sábado, agosto 05, 2006

Estranha forma de vida

Ontem, ao presenciar uma cena de puro egoísmo, das muitas onde o nosso quotidiano consegue sobreviver, dei por mim, não comentando objectivamente o sucedido, mas questionando o seu porquê.
“Estranha forma de vida”, onde o inexorável, o começo e o fim, muitas vezes é posto em causa, como se algumas mentes estivessem convencidas, de que, pelo menos o fim não é igual para todos, mas sim uma consequência daqueles que não souberam ou não foram capazes, de lutar pela diferença.
Para eles, a vida, efémera parcela do tempo, não se manifesta como uma passagem entre dois adventos, sobrepostos pela intemporalidade, mas como presente que se tenta afirmar, como uma existência cujo fim fica na esperança de ser iludido.
Esta é a única explicação que encontro para tais comportamentos egoístas, como se estes pudessem alterar o destino final.
Mas a realidade, que parece não ser aceite, é que nascemos e morremos da mesma maneira, sem que a nossa actuação na vida consiga alterar seja o que for dessa inevitabilidade.
Se a nossa actuação na vida, não consegue alterar os limites que lhe são impostos, para quê tanta arrogância, tanta avareza, tanta cupidez, tanta usurpação para alimentar a auto satisfação, se nada do que possuímos ou usufruímos pode alterar o fim.
Para alimentarmos a auto satisfação, transformamos a vida num campo de batalha, onde o espírito da vitória reclama constantemente por ela. Ainda mal conseguimos uma, já procuramos outra no horizonte da competição.
A busca constante de vitórias, acaba por torná-las, como a vida, efémeras, onde a satisfação da última é o esquecimento das anteriores.
Tantas vitórias, tanta destruição, onde o amor, a serenidade, a paz de espírito, a equidade, a sageza, a harmonia, são imolados nessa fogueira dos desejos que tudo consome.
O dia a dia, é o frenesim de conquistas, onde um simples entrar primeiro, assume transcendente importância. Um empurrão inicial, pode atingir a forma de atropelamento, se tal for necessário, para conseguirmos os nossos intentos.
Se as coisas simples, as submenus importantes, conseguem motivar o nosso egoísmo, que dizer das importantes.
A duração da vida que o dealbar da meia idade encurta a perspectiva da juventude, é a forma despicienda que o homem encontrou para a sua passagem na temporalidade, trocando uma existência serena, harmoniosa, afectuosa, contemplativa, com um quê de bonomia, por uma existência pautada pela agressividade, pela ambição desmedida, pela corrosão da inveja, onde os insucessos se traduzem numa constante displicência.
Interrogo-me muitas vezes das razões deste comportamento, tão antagónico à equidade da Mãe Natureza de que o homem faz parte, onde as emoções da vida são subalternizadas pelo egoísmo assoberbado.

Os nossos desejos são como as crianças pequenas: quanto mais lhe cedemos, mais exigentes se tornam. (provérbio chinês)

O pobre carece de muita coisa, mas o avarento carece de tudo. (Séneca)

Quanto mais se tem mais se deseja; e em vez de encher, abrimos um vazio. (O.S. Marden)

Um homem desregrado não pode inspirar afecto; é insociável e fecha a porta à amizade. ( Socrates)

Olho por olho...e o mundo ficará cego. (Gandhi)

Só há uma maneira de acabar com o mal: é responder-lhe com o bem. (Tolstoi)

Nenhum gesto de gentileza, por menor que seja, é perdido. (Esopo)

Estranho não equivale a inimigo, mas o amigo que ainda não conhecemos. (Gleen)

A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida. (Vinicius de Morais)

A vida torna-se numa festa quando sabes desfrutar das coisas normais de cada dia. (Phil Bosmans)

12 Comments:

Blogger Peter said...

"Sic transit gloria mundis"

9:13 da tarde  
Blogger contradicoes said...

Como sempre, com a serenidade e objectividade que te caracteriza brinda-nos com excelente post que análisa correctamente o procedimento do ser humano, face a esta sociedade em permanente competição, a qual vai perdendo os valores da amizade e solidariedade.
Aquele abraço do Raul

12:39 da tarde  
Blogger AJB - martelo said...

Mas, o que atordoa é o facto de as coisas, os egoísmos, os entraves... acontecerem, até, que um último sopro explica tudo - afinal, tudo passou...
abç

7:09 da tarde  
Blogger Maria Carvalho said...

Concordo na íntegra com todo este post! Beijos.

12:11 da tarde  
Blogger Leonor said...

ola augusto.
será a nossa natureza humana tão sui generis que nos leva a tão diversos comportamentos?
também me questiono e quanto mais tento perceber... a velha historia.

gostei do teu silogismo

abraço da leonoreta

3:05 da tarde  
Blogger hfm said...

Subscrevo inteiramente este texto tão cheio de verdades.
Infelizmente há cada vez menos o culto dos valores e sem uma hierarquia de valores é difícil que as pessoas vejam mais do que o seu umbigo.
Gostei muito de te ler.

6:25 da tarde  
Blogger isabel mendes ferreira said...

a vida é OXÍMARa.


grávida de encontros bons (o nosso) e de agravos (os muitos que a ignorância e a avareza tecem).


e aqui. para dizer não a um regresso mas sim à fome de te ler....


parto para Nairobi....mas volto sempre.


deixo um abraço e um beijo....tb à nossa Rapariga.

6:35 da manhã  
Blogger BlueShell said...

Oportuna reflexão! Eu estava aprecisar de "lembrar" certas "coisas"....

BeIjos
BShell

2:06 da tarde  
Blogger Dad said...

Belíssimo e oportuno post!
O mundo todo parece estar cada vez mais egoista e insensato!
Eu sinto o mesmo! Neste país há uma necessidade de "agredir" por gestos e palavras...horrível!
Depois ansiamos acabar com a guerra, quando afinal as guerras interiores e pessoais não são vencidas!

O que +e descrito no post é o pão nosso de cada dia dos egoismozinhos e das necessidades exacerbadas de auto-afirmação...

Enfim, c'est la vie...

Beijinhosssss

12:56 da tarde  
Blogger Fátima Santos said...

gosto particularmente deste:"A vida torna-se numa festa quando sabes desfrutar das coisas normais de cada dia." (Phil Bosmans)

1:21 da manhã  
Blogger Em busca da Paz de Espírito said...

Gostei de ler o texto "Estranha forma de vida" ... e os proverbios.

Pois é ... aqui está em minha opinião um dos grandes problemas da actualidade (que exagero!? até parece pequenino problema ...), ... que me faz lembrar o que o espanhol Henrique Rojas descreveu como "O homem light - uma vida sem valores" (1994?) ou também o de Alain Finkielkraut em "A derrota do pensamento" ou de Revel em "O conhecimento inutil".

Já em tempos procurando algumas respostas às mesmas questões fiquei pasmado como tais ocorrências nas nossas vidas são bem mais permanentes do que pensamos, só que tendem a tomar formas extremamente subtis!

Apesar do texto de Rojas estar cheio de várias contradições detestáveis, consegue descrever de forma objectiva o "homem light" como um de "... pensamento debil, convicções sem firmeza, apatia nos compromissos, indiferença sui generis ... sua ideologia é o pragmatismo, ... sua ética fundamenta-se na estatística, e sua moral relegada para a intimidade sem se atrever a vir a público." Acredito que aqui estão algumas das razões do tal comportamento.

Abraço

4:48 da tarde  
Blogger Å®t Øf £övë said...

Augusto,
Costuma-se dizer que saber demasiado é envelhecer precocemente, mas eu acredito que quem tem alguma experiência de vida, acaba por compreender rapidamente que esse tipo de coisas de que falas na realidade não têm nenhum valor. Concordo inteiramente contigo.
Abraço.

4:57 da tarde  

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