sábado, julho 14, 2007

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O Islamismo ( I I )
Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso

Maomé o Profeta

Maomé foi filho único de um negociante chamado Abdallah e de uma mulher chamada Amina. Não chegou a conhecer o pai, que faleceu numa das viagens, antes do seu nascimento. Quando tinha seis anos de idade, perdeu também a mãe, que só lhe legou alguns camelos, algumas ovelhas e uma escrava. Passou então a viver com o avô paterno, Abd al-Mottalib, que faleceu quando completou oito anos de idade.
Sozinho no mundo, foi viver com o tio, Abu Talib, que era o lidere hereditário do clã, o que lhe dava um lugar proeminente no Conselho Coraixita de Meca. Abu Talib tinha um filho, que cresceu como irmão de Maomé e que, ao longo da sua adolescência, tornou-se o seu maior amigo, além de vir a ser um dos seus primeiros seguidores.
Em casa do tio é iniciado na profissão de mercador, começando a realizar viagens para toda a parte, especialmente para norte, rumo às cidades do Império Bizantino e Persa.
Reza a tradição de que numa dessas viagens, Maomé, com cerca de quinze anos, teria encontrado o eremita cristão Bahira, no deserto, o qual teria predito a missão do garoto e recomendado ao seu tio que protegesse dos inimigos.
Vive e trabalha em casa do seu tio até aos vinte anos, quando em 591, se torna empregado de Khaddja, uma rica viúva de trinca e cinco anos.
Durante cinco anos, passa a dirigir as caravanas e os negócios de Khaddja. Aos vinte cinco anos, casa com a patroa, agora com quarenta anos, idade muito avançada para a época e para as condições de vida da Arábia.
Do casamento resulta tranquilidade financeira e status social e, o nascimento de sete filhos: três rapazes que morrem ainda bebés e quatro raparigas: Zeineb, Ummu, Keltsum e Fátima.
Em 611, já com quarenta anos, Maomé inicia a sua vida profética; depois de distribuir avultadas esmolas aos pobres de Meca, retirou-se para as montanhas, onde iniciaria a sua meditação.

Meditação e Experiência
A criação da nova Fé

Alguns meses se iriam passar sem que Maomé regresse a casa. Durante esse tempo ele observa os céus, completamente entregue à meditação.
Nos primeiros tempos da meditação nada acontece, mas, após algum tempo de isolamento, uma noite, enquanto dormia, sonhou com um anjo que lhe entregava um pergaminho e ordenava: Lê! Maomé, que era analfabeto, informou o anjo de que não sabia ler, mas o anjo continuou a ordenar a leitura. Sem escolha, obedeceu. Para sua surpresa, conseguiu ler tudo o que estava escrito no pergaminho e, quando acordou, sentiu que uma inspiração divina para escrever um livro havia descido até ao seu coração. A este livro, Maomé, viria a chamar Alcorão.
A partir dessa noite, Maomé ficou com a convicção de ser o “escolhido” de Alá e, com a obrigação de pregar ao mundo a nova Lei. Regressa a casa, conta a sua experiência a Khdidja, agora uma anciã de cinquenta e cinco anos, que em vez de desdenhar do marido, torna-se a primeira convertida ao Islão. Nascia uma nova Fé.
Com quarenta anos de idade, Maomé, encarnava um messianismo, facto fácil de compreender, visto por todos os lados haver os Kâhin, ou profetas, que preconizavam a vinda de um Messias até ao Juízo Final.
Inicialmente, a sua pregação ficou restrita a um círculo muito pequeno, formado pela mulher, o primo Ali, o amigo Abu Bark, o escravo que adoptou como filho Zayd e o genro Uthman.
Maomé aguardava que novos sinais dos céus lhe fossem enviados, porém, em quase três anos, nada aconteceu e, ele sentia inibido a iniciar a sua pregação para estranhos.
Em 613, porém, um novo “contacto divino” foi estabelecido com Maomé, ele teve uma espécie de ataque epiléptico (hoje muitos historiadores suspeitam que o profeta sofresse de epilepsia), do qual, depois de voltar a si, contou as revelações. Na verdade, a partir dessa data, esses “contactos divinos” começaram a tornar-se mais frequentes, o que motivou o profeta a iniciar as suas pregações ao povo.
As primeiras pregações não atingiram grandes proporções, mas por volta de 615, já havia um número elevado de recém-convertidos ao Islamismo. Nesse grupo podiam-se contar principalmente jovens dos grandes clãs Coraixitas, membros dos clãs Coraixitas menos influentes, muitas pessoas não pertencentes aos clãs Coraixitas e numerosos escravos.
A conversão dos filhos dos grandes clãs começou a preocupar a elite Coraixita que não via com bons olhos algumas das práticas recomendadas por Maomé, tais como: a valorização da solidariedade, a doação de esmolas e o carácter profundamente monoteísta do Islamismo. Esta era a pior característica da nova religião, do ponto de vista dos Coraixitas, porque se ela se propagasse muito, poderia causar um colapso na economia de Meca que girava em torno de uma Caaba de pluralidade divina.
Devido a esses pontos de conflito entre as elites de Meca e a religião de Maomé, iniciou-se uma forte perseguição ao seu culto na cidade. Tais perseguições, iniciadas em 615, originaram a dissidência de muitos convertidos e na fuga de outros para a Etiópia, onde o monoteísmo era aceite devido ao facto de no país, na época, ser cristão.

A Hégira

Contudo, Maomé não sofria nenhuma sanção dos Coraixitas, devido ao facto do seu tio, apesar de não se ter convertido ao Islão, permanecer como um dos membros do conselho da cidade e protegia o sobrinho. Além disso, Khadidja, sua esposa, era uma mulher muito rica.
Porém, em 619, duas tragédias ocorreram de seguida para Maomé: primeiro Khadidja falece com 63 anos, pouco tempo depois, ocorre a morte do seu tio protector. Abu Talib, no leito de morte, recusou converter-se ao islamismo, o que geraria a crença, entre os seguidores de Maomé, de que iria para o inferno. Essa crença fez com que Abu Lahab, irmão de Abu Talib e novo chefe do clã de Maomé, se tornasse o pior inimigo dos muçulmanos, incentivando as perseguições, principalmente, ao próprio Maomé.
Ao perder os seus apoios, Maomé, percebeu que a sua vida, caso permanecesse em Meca, correria perigo, o que o levou a tomar a decisão de abandonar a cidade e tentar instalar-se em Taif, uma cidade situada nas montanhas, próximo de Meca. No entanto, depois de alguns dias na cidade, foi expulso e obrigado a regressar a Meca. Tentou então o contacto com os chefes das tribos beduínas, mas fracassou em uni-las e mesmo em convertê-las, pois para estes, a unidade política não tinha sentido, amavam a liberdade e o nomadismo. Depois do fracasso diplomática frente aos beduínos, Maomé voltou a sua atenção para a cidade onde estava sepultado seu pai: Yathrib.
A cidade de Yathrib havia sido fundada por três tribos judaicas fugidas da destruição da Judeia: os Nadhir, os Qorayza e os Qaynoqa. Porém, alguns anos após o estabelecimento destas no território, duas tribos árabes dissidentes do Iémen, os Khazradj e os Awz, chegaram à cidade e depois de dominarem os judeus, passaram a lutar entre si pela hegemonia. Os Awz, com quais os judeus se aliaram, venceram e passaram a controlar a cidade, num sistema semelhante ao de Meca.
Maomé reuniu-se, em 620, com líderes dos seis clãs Khazradj, os minoritários, e converteu-os. Depois da conversão de parte dos membros da tribo Awz, Maomé recebeu, em 622, garantias de que poderia vir com os seus adeptos de Meca para Yathrib.
Maomé voltou a Meca e organizou a partida dos seus seguidores, que em pequenos grupos, partiram para não levantar suspeitas. Ele e Abu Bakr foram os últimos a deixar a cidade. Ambos passaram por Qoba, onde Ali os esperava e os três marcharam para Yathrib, onde em 24 de Setembro de 622, fizeram a sua entrada triunfal.
A Hégira, ou seja, a saída dos Muçulmanos de Meca e a sua ida para Yathrib, está concretizada. Na nova cidade Maomé é recebido com honrar e assume o posto de Malik. É de notar que as duas tribos iemenitas de Yathrib viram em Maomé e na nova religião tanto o Messias do qual os judeus da cidade falavam, quanto uma esperança para o fim das disputas entre ambas pelo poder da cidade.
Chegado a Yathrib e obtido o poder, Maomé tornou a cidade a inimiga número um de Meca, tanto que esta passou desde o princípio ao confronto aberto contra o profeta. Foram oito anos, nos quais se por um lado Meca atacava, por outro Yathrib se defndia e fortalecia. Em oito anos, pode Maomé passar de Malik, lidere político, a Califa, lidere religioso (Íman), fortalecendo a sua cidade a ponto de empreender a conquista da rival.
Quando da chegada do profeta a Yathrib, a cidade estava dividida em alguns grupos bem distintos quanto à sua orientação religiosa: havia o grupo de fiéis que havia migrado de Meca com Maomé, que estavam marginalizados social e economicamente na nova cidade; havia os convertidos de Yathrib, em especial a aristocracia da cidade, que apoiavam Maomé; havia os habitantes, aqueles que haviam aceite o Islão, mas não com plena convicção; havia também os pagãos que recusavam substituir as religiões antigas pelo Islão; e, por fim, os judeus, que praticavam a sua religião milenar baseada no Talmude e nunca aceitariam a conversão ao Islamismo.
A maioria dos adeptos de Maomé que haviam imigrado com ele de Meca, não tinham sequer uma propriedade em Yathrib e, dessa forma, estariam condenados à miséria se não fosse a política de intervenção do profeta.
Maomé não tardou em tomar as suas previdências. Das elites convertidas de Yathrib, ele tirava o apoio para realizar os seus projectos; quanto aos hesitantes, fazia de tudo para torná-los realmente fiéis ao Islão; aos pagãos, deu-lhes liberdade de culto, pois sabia que, na posição em que se encontrava, se fosse intolerante com aqueles que compunham a maioria da população, seria forçosamente derrotado.
Porém, as atitudes mais marcantes do profeta foram em relação aos judeus e aos que emigraram de Meca com ele. Como os judeus eram os piores inimigos da sua Fé, Maomé decidiu iniciar uma política perseguição violenta aos judeus e, à medida que estes eram exterminados, os seus bens ficavam para os oriundos de Meca. Em oito anos exterminou as três tribos judaicas de Yathrib e impôs o medo aos pagãos que temiam serem as próximas vítimas de perseguições. Desta forma conseguiu as terras e bens dos judeus para os seus protegidos e ainda conseguiu forçar a conversão de boa parte dos pagãos, tanto que, em 628, Yathrib mudou o seu nome para Medina, ou seja a cidade do profeta, e o Estado de Medina constituía-se numa teocracia.
Quando em Fevereiro de 628, Maomé resolveu realizar uma peregrinação a Meca, foi impedido pelos Coraixitas de entrar na cidade, mas firmou um acordo para voltar no ano seguinte. Em 629, voltou a Meca, com a permissão de ficar três dias, mas conseguiu prolongar a sua estadia realizando mais um casamento com Maimuna, filha do seu tio, al-Abbas, que não se convertera, e tio de Khalid ibn al-Walid, o maior general de Meca.
Graças ao casamento, conseguiu a conversão de Khalid ibn al-Wlid. Este, no mesmo ano, liderou uma grande expedição contra as fronteiras do Império Bizantino, expedição que terminou em fiasco e a morte da maior parte dos muçulmanos, mas que foi uma demonstração de que as tropas de Medina estavam prontas para uma guerra definitiva contra Meca.
No princípio de 630, o general recém convertido, liderou os exércitos de Medina até às portas de Medina. Maomé exigiu a entrada em Meca sem resistência e visitar a Caaba.
Uma pequena força militar de Meca que ofereceu resistência, foi destruída pelas tropas muçulmanas e Maomé, junto com o seu exército marchou até à Caaba. Chegado lá, contornou o templo sete vezes e depois entrou; então tocou a Pedra Negra com o seu cajado e gritou: “Alá é o maior”. Em seguida, ordenou a destruição dos mais de trezentos e sessenta ídolos das várias religiões da Arábia, que havia na Caaba e, por fim, mandou que o tecto, onde havia um fresco judaico-cristão, fosse pintado. Era a conquista de Meca, a vitória de Maomé, o profeta de Alá.

(continua)

16 Comments:

Blogger hfm said...

Como sempre um texto que nos faz pensar sobre assuntos que não dominamos. Obrigada.

6:33 da tarde  
Blogger Leonor said...

ola augusto
e aproveitando ou copiando metade da mensagem escrita acima da minha, tenho a certeza de que o autor nao se importará do roubo que lhe faço, como sempre é um texto fantastico que com ele aprendo imenso. obrigado augusto por teres um blog diferente muito util.
abraço da leonoreta

2:36 da tarde  
Blogger Leonor said...

acabei de ler o teu comentario. obrigado augusto pelas tuas palavras. esse é o feedback que eu espero daquilo que escrevo.
abraço da leonoreta

7:54 da tarde  
Blogger perplexo said...

Muito minucioso, muito bom!

10:39 da tarde  
Blogger Isamar said...

Embora grande, li-o todo.Gostei muito, como sempre.
Beijinhos

7:54 da tarde  
Blogger Kalinka said...

Amigo Augusto
tens toda a razão...desde quando é que a chuva é impedimento para apreciarmos as coisas belas?
Nunca foi impedimento...mas, outros motivos se juntaram e, melhores oportunidades virão, acredita que eu também acredito.

Concordo com a cultura à chuva...

Sobre a sugestão que dás: VIAJANDO NO TEMPO A DOIS TEMPOS.
Adorei o título e, quem sabe...não será esse o título do meu livro de viagens? Tinhas que ser tu, meu grande Amigo, a dar o mote. Muito obrigado. Acredita que a ideia não cairá em saco roto.

Vou sim pensar no assunto; sobre a tua frase:
és uma boa narradora.
SINTO-ME COMPLETAMENTE LISONJEADA pois não é qualquer pessoa que o diz, mas sim TU.

Um beijo. Boa semana.

12:05 da manhã  
Blogger Peter said...

Augusto, desculpa, não é nada de pessoal, mas não me interessa qualquer religião e então esta, onde estão os meus assassinos, muito menos.

Não te esqueças de fazer referência aos “hashishin”, a seita herética muçulmana que deu origem à palavra “assassino”.

12:50 da manhã  
Blogger Peter said...

Este comentário foi removido pelo autor.

12:51 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Depois de ler o teu texto, fiquei corado por ter feito há dias um apontamento sobre o início do calendário muçulmano. O meu candeeiro não faz cá falta nenhuma porque aqui faz-se sempre luz.

Até amanhã, até logo ou até à vista :))))
+ um abraço

1:40 da manhã  
Blogger perplexo said...

Sou um leitor lentíssimo, só vou na página 37... Também porque ando a ler uns 12 livros ao mesmo tempo. Mas já dá para perceber que o nosso J é bem maroto!

2:00 da manhã  
Blogger Alberto Pereira Jr. said...

muito curioso e bem escrito o texto.

9:26 da tarde  
Blogger Diogo said...

E assim surgiu a terceira religião monoteísta naquela zona.

Estas crenças são hoje utilizadas para extrair petróleo e gás.

Bom artigo. Um abraço

10:13 da tarde  
Blogger Je Vois La Vie en Vert said...

Já adicionei a sua citação pessoal sobre a pintura no meu post. Espero que não se importa.
Um beijinho verdinho

10:24 da tarde  
Blogger Unknown said...

Amigo Augusto...
Passo paa deixar os usuais beijos, flores e sorrisos, alem dos votos de um lindo fim de semana...
Continua a escrever belamente como ja o fazes... é um deleite para nossos olhos (e conhecimentos)... :o)

1:14 da manhã  
Blogger Cusco said...

Venho deixar um abraço e os desejos de um bom fim-de-semana!

Até breve

10:21 da manhã  
Blogger Å®t Øf £övë said...

Augusto,
Na ausência de novos textos históricos devido às tuas merecidas férias, aproveitei para ler alguns dos teus textos mais antigos, e este que acabei de ler levou-me a pensar que Maomé é bem o exemplo de que nunca é tarde para se iniciar uma nova fase da nossa vida, e que com convicção e firmeza se consegue sempre atingir os objectivos a que nos propomos.
Continuação de boas férias, e até ao teu regresso.
Abraço.

11:01 da tarde  

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