Onde estiveste, Jesus?
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O Islamismo ( I )
Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso
Só a generosidade ganha genorosidade
O Islamismo é uma religião monoteísta baseada nos ensinamentos de Maomé, chamado o “O Profeta”, contidos no livro sagrado islâmico, Alcorão. A palavra Islão significa submeter e, exprime a submissão à lei e à vontade de Alá. Seus seguidores são chamados de muçulmanos, que significa aquele que se submete a Alá.
A história do islamismo é fascinante pela sua grandeza, refinamento, sabedoria e também pela forma como tão rapidamente se implantou fora das fronteiras da península arábica, para conquistar o mundo formando um grande império.
É preciso conhecer um pouco da sua história para descobrir como um povo até então quase desconhecido, disperso em tribos, que só aceitava a autoridade e arbitragem de um “shaikh” eleito entre eles, unificou-se sob o impulso de uma nova pregação.
O mundo islâmico antes de Maomé.
No século VII, a península arábica era habitada por povos que levavam uma vida nómada, divididos por tribos, incapazes de construir uma federação. O deserto tinha as suas desvantagens e o comércio das caravanas era mais importante que a agricultura. Isso exigia muitas viagens e os homens iam muito além da península, à Síria, Abissínia, Iraque e Índia.
Na Arábia central, estava localizado o Iémen dividido em numerosos principados e ocupado em parte por invasores estrangeiros.
Principados do Iémen
O Reino de Sabá
Tem as suas origens no século VIII a.C., fundado pelos Sabeus, em torno do seu Rei-Deus. Em 115 a.C. os Himiaritas, povo que se encontrava sob o jugo dos Sabeus, passam a governar o reino e, o monarca perde o carácter divino. Com a conversão ao cristianismo dos seus vizinhos os abissínios (etíopes), sofrem da parte destes, diversas invasões que visavam a sua conversão ao cristianismo. Resistem até 340, quando os etópoes conquistam o Reino e mantiveram-no sob o seu poder até 378, quando os Himiaritas retomam o poder. Facto interessante é que, sob o domínio etíope não se converteram ao cristianismo mas ao judaísmo. Após um período de degradação, em 530, os etíopes voltam a retomar o controle sobre o Reino.
Por volta de 540, uma grande represa construída na Antiguidade rompeu, alagando boa parte do território matando milhares de pessoas.
O rompimento da represa fez com que a seca caísse sobre a região e, desta forma, muitos dos seus habitantes abandonaram o país e rumaram para o norte. Em 575 a pedido dos Himiaritas, a Pérsia invade a região, repõem-nos no governo e mantêm-lhes a soberania, mas com a condição de que a sua região se tornar uma satrápia persa.
Em 632, o Reino de Sabá foi incorporado no Islão, com a sua conversão e anexação pelas tropas de Maomé.
Reino Mineano
Reino organizado da mesma forma que o Reino de Sabá, ou seja, com um grupo étnico, os Mineanos, formando uma teocracia, cuja capital era Qarnaw. Estabeleceu-se por volta do século VIII a.C., ao norte do Reino de Sabá. Vizinhos, os dois Estados entraram em conflito várias vezes, até que, no seculo I a.C., pouco depois da ascensão dos Himiaritas no reino vizinho, o Reino de Mineano foi conquistado pelo reino de Sabá.
Reino de Qataban e Reino de Hadramaut
Reinos vizinhos, estabelecidos a leste do Reino de Sabá, a sua importância comercial residia no comércio com a Índia. Eram produtores de incenso e ouro.
O Reino de Qataban estabeleceu-se por volta de 600 a.C., tendo por capital Tamma e, perdurou até 50 a.C. O Reino de Hadramaut estabeleceu-se por volta de 450 a.C., tendo como capital Shabwh e perdurou até ao início do século II.
Não foram anexados pelo reino de Sabá, como o reino de Mineano, permanecendo autónomos. Devido ao comércio, os chefes regionais passaram a ser poderosos demais para obedecerem a uma autoridade central, ocorrendo uma gradual descentralização, até que os governantes das capitais não serem mais soberanos de todo o país. Desta forma, ficaram extintos os reinos.
Essas regiões continuaram a exercer políticas independentes até à sua anexação pelo Islão em 632.
Reino de Petra
Este reino localizava-se numa região que não pertence à península Arábica. Por volta de 550 a.C., várias tribos nómadas do nordeste da península Arábica reuniram-se com o objectivo de protecção mútua, fundando a cidade Petra. Apesar de não terem conseguido conquistar muito espaço, o seu reino, semelhante a uma cidade-estado, prosperou tanto que ficou livre do domínio de Alexandre o grande.
O Reino de Petra, constituído por tribos que se identificavam como Nabateus, auxiliou os Romanos na destruição da Judeia e, em 106, Trajano transformou o Reino de Petra em província Romana. Depois da queda de Roma, Petra nunca mais voltou a ser um reino autónomo, tendo pertencido ao Império Bizantino e depois ao Persa, até ser anexada pelo Islão.
Império de Palmira ou Tadmor
Tadmor era uma cidade a noroeste de Damasco, cuja origem remonta a tempos muito recuados, mas só adquire importância quando do domínio romano, por ser o principal entreposto entre o Oriente (Pérsia, Índia, China…) e Roma.
Apesar de muito efémero, o Império de Tadmor foi grande. A região, assim como Petra, foi uma das principais componentes do núcleo do Império Islâmico, especialmente no Califado Omíada.
Reino dos Gassânidas
O Reino dos Gassânidas foi fundado por volta de 400, por fugitivos do Reino de Sabá, quando foi conquistado pelos etíopes. No princípio, esses refugiados vivam em acampamentos itinerantes a sudeste de Damsco, porém, com o tempo, acabaram por fundar duas cidades: al-Yabiyah e Jilliq. As conquistas Persas transformaram-no numa possessão sua e, o reino perdeu a sua importância, ainda que o seu último soberano, Jaballah ibn-al Ayham, tenha oferecido feroz resistência ao Islão, só caindo diante dele na Batalha de Yarmuk, em 636, na qual contou com o auxílio bizantino.
Reino de Hira
Assim como o Reino de Petra, o de Hira também era constituído apenas por uma cidade-estado. A cidade foi fundada a partir de um acampamento da tribo Tanukh que, desde 275, se havia estabelecido na actual Síria.
Após terem tido participação na mudança dinástica do Império Persa (fim da dinastia Arsácida e início da Sassânida), edificaram uma cidade no local do seu acampamento permanente. Hira quer dizer em siríaco, acampamento.
Apesar de ter nascido sob a influência persa, pendia entre os impérios Persa e Bizantino, mas os seus maiores inimigos eram os gassânidas que, em 580, queimaram a cidade.
Após o incêndio a cidade nunca mais foi a mesma e, acabou por ser totalmente absorvida pelo Império Persa fazendo parte deste até ser conquistada pelo Islão em 633.
Estado de Kindah e os Beduínos
O centro da península arábica, em especial o planalto de Nedjd, era habitado por tribos nómadas conhecidas como Beduínos, que viviam no deserto e regiões semi-desérticas procurando oásis e alimento.
Esta região nunca havia conhecido nenhum tipo de centralização política, nunca havia sido formado um reino no centro da Arábia, até que Hassan Tubba, doberano Himiarita do Reino de Sabá conquistou todas as tribos beduínas e pô-las sob a sua autoridade.
Depois, Hassan Tubba cedeu a região ao irmão Hudjr, que fundou o Estado de Kindah, pelo que, o centro da Arábia, apesar de conquistado pelo Reino de Sabá, não passou a fazer parte dele.
A dinastia de Kindah, só teve três representantes, o próprio Hudjr, seu filho e seu neto, Aretas que se tornou tão poderoso que chegou a ser rei de Hira ao mesmo tempo que governava Kindah.
Após a morte de Aretas, em 529, os filhos iniciaram uma guerra entre si para lhe sucederem, as tribos beduínas aproveitaram-se da situação e declaram-se independentes novamente, acabando o estado de Kindah. Esta primeira experiência de unificação viria a ser aproveitada, mais tarde, pelo Islamismo.
O triângulo Meca – Ta’if - Medina
Nesta área limitada da Arábia Central, a existência do triângulo Meca – Ta’if – Medina, foi providencial. Meca, desértica, privada de água e de outros encantos, representava a África e o ardente deserto do Sara. Ta’if apresentava um aspecto mais europeu. Medina, ao norte, não era menos fértil do que a maior parte dos países asiáticos, como a Síria. Se o clima tem alguma influência sobre o carácter do ser humano, este triângulo, mais do que qualquer outra região da terra, era uma reprodução em miniatura do mundo todo.
Do ponto de vista da religião, a Arábia era politeísta, com algumas crenças semíticas. Adoravam pedras e eram fundamentalmente supersticiosos, com a prática de jogos de adivinhação e oráculos. O povo de Meca tinha noção de um Deus único, mas acreditava também que os ídolos tinham poder para interceder junto a Ele. Não acreditavam na ressurreição e na vida após a morte. Tinham preservado o ritual da peregrinação à Casa de Deus, a Caaba. Uma instituição construída sob a inspiração divina por seu ancestral Abraão. Os 2000 anos que os separavam de Abraão haviam transformado a peregrinação num espectáculo de feira comercial.
Apesar da pobreza em recursos naturais, Meca era o mais desenvolvido dos três pontos do triângulo. Meca era uma cidade-estado, governada por um concelho de dez chefes hereditários, que usufruíam de uma clara divisão de poder. Os chefes de caravanas gozavam de boa reputação e tinham permissão para visitar os reinos vizinhos, para efectuarem negócios. Embora não muito interessados na preservação das ideias e no registo escrito da sua história, cultivavam as artes e as letras, bem como a poesia, a oratória e as lendas.
Ao sul da península, no Iémen, haviam formas de sociedade mais desenvolvidas. Importante porto, por ali passava todo o comércio vindo do Oriente, que penetrava no interior da península, através de caravanas de cameleiros que iam até à Síria. Persas e etíopes disputavam a posse de pontos estratégicos. Os sassânidas tinham o monopólio comercial do Oceano Índico e tentavam impedir a concorrência de Bizâncio, que pelo Egipto tenta infiltrar-se na região. Meca tornara-se um centro comercial importantíssimo, rota de passagem entre o Iémen e a Síria e o actual Iraque. Os árabes viviam nas fronteiras das duas grandes civilizações então existentes. A sua religião absorvia essa realidade, posto que a sua fé reflectia um pouco de todas as crenças populares do Oriente.
É neste ambiente que, em 571, nasce Maomé, o homem que pregou a religião única, revelada aos árabes para complementar as revelações anteriores.
(continua)
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O Islamismo ( I )
Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso
Só a generosidade ganha genorosidade
O Islamismo é uma religião monoteísta baseada nos ensinamentos de Maomé, chamado o “O Profeta”, contidos no livro sagrado islâmico, Alcorão. A palavra Islão significa submeter e, exprime a submissão à lei e à vontade de Alá. Seus seguidores são chamados de muçulmanos, que significa aquele que se submete a Alá.
A história do islamismo é fascinante pela sua grandeza, refinamento, sabedoria e também pela forma como tão rapidamente se implantou fora das fronteiras da península arábica, para conquistar o mundo formando um grande império.
É preciso conhecer um pouco da sua história para descobrir como um povo até então quase desconhecido, disperso em tribos, que só aceitava a autoridade e arbitragem de um “shaikh” eleito entre eles, unificou-se sob o impulso de uma nova pregação.
O mundo islâmico antes de Maomé.
No século VII, a península arábica era habitada por povos que levavam uma vida nómada, divididos por tribos, incapazes de construir uma federação. O deserto tinha as suas desvantagens e o comércio das caravanas era mais importante que a agricultura. Isso exigia muitas viagens e os homens iam muito além da península, à Síria, Abissínia, Iraque e Índia.
Na Arábia central, estava localizado o Iémen dividido em numerosos principados e ocupado em parte por invasores estrangeiros.
Principados do Iémen
O Reino de Sabá
Tem as suas origens no século VIII a.C., fundado pelos Sabeus, em torno do seu Rei-Deus. Em 115 a.C. os Himiaritas, povo que se encontrava sob o jugo dos Sabeus, passam a governar o reino e, o monarca perde o carácter divino. Com a conversão ao cristianismo dos seus vizinhos os abissínios (etíopes), sofrem da parte destes, diversas invasões que visavam a sua conversão ao cristianismo. Resistem até 340, quando os etópoes conquistam o Reino e mantiveram-no sob o seu poder até 378, quando os Himiaritas retomam o poder. Facto interessante é que, sob o domínio etíope não se converteram ao cristianismo mas ao judaísmo. Após um período de degradação, em 530, os etíopes voltam a retomar o controle sobre o Reino.
Por volta de 540, uma grande represa construída na Antiguidade rompeu, alagando boa parte do território matando milhares de pessoas.
O rompimento da represa fez com que a seca caísse sobre a região e, desta forma, muitos dos seus habitantes abandonaram o país e rumaram para o norte. Em 575 a pedido dos Himiaritas, a Pérsia invade a região, repõem-nos no governo e mantêm-lhes a soberania, mas com a condição de que a sua região se tornar uma satrápia persa.
Em 632, o Reino de Sabá foi incorporado no Islão, com a sua conversão e anexação pelas tropas de Maomé.
Reino Mineano
Reino organizado da mesma forma que o Reino de Sabá, ou seja, com um grupo étnico, os Mineanos, formando uma teocracia, cuja capital era Qarnaw. Estabeleceu-se por volta do século VIII a.C., ao norte do Reino de Sabá. Vizinhos, os dois Estados entraram em conflito várias vezes, até que, no seculo I a.C., pouco depois da ascensão dos Himiaritas no reino vizinho, o Reino de Mineano foi conquistado pelo reino de Sabá.
Reino de Qataban e Reino de Hadramaut
Reinos vizinhos, estabelecidos a leste do Reino de Sabá, a sua importância comercial residia no comércio com a Índia. Eram produtores de incenso e ouro.
O Reino de Qataban estabeleceu-se por volta de 600 a.C., tendo por capital Tamma e, perdurou até 50 a.C. O Reino de Hadramaut estabeleceu-se por volta de 450 a.C., tendo como capital Shabwh e perdurou até ao início do século II.
Não foram anexados pelo reino de Sabá, como o reino de Mineano, permanecendo autónomos. Devido ao comércio, os chefes regionais passaram a ser poderosos demais para obedecerem a uma autoridade central, ocorrendo uma gradual descentralização, até que os governantes das capitais não serem mais soberanos de todo o país. Desta forma, ficaram extintos os reinos.
Essas regiões continuaram a exercer políticas independentes até à sua anexação pelo Islão em 632.
Reino de Petra
Este reino localizava-se numa região que não pertence à península Arábica. Por volta de 550 a.C., várias tribos nómadas do nordeste da península Arábica reuniram-se com o objectivo de protecção mútua, fundando a cidade Petra. Apesar de não terem conseguido conquistar muito espaço, o seu reino, semelhante a uma cidade-estado, prosperou tanto que ficou livre do domínio de Alexandre o grande.
O Reino de Petra, constituído por tribos que se identificavam como Nabateus, auxiliou os Romanos na destruição da Judeia e, em 106, Trajano transformou o Reino de Petra em província Romana. Depois da queda de Roma, Petra nunca mais voltou a ser um reino autónomo, tendo pertencido ao Império Bizantino e depois ao Persa, até ser anexada pelo Islão.
Império de Palmira ou Tadmor
Tadmor era uma cidade a noroeste de Damasco, cuja origem remonta a tempos muito recuados, mas só adquire importância quando do domínio romano, por ser o principal entreposto entre o Oriente (Pérsia, Índia, China…) e Roma.
Apesar de muito efémero, o Império de Tadmor foi grande. A região, assim como Petra, foi uma das principais componentes do núcleo do Império Islâmico, especialmente no Califado Omíada.
Reino dos Gassânidas
O Reino dos Gassânidas foi fundado por volta de 400, por fugitivos do Reino de Sabá, quando foi conquistado pelos etíopes. No princípio, esses refugiados vivam em acampamentos itinerantes a sudeste de Damsco, porém, com o tempo, acabaram por fundar duas cidades: al-Yabiyah e Jilliq. As conquistas Persas transformaram-no numa possessão sua e, o reino perdeu a sua importância, ainda que o seu último soberano, Jaballah ibn-al Ayham, tenha oferecido feroz resistência ao Islão, só caindo diante dele na Batalha de Yarmuk, em 636, na qual contou com o auxílio bizantino.
Reino de Hira
Assim como o Reino de Petra, o de Hira também era constituído apenas por uma cidade-estado. A cidade foi fundada a partir de um acampamento da tribo Tanukh que, desde 275, se havia estabelecido na actual Síria.
Após terem tido participação na mudança dinástica do Império Persa (fim da dinastia Arsácida e início da Sassânida), edificaram uma cidade no local do seu acampamento permanente. Hira quer dizer em siríaco, acampamento.
Apesar de ter nascido sob a influência persa, pendia entre os impérios Persa e Bizantino, mas os seus maiores inimigos eram os gassânidas que, em 580, queimaram a cidade.
Após o incêndio a cidade nunca mais foi a mesma e, acabou por ser totalmente absorvida pelo Império Persa fazendo parte deste até ser conquistada pelo Islão em 633.
Estado de Kindah e os Beduínos
O centro da península arábica, em especial o planalto de Nedjd, era habitado por tribos nómadas conhecidas como Beduínos, que viviam no deserto e regiões semi-desérticas procurando oásis e alimento.
Esta região nunca havia conhecido nenhum tipo de centralização política, nunca havia sido formado um reino no centro da Arábia, até que Hassan Tubba, doberano Himiarita do Reino de Sabá conquistou todas as tribos beduínas e pô-las sob a sua autoridade.
Depois, Hassan Tubba cedeu a região ao irmão Hudjr, que fundou o Estado de Kindah, pelo que, o centro da Arábia, apesar de conquistado pelo Reino de Sabá, não passou a fazer parte dele.
A dinastia de Kindah, só teve três representantes, o próprio Hudjr, seu filho e seu neto, Aretas que se tornou tão poderoso que chegou a ser rei de Hira ao mesmo tempo que governava Kindah.
Após a morte de Aretas, em 529, os filhos iniciaram uma guerra entre si para lhe sucederem, as tribos beduínas aproveitaram-se da situação e declaram-se independentes novamente, acabando o estado de Kindah. Esta primeira experiência de unificação viria a ser aproveitada, mais tarde, pelo Islamismo.
O triângulo Meca – Ta’if - Medina
Nesta área limitada da Arábia Central, a existência do triângulo Meca – Ta’if – Medina, foi providencial. Meca, desértica, privada de água e de outros encantos, representava a África e o ardente deserto do Sara. Ta’if apresentava um aspecto mais europeu. Medina, ao norte, não era menos fértil do que a maior parte dos países asiáticos, como a Síria. Se o clima tem alguma influência sobre o carácter do ser humano, este triângulo, mais do que qualquer outra região da terra, era uma reprodução em miniatura do mundo todo.
Do ponto de vista da religião, a Arábia era politeísta, com algumas crenças semíticas. Adoravam pedras e eram fundamentalmente supersticiosos, com a prática de jogos de adivinhação e oráculos. O povo de Meca tinha noção de um Deus único, mas acreditava também que os ídolos tinham poder para interceder junto a Ele. Não acreditavam na ressurreição e na vida após a morte. Tinham preservado o ritual da peregrinação à Casa de Deus, a Caaba. Uma instituição construída sob a inspiração divina por seu ancestral Abraão. Os 2000 anos que os separavam de Abraão haviam transformado a peregrinação num espectáculo de feira comercial.
Apesar da pobreza em recursos naturais, Meca era o mais desenvolvido dos três pontos do triângulo. Meca era uma cidade-estado, governada por um concelho de dez chefes hereditários, que usufruíam de uma clara divisão de poder. Os chefes de caravanas gozavam de boa reputação e tinham permissão para visitar os reinos vizinhos, para efectuarem negócios. Embora não muito interessados na preservação das ideias e no registo escrito da sua história, cultivavam as artes e as letras, bem como a poesia, a oratória e as lendas.
Ao sul da península, no Iémen, haviam formas de sociedade mais desenvolvidas. Importante porto, por ali passava todo o comércio vindo do Oriente, que penetrava no interior da península, através de caravanas de cameleiros que iam até à Síria. Persas e etíopes disputavam a posse de pontos estratégicos. Os sassânidas tinham o monopólio comercial do Oceano Índico e tentavam impedir a concorrência de Bizâncio, que pelo Egipto tenta infiltrar-se na região. Meca tornara-se um centro comercial importantíssimo, rota de passagem entre o Iémen e a Síria e o actual Iraque. Os árabes viviam nas fronteiras das duas grandes civilizações então existentes. A sua religião absorvia essa realidade, posto que a sua fé reflectia um pouco de todas as crenças populares do Oriente.
É neste ambiente que, em 571, nasce Maomé, o homem que pregou a religião única, revelada aos árabes para complementar as revelações anteriores.
(continua)
17 Comments:
ola augusto.
do teu artigo ja sabes o que penso: 20 valores.
está um bocadinho grandinho mas a qualidade faz-nos vir cá mais vezes.
abraço da leonoreta
Nota máxima! Sempre uma caixinha de surpresas.
Muito bom!
Este teu blog é um tesouro e quem aqui vem uma vez," arrisca-se" a vir um cento. Venho muitas vezes, no silêncio e assim saio sem deixar comentário. Tenho andado cheia de trabalho e, muitas vezes, sem tempo para ler e comentar. Felizmente , tudo tende a melhorar. Quanto ao livro e à sua aquisição podes enviar email para o endereço anterior. Já está tudo bem.
Beijinhos
Não tenho o mínimo interesse por quem me quer destruir, assim como não tenho o mínimo interesse por quem foi destrui-los.
A religião...essa «guarida», de recurso, esse «ombro» alteranativo quanto o resto se foi ou não se entende-...
Abraço
Paulo
Bastante interessante. Fiquei a saber um pouco mais desse mundo.
E, hoje em dia, toda esta rapaziada é utilizada pelo complexo militar-industrial americano como papão, em substituição da ex-União Soviética. Ao «império do mal» sucedeu-se o «terrorismo islâmico». Os lucros das multinacionais do armamento é que não podem, de forma nenhuma, abrandar.
Prefiro Islão a islamismo, Augusto. Mesmo sendo o Islão muitos Islamismos.
Xiita, no caso.
Abraço Augusto.
Desconhecia quase todo o conteúdo deste teu texto. O que eu não sei dá para encher muitas enciclopédias!
Abraço
Uma boa resenha histórica. Todas as religiões dispõem de conselhos, normas e directivas muito positivas para orientação do homem, cheio de defeitos. Ma todas as religiões se prestam a abusos exageros e atrocidades, contrariando o lema «amai-vos uns aos outros, considerando todos os homens companheiros e amigos. Neste actual momento há muita gente que crê na guerra entre civilizações. Acaba por ser um tema que dificilmente pode ser abordado num espaço tão limitado como o post de um blog. Mas é melhor falar e trocar opiniões do que ignorá-lo.
Parabéns pelo pormenor das suas descrições.
Abraço
Augusto,
O que eu não gosto no Islamismo é a submissão à vontade de Alá.
Odeio todo e qualquer tipo de submissão.
Abraço.
Eu não os esqueço de CERTEZA Augusto.
Nem os meus familiares queimados vivos em Dresden.
O Plano? A maior desgraça que aconteceu à Europa. A colonização cultural e económica a que foi sujeita pelos norte americanos foi o prenúncio da DECADÊNCIA europeia que só veio benefeciar os ditos. O vírus europeu são os USA, o seu inimigo natural. Soube-o sempre a Direita lúcida e, por instinto, muita Esquerda.
Um abraço.
refinamento, sabedoria !
__________________
e assim se faz um belíssimo post de hoje com asas no ontem.
beijo Augusto.
Augusto,
Passei por cá, e deixo-te um abraço.
Texto muito interessante, como sempre.
Passei por cá para lhe desejar um bom fim de semana
Beijinhos verdinhos
vim aqui saudar-te e desejar bom fim de semana!
Luís
Abraço
Depois de termos lido todos estes artigos acerca do Islão a curiosidade cresce, assim, se o entenderem recomendo a leitura De MAOMÉ de Maxime Rodinson da Editorial Caminho editado em 1992.
Sobre outra religião, a cristã, existe um livro muito interessante Leitura Laica da Bíblia de Mario Alighiero Manacorda da mesma editora.
Uma intelectual japonesa pede ao seu amigo italiano o autor do livro :«Explicas-me a Bíblia e o seu sucesso histórico?»
O resultado é fascinante. Leiam.
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