Idosos, um mundo perdido
Peguei como mote para este texto, as palavras de um colega da Blogosfera: a maior hipocrisia da nossa sociedade é a utilização de palavras sem que estas tenham qualquer significado para ela, não passando de simples rótulos para alívio de consciências vazias da noção do dever.
Refiro-me à Solidariedade e à Fraternidade.
Com a mesma fonte inspiração, achei oportuno continuar a denunciar o mundo egoísta em que vivemos.
Como poderemos ter esperança na Fraternidade e na Solidariedade, quando parte das pessoas nem a praticam com os que lhe são mais chegados parentalmente?
Refiro-me aos idosos.
Muitos dos idosos, considerados por alguns o excedente inútil da sociedade, doentes, sem recursos, sem amparo, sem carinho, sem amor, abandonados à sua sorte feita de tempo para morrer, como se de leprosos se tratassem, na solidão ou amontoados numa espécie de leprosaria, antecâmara da morte, são um dos retratos vivos da sociedade egoísta em que vivemos.
Ser velho nas antigas civilizações era ser o patriarca ou a matriarca, o sábio ou a sábia, o respeitado ou a respeitada, o venerado ou a venerada. A sagacidade da idade conferia-lhes um estatuto de sapiência, indispensável à sociedade onde estavam inseridos.
Este estatuto de condição social perdurou durante séculos, mesmo milénios, vindo a perder-se ao ser subalternizado gradualmente por novos valores e conceitos civilizacionais, especialmente a partir do advento da industrialização, altura em que por necessidade desta iniciou-se o consumismo.
O consumismo passou a ser o novo paradigma das sociedades modernas, em especial das ocidentais, que passaram a viver em função da compra, num frenesim entre a oferta e o querer ter mais.
O querer ter mais implica recursos, e como por vezes os recursos são insuficientes para alimentar o querer, tornou-se necessário fazer opções, e dessas opções os idosos são muitas vezes preteridos, parcial ou totalmente.
A falta de recursos coadjuvada com perca de amor ao progenitor idoso, leva a considerá-lo como um incómodo fardo que a família não quer suportar. Nestas circunstâncias, especialmente se o idoso não tem qualquer fonte de rendimento, passa a ser encarado como o grão de areia na engrenagem familiar.
O amor filial e familiar que lhe é devido é substituído pela indiferença, acabando na saturação se não quando nos maus tratos, quando é completamente impossível despejá-los na leprosaria. A leprosaria em muitos casos é substituída pelo abandono nos hospitais onde ficam definitivamente esquecidos, como se a sua existência tivesse terminado com a sua entrada ali.
Também assistimos nos que têm recursos para cuidar dos seus idosos comportamentos idênticos, como se fosse possível substituir o calor do amor filial, pelo frio e mercantil aconchego de óptimos lares, como se de gaiolas douradas se tratassem. Já não é falta de recursos que faz despoletar a rejeição, mas o egoísmo social.
É horrível ver como estas frágeis criaturas são muitas vezes tratadas, cidadãos sem Carta de Direitos, sujeitos ao livre arbítrio daqueles por quem tanto fizeram e lutaram na vida.
Não isento de responsabilidades o Estado na assistência condigna aos idosos sem família, que tende cada vez mais a esquecê-los nas suas políticas sociais, concedendo-lhe pouco mais que o estatuto de indigentes, nem no auxílio das famílias de muitos parcos recursos, mas que querem ser elas a cuidar carinhosamente dos seus idosos. Não é julgar o Estado o objectivo do meu texto, será noutro, mas ajuizar e condenar o comportamento de certos humanos em relação aos seus idosos.
Sejam quais forem as razões subjacentes à rejeição dos idosos, todas são manifestação de como foi possível o egoísmo tornar tão desumana a nossa sociedade.
Mal tratados por uns, rejeitados por outros, grande parte dos nossos idosos vegetam na angustia da solidão os seus últimos anos de vida, como se de um castigo se tratasse, por terem sido um dia, os progenitores generosos das desalmadas criaturas que hoje os mal tratam ou rejeitam.
Ninguém deve esquecer que os novos de hoje serão os idosos de amanhã.
Peguei como mote para este texto, as palavras de um colega da Blogosfera: a maior hipocrisia da nossa sociedade é a utilização de palavras sem que estas tenham qualquer significado para ela, não passando de simples rótulos para alívio de consciências vazias da noção do dever.
Refiro-me à Solidariedade e à Fraternidade.
Com a mesma fonte inspiração, achei oportuno continuar a denunciar o mundo egoísta em que vivemos.
Como poderemos ter esperança na Fraternidade e na Solidariedade, quando parte das pessoas nem a praticam com os que lhe são mais chegados parentalmente?
Refiro-me aos idosos.
Muitos dos idosos, considerados por alguns o excedente inútil da sociedade, doentes, sem recursos, sem amparo, sem carinho, sem amor, abandonados à sua sorte feita de tempo para morrer, como se de leprosos se tratassem, na solidão ou amontoados numa espécie de leprosaria, antecâmara da morte, são um dos retratos vivos da sociedade egoísta em que vivemos.
Ser velho nas antigas civilizações era ser o patriarca ou a matriarca, o sábio ou a sábia, o respeitado ou a respeitada, o venerado ou a venerada. A sagacidade da idade conferia-lhes um estatuto de sapiência, indispensável à sociedade onde estavam inseridos.
Este estatuto de condição social perdurou durante séculos, mesmo milénios, vindo a perder-se ao ser subalternizado gradualmente por novos valores e conceitos civilizacionais, especialmente a partir do advento da industrialização, altura em que por necessidade desta iniciou-se o consumismo.
O consumismo passou a ser o novo paradigma das sociedades modernas, em especial das ocidentais, que passaram a viver em função da compra, num frenesim entre a oferta e o querer ter mais.
O querer ter mais implica recursos, e como por vezes os recursos são insuficientes para alimentar o querer, tornou-se necessário fazer opções, e dessas opções os idosos são muitas vezes preteridos, parcial ou totalmente.
A falta de recursos coadjuvada com perca de amor ao progenitor idoso, leva a considerá-lo como um incómodo fardo que a família não quer suportar. Nestas circunstâncias, especialmente se o idoso não tem qualquer fonte de rendimento, passa a ser encarado como o grão de areia na engrenagem familiar.
O amor filial e familiar que lhe é devido é substituído pela indiferença, acabando na saturação se não quando nos maus tratos, quando é completamente impossível despejá-los na leprosaria. A leprosaria em muitos casos é substituída pelo abandono nos hospitais onde ficam definitivamente esquecidos, como se a sua existência tivesse terminado com a sua entrada ali.
Também assistimos nos que têm recursos para cuidar dos seus idosos comportamentos idênticos, como se fosse possível substituir o calor do amor filial, pelo frio e mercantil aconchego de óptimos lares, como se de gaiolas douradas se tratassem. Já não é falta de recursos que faz despoletar a rejeição, mas o egoísmo social.
É horrível ver como estas frágeis criaturas são muitas vezes tratadas, cidadãos sem Carta de Direitos, sujeitos ao livre arbítrio daqueles por quem tanto fizeram e lutaram na vida.
Não isento de responsabilidades o Estado na assistência condigna aos idosos sem família, que tende cada vez mais a esquecê-los nas suas políticas sociais, concedendo-lhe pouco mais que o estatuto de indigentes, nem no auxílio das famílias de muitos parcos recursos, mas que querem ser elas a cuidar carinhosamente dos seus idosos. Não é julgar o Estado o objectivo do meu texto, será noutro, mas ajuizar e condenar o comportamento de certos humanos em relação aos seus idosos.
Sejam quais forem as razões subjacentes à rejeição dos idosos, todas são manifestação de como foi possível o egoísmo tornar tão desumana a nossa sociedade.
Mal tratados por uns, rejeitados por outros, grande parte dos nossos idosos vegetam na angustia da solidão os seus últimos anos de vida, como se de um castigo se tratasse, por terem sido um dia, os progenitores generosos das desalmadas criaturas que hoje os mal tratam ou rejeitam.
Ninguém deve esquecer que os novos de hoje serão os idosos de amanhã.
17 Comments:
Um dia tb chegamos lá!
Gostei de te ler.
Beijos.
Boa noite
Coloquei no meu forum o seu Post.
Obrigado.
E faça-me uma visitinha.
Clique aqui para visitar o meu forum
mas sabes que eu não percebo como é que a cultura ocidental degenerou na repulsa aos idosos, ou melhor, aos velhos?
augusto, acerca do culturalmente... primeiro tens de ingressar no sitio onde diz "como ingressar". já ingressaste no grupo? eu ainda nao te vi na lista dos participantes.
abraço da leonoreta
É a primeira vez que aqui venho e deixe-me dizer que gostei bastante do ambiente hehe :)
Em relação ao post acho-o um tanto ou quanto incompleto. Tudo o que nele está escrito reflecte uma parte da situação que se vive actualmente. Que com o passar do tempo nos vamos tornando mais egocêntricos, ninguém tem dúvida, mas a verdade, também, que não podemos esquecer e que não é referida neste texto é que a vida tende a complicar dia após dia. Ou seja, se queremos ‘subir’ na vida teremos que lutar por isso, uns mais que outros conforme a sua situação – económica e não só.
Visto estarmos a falar de seres humanos e, como tal, todos (ou, para ser franca, quase todos) merecem o nosso respeito este assunto torna-se, por isso, de uma grande sensibilidade. ‘Cada caso é um caso’ que é como quem diz cada vida é uma vida e, nem sempre, podemos agir da forma como queremos porque nem sempre temos a disponibilidade para o fazer e é importante referir que há vidas cruéis que não possibilitam a atenção, dedicação e afecto necessário que qualquer pai(mãe) – em qualquer idade – merece. Se por vezes essa situação se torna frustrante, em casos de grande amor entre pai e filho e este último se vê obrigado a deixar de parte a demonstração desse amor porque a vida assim exige, por outro lado temos a espécie cruel e desumana de um filho que não reconhece o amor que o pai um dia lhe deu (e que, certamente, continuará a dar, até porque se há amor incondicional é o amor de pai/filho). É por isto que não podemos generalizar dizendo que os mais jovens se esquecem dos seus progenitores porque as coisas, infelizmente, nem sempre são assim tão simples e lineares. Sejamos francos, nem todo o pai merece o amor do filho. E quando há pouco referi o termos que ‘subir’ na vida, referi o termo subir de forma correcta, humana e, por isso, sem “pisar” ninguém para alcançar um dado objectivo. E é por isso que as coisas se tornam mais complicadas, que o sucesso se torna mais difícil de alcançar e que, por vezes, teremos de abdicar de uma própria vida pessoal para termos o que comer (em casos mais extremos) ou para podermos usufruir de algumas qualidades da vida. E todos nós sabemos que a vida passa a correr e que há quem trabalhe as 24 horas do dia e, dizendo isto, será justo deixarmos uma pai já idoso o dia inteiro sozinho, sem qualquer tipo de distracção (não falando na televisão que esta última nem sempre é do agrado de todos) e, principalmente, sem nenhum tipo de convívio. Porque se há idosos de espírito jovem e capazes de continuar a percorrer perfeitamente na vida há outros de grandes limitações que, nem sempre, conseguem ultrapassar o mínimo obstáculo.
Retirando a desumanidade referida no seu texto (que, infelizmente, reflecte, em parte, a realidade), não poderemos censurar aqueles que têm que trabalhar arduamente para verem, desse trabalho, algum beneficio (isto para não falar daqueles que só trabalham para sobreviver e não para viver!!).
Em todo o caso e numa visão mais optimista poderei dar o exemplo de que há quem trabalhe afincadamente e que, mesmo assim, tem quase todo o tempo do mundo para aquele que, mesmo em tempos não tendo sido uma pessoal simpática e fácil de conviver, é seu pai.
Sei que me alonguei bastante e talvez o meu ponto de vista nem esteja assim tão bem expresso, mas disse aquilo que sentia porque continuo achar que se ser velho(e gosto desta palavra!) é sinónimo de sabedoria, autoridade e respeito porque têm sempre muito para nos ensinar e eu, eu adoro-os! (Porque adoro qualquer pessoa que me consiga ensinar algo e porque geralmente quem me consegue transmitir algum tipo de conhecimento é sempre mais velho do que eu :)
Um beijo =)*
PS: nunca fiz o comentário tão grande na minha vida, lol
Sara
Outro texto muito seu e que não se pode deixar de ler.
o problema Augusto é que gostamos de nos esquecer...(pessoalmente tenho a maior ternura pelos nossos idosos...talvez por ter o azar de não os ter ...).como se
toda a vida fosse eterna ou jovem...é lastimável..
curvo.me perante a humanidade. a tua. beijo.
que saudades eu tenho dos meus velhos...o meu pai, a minha mãe, os meu avós.
foram para mim uma lição de vida, autênticos contadores de estórias. ainda hoje os vejo à lareira em Trás-os-Montes onde a minha bisavó me contava estórias e o meu bisavô dizia como havia jantado à mesa de reis...
saudades são laços que não nos largam.
gostei muito de ler, Augusto
estou de férias. abraço
Meu caro Augusto esta abordagem é muito pertinente porque, como se costuma dizer colocas o dedo numa ferida que está aberta e já há muito tempo. Eu sobre esta matéria tenho alguma autoridade para poder falar porque estou ligado a uma Instituição do Solidariedade Social de apoio à 3ª. idade e por isso poder afirmar que tens quase 100% de razão quando, insisto, referes o total abandono em que as famílias deixam os seus idosos mais chegados, nomeadamente pais e sogros. Digo-te mesmo e sem estar a puxar a brasa à sardinha, não sei o que seria da vida de muitos deles se não fossem
os Centros de Dia que existem no País. Com um abraço do Raul
Oi Augusto, bom dia...
Sem duvida que a partilha deve ser doação...de coração a coração...
Um beijinho da sonhadora
tenho a minha Mãe comigo com 91 anos e não é fácil mas se calhar também não foi fácil ter-me e aturar-me :)
A autora Maria de São Pedro, a Papiro Editora e a Fnac têm o prazer de convidar V.Exas. a estarem presentes para o lançamento do livro GATO PEDRA no dia 19 de Maio, pelas 19.00h na Fnac - Cascais Shopping.
Há tempos tive a ideia de criar um fórum onde os velhos - nós - pudéssemos trocar experiências e assim nos apercebermos como os outros velhos estão, ou não, a conseguir ultrapassar uma determinada apagada e vil tristeza em que muitos se deixam enredar. Eu, por mim, estou a tentar interiorizar um horizonte de vida de uns 90 anos. E a fazer planos para isso.
Chamar-se-ia «Velhos Anónimos», parafraseando o nome de outras associações de inter-ajuda de outras debilidades.
Por outro lado, se um velho «anda na Net», é possível que lhe seja mais vitalizante manter um blog que visitar um site dedicado a velhos. De modo que deixei cair a ideia, para já.
Definição de Avó
“Uma avó é uma mulher que não tem filhos, por isso gosta dos filhos dos outros.
As Avós não têm nada para fazer, é só estarem ali. Quando nos levam a passear, andam devagar e não pisam flores bonitas nem lagartas.
Nunca dizem: Despacha-te!.
Normalmente são gordas, mas mesmo assim conseguem apertar-nos os sapatos.
Sabem sempre que a gente quer mais uma fatia de bolo ou uma fatia maior.
As Avós usam óculos e às vezes até conseguem tirar os dentes.
Quando nos contam histórias, nunca saltam bocados e nunca se importam de contar a mesma história várias vezes. As Avós são as únicas pessoas grandes que têm sempre tempo. Não são tão fracas como dizem, apesar de morrerem mais vezes do que nós. Toda a gente deve fazer o possível por ter uma Avó, sobretudo se não tiver televisão."
(Artigo redigido por uma menina de 8 anos e publicado no Jornal. Uma delícia!)
Vou contar um caso que conheço. O idoso agora com 79 anos quando morreu a esposa que ele sempre maltratou e espezinhou a vida toda quiz ir para casa da filha. Note-se que é uma pessoa autonoma, com boa reforma mas um péssimo feitio.
Prometeu que não interferia em nada e respeitaria a vida do casal. Depois de se apanhar lá dentro tem feito com a filha o que fez com a mulher. Por razões que não sei explicar a filha aceita a situação e só pede paciência ao marido. No seu egoismo o velho está a dar cabo da vida à filha e àquela família. Portanto, quando me vêm com tretas destas lembro-me logo deste caso. Digam o que disserem, se não educarem e obrigarem as pessoas ao respeito esqueçam , nada feito.
"Da exploração à exclusão, da exclusão à eliminação ... ?"
("O horror económico", Viviane Forrester)
A Bíblia de Sócrates?
Mais uma problemática social mal resolvida pela voragem dos tempos. E pelo andar da carruagem, a tendência próxima futura não é nada agradável.
A matriz familiar deixou de ser o que era. Ponto. Sou testemunha do "antes" e do presente e opino que evolução também é mudança. Mas com mecanismos sociais de apoio a essa mudança. E que o ser humano não perca a sua identidade... humanista.
Abraço.
Olá amigo...passei para te deixar um beijo de amizade e desejar-te um fim de semana radioso!!!
vou voltar para ler tudo o que tens por aqui, pois há muita matéria...para ser lida e pensada.
Beijão da sonhadora
b.e.i.j.o.
ao menos aqui é bom estar....!
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