domingo, agosto 14, 2005

Abelardo e Heloísa


O romance entre Abelardo e Heloísa situa-se no período da Idade Média.
Pedro Abelardo nasceu em 1079 na Bretanha. Aos 16 anos foi estudar para Paris, onde depois de frequentar a Escola Catedral de Notre Dame, tornou-se em pouco tempo muito conhecido. Como autêntico escolástico, a dialéctica proporcionava-lhe o maior prestígio.
Quando estava próximo dos 40 anos, o seu caminho cruzou-se com o de uma donzela formosa e inteligente, numa tarde em que Heloísa saiu para passear com a sua criada. Quando os olhares dos dois se cruzaram, o coração de Heloísa bateu mais forte. Desde esse encontro, Heloísa nunca mais conseguiu esquecer Abelardo.
Fingindo estar doente, dispensou os seus antigos professores e passou a interessar-se pelas mesmas obras filosóficas que Abelardo, na esperança de que este seria atraído pelos seus estudos e viria até ela.
Abelardo tornou-se amigo de Fulbert, cónego de Notre Dame, tio e tutor de Heloísa que logo o aceitou como o mais novo professor de sua sobrinha, hospedando-o em sua casa, em troca das aulas nocturnas que ele lhe daria. Em pouco tempo essas aulas passaram a ser ansiosamente aguardadas, e contando com a confiança de Fulbert, passaram a ficar a sós. Fulbert ia dormir, e a criada de Heloísa retirava-se discretamente para o quarto ao lado.
O fulgor amoroso levou um dia Abelardo a tirar o cinto que prendia a túnica de Heloísa e os dois se amaram apaixonadamente. A partir desse momento passou a desinteressar-se de tudo, só pensando em Heloísa, descuidando as suas obrigações de professor. A propósito deste período da sua vida Abelardo fala com toda a franqueza: “Estivemos primeiro juntos sob o mesmo tecto e em seguida os nossos corações uniram-se. Aparentemente entregues ao estudo, abandonámo-nos inteiramente à nossa paixão. Os livros estavam abertos diante de nós, mas nossas palavras referiam-se mais ao amor que às letras; os beijos eram mais numerosos do que as explicações dos textos”.
Abelardo acabou por não aguentar simultaneamente as noites de amor e os trabalhos de uma dura vida diária. A inspiração desaparecia, os seus cursos tornavam-se menos interessantes. Depressa toda a cidade ficou ao corrente do romance e quando, por sua vez, Fulbert compreendeu o que se passava, expulsou imediatamente Abelardo da sua casa.
No entanto isso não foi suficiente para separá-los. Heloísa preparou poções para o seu tio dormir e, com a ajuda da sua criada, Abelardo foi conduzido ao porão, local que passou a ser o ponto de encontro dos dois e ninho de amor.
Uma noite, porém, alertado por outra criada, Fulbert acabou por descobri-los. Heloísa foi espancada, e a casa passou a ser cuidadosamente vigiada. Mesmo assim o amor de Abelardo e Heloísa não diminuiu, e eles passaram a encontrar-se, para satisfazer os seus desejos, onde pudessem, em sacristias, confessionários e catedrais, os únicos lugares que Heloísa podia frequentar sem acompanhantes a seu lado.
Quando, algum tempo depois, Heloísa ficou grávida, resolveram casar-se. O casamento foi realizado secretamente em Paris, na presença de Fulbert . No entanto este casamento secreto de modo algum agradava ao cónego Fulbert, que não se cansava de falar nisso e acabando por tornar a vida tão insuportável a Heloíse que Abelardo a enviou para o convento onde fora educada.
Fulbert supondo que o marido da sobrinha se queria assim libertar das suas obrigações, resolveu dar um fim àquilo tudo. Contratando dois carrascos pagou-lhes para invadirem o quarto de Abelardo e durante a noite castrarem-no.
O amor de Heloísa permaneceu tão ardente como antes, escrevendo-lhe numerosas cartas cheias de paixão. Mas qual podia ser a resposta do pobre filósofo desesperadamente desmasculinizado? Escreveu-lhe então uma carta paternal em que a exortava a resignar-se à sua sorte. “Se, nas coisas de Deus, sentes necessidade da minha direcção e de conselhos, diz-me o que desejas saber; responder-te-ei em toda a medida das luzes que Deus quiser conceder-me”. Na sua carta já nada se encontra do antigo amante apaixonado; é o dialéctico que de novo se revela.
O coração a sangrar de Heloísa não esperava estas sábias palavras. Numa outra carta fala-lhe ainda do ardente amor que não consegue reprimir, embora entretanto se tenha tornado madre do seu convento.
A resposta do infeliz Abelardo foi uma severa homilia. “Se queres conservar a esperança de um dia te unires mim na felicidade eterna, chora pelo teu salvador, e não pelo teu sedutor”.
Para tentar amenizar a dor que sentiam pela falta de um do outro, ambos passaram a dedicar-se exclusivamente ao trabalho. Abelardo construiu uma escola-mosteiro ao lado da escola-convento de Heloísa. Viam-se diariamente, mas não se falavam nunca. Qual expiação pela ousadia de um ardente amor proibido.
Abelardo morreu em 1142, com 63 anos, Heloísa ergueu um grande sepulcro em sua homenagem, e quando faleceu algum tempo depois, foi sepultada ao lado dele.
Conta-se que, ao abrirem a sepultura de Abelardo, para ali depositarem Heloísa, encontraram o seu corpo ainda intacto e de barcos abertos, como se estivesse aguardando a chegada dela.

11 Comments:

Blogger hfm said...

Continuo, encantadamente, a ler estes textos. Obrigada.

12:46 da tarde  
Blogger Crepúsculo Maria da Graça Oliveira Gomes said...

Fantástico...porque será que amores destes só surgiram na idade média? será que agora o amor não está na moda?ou o fanatismo da liberdade estraga tudo?, não sei não!.
Beijos para ti

1:39 da tarde  
Blogger Leonor said...

é uma historia de amor que está muito bem contada por ti. reparei nos obstáculos que os dois amantes foram ultrapassando à medida em que apertava o cerco. até que por fim...

abraço da leonor

8:01 da tarde  
Blogger Biranta said...

Como estas histórias de amor ficam mais bonitas e cativantes... com o passar dos anos e com o contributo da imaginação de quem vai "aumentando um ponto"... Agora... será que ensinam a amar e viver? a utilizar o amor para viver melhor e persistir vivendo (cumprindo o nosso papel na sociedade) apesar do amor, ou melhorando com a contribuição do amor?
Meu Deus! Como a vida me incutiu cepticismo (ou dúvida metódica)... Nada disto vem ao caso.

1:22 da tarde  
Blogger Biranta said...

Mas agora reparo eu: a julgar por estes comentários, você, amigo Augusto, "vive" rodeado de mulheres...

1:25 da tarde  
Blogger jacko492 said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

11:51 da tarde  
Blogger Unknown said...

Augusto amigo, desculpe-me a ausência de tantos dias, estive aproveitando para "curtir" umas pequenas férias ao lado dos "filhotes", mas já estou de volta a este nosso mundo.
Beijos e sorrisos para ti!

6:47 da tarde  
Blogger Auto Loans said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

1:10 da manhã  
Blogger Leonor said...

ola augusto. passei por aqui a espera de mais outro post interessante e informativo daqueles que ja sao teu apanagio mas...

agradeço as tuas palavras no meu blog.são muito acertadas aos temas que proponho.

abraço da leonor

5:38 da tarde  
Blogger Unknown said...

O segredo destes amores não estará no fruto proíbido? Quando me interrogo-me sobre isso, chego sempre à mesma conclusão.

11:29 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Vocês crêem na reencarnação? Acreditam que, pelas leis que nos regem a todos rumo ao seio do Altíssimo, Abelardo e Heloísa podem hoje estar visitando este site?

12:55 da manhã  

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