ANIVERSÁRIO
No próximo dia 21 de Agosto, farei dois anos que iniciei as minhas lides na Blogesfera. Dois anos a fazer amigos, uns virtuais, outros já mais do que isso, mas em ambos os casos sinto-me mais rico com a sua amizade. A todos o meu bem hajam e o desejo das maiores felicidades.
O texto que escolhi hoje, é-me particularmente querido, pois ele foi, há muito, muito tempo, a minha primeira publicação literária. Tinha na altura cerca de quinze anos, quando foi publicado no suplemento Juvenil do Diário de Lisboa, que saía uma vez por semana ao sábado. Todas as semanas, a redacção do jornal escolhia entre os escritos recebidos, os que na sua opinião mereciam ser publicados. A esperança da publicação fazia-nos desesperar a chegado do jornal. A alegria era muitas vezes substituída pela desilusão: esta semana não gostaram do que enviei.
O jornal está tão velho que mal se consegue ler o que está escrito, por isso vou transcrever o texto.
No alto da negra falésia abrupta sobre o mar, sentado na agreste penedia, como quem procura ver no horizonte algo que se perdeu, encontra-se um velho.
Qualquer viajante pensaria, pela sua expressão, que ele via o mar pela primeira vez. Mas como se enganaria se assim pensasse o forasteiro.
O mar para ele não tem segredos, foram companheiros durante longos anos. Com ele ganhou muito dinheiro, mas também, com ele perdera aqueles a quem mais queria.
Que tristeza, que solidão, tudo lhe tiraram, primeiro o mar depois os filhos, agora só lhe resta a velhice.
Enquanto o velho continuava mergulhado nos seus pensamentos, o Sol raiava no Ocidente, tingindo o verde mar com os seus raios vermelhos, anunciando que o dia já ia no fim.
Todos os barcos regressavam do mar, e do alto da falésia, contemplando-os, o velho lobo do mar, meio indignado, meio trocista, comentava:
- Ide, ide para o mar que isso agora é brincadeira de crianças. No meu tempo é que era, não havia barcos a motor nem aparelhos que dissessem onde o peixe se encontra. No meu tempo, sim, é que havia homens! Gostava de os ver remando durante algumas horas ou então velejarem, e ainda pior, saber procurar o peixe. Pf! Hoje a pesca nada custa, até do mau tempo são avisados.
E nestes irónicos comentários, o velho continuou durante muito tempo.
O Sol já tinha baixado no horizonte e o crepúsculo no fim estava; na vila as primeiras luzes faziam-se ver.
No alto da falésia, não longe do lugar onde se encontrava o velho, o farol mostrava já a sua luz avisadora.
O velho ainda tinha intenção de ficar mais algum tempo, mas um vento forte que a todo o momento aumentava cada vez mais e algumas gotas grossas de chuva fizeram-no demover do intento.
Ainda não tinha chegado à vila, já aquele mar pardacento de há pouco estava transformado num inferno.
O velho levou a mão em forma de pala à testa e como se quisesse procurar qualquer coisa, olhou demoradamente o mar. Já ia a retomar o caminho de casa quando lhe pareceu ver uma luz no meio das ondas enfurecidas. Fixou os olhos demoradamente, até que acabou por descobrir um barco adornado para bombordo na iminência de se afundar com a tripulação.
Esquecendo todos os conselhos médicos, correu tanto quanto podia para dar o alarme.
Uma dúzia de homens se oferecem logo para salvar os companheiros, mas um problema surgiu: não sabiam, ao certo, onde se encontrava o barco e não se queriam arriscar assim, às cegas.
- Eu sei onde está ele, posso guiar-vos lá! – disse o velho.
- Você não está bom da cabeça, tio Zé da Barca! – respondeu alguém.
- O quê? Lá por estar velho já não sou capaz de vos guiar através de um temporal? Pois olhem que se não quiserem ir, vou eu só.
As palavras do velho conseguiram convencer os pescadores.
Sentado ao leme de uma barca, como no seu tempo, com os cabelos ao vento e com a cara molhada de chuva e água salgada ao mesmo tempo, o velho parecia mais novo, um sorriso se lhe aflorava aos lábios, quando uma onda mais rebelde, que ele não conseguiu evitar, chocava contra a frágil embarcação.
O acto de abnegação daqueles homens foi recompensado, conseguindo salvar toda a tripulação do pesqueiro em perigo.
Quando o mestre e a tripulação agradeciam ao velho pescador, este, com um sorriso nos lábios, respondeu:
- Vejam lá se eu não tinha razão quando vos dizia que um barco de remos valia mais que um a motor! Se não fosse este barco com este motor (apontou para os remos), os pescadores do grande barco a motor, naturalmente, jaziam agora no fundo do mar.
Este texto foi inspirado nas magníficas férias que passei durante muitos anos em Sesimbra, na minha meninice. Já nesse tempo, o mar era tudo para mim.
O texto que escolhi hoje, é-me particularmente querido, pois ele foi, há muito, muito tempo, a minha primeira publicação literária. Tinha na altura cerca de quinze anos, quando foi publicado no suplemento Juvenil do Diário de Lisboa, que saía uma vez por semana ao sábado. Todas as semanas, a redacção do jornal escolhia entre os escritos recebidos, os que na sua opinião mereciam ser publicados. A esperança da publicação fazia-nos desesperar a chegado do jornal. A alegria era muitas vezes substituída pela desilusão: esta semana não gostaram do que enviei.
O jornal está tão velho que mal se consegue ler o que está escrito, por isso vou transcrever o texto.
No alto da negra falésia abrupta sobre o mar, sentado na agreste penedia, como quem procura ver no horizonte algo que se perdeu, encontra-se um velho.
Qualquer viajante pensaria, pela sua expressão, que ele via o mar pela primeira vez. Mas como se enganaria se assim pensasse o forasteiro.
O mar para ele não tem segredos, foram companheiros durante longos anos. Com ele ganhou muito dinheiro, mas também, com ele perdera aqueles a quem mais queria.
Que tristeza, que solidão, tudo lhe tiraram, primeiro o mar depois os filhos, agora só lhe resta a velhice.
Enquanto o velho continuava mergulhado nos seus pensamentos, o Sol raiava no Ocidente, tingindo o verde mar com os seus raios vermelhos, anunciando que o dia já ia no fim.
Todos os barcos regressavam do mar, e do alto da falésia, contemplando-os, o velho lobo do mar, meio indignado, meio trocista, comentava:
- Ide, ide para o mar que isso agora é brincadeira de crianças. No meu tempo é que era, não havia barcos a motor nem aparelhos que dissessem onde o peixe se encontra. No meu tempo, sim, é que havia homens! Gostava de os ver remando durante algumas horas ou então velejarem, e ainda pior, saber procurar o peixe. Pf! Hoje a pesca nada custa, até do mau tempo são avisados.
E nestes irónicos comentários, o velho continuou durante muito tempo.
O Sol já tinha baixado no horizonte e o crepúsculo no fim estava; na vila as primeiras luzes faziam-se ver.
No alto da falésia, não longe do lugar onde se encontrava o velho, o farol mostrava já a sua luz avisadora.
O velho ainda tinha intenção de ficar mais algum tempo, mas um vento forte que a todo o momento aumentava cada vez mais e algumas gotas grossas de chuva fizeram-no demover do intento.
Ainda não tinha chegado à vila, já aquele mar pardacento de há pouco estava transformado num inferno.
O velho levou a mão em forma de pala à testa e como se quisesse procurar qualquer coisa, olhou demoradamente o mar. Já ia a retomar o caminho de casa quando lhe pareceu ver uma luz no meio das ondas enfurecidas. Fixou os olhos demoradamente, até que acabou por descobrir um barco adornado para bombordo na iminência de se afundar com a tripulação.
Esquecendo todos os conselhos médicos, correu tanto quanto podia para dar o alarme.
Uma dúzia de homens se oferecem logo para salvar os companheiros, mas um problema surgiu: não sabiam, ao certo, onde se encontrava o barco e não se queriam arriscar assim, às cegas.
- Eu sei onde está ele, posso guiar-vos lá! – disse o velho.
- Você não está bom da cabeça, tio Zé da Barca! – respondeu alguém.
- O quê? Lá por estar velho já não sou capaz de vos guiar através de um temporal? Pois olhem que se não quiserem ir, vou eu só.
As palavras do velho conseguiram convencer os pescadores.
Sentado ao leme de uma barca, como no seu tempo, com os cabelos ao vento e com a cara molhada de chuva e água salgada ao mesmo tempo, o velho parecia mais novo, um sorriso se lhe aflorava aos lábios, quando uma onda mais rebelde, que ele não conseguiu evitar, chocava contra a frágil embarcação.
O acto de abnegação daqueles homens foi recompensado, conseguindo salvar toda a tripulação do pesqueiro em perigo.
Quando o mestre e a tripulação agradeciam ao velho pescador, este, com um sorriso nos lábios, respondeu:
- Vejam lá se eu não tinha razão quando vos dizia que um barco de remos valia mais que um a motor! Se não fosse este barco com este motor (apontou para os remos), os pescadores do grande barco a motor, naturalmente, jaziam agora no fundo do mar.
Este texto foi inspirado nas magníficas férias que passei durante muitos anos em Sesimbra, na minha meninice. Já nesse tempo, o mar era tudo para mim.
18 Comments:
O Juvenil de boa memória! Tb lá publiquei alguns trabalhos e até um desenho (creio que o último que fiz até há uns cinco anos ter voltado aos traços). Obrigada pela memória. Obrigada pelo texto. Obrigada pelo mar.
Parabéns em duplicado; pelo aniversário do blog e pelo texto publicado no DL-Juvenil de boa memória.
Abraço.
e para mim também,amigo de "viagem".....embora longe nas terras dos masai...vim deixar um abraço com cheiro a mato....e uma flor azul.....!
parabéns. pela diferença. pelo bom gosto. pela qualidade....
p.s. (deixei uma casa enquanto o piano não reabre...está no profile)
beijos beijos beijos.
Parabéns! O texto também já revelava um muito bom domínio da escrita, ainda tão cedo.
Abraço!
Parabéns pelo dia 21, eu fiz um ano a 19!! Belo texto! Beijos.
a veia, a vocação da escrita é realmente inata...pode cultivar-se, mas a imaginação e o gosto de traçar a frase nascem ...
e de Sesimbra tambem tenho recordações de menino...
abç e parabens
pois então é assim?????
lá porque está de parabéns não liga a quem tanto lhe liga mesmo de longe????
raios. volto para o mato.
Beijos beijos beijos parabéns.
Parabéns meu caro amigo Augusto pelas
duas primaveras do Klepsidra e igualmente pela republicação do artigo que publicaste no DL Juvenil no qual com a tua juventude de 15 anos já demonstravas propensão para a escrita.
Um grande abraço do felicitações do Raul
AMIGO venho atrasada para te dar os parabéns, mas creio que os aceitarás na mesma. São dados com carinho e tb eu, que apenas te conheço um bocadinho :-) já gosto tb de te chamar amigo.
O teu texto merece bem estar aqui para o lermos neste dia especial.
Um beijo grande
ola augusto.
parabéns pelos dois anos de blog. quando se começa é dificil parar, embora haja quem páre.
dois anos de artigos formidáveis feitos com muito empenho.
gostei do teu comentario sobre belem, das recordaçoes nele contidas.
abraço da leonoreta
Augusto.......que bom ler-te-----:)
que saudade....
e sim...vou ouvir...com os olhos da alma....:)
depois conto.
obrigada....
enorme beijo.
P.S. ( e deixei um coração masai no profile do Piano...vê se gostas...)
Amigo Augusto!
Grande sensibilidade que já se denota nesta escrita dos 15 anos!
O tempo passou mas o coração que ama o amar permaneceu!
Que as brisas marítimas continuem a levar o timoneiro a bom porto!
Grande abraço de parabéns pelo tempo de partilha deste blog e também das recordações da juventude!
Muito bonito! Quanta sensibilidade!
:)
li o coment.
e sim. Bingo!
enorme abraço. de masai.
adoro-vos.
Tens na Linha de Cabotagem um desafio.
Gostei disto por aqui... interessante.
cheguei aqui na cadeia das "etiquetas", pronto a zarpar para outras margens. não resisti, porém, à magia ( e nostalgia ) do DL Juvenil. uma "cumplicidade" inesperada. um abraço
Augusto,
Muitos PARABÉNS pelo texto, e também pelo aniversário de blog.
Abraço.
parabéns pela tua escrita, pela simpatia e humanidade e por este blogue...ando muito cansado, sabes, nenhumas férias me recompõem...fujo do stress,telefonam-me do serviço todos os dias e impediram-me de ter mais dias de férias em Outubro...como não sei dizer Não muitas vezes,estou no Conselho Fiscal da Liga dos Amigos de um a terra da Beira Baixa e numa colectividade centenária de Lisboa, sou coordenador da direcção da Aldraba,pedem-me que escreva (em férias) artigos para jornais e comunicações para Fóruns de reflexão sobre associativismo.E tudo isto apenas me enriquece em mais conhecimento: tenho apenas a importância de ser pessoa,de lutar pelos meus direitos, de sonhar (ainda) por um colectivo melhor cada vez mais direccionado para a mesquinhice, inveja, caricatura de ser...por quantas gerações mais a maioria vai ser de gente ressabiada que em vez de dizer quero ganhar tanto como tu prefere o tens de ganhar o pouco que eu ganho, ou não podes ter nenhuma regalia em vez de também quero ter direito ao mesmo.
As tuas palavras são sempre um bálsamo neste quotidiano de zombies, onde eu não sei se serei o zombie maior por sofrer face a tanta parvoíce...
Abraço fraterno de parabéns
Luís
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