sexta-feira, março 24, 2006

Os Minóicos
Platão nos seus diálogos Timeo e Critias, falou pela primeira vez, numa florescente antiga civilização, situada numa ilha para lá das colunas de Hércules, onde o Mediterrâneo finda e o oceano começa. A Atlântida.
Contestado por todos, inclusive Aristóteles que dizia ser uma fantasia do seu mestre, talvez Platão tivesse algum fundamento quanto à existência esplendorosa dessa civilização, pois as descobertas arqueológicas de Sir Arthur Evans puseram a descoberto, na ilha de Creta, uma civilização muito anterior à grega, considerada actualmente, a primeira grande civilização urbana da Europa. Os Minóicos.
Durante o Bronze Médio, ainda a Grécia não era mais do que pequenos e incipientes centros culturais formados pela Ciclades, já Creta, entre 2.000 aC e 1.700 aC via florescer a primeira civilização urbana da Europa.


Os Minóicos atingiram elevado estádio civilizacional que influenciaria decisivamente os povos do Egeu por mais de 500 anos.
Creta foi a única cultura do Mediterrâneo Oriental que não sofreu devastações no final do Bronze Antigo. Enquanto os Minóicos prosperavam, entre 2.000 e 1.700 aC, as outras culturas das Cíclades, recuperavam lentamente dessas devastações.

A prosperidade dos Minóicos estava dependente do mar e em 2.000 aC já tinham entrepostos comerciais na costa do Peloponeso e em 1.650 aC nas Cíclades. A falta de controlo do Mediterrâneo por parte dos Egípcios possibilitou aos Minóicos o predomínio das rotas mais importantes do Egeu.
Não se sabe como se designavam, o nome Minóico foi dado por Sir Arthur Evans em honra do mítico rei Minos.
Os dois principais núcleos urbanos eram Cnossos, ao norte, e Festos, ao sul.
Tinham construções complexas e extensas, com grande quantidade de salas, que se convencionou chamar de palácios.
O palácio era um edifício multifuncional. As salas eram usadas para armazenagem, controle administrativo, áreas residenciais e actividades religiosas.
A construção do palácio era inspirada nos palácios asiáticos, adaptados às suas necessidades.
Devido ao grande incremento populacional, as aldeias aumentaram de tamanho e número, passando as casas a serem mais bem construídas e confortáveis, muitas delas com mais do que um piso.

As paredes externas eram construídas com tijolos, pedra, vigas de madeira, e pela primeira vez no Egeu, pedras talhadas.
Os primeiros palácios de Cnossos e Festos, assim como a maior parte das construções, foram totalmente destruídas por um terramoto, vindo a ser reconstruídas ainda com mais magnificência.

As paredes interiores passaram a ser rebocadas e pintadas e decoradas com frescos com desenhos geométricos coloridos e cenas naturais.
Na cerâmica já usavam a roda de oleiro. Além do fabrico dos jarros de diversos tamanhos, confeccionavam as famosas taças “casca de ovo”, assim chamadas devido à sua finíssima borda. Os motivos decorativos mais usados eram animais marinhos árvores e flores.
Pequenas estatuetas de terracota pintada, representando homens e animais com traços esquematizados, eram muito comuns.
Desenvolveram as técnicas conhecidas na Mesopotâmia e no Egipto, no trabalho do ouro e incrustação de pedras preciosas.
Utilizavam dois tipos de escrita, a hieroglífica e a chamada Linear A desenvolvida a partir daquela.
Os cretenses do Bronze Médio eram fisicamente semelhantes aos de hoje: esguios, pele clara, cabelo e olhos escuros. A altura média dos homens era de 1,68 metros.

Uma das mais notáveis características da cultura minóica é a posição de destaque que as mulheres tinham na sociedade. A julgar pela sua representação nas pinturas, desfrutavam de ampla liberdade, podiam maquilhar-se e participavam nas festas e rituais públicos.
A sociedade era formada por diversas profissões especializadas, escribas, carpinteiros, pastores, agricultores, escultores, pintores, pedreiros, vidreiros, curtidores, etc.
Não se sabe se existia uma autoridade suprema, contudo os Gregos do século V aC acreditavam que o mítico rei Minos, filho de Zeus, teria vencido os irmãos e dominado a ilha.
Facto inédito na Antiguidade, não haviam fortificações e os edifícios dos palácios desembocavam nas ruas em continuidade com as casas.
A falta de fortificações e a raridade das armas entre os achados arqueológicos sugerem que não havia guerras entre as regiões da ilha e que o mar formaria uma barreira suficientemente segura contra os invasores.
Os cultos religiosos envolviam oferendas à deusa-mãe, senhora dos animais, que representava a fertilidade da Natureza desde o Paleolítico.
Quanto aos costumes funerários, persistiu o sepultamento individual em ataúdes de terracota ou em grandes vasos.
No Bronze Recente a cultura minóica atingiu o máximo esplendor, porem em 1.450 aC sofreu devastações generalizadas e, pouco depois, foi conquistada pelos Micénicos da Grécia Continental, que absorveram grande parte da sua cultura.
Os Minóicos legaram à Grécia a arquitectura, a navegação e a cultura da oliveira, elementos fundamentais da futura cultura grega. Segundo a lenda, Creta era a terra onde vivia o Minotauro.
Será que Platão só estaria errado na data e na localização, e Atlântida não seria mais do que a fantástica Civilização Minoica?



10 Comments:

Blogger Leonor said...

os teus artigos são documentos preciosos para serem consultados de vez em quando.

abraço da leonoreta

9:15 da tarde  
Blogger isabel mendes ferreira said...

curioso...e eu que vim de Creta há pouco tempo...e estive no museu onde existe a maior colecção de peças minoicas do mundo....bom mas vim aqui para agradecer o último comentário no Piano que acho vou silenciar,,,ele e os outros,,,. sou mesmo Tan-tan como já expliquei à T. entrei toda "feita" para matar um pouco da saudade e ________________________nada...a minha cabeça "pirou"...ao menos espero que o jacinto dê flores mt tempo....beijos. e beijos e beijos. que espero tb os dê à T.

9:24 da tarde  
Blogger Dad said...

Olá Augusto!

Para mim foi também um grande prazer estar contigo, pois a conversa foi deveras interessante. Gostei muito das histórias reais que ouvi e desse entusiasmo que se pressente em tudo o que é sentido. É bom encontrar pessoas que se vê que a vida e os outros não lhes é indiferente.
Vamos lá ver se da próxima vez vou conhecer mais gente. Foi uma sensação engraçada encontrar rostos em vez de palavras.
Quanto ao Klepsidra, claro que este continuará como um blog de referência, onde é sempre grato entrar e ler.
Um beijinho,

11:06 da manhã  
Blogger hfm said...

Com que encanto eu releio as histórias da História.

1:42 da tarde  
Blogger AJB - martelo said...

excelente como sempre e com a obrigação de ler até à última letra.

10:36 da tarde  
Blogger Alberto Oliveira said...

Augusto:

Uma questão pertinente mas ainda sem resposta, para meu desgosto, que em miudo queria acreditar que a Atlântida tinha forçosamente de existir...

Abraço.

11:57 da tarde  
Blogger Å®t Øf £övë said...

Augusto,
O tema "Atlantida" sempre teve sobre mim um fascinio incrivel que eu próprio não sei explicar.
Como sempre, e para quem gosta, acabaste com este post por nos dar mais uma importante lição de história.
Obrigado pela partilha.
Abraço.

1:31 da manhã  
Blogger isabel mendes ferreira said...

e o deserto tem tanto para dizer...:) mesmo que só o silêncio responda....


beijo...e sempre que aqui venho regresso de novo a Creta mais propriamente a Knossos.....!....e tenho kilómetros de fotografias...para matar a saudade...

4:16 da tarde  
Blogger Peter said...

Destaco o seguinte ponto:

"Os cultos religiosos envolviam oferendas à deusa-mãe, senhora dos animais, que representava a fertilidade da Natureza desde o Paleolítico."

A deusa-mãe, ligada à procriação e à fertilidade humana e da Natureza, ambas essenciais, era a divindade maior, associada à Lua e aos falos megalíticos, considerados como elementos de culto.
Na estatueta a deusa aparece segurando duas serpentes, também elemento de culto, cuja mudança de pele anual, lhes conferia poderes mágicos.

3:27 da tarde  
Blogger Unknown said...

Estou estudando sobre a cultura Minóica na faculdade (Ulusofona, em Lisboa) e achei o post muito válido para a construção crítica do que seja essa cultura que tanto me fascina.Um abraço, virei aqui mais vezes.

2:49 da manhã  

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