sexta-feira, setembro 22, 2006

Jantar de Outono
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La Chanson de Roland

Canção de gesta, foi escrita três séculos após os acontecimentos, na forma de poema épico composto no século XII, acerca da Batalha de Roncesvalles, travada no desfiladeiro do mesmo nome, por Rolando, conde da Bretanha, sobrinho de Carlos, rei dos Francos e pelos Pares de França.
A Canção de Rolando baseia-se num facto histórico: uma batalha travada em 15 de Agosto de 778, pela retaguarda do exército de Carlos Magno (comandada por Rolando) que se retirava da Espanha, onde o conde e os Pares pereceram.
Contada oralmente, cedo, logo após o infortúnio dos Francos, chegou a todo o Ocidente, onde os trovadores itinerantes relataram o drama de Rolando, que quando perde o seu cavalo Veillant e vê tudo perdido, tenta inutilmente quebrar a sua espada Durindana para não cair nas mãos do inimigo, acabando por morrer na peleja.
A oralidade, imprime-lhe um romantismo cavalheiresco, fazendo emergir o mito de paladino da Cristandade, deturpando os factos, cria a lenda de que a batalha teria sido travada contra os Muçulmanos, em número muito superior, pois seria muito desonroso que os Francos tivessem parecido às mãos de um bando de Bascos, como tal aconteceu.
Embora o poema seja mais longo e narre factos históricos não relacionados directamente com a morte de Rolando, vou só cingir-me ao desenlace do drama.
Após uma incursão a Espanha, Carlos, por causa de um levantamento saxão, regressa a França, confiando a Rolando e aos Doze Pares de França (a sua guarda real) a missão de proteger a retaguarda do seu exército.
Acometidos por um inimigo muito mais numeroso, o seu companheiro Olivier pede-lhe insistentemente que toque a sua trompa, para chamar os exércitos carolíngios em seu auxílio.
Não querendo manchar o seu nome nem o da família, Rolando recusa o pedido. Iniciada a peleja, Rolando verifica que não consegue vencer tão elevado número de inimigos, então é a vez de Olivier o proibir de tocar a trompa. Nas palavras de Olivier, foi o orgulho de Rolando associado à sua temeridade que os tinham precipitado na tragédia; exaltado, o amigo de Rolando adverte-o que, caso sobrevivam à batalha, não partilharia o leito nupcial com sua irmã, Aude, prometida em casamento.
Sentindo-se perdido, acaba por tocar a trompeta, para que Carlos regresse e vingue os mortos.
Entretanto, os últimos que ainda estão vivos são o bispo Turpim e Rolando; Olivier desfalecera, ferido de morte por um dos mouros.
Turpim reza pela alma de Olivier, mas também cai; por fim morre Rolando, deixando-se cair no chão com a espada debaixo do corpo e com a cabeça voltada para Espanha.
Carlos chega e depara-se com este terrível espectáculo. Ordena que mil homens vigiem os mortos, para não serem devorados pelos animais, enquanto ele dá caça aos Muçulmanos. Vence-os, segundo a tradição, por o punho da sua espada ser feito da lança que feriu Cristo na Cruz.
Após estes factos, Carlos regressa a França, deixando a trompa de Rolando em Bordéus e depositado na Igreja de S. Romão, em Blaye, os corpos de Rolando, Olivier e Turpim.
Chegado à capital do seu império, Aude, a prometida de Rolando, pergunta ao imperador pelo noivo, que lhe diz estar morto. Aude, esmagada pela dor da perda do amado, morre logo ali.

A veracidade dos factos diz-nos que não demorou muito, para que no alto da cordilheira fossem emboscados pelas gentes da região. Milhares de Bascos de toda a Navarra atenderam ao chamamento dos chefes de aldeia e apresentaram-se armados para expulsar os Francos invasores.
Foram literalmente soterrados pela avalanche de pedras, espadas e lanças, que desabou sobre eles de todos os lados.
Apesar do poema não corresponder à Verdade Histórica, é considerado um dos maiores épicos da Idade Média a par de o Cid Campedor.

12 Comments:

Blogger Leonor said...

ola augusto. que surpresa. mataste-me as saudades das aulas de literatura. la chanson de roland, mio cid, amadis de gaula, rei artur...

abraço da leonoreta

7:30 da tarde  
Blogger Ulisses Martins said...

É muito interessante esta história, especialmente pelo pormenor do punho da espada de Carlos Magno ser feito da lança que feriu Cristo na Cruz...
1 Abraço

9:38 da tarde  
Blogger Amigo de Alex said...

Bela descrição de acontecimentos Históricos com direito a relato épico, dos tempos em que a posse da espada simbolizava a posse da honra, na vida e na morte,contada de modo escorreito e simples, como sempre.
Um grande abraço Augusto.

12:07 da manhã  
Blogger hfm said...

Augusto, como agradecimento pela tua divulgação aqui te deixo:

Co sent Rollant que la mort li est pres:
Par les oreilles fors s’e ist li cervel.
De ses pers priet Deu ques apelt,
E pois de lui a l’angle Gabriel.
Prist l’olifan, que reproce n’en ait,
E Durendal, s’espee, en l’altre main.
Plus qu’arcbaleste ne poet traire un quarrel,
Devers Espaigne en vait en un guaret;
Muntet sur un tertre; desuz dous arbres bels
Quatre perruns i ad, de marbre faiz;
Sur l’erbe verte si est caeit envers:
La s’est pasmet, kar la mort li est pres.

um extracto da Chanson de Roland.

4:56 da tarde  
Blogger Ant said...

Amigo, as coisas que tu sabes.
Abraço

10:49 da manhã  
Blogger Lord of Erewhon said...

«Entretanto, os últimos que ainda estão vivos são o bispo Turpim e Rolando; Olivier desfalecera, ferido de morte por um dos mouros.»????
Não foram os mouros... foram os Bascos.

2:05 da tarde  
Blogger Alberto Oliveira said...

Mais um belo texto histórico que li com muito agrado.

Embora já tenha regressado da pausa não poderei ir ao jantar uma vez que sábado vou para o norte. Ficará para a próxima.

Abraço.

4:17 da tarde  
Blogger Unknown said...

Amigo querido!
Gosto de vir aqui e adquirir novos conhecimentos, sobre os mais variados assuntos, todos de total interesse, sem sombra de duvidas!
Fico feliz por receber tua visita, sempre que te e' possivel...
Deixo-te beijos, flores e muitos sorrisos!

10:41 da tarde  
Blogger Peter said...

"enquanto ele dá caça aos Muçulmanos", ainda corres o risco de seres ameaçado pela al-Qaeda ...

11:24 da tarde  
Blogger Simbelmune said...

Das quatro vezes que passei os Pirinéus em caminho a Santiago, três delas cruzei pela Cruz de Rolando e entrei em Rocesvalles onde se localiza o silo de Carlos Magno.

É verdade - nunca encontrei povo mais afouto, mais directo e sem papas na língua, mais amante da sua forma de fazer as coisas e zelosos de as manter assim contra as falinhas mansas e politiquices manipuladoras como os Navarros. Sorria sempre com certo comungar de causa ao pensar no orgulho Franco quebrado pelas duras mas simples gentes da Navarra.

Achei sempre estranho que o Islão – entrando pacificamente na península por força da sua qualidade de vida face aos despojos do Império Romano de Ocidente – tivesse sido tão vilipendiado na história trocada em forma de gesta.

Passando em Burgos, encontra-se de novo a história de Don Rodrigo Alvarez de Vibar (vulgo “El Cid” Campeador) e a história das traições interinas entre os reis cristãos a par das guerras entre clãs do Islão que controlava “El Andaluz” e que propiciaram a sua queda.
Nestas guerras contra todos – os heróis foram sempre difíceis de localizar para mim. Nunca um homem ganhou uma batalha por si só (a única que lutamos assim parece ser contra a própria vida – que é uma guerra votada à sorte de perda), pelo que usurparam eles o lugar dos múltiplos desconhecidos que deram forma às tais “vitórias”, que mais não foram do que a prevalência de uma hegemonia sobre a outra. Afinal pelo que lutamos? E contra quem?...

Rolando – como tu mesmo comentaste – pecou por vaidade e egoísmo, cavando o seu túmulo e arrastando consigo os seus homens transformando-se num comandante irresponsável. Como se numa partida de xadrez, tendo uma jogada simples que traga posição sólida e vantagem para vitória, se arriscasse uma filigrana desnecessária para espantar plateia e gravar memória… descalabrando o jogo e perdendo a partida que seria vantajosa de outra maneira.

Mas dele fizeram lenda e mito de cantigas trovadorescas.
Dá para pensar acerca das imagens de líder ou herói que cada era engendra e o quanto de ilusório nos vendem acerca da verdade da luta do dia a dia. Louvor aos trovadores e vendedores de mentiras a troco de moeda, fama ou coisa que lhe valha.
O verdadeiro herói continua a trabalhar o campo de sol a sol e em silêncio…

O Cid é o ícone do herói solitário que – aparentemente pela força do seu carisma – derrota Reis Tiranos e conquista Valência para o povo que aplaude…

Agora só nos falta que nos vendam de novo Aljubarrota, que nos falem do espírito aventureiro do povo Português a cruzar oceanos e que se esqueçam do “pequeno” pormenor das ordens poderosas a manipular estados (como a criação de Portugal ou da Escócia por Templários e afins) ou a tal expansão pelos mesmos baixo o “álias” da mesma nas velas de Cristo.

A palha segue a ser servida, mas Apuleio já não é quem conta a história para que os tais “dourados” de hoje comam sem aditivos.

10:14 da tarde  
Blogger Klatuu o embuçado said...

Só mitosofias do portugalório, este seu visitante.

4:12 da manhã  
Blogger Å®t Øf £övë said...

Augusto,
Aqui está um bom exemplo de como a música é um instrumento de cultura fortissimo, e que é capaz de manter na memória de todos factos passados quase nos primordios dos tempos.
Bom fds.
Abraço.

10:53 da tarde  

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