O paradoxo
A Humanidade na procura da sua própria justificação, torna existente a figura de um criador, como única explicação tangível para a sua existência.
A criação da figura de um criador, como justificação da existência, coloca aquele na sua dependência, como uma necessidade implícita. Ou seja, contempla-se a figura de um criador face à existência, como esta só possível pela actuação daquele, tornando as suas existências interdependentes.
Face a esta dualidade, de necessidade recíproca para existência de ambos, podemos deduzir que se não houvesse a existência, a figura do criador não existia.
Este raciocínio leva-nos a concluir que o criador existe porque a Humanidade existe, havendo, contudo, uma interdependência entre ambos tão infinita, que as diferenças se esbatem, sendo a existência a própria manifestação do criador.
Condicionado pelo mundo dos sentidos e das ideias tangíveis, a Humanidade não consegue identificar-se com o criador, mas tão somente subalternizar-se na criação.
O fundamentalismo da criação, exige-lhe inexoravelmente a identificação do criador, que só pode ser feita na sua subjectividade, o mundo sensível.
Para o tornar perceptível no seu mundo sensitivo, imagina-o à sua imagem. Dá-lhe forma humana, na lógica de que o filho é concebido à imagem do pai, e imbuiu-o de sentimentos, emoções e paixões que são intrínsecas ao homem.
A Humanidade cuja existência dependeu da criação, interpreta esta como um acto de amor do criador, associando a este o bem omnipotente.
Acreditando neste bem omnipotente, põem a sua esperança na dependência dele, esperando como filho, receber o amor do pai.
Mas as esperanças na dependência desse amor infinito, por vezes são goradas, vendo-se confrontado não com o bem mas com o mal, e interroga-se. Como poderia o criador ser a origem do amor e ser simultaneamente a fonte do bem e do mal?
Quando o criado prevarica, é lhe compreensível a punição por parte do criador, mas quando o mal atinge os inocentes, que pensar dele?
Será ele o bem e o mal simultaneamente? Isso era deixar o criado perder a esperança no amor do criador e negar-lhe as suas virtudes sublimes.
Na inadmissibilidade de aceitar o facto, a Humanidade pressupõe a existência do mal em oposição ao bem do criador. Mas cai num paradoxo.
Se para ela tudo o que existe depende de um criador, também o mal para existir teria de ser criado por ele. Como o mal só pode ser gerado pelo próprio mal, o criador teria de ser simultaneamente o bem e o mal.
A religião não se preocupou com este paradoxo, fixou o bem em Deus e criou a figura do Diabo para o mal, só que se o Diabo for um ser incriado a figura do criador deixa de existir.
A questão continuada publicou um novo texto subordinado ao tema o Mar, desta vez sobre Sesimbra.
A criação da figura de um criador, como justificação da existência, coloca aquele na sua dependência, como uma necessidade implícita. Ou seja, contempla-se a figura de um criador face à existência, como esta só possível pela actuação daquele, tornando as suas existências interdependentes.
Face a esta dualidade, de necessidade recíproca para existência de ambos, podemos deduzir que se não houvesse a existência, a figura do criador não existia.
Este raciocínio leva-nos a concluir que o criador existe porque a Humanidade existe, havendo, contudo, uma interdependência entre ambos tão infinita, que as diferenças se esbatem, sendo a existência a própria manifestação do criador.
Condicionado pelo mundo dos sentidos e das ideias tangíveis, a Humanidade não consegue identificar-se com o criador, mas tão somente subalternizar-se na criação.
O fundamentalismo da criação, exige-lhe inexoravelmente a identificação do criador, que só pode ser feita na sua subjectividade, o mundo sensível.
Para o tornar perceptível no seu mundo sensitivo, imagina-o à sua imagem. Dá-lhe forma humana, na lógica de que o filho é concebido à imagem do pai, e imbuiu-o de sentimentos, emoções e paixões que são intrínsecas ao homem.
A Humanidade cuja existência dependeu da criação, interpreta esta como um acto de amor do criador, associando a este o bem omnipotente.
Acreditando neste bem omnipotente, põem a sua esperança na dependência dele, esperando como filho, receber o amor do pai.
Mas as esperanças na dependência desse amor infinito, por vezes são goradas, vendo-se confrontado não com o bem mas com o mal, e interroga-se. Como poderia o criador ser a origem do amor e ser simultaneamente a fonte do bem e do mal?
Quando o criado prevarica, é lhe compreensível a punição por parte do criador, mas quando o mal atinge os inocentes, que pensar dele?
Será ele o bem e o mal simultaneamente? Isso era deixar o criado perder a esperança no amor do criador e negar-lhe as suas virtudes sublimes.
Na inadmissibilidade de aceitar o facto, a Humanidade pressupõe a existência do mal em oposição ao bem do criador. Mas cai num paradoxo.
Se para ela tudo o que existe depende de um criador, também o mal para existir teria de ser criado por ele. Como o mal só pode ser gerado pelo próprio mal, o criador teria de ser simultaneamente o bem e o mal.
A religião não se preocupou com este paradoxo, fixou o bem em Deus e criou a figura do Diabo para o mal, só que se o Diabo for um ser incriado a figura do criador deixa de existir.
A questão continuada publicou um novo texto subordinado ao tema o Mar, desta vez sobre Sesimbra.
10 Comments:
Tens razão...agora fiquei a pensar!!!
Sim...não tenho de pedir um sorriso...tenho de o esperar...
Jinho , BShell
Augusto
sei muito pouco ou quase nada de metafísica. pois para mim, e creio que para ti, para a maior parte das pessoas que se questionam, Deus ou seja lá o que for é transcendente, isto é, está para além da física.
por isso, depois desta introdução a explicar a minha fraca opinião, creio que se a religião se preocupasse com paradoxos estaria a entrar no campo das explicaçãoes e quando explicamos, desmistificamos, criamos a ciência.
ou não é?
abraço da leonor
E como nada surge do nada, há que haver sido criado em algum momento, em algum lugar... :) A coisa se complica se começamos a "puxar o fio da meada"... :) O que realmente acredito, independente de religiao, é que a vida se torna mais fácil de ser vivida e os problemas mais fáceis de serem enfrentados, se acreditamos em um ser que nos tenha criado... talvez aí uma alusao à nossa própria mae, que nos criou... é meio complicado acreditar que nao fomos criados por nada, nem por ninguém, nos transmitiria um pensamento de que somos órfaos e isso tornaria as coisas ainda mais complexas, para serem vividas!
Gosto do tema!
Um lindo dia para ti!
Beijinhos!
OLá amigo, li o teu texto que é bastante complexo, talvez porque o homem gosta de dificultar sempre as coisas, torna sempre tudo bastante difícil e complica sempre o que é simples. Temos um criador(para mim) omipotente e omnipresente, acredito nisso com uma grande convicção, sei que nada é por acaso, sei que tudo tem um motivo para acontecer, esta e a minha visão.Um beijo para ti
Meu caro amigo! Como sabe existem outras explicações para a existência do Bem e do Mal. De entre essas, algumas conseguem um equilíbrio quase perfeito entre a "metafísica" e o mundo sensitivo, incluindo a vivência em sociedade (pena que não dêem um passo em frente, como urge, não apenas neste domínio). Digamos que, quanto à existência dum Deus e da criação, mantenho a minha opinião de que foi o homem que criou Deus, o Deus que conhecemos, e não o contrário. Uma parte do Mal provém da apropriação dessa criação, para manipulação dos "pobres de espírito". A questão que se me afigura mais interessante é saber porque motivo essa manipulação é tão importante. Será por causa da capacidade da vontade colectiva, mesmo que apenas ao nível "da vontade"? Será que têm razão os que acham que "o Universo reage às nossas intenções", como o preconizam algumas filosofias orientais? Será que esses, mesmo que instintivamente (ou será premeditadamente?) sabem que temos capacidades extra-sensoriais que devem permanecer desconhecidas, inexploradas e adormecidas? Porque será que todos os tiranos têm um fim, apesar de todo o seu poderio, por maior que seja o poderio atingido? Terá isso que ver com um certo "equilíbrio cósmico" a que não pudemos fugir? Qual o papel das nossas capacidades extra-sensoriais para esse "equilíbrio cósmico"?).
Como vê, ao nível das explicações (dos factos percebidos e vividos pela sociedade) são em muito maior quantidade as perguntas do que as respostas seguras e "universais". No entanto, a mim particularmente, preocupam-me muito pouco as respostas "seguras e universais" (que irão permanecer, ainda por muito tempo, ao nível da subjectividade de cada um). Preocupa-me, isso sim, manter uma mente aberta e reconhecer o desconhecido como tal, para não criar, com preconceitos absurdos, entraves ao progresso da ciência, como o fez Einstein, por exemplo.
Ainda assim, há uma ideia que queria partilhar convosco. Não pretendo afirmar ou negar a existência de um Deus, qualquer que seja a ideia que disso se faça. Apenas pretendo que as pessoas ganhem consciência de que, a este nível, são muito mais as coisas que dependem de nós do que o contrário. Nomeadamente ao nível da vivência em sociedade, parece-me de todo absurdo e presumido pretender que exista um ser superior para "por ordem" nas nossas relações sociais. Basta compreender que nós também somos superiores às formigas e não vamos ao mundo delas premiar e punir os bons e os maus. Nós nem sabemos quem são os bons e os maus, no mundo das formigas!... Portanto, se admitimos a existência de um se superior, porque é que haverá de ser "superior" apenas à nossa dimensão? Para depois ser utilizado para uns quantos nos subjugarem? Portanto, resolvamos os nossos problemas, porque ninguém o fará por nós, independentemente da existência, ou não, de um Deus.
Caro Augusto,
o seu texto é um pouco denso. Ou não percebi ou então existe algum conflicto que o inquieta. Será? :-)
Abraço,
Armando
Fiquei confuso !!! Vou reler :)
Finurias
www.cagalhoum.blogspot.com
Belo texto. Desenvolvida a ideia, subscrevo em absoluto o último parágrafo que considero a súmula perfeita. Um beijo e volta sempre :)
Caríssimo Augusto,
A explicação para estas questõesencontra-se nas estrelas..
digo..
na Guerra das Estrelas! :)
Ninguém é mais que ninguém, e a verdade de cada um não passa disso mesmo! Faz-nos bem divagar, principalmente por caminhos desconhecidos, porque, ultrapassados um dia, deixa-nos mais leves e bem-dispostos.
Com o pouco que tenho, não pode ser grande o meu contributo, mas ainda assim atrever-me-ia a acrescentar o seguinte:
A primeira frase do post obriga-me a pensar: Claro que a pergunta fundamental do homem, se os problemas sociais o permitirem, terá que ser "Quem sou Eu? O que faço Aqui?". A sua inteligência já não se satisfaz com a compreensão do "Big Bang" ou a descodificação do código genético humano. Uma célula viva exposta à luz acabaria por murchar e o seu ADN desapareceria em pouco tempo. Os genes dum homem e duma mulher combinam-se para formar um ser que está longe de ser uma réplica. Uma mulher que engravida "limita-se a assistir" a um facto que a natureza passa a controlar. A inexistência duma prova científica para um universo consciente não nega a minha própria consciência.
Sem uma inteligência "por detrás" de tudo isto, é difícil imaginar harmonia e equilíbrio.
As leis da Natureza continuarão a funcionar quer queiramos ou não! O suporte da vida manter-se-à inalterável e insensível ao crédito ou descrédito do ser humano.
O criador existe porque a Humanidade existe? Porque não hei-de ser sensível à hipótese do Criador ter concebido a Sua Criação para Seu proveito e com o Seu propósito? Porque não hei-de aceitar que eu, tu e todos, possamos ser manifestações físicas e espirituais do mesmo Deus? Se entender que nada existe fora de Deus, então, tudo e todos seremos Deus a expressar-Se.
A paranóia dos sentidos não passa duma forma de Me expressar no mundo físico! Só eles me poderão permitir a percepção da relatividade onde me movimento. Dentro do "todo" existe o que É e nada mais! O que os meus sentidos apreendem não são formas que se vão acamar em algum espaço do cérebro ou noutro lado qualquer. A mente engana enquanto estiver "dentro da ilusão".
O paradoxo terá que existir nas nossas cabeças. Nada existe sem o seu oposto. Nada existe fora de Deus!
Não me serve a religião que me diz que estou separado de Deus. Não existe um satanás nem o bem e o mal se andam a defrontar, em guerra aberta com o Criador. É um absurdo pensar num recém-nascido, carregado com o peso do pecado, à mercê de forças do mal, como se o bem o mal não fosse consequência dum contexto, duma sociedade, duma orientação...
Também não vejo qualquer paradoxo no facto do criador ser simultaneamente o bem e o mal. Pois, se nada existe fora Dele! E nada poderá acontecer que não seja da Sua vontade...
Daí a dicotomia divina...
Um comentário longo como este, tem que merecer um pedido de desculpas da minha parte!
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