:10 da manhã  
Blogger Peter said...

É uma análise interessante da sociedade portuguesa, mas permito-me discordar de alguns pontos:
- A "classe média alta" não está no topo. Aí está a "classe alta" e é o aumento desta, tanto em número, como em riqueza, e o aumento do "pobre à séria", tanto em número, como em pobreza, que caracteriza a actual sociedade portuguesa.
- No meio, isto é, entre os dois extremos, temos toda uma população, em que "o automóvel é rei", e que vive acima das suas possibilidades através do recurso ao crédito.
- Eu colocaria o "pobre à séria" no fim da escala e choca-me muito a situação da "pobreza envergonhada e clandestina".

P.S.-Foi um prazer conhecer-te.

10:38 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

De tão explícita e objectiva, é impressionante a sua análise das actuais classes do nosso País.

A "pobreza envergonhada" apesar de não quantificada, parece-me que é, contudo, aquela que mais prolifera.

De qualquer modo, é aberrante o fosso entre os super - ricos, e a restante população.

Um abraço

11:59 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

De tão explícita e objectiva, é impressionante a sua análise das actuais classes do nosso País.

A "pobreza envergonhada" apesar de não quantificada, parece-me que é, contudo, aquela que mais prolifera.

De qualquer modo, é aberrante o fosso entre os super - ricos, e a restante população.

Um abraço

12:01 da tarde  
Blogger contradicoes said...

A tua análise Augusto está quase correcta, porque eu vou permitir-me discordar quanto aos pobres que vivem em bairros sociais ou degradados. Aconselho-te a visitar alguns e olha que em matéria de automóveis não corresponde de todo ao teu diagnóstico. Não sei se eles tiram à barriga ou se esquecem de pagar as suas dívidas, mas podes crer que nesses bairros também vês automóveis de gama média como BMWs
Mercedes etc. Com um abraço do Raul

7:53 da tarde  
Blogger Lord of Erewhon said...

Faltou-lhe falar dos mortos... que estendem a mão aos vivos.

7:59 da tarde  
Blogger Dad said...

Belíssima análise!

Potugal está mesmo a ser isto...

A classe média está a ir "ao ar" e os extremos existirão sempre. São irredutíveis...

Fizeram-se revoluções, o povo saiu à rua e esperou uma melhor sorte, mas o fado acorrentou-nos os sentidos...

Fado +e fado...

Obrigada Augusto pelas visitas aos Momentos.

Um beijinho,

5:49 da tarde  
Blogger Maria said...

Gostei de ler a tua dissertação. O automóvel transversal a todas as classes. Quem não tem passa por ser "diferente".
Um beijo. Foi óptimo rever-te.

10:52 da tarde  
Blogger Fátima Santos said...

hoje em que eu estou fazendo de magnate para muitos (!!!) vou comentar-te o que é raro que não vai no meu estilo (não tem ido por estes lugares!) andar comentanado assim, mas... eu vivo no social mas unipessoal com direito a logradouro e tudo, um luxo que nem sei, em termos de casa ende me coloque (que no demias, claro!) Mas,denovo acrescento, por aqui em volta existem bem perto os bairros camarários e os outros e amigo Augusto, gostava que os visses luzidios sei lá se são de topo se de gama, sei que são potentes! fico pateta ohando de onde vem tanto carro da marca que só vendo nas urbanizações de outros terrenos! Por estas e por talvez outras, seria de pensar na tua classificação tão com base no bólide mais ou menos descascado, apesar de se enquadrar em perfeito no que às aspirações diz respeito!
Um bom dia!

9:14 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Sr Augusto, não sei bem se é mesmo assim as suas definições... As vezes as aparências enganam mesmo.

5:37 da tarde  
Blogger Paulo said...

Voltei a este blogue. É, de facto, um blogue de referência. Hei-de voltar com mais tempo para, assim, "furtar" a excelente informação aqui existente.
Abraço
Paulo

10:12 da tarde  
Blogger hfm said...

Gostei desta análise onde a clareza verdadeira se mistura com o humor indispensável.

10:08 da manhã  
Blogger Diogo said...

E aqueles com um carro de baixa cilindrada e um blogue topo de gama? Onde é que se inserem?

8:36 da tarde  
Blogger Alberto Oliveira said...

O carro é o veículo de ligação inter-classes nesta bem-humorada apreciação; infeliz de quem é pobre-pobre que não sabe o que é o humor... nem o carro.

Eu que me gosto de rir à fartazana, ando a pé que só faz bem à saúde e ainda não desisti de perseguir o sonho de ter um avião particular para... andar aqui pelo virtual.

Abraço.

11:33 da manhã  
Blogger H. Sousa said...

Caro Augusto, recebi o teu mail (Tempo) e respondi. Também recebi o comentário no mini-blog. Parece é que os meus não chegam, obtive uma mensagem de erro ao responder ao segundo.
Este post está soberbo.
Abraços,
Henrique

11:13 da tarde  
Blogger Dad said...

Felicidade a rodos e um óptimo
Fim de semana, apesar de invernoso.
Mesmo com chuva, guarda o sol
No teu coração!

Beijinho,

10:38 da manhã  
Blogger Ulisses Martins said...

Excelente classificação. Sinceramente tenho dificuldade em enquadrar-me neste quadro. :-)
1 Abraço

12:48 da tarde  
Blogger AJB - martelo said...

muito bem Augusto, a maior classe é ter o discernimento para rir da falta de classe de muitos...ainda que se seja um teso de um cab...
abç

4:06 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home