sexta-feira, agosto 11, 2006

A ansiedade e o advir

O passado, sem dúvida, é factor determinante do nosso presente, pois este, muitas vezes, é resultado das acções e opções que tomámos anteriormente.
Esta verdade, é para muitos a única justificação do seu presente, deixando-se envolver por um sentimento de culpa do que fizeram mal ou do que poderiam ter feito e não fizeram. “Se eu pudesse voltar atrás...”, quando o presente não corresponde aos seus anseios.
Aparentemente, este sintoma de frustração, poderia justificar o estado permanente de ansiedade em que as pessoas vivem, caso o passado não se esfumasse no presente, e só evocado nos momentos de maior dificuldade, como para servir de justificação ao presente.
Evocar o passado, para se culpabilizar nele das frustrações do presente, é uma falsa questão. Ninguém erra voluntariamente, nem deixa de fazer o que podia ter feito, com o intuito de prejudicar deliberadamente o seu futuro.
O que criticamos hoje, estava conscientemente correcto na altura, no contexto em que foi assumido que nada tem a haver com o actual. Querer sobrepor o tempo, subtraindo as suas condicionantes, é a mesma coisa que querer comparar as reacções de um velho com as de uma criança face ao mesmo problema.
Desta forma, justificarmos o nosso presente estado de espírito como uma consequência do passado, é uma forma errada de auto introspecção, onde propositada ou inconscientemente, nos escapa a verdadeira causa.
A ansiedade e o stress dos nossos dias nada têm a haver com o passado, mas sim com o futuro, como se este fosse a única razão da nossa existência. A dúvida da concretização do desejo futuro, torna-nos escravos de uma instabilidade emocional permanente, que torna o futuro tão omnipotente, que o presente quase que perde a sua razão de existir, levando, por sua vez, a insatisfação a uma busca de sucessivos futuros, sem nunca se conseguir saciar.
Há quem lhe chame sonhos, mas viver permanentemente a sonhar, é negar a própria realidade, e esta, a que temos, é que merece ser vivida, a outra pode nunca vir a existir.
A vida acontece, independente da nosso querer, chamem-lhe destino ou fado, mas algo superior à nossa vontade a rege. O livre arbítrio é uma vaidosa ilusão, por muito que custe a aceitá-lo, está sempre condicionado a uma regência universal.
Viver projectado no futuro, é um estado egoísta que nos esgota o presente, passando este a ser arrastado como uma coisa incomoda, que se tem pressa de deixar.

(Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é por si, uma vida. Séneca) porque (O futuro dependerá daquilo que fazemos no presente. Gandhi).

18 Comments:

Blogger Maria Carvalho said...

As atitudes e opções são tomadas nas alturas que achamos que as devemos tomar. Um texto interessante. Bom fim de semana.

1:28 da manhã  
Blogger Peter said...

Filosoficamente um belo texto que apreciei bastante. Fisicamente poderia argumentar que não existe "presente", é tudo "passado e futuro".

Há mais de 20 anos, quando li "Um pouco mais de azul" de Hubert Reeves, a busca de uma compreensão mais profunda do cosmos, tornou-se o meu "hobby".

Um abraço, com o desejo de um bom fds.

7:54 da manhã  
Blogger Å®t Øf £övë said...

Augusto,
Estive algum tempo quase sempre ausente da blogosfera, e como tal acabei por não passar por aqui com a regularidade que gostaria. Felizmente hoje arranjei um tempinho para cá passar, e deparo-me como um blog de cara lavada, com um template novo!!!
Quando a esta reflexão, ela é bem verdadeira, e concordo inteiramente com ela, porque ao longo da nossa vida vão-se-nos deparando constantemente vários caminhos pelos quais temos que nos decidir. Simultaneamente, enquanto escolhemos um, há outro que deixamos para trás - é inevitável. O caminho que escolhemos depende apenas de nós.
Abraço.

11:09 da tarde  
Blogger Rosalina Simão Nunes said...

o "carpe diem" dos dias é possível, claro.

12:19 da tarde  
Blogger Em busca da Paz de Espírito said...

Apetece-me deixar aqui estas palavras:

Que terrível seria se tivessemos essa "possibilidade de voltar atrás" ... seriamos obrigados a corrigir corrigir corrigir corrigir corrigir ... eternamente as nossas vidas ene vezes sem conta até à perfeição!

O presente estado de espírito de cada um (saudável, é claro) só tem a ver com o estado de espírito que quer e escolhe viver nesse momento. Requer força de vontade e conhecimento dos limites a impôr para não nos auto-alucinarmos!(tal é ilustrado até aos limites em a Vida é Bela de Roberto Benigni).

11:48 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Concordo consigo quando diz implicitamente que o Presente é que conta, que não vale a pena chorar pelo Passado ou ansiar pelo Futuro, mas já não concordo quando diz que o livre arbítrio não existe. Existe sim, sempre dentro de determinados cenários, que são a nossa vida num determinado ponto. Dentro de um contexto, temos sempre a liberdade de escolher ir por alí ou por acolá. Acho eu...

2:37 da tarde  
Blogger Maria Carvalho said...

Obrigada, Augusto, pelas palavras que deixaste nas romãs. Paulinha é como sou tratada na família, claro que não me importo. Beijos.

3:55 da tarde  
Blogger Leonor said...

ola augusto. dizes aqui coisas muito valiosas que me tem tirado o sono durante anos.

abandonaste o culturalmente?

abraço da leonoreta

8:23 da tarde  
Blogger Peter said...

Olá Augusto
Estive a compilar um texto especialmente dedicado a ti. Espero que gostes.

10:10 da tarde  
Blogger Black Angel said...

desculpa ter de te corrigir. a frase "A ansiedade e o stress dos nossos dias nada têm a haver com..." dever-se-á ler: ...o stress dos nosssos dias nada tem A VER...
de resto nada a acrescentar ao teu texto, excelente como sempre...
abraço

12:34 da manhã  
Blogger Luna said...

Gostei do teu texto.
Estamos aqui para uma aprendisagem continua e como dizes os caminhos que no passado tomamos foram os que no momento pareceram mais correctos, assim não há que olhar com recriminação para o que aconteceu mas aprender com os erros é isso que vai escrevendo a vida de cada um de nós

10:48 da manhã  
Blogger Estrela do mar said...

...Augusto, gostei imenso deste texto...embora haja um aspecto em que não estou completamente de acordo contigo, porque acho que muitos de nós, por vezes, somos levados a tomar algumas iniciativas que nada têm a ver com o que se quer, mas com o que os outros querem!...não sei se me fiz entender:)...mas também não te preocupes...rs...


Bjosssssssss

12:56 da tarde  
Blogger A Sonhadora said...

Olá Augusto, bom dia....e bom feriado!!!
isto são só férias e feriados...que país tão bom e tão rico...eheheh
é só baldas(ainda bem!!!)
espero que estejas sempre bem disposto e feliz
eu cá estou de regresso duns ricos dias de descanso...pronta para mais um ano de trabalho....e não só
tou á espera dos nossos encontros de blogueiros....
Um abraço sa sonhadora

1:17 da tarde  
Blogger Paulo said...

Tantas verdades....aqui li.
Obrigado.
Paulo

11:59 da tarde  
Blogger contradicoes said...

Concordo quase inteiramente com o teu raciocínio. Mais um excelente post que nos deve fazer reflectir. Um abraço do Raul

4:33 da tarde  
Blogger Ulisses Martins said...

Começo meio e fim têm uma existência simultânea em vários níveis, no entanto, nunca se volta para trás para o mesmo sitio exactamente onde estivemos, assim como as alternativas futuras nunca nos levam simultaneamente para o mesmo local ou situação. É o paradoxo temporal e o segredo a saber.
1 Abraço

9:29 da tarde  
Blogger hfm said...

Como sempre gostei muito do que aqui li.

5:58 da tarde  
Blogger AJB - martelo said...

ou... como se pode empurrar o vento?
o melhor é viver cada momento e esperar pelo seguinte ou como diz o outro: - não te esqueças de respirar...


abç

12:14 da manhã  

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