sexta-feira, maio 20, 2005

O defeito deve ser meu



Se a uns é permitida a paixão, outros há a quem deverá ser permitido a indiferença ou a incompreensão. Refiro-me ao futebol.
Desporto amador, no seu princípio, com reduzido número de praticantes e alguns simpatizantes a assistir às competições, depressa cresceu em número de praticantes e de adeptos, transformando-se no principal desporto da maior parte dos países europeus.
Os adeptos agremiando-se em clubes, com o andar dos tempos, vão substituindo o interesse desportivo, pelo fervor clubista, constituindo este a razão principal de toda a sua aficcion.
As massas de adeptos, que não param de crescer, possuídas por um frenesim de desejo ganhador, colocam a vitória acima de tudo, não se importando com meios usados desde que se alcancem os fins.
Assim as exigências competitivas com vista às desejadas vitórias, não se compadecem com amadorismos, o que vai propiciar o aparecimento do profissionalismo por parte dos atletas, e mais tarde a industrialização do futebol.
Este clima de ansiedade à volta do futebol, passa a fazer parte do quotidiano dos adeptos, ocupando diariamente todas as suas conversas, como se mais nada de importante houvesse para discutir. Facilmente o diálogo pacífico passa à exaltação quando se trata travar razões clubistas. A falta de discernimento em relação à importância do objecto da discussão, leva esta muitas vezes a terminar, senão de forma trágica, pelo menos pouco amigável.
A esta situação não são alheios os governos, que na procura da discrição da sua política, patrocinam e incentivam a cultura futebolística, procurando que esta seja a principal ocupação e preocupação das massas. “Enquanto pensam no futebol, não pensam em outras coisas”.
Os recintos onde futebol é exibido, passam a ser os palcos com um número de espectadores até então nunca visto. Imponentes construções são edificadas, passando a ser os lugares por excelência para os adeptos, darem largas à euforia da vitória ou extravasarem a frustração da derrota, com os comportamentos sobejamente conhecidos.
A notícia passa a depender do futebol e o futebol a depender da notícia. A sobrevivência de inúmeros órgãos de informação depende do futebol, pelo que se torna importante trazer a notícia futebolística diariamente, mesmo que para isso se tenha de recorrer à deturpação do facto ou até à criação do facto não existente. O que é fundamental é criar algo que seja consumido. O futebol por sua vez ganha maior dimensão com a notícia, pois esta no seu próprio interesse procura dar-lhe uma importância quantitativa e qualificativa cada vez maior.
O palco futebolístico, devido à sua dimensão, passa a ser apetecível para os que procuram notoriedade e não só. Aparecem os líderes a encabeçarem uma lista de oportunistas, que por razões diferentes se vão apossando dos clubes. Os primeiros, achando-se acima de qualquer poder, permitem-se para além de contribuírem abertamente para uma enraivecida rivalidade clubista, fazerem críticas insultuosas a membros do governo. Os outros o aproveitamento financeiro que o futebol proporciona.
Mas à importância deste palco também não são alheios os políticos, feitos desportistas na última hora, tentam a sua sorte na tribuna desportiva. Os políticos já nos habituaram com a sua costela de camaleão, mas os governos gastarem o nosso dinheiro a procurarem suporte popular, é tornar o futebol numa instituição nacional.
Como é possível vinte e dois “artistas” a darem pontapés numa bola durante noventa minutos, por muito bem que actuem, terem transformado tanto o mundo? Pessoalmente não consigo compreender e até pratiquei muito desporto. Será a falta de uma cultura mínima, que exigisse mais alguma coisa do que futebol? Será um vazio intelectual? Será uma espécie de circo romano da época moderna? Será o futebol aquilo que permite o uso do pensamento e da acção independentemente da razão? Mas eu vejo tantos doutores falarem apaixonadamente do futebol. Francamente não entendo, o defeito deve ser meu.

8 Comments:

Blogger André Parente said...

Circo romano, sem sombra de dúvida! Jogo e gosto de ver... mas há já alguns anos que me alheei. É preverso.

12:22 da manhã  
Blogger A. Narciso said...

Está tornado num circo romano sem duvida. Gosto de futebol mas não sofro de fervor clubistico... felizmente. E muito honestamente o futebol de hoje deixa-me triste. Bons velhos tempo do amor à camisola.
Abraço e bom fds

1:43 da tarde  
Blogger AMAFAS said...

Assim como as empresas começam de forma familiar, crescem até se tornarem multinacionais (as que conseguem).
Não discordo no essencial do que foi dito mas, feitas as devidas ressalvas, é o crescimento do fenómeno (tal como nas outras actividades) que acorrenta os elementos menos positivos (como refere no texto). Aliás, tudo o que envolve somas consideráveis de dinheiro tem abutres infiltrados.

Mas não! O futebol não é a raiz do mal (bem sei que não o diz)!

5:35 da tarde  
Blogger Gustavo Monteiro de Almeida said...

Concordo plenamente.

Gosto de qualquer desporto. E futebol é desporto. Mas acho que não se deve dar tanta importância a um desporto, com todo o dinheiro que é gasto, quando não acrescenta nada a um país, a uma sociedade.

É uma vergonha ver países como Portugal, com tantos problemas económicos, a gastar rios de dinheiro em estádios, salários, publicidade, etc... relacionados com o futebol, quando necessitamos urgentemente de modernizar as nossas empresas, melhorar a saúde e o ensino, de tornar acessível a todos os serviços públicos.

Futebol não é um serviço público e muito menos trará as mais-valias necessárias para Portugal.

Não são 22 gatos pingados a andar correr atrás de uma bola que vão alimentar os 10 milhões que residem neste país.

12:49 da manhã  
Blogger Blogger said...

Os desportos, ou eventos, populares (literalmente populares) sempre tiveram lugar próprio em diversas culturas, e Portugal não é excepção.

Realmente, já não há é grande paciência para os abrandamentos da vida quotidiana para ver como se decide o campeonato de futebol. Talvez seja típico de países em crise de desenvolvimento (estando, assim, explicado o fenómeno no Brasil).

Talvez a solução seja abolir os grandes clubes-empresas, que se dizem «instituições», e voltar aos pequenos clubes de bairro: gasta-se menos e gosta-se mais. Pelo menos, todos os fanáticos dormiriam melhor antes dos dias de jogo.

Cumprimentos,
João Silva

2:34 da manhã  
Blogger Menina Marota said...

Sabes, que já fiz várias vezes essa pergunta?

O que move aquelas multidões?

Eu uma vez ver um jogo e, tanta gente ao gritos, apavorou-me!

Nunca mais fui, nem espero ir...

Aprecio muito mais outros desportos (hipismo, por exemplo, adoro)

Um abraço e bom domingo :-)

8:25 da manhã  
Blogger Unknown said...

Olá, gosto de futebol, embora nunca vá ver os jogos aos campos, acho que é preciso ter aquilo que eu n/ tenho, ...para conseguir assistir ao jogo dentro desse ringue a que chamam estádio.Um abraço meu amigo

8:48 da manhã  
Blogger Estrela do mar said...

...eu gosto de futebol...aliás cá em casa costuma-se ver com uma certa frequência...mas não sou de fanatismos...e revolta-me certas coisas que se fala na comunicação social...que nunca se sabe se são verdadeiras ou não...porque conforme aparecem tipo bombas...assim vão tipo cometas...e ficamos sem saber realmente o fundo das questões...e isso é que me entristece...

Continuação de uma boa semana Augusto.
Um beijinho*.

5:37 da tarde  

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