Ficção no feminino
No ano 2020 da graça não do senhor mas senhoras, que por qualquer razão ainda não explicada cientificamente, Portugal vê-se confrontado com a realidade de as mulheres serem em número muito superior ao dos homens, na razão de 2 para 1.
Ana, formada em sociologia, não encontrando emprego compatível com a sua licenciatura, teve de se sujeitar a um contrato a prazo num escritório, onde executa um trabalho que nada tem a haver com aquilo que estudou.
Sindicalizou-se na expectativa de que o sindicato poderia defender os seus interesses, mas constatou que a organização, maioritariamente masculina, não conseguia ter relevância perante as entidades empregadoras, não fazendo mais que algumas acções de protesto na maior parte das vezes após os factos consumados, pouco mais conseguindo do que manter a ilusão aos trabalhadores.
Com a consciência de que o número de mulheres é muito superior ao dos homens, quer na população flutuante quer no mundo do trabalho, interrogava-se muitas vezes, o porquê dos dirigentes das estruturas sindicais serem sempre masculinos.
Começou a alertar as colegas de trabalho para esse facto, advogando que a defesa das mulheres seria muito mais eficazes se fosse feita por elas próprias do que pelos homens.
De um pequeno número inicial de entusiastas, passou à formação de uma tendência dentro da própria estrutura sindical, que cresceu de força à medida que a sua campanha para angariação de novas associadas ia tendo cada vez mais sucesso.
Quando a direcção masculina se apercebeu de quem tinha de enfrentar nas eleições para secretário-geral da central sindical, era tarde de mais, e a subestimação cedeu o lugar de secretário-geral a uma mulher, Ana.
O partido que apoiava essa central sindical, foi apanhado de surpresa, não só com a eleição de uma mulher, como sendo esta completamente estranha a estrutura partidária.
O partido não querendo perder a sua influência na estrutura sindical, resolve convidar Ana a filiar-se nele, oferecendo-lhe um lugar no seu órgão político.
Ana, reconhecendo a vantagem de ter um partido a apoiá-la, aceita o convite e começa a participar na sua vida política. Rapidamente se apercebe que a máquina decisória é maioritariamente composta por homens, já de idade avançada, que temerosos dos novos tempos que ainda não entenderam, se agarram a slogans ultrapassados por onde pautam a sua maneira de pensar e actuar, tendo como única ambição não perder a sua influência dogomática no partido.
Ana imediatamente começa a advogar uma política de abertura às mulheres na intervenção das grandes decisões e opções do partido. A exasperação masculina não tem limites e só não se concretiza em represálias a Ana, por esta ter o cargo que tem na estrutura sindical, vendo esse cargo reforçado dia a dia, pela sua nova política de actuação.
Um facto joga a favor de Ana, a população masculina é muito inferior à feminina. As maiorias estão sempre do lado dela.
Os órgãos dirigentes são pressionados a aumentar a participação das mulheres nos cargos políticos do partido, as mulheres por seu lado fazem tudo por o conseguir, criando dentro do partido uma facção pró feminina, de tal maneira forte, que nas eleições para secretário-geral, Ana vê-se eleita para o cargo.
Se a maioria lhes permitiu conquistar o estatuto de igualdade ao do homem, na realidade o homem pela sua condição de minoritário, que lhe concedia o estatuto de raridade, passou a dominar a seu belo prazer a vida das mulheres.
O feminino ao quer ser igual ao masculino, enveredou pelo caminho errado, em vez de impor o seu feminismo, não, copiou tudo o que o masculino tem de pior, tendendo a ser não o feminino na sua diferença, para passar a ser um feminino, cópia do masculino.
Tão elevado número de mulheres para cada homem, levou a anterior caçada para o papel de caçadora, só que a raridade da caça, obriga as caçadoras a competirem entre si por ela até aos limites.
Os iniciais decotes generosos, o fio dental, a barriguinha à mostra e o top less, passaram a ser armas ultrapassadas de eficácia duvidosa. A competição leva a aumentar a agressividade das caçadoras; o fio dental mantém-se, mas de forma mais ostensiva e sofisticada, a barriguinha à amostra passa por descer mais a cintura das calças até insinuar o púbis, e o umbigo descoberto, apresenta-se com tatuagens provocadoras. Há também quem ache que usar uma cuequinha tão reduzida ou não usar nenhuma a diferença era muito pouca, e muitas cuecas passaram a ficar na gaveta. O top less não sofre alterações, só que deixa de ser exclusivo da areia e da borda d’ água, para ser usado também no bar da praia. No decote é que a guerra foi mais acesa. A generosidade do decote deu lugar às transparências, e como a sensualidade das transparências só tem eficácia se não for usado soutien, tudo funcionaria ao contrário se o peito não correspondesse ao efeito desejado. A lista de espera para a plástica ao peito é em média de cinco meses, nas clínicas particulares, pela caixa de previdência, um ano e meio. As rugas com os novos cremes são proteladas e a celulite graças à ciência foi completamente erradicada.
O aspecto exterior, o que faz a sedução, passa a ser o mais importante, sendo a cabeleireira, a esteticista, a manicura e a recém criada projectista de beleza, profissões com formação universitária, auferindo elevados salários e a fama dos resultados pode mesmo significar autênticas fortunas.
A crise não pára de se agudizar com o contínuo aumento da população feminina em relação à masculina, que já tende a ultrapassar a proporção de um homem para cada três mulheres.
As cientistas nos laboratórios procuram incessantemente descobrir formas de auto satisfação sexual para as mulheres, mas como não conseguem nenhum homem insuflável que substitua o prazer de um de carne e osso, a competição pelos que existem torna-se feroz.
Os ciúmes e a frustração levam muitas vezes ao crime, onde a morte de uma das rivais torna se frequente, mas raros com a morte do móbil, o homem. Enquanto nos tribunais as penas para os crimes passionais entre mulheres são leves, a morte de um homem é considerada um crime da maior gravidade, um atentado contra a natureza punido com a pena máxima de anos de cadeia, nunca inferior ao tempo necessário para a criminosa envelhecer e perder todas as hipóteses de vir usufruir dessa bênção, que é ter a share de um homem. Para além da satisfação sexual o querer ter um filho ainda torna o homem mais imprescindível, como o único ser capaz de o proporcional, pois todas as tentativas de fazer laboratorialmente espermatozóides de plástico falharam.
Os homens não se sentem desconfortáveis nesta situação, muito pelo contrário, procuram tirar o melhor partido dela, acabando muitos deles por viverem juntos com duas ou três mulheres ao mesmo tempo na mesma casa, em regime de poligamia.
A moda pegou de tal maneira que passou a ser legal viver com duas mulheres, conhecida como união polígama de facto.
Viver com duas ou três mulheres ao mesmo tempo, esculturalmente belas, sexy, bem empregadas com óptimos ordenados, que lhes poderiam proporcionar todos os caprichos, passou a ser o desejo concretizável da maioria dos homens, e o mundo estará todo a seus pés se for bonitão, corpo atlético, e com um ar pelo menos meio sexi. Neste caso, o jogo é clandestino, e nos casinos do sub mundo, a roleta funciona com paradas sem limite. Por ele se dá tudo, até a vida se esta não fosse necessária para desfrutar o prémio.
Mas o macho, como esperto que sempre foi, não perde a oportunidade de dar uma facada na relação a três, vendendo-se por uma autêntica fortuna, para alguma vizinha menos beneficiada pela mãe Natureza, poder ter um filho.
O mercantilismo não é só dos homens, também as mulheres entram no jogo, recolhendo o espremem do homem com quem vivem, vendendo-o para a inseminação artificial, por preço elevado.
Claro que os litígios entre as mulheres ou entre o homem e as mulheres, nestas uniões de facto, eram muito difíceis de resolver na justiça, a cobertura legal ainda não era suficientemente eficaz para o efeito, acabando a união de facto em desunião de facto com muita facilidade, normalmente sem qualquer responsabilidade ou consequências para os protagonistas dessa união.
Em 2035, este era o ponto fundamental defendido por Ana na campanha eleitoral para as legislativas. Oficializar e legislar sobre o casamento polígamo, com o fim de substituir as situações dúbias, por uma regulamentação legislativa, que salvaguardasse os direitos e os deveres do trio de cônjuges, e sobretudo os filhos que a família pudesse gerar.
Combatendo especialmente o lobi masculino, que se viria privado da sua acção irresponsabilizada para com as mulheres, conseguiu convencer as indecisas do eleitorado feminino, que a esquerda só é esquerda quando está na oposição e que a regulamentação, mesmo que restringisse a sua actuação em relação ao masculino, era mais vantajosa no sentido prático da vida. E com maioria absoluta, acabou por se ver sentada na cadeira do Primeiro-ministro.
A paridade impunha que 20% dos lugares da governação fossem atribuídos a homens e 30% dos deputados fossem do sexo masculino. As forças armadas e as polícias não fugiam à regra e eram maioritariamente femininas, quer nos efectivos quer nas altas chefias.
A Igreja não se conformou com esta nova maneira de viver e o Cardeal Patriarca foi convidado do Papa em Roma. Aos padres foi-lhes dado escolher, ou passavam a viver com mulheres ou iam ter com o Patriarca; a maior parte preferiu continuara a comer sardinhas assadas a comer pasta. As freiras foram quem mais lucrou, nesta república das mulheres. Acabaram-se as vestes conventuais tradicionais e passaram a andar, não de mini-saia mas por cima do joelho, e serem elas próprias a governar a economia do convento, que passou a chamar casa de retiro. Nos retiros apareceu pela primeira vez, oficialmente claro está, a figura do camareiro, nome adequado às funções que exerciam, não nas celas que deixaram de existir mas em quartos individuais. Eram grandes activistas.
Tudo parecia auspicioso para república no feminino, se reclamações houvessem já não podiam culpar os homens, eram elas que mandavam.
Nas vésperas do primeiro conselho de ministro em que Ana iria apresentar as grandes linhas mestras da sua governação, a presidente do Instituto Nacional de Estatística, solicitou-lhe uma audiência, com a recomendação de muito urgente e de interesse nacional.
Pela gravidade apresentada não podia recusar nem adiar a audiência, que foi marcada para essa noite.
- Muito bem senhora presidente, o que é que a senhora me tem para dizer de tão grande urgência e de interesse nacional?
- Senhora Primeiro-ministro, estou em posse de alguns dados estatísticos que pela sua gravidade, tomei a iniciativa de os ocultar quer dos governos anteriores, quer do domínio público.
- Se são assim tão graves, porquê os ocultou dos governos anteriores?
-Porque eram governos masculinos, senhora Primeiro-ministro.
- Não vejo o porquê, mas diga-me lá que dados são esses assim tão graves?
- De há cerca de cinco anos para cá, inexplicavelmente, o número de nascimentos masculinos tem vindo a aumentar de tal forma, que actualmente está quase a igualar o número dos femininos, o que as projecções indicam que dentro de 15 a 20 anos a proporção entre homens e mulheres voltará a ser igual à que era em 2006.
- Tem a certeza do que me está a dizer?
- Tenho Senhora Primeiro-ministro.
Com o semblante apreensivo, visivelmente perturbada, Ana deu por encerrada a audiência.
No dia seguinte a reunião ministerial foi aberta com a exposição pela Primeiro-ministro, da situação apresentada pela presidente do Instituto Nacional de Estatística. A consternação perante a gravidade do problema foi geral.
- Senhores ministros estamos perante uma situação de excepção, que poderá vir a pôr em risco toda a nossa estrutura social. A medida que viermos a tomar será sem dúvida a mais difícil das nossas vidas, pelo que quero que ela seja participada por todos. O que eu coloco à vossa consideração é se ignoramos o facto, ou tomamos medidas para que o facto não ocorra. Amanhã voltamos a reunir para decidir. Boa tarde.
No ano 2020 da graça não do senhor mas senhoras, que por qualquer razão ainda não explicada cientificamente, Portugal vê-se confrontado com a realidade de as mulheres serem em número muito superior ao dos homens, na razão de 2 para 1.
Ana, formada em sociologia, não encontrando emprego compatível com a sua licenciatura, teve de se sujeitar a um contrato a prazo num escritório, onde executa um trabalho que nada tem a haver com aquilo que estudou.
Sindicalizou-se na expectativa de que o sindicato poderia defender os seus interesses, mas constatou que a organização, maioritariamente masculina, não conseguia ter relevância perante as entidades empregadoras, não fazendo mais que algumas acções de protesto na maior parte das vezes após os factos consumados, pouco mais conseguindo do que manter a ilusão aos trabalhadores.
Com a consciência de que o número de mulheres é muito superior ao dos homens, quer na população flutuante quer no mundo do trabalho, interrogava-se muitas vezes, o porquê dos dirigentes das estruturas sindicais serem sempre masculinos.
Começou a alertar as colegas de trabalho para esse facto, advogando que a defesa das mulheres seria muito mais eficazes se fosse feita por elas próprias do que pelos homens.
De um pequeno número inicial de entusiastas, passou à formação de uma tendência dentro da própria estrutura sindical, que cresceu de força à medida que a sua campanha para angariação de novas associadas ia tendo cada vez mais sucesso.
Quando a direcção masculina se apercebeu de quem tinha de enfrentar nas eleições para secretário-geral da central sindical, era tarde de mais, e a subestimação cedeu o lugar de secretário-geral a uma mulher, Ana.
O partido que apoiava essa central sindical, foi apanhado de surpresa, não só com a eleição de uma mulher, como sendo esta completamente estranha a estrutura partidária.
O partido não querendo perder a sua influência na estrutura sindical, resolve convidar Ana a filiar-se nele, oferecendo-lhe um lugar no seu órgão político.
Ana, reconhecendo a vantagem de ter um partido a apoiá-la, aceita o convite e começa a participar na sua vida política. Rapidamente se apercebe que a máquina decisória é maioritariamente composta por homens, já de idade avançada, que temerosos dos novos tempos que ainda não entenderam, se agarram a slogans ultrapassados por onde pautam a sua maneira de pensar e actuar, tendo como única ambição não perder a sua influência dogomática no partido.
Ana imediatamente começa a advogar uma política de abertura às mulheres na intervenção das grandes decisões e opções do partido. A exasperação masculina não tem limites e só não se concretiza em represálias a Ana, por esta ter o cargo que tem na estrutura sindical, vendo esse cargo reforçado dia a dia, pela sua nova política de actuação.
Um facto joga a favor de Ana, a população masculina é muito inferior à feminina. As maiorias estão sempre do lado dela.
Os órgãos dirigentes são pressionados a aumentar a participação das mulheres nos cargos políticos do partido, as mulheres por seu lado fazem tudo por o conseguir, criando dentro do partido uma facção pró feminina, de tal maneira forte, que nas eleições para secretário-geral, Ana vê-se eleita para o cargo.
Se a maioria lhes permitiu conquistar o estatuto de igualdade ao do homem, na realidade o homem pela sua condição de minoritário, que lhe concedia o estatuto de raridade, passou a dominar a seu belo prazer a vida das mulheres.
O feminino ao quer ser igual ao masculino, enveredou pelo caminho errado, em vez de impor o seu feminismo, não, copiou tudo o que o masculino tem de pior, tendendo a ser não o feminino na sua diferença, para passar a ser um feminino, cópia do masculino.
Tão elevado número de mulheres para cada homem, levou a anterior caçada para o papel de caçadora, só que a raridade da caça, obriga as caçadoras a competirem entre si por ela até aos limites.
Os iniciais decotes generosos, o fio dental, a barriguinha à mostra e o top less, passaram a ser armas ultrapassadas de eficácia duvidosa. A competição leva a aumentar a agressividade das caçadoras; o fio dental mantém-se, mas de forma mais ostensiva e sofisticada, a barriguinha à amostra passa por descer mais a cintura das calças até insinuar o púbis, e o umbigo descoberto, apresenta-se com tatuagens provocadoras. Há também quem ache que usar uma cuequinha tão reduzida ou não usar nenhuma a diferença era muito pouca, e muitas cuecas passaram a ficar na gaveta. O top less não sofre alterações, só que deixa de ser exclusivo da areia e da borda d’ água, para ser usado também no bar da praia. No decote é que a guerra foi mais acesa. A generosidade do decote deu lugar às transparências, e como a sensualidade das transparências só tem eficácia se não for usado soutien, tudo funcionaria ao contrário se o peito não correspondesse ao efeito desejado. A lista de espera para a plástica ao peito é em média de cinco meses, nas clínicas particulares, pela caixa de previdência, um ano e meio. As rugas com os novos cremes são proteladas e a celulite graças à ciência foi completamente erradicada.
O aspecto exterior, o que faz a sedução, passa a ser o mais importante, sendo a cabeleireira, a esteticista, a manicura e a recém criada projectista de beleza, profissões com formação universitária, auferindo elevados salários e a fama dos resultados pode mesmo significar autênticas fortunas.
A crise não pára de se agudizar com o contínuo aumento da população feminina em relação à masculina, que já tende a ultrapassar a proporção de um homem para cada três mulheres.
As cientistas nos laboratórios procuram incessantemente descobrir formas de auto satisfação sexual para as mulheres, mas como não conseguem nenhum homem insuflável que substitua o prazer de um de carne e osso, a competição pelos que existem torna-se feroz.
Os ciúmes e a frustração levam muitas vezes ao crime, onde a morte de uma das rivais torna se frequente, mas raros com a morte do móbil, o homem. Enquanto nos tribunais as penas para os crimes passionais entre mulheres são leves, a morte de um homem é considerada um crime da maior gravidade, um atentado contra a natureza punido com a pena máxima de anos de cadeia, nunca inferior ao tempo necessário para a criminosa envelhecer e perder todas as hipóteses de vir usufruir dessa bênção, que é ter a share de um homem. Para além da satisfação sexual o querer ter um filho ainda torna o homem mais imprescindível, como o único ser capaz de o proporcional, pois todas as tentativas de fazer laboratorialmente espermatozóides de plástico falharam.
Os homens não se sentem desconfortáveis nesta situação, muito pelo contrário, procuram tirar o melhor partido dela, acabando muitos deles por viverem juntos com duas ou três mulheres ao mesmo tempo na mesma casa, em regime de poligamia.
A moda pegou de tal maneira que passou a ser legal viver com duas mulheres, conhecida como união polígama de facto.
Viver com duas ou três mulheres ao mesmo tempo, esculturalmente belas, sexy, bem empregadas com óptimos ordenados, que lhes poderiam proporcionar todos os caprichos, passou a ser o desejo concretizável da maioria dos homens, e o mundo estará todo a seus pés se for bonitão, corpo atlético, e com um ar pelo menos meio sexi. Neste caso, o jogo é clandestino, e nos casinos do sub mundo, a roleta funciona com paradas sem limite. Por ele se dá tudo, até a vida se esta não fosse necessária para desfrutar o prémio.
Mas o macho, como esperto que sempre foi, não perde a oportunidade de dar uma facada na relação a três, vendendo-se por uma autêntica fortuna, para alguma vizinha menos beneficiada pela mãe Natureza, poder ter um filho.
O mercantilismo não é só dos homens, também as mulheres entram no jogo, recolhendo o espremem do homem com quem vivem, vendendo-o para a inseminação artificial, por preço elevado.
Claro que os litígios entre as mulheres ou entre o homem e as mulheres, nestas uniões de facto, eram muito difíceis de resolver na justiça, a cobertura legal ainda não era suficientemente eficaz para o efeito, acabando a união de facto em desunião de facto com muita facilidade, normalmente sem qualquer responsabilidade ou consequências para os protagonistas dessa união.
Em 2035, este era o ponto fundamental defendido por Ana na campanha eleitoral para as legislativas. Oficializar e legislar sobre o casamento polígamo, com o fim de substituir as situações dúbias, por uma regulamentação legislativa, que salvaguardasse os direitos e os deveres do trio de cônjuges, e sobretudo os filhos que a família pudesse gerar.
Combatendo especialmente o lobi masculino, que se viria privado da sua acção irresponsabilizada para com as mulheres, conseguiu convencer as indecisas do eleitorado feminino, que a esquerda só é esquerda quando está na oposição e que a regulamentação, mesmo que restringisse a sua actuação em relação ao masculino, era mais vantajosa no sentido prático da vida. E com maioria absoluta, acabou por se ver sentada na cadeira do Primeiro-ministro.
A paridade impunha que 20% dos lugares da governação fossem atribuídos a homens e 30% dos deputados fossem do sexo masculino. As forças armadas e as polícias não fugiam à regra e eram maioritariamente femininas, quer nos efectivos quer nas altas chefias.
A Igreja não se conformou com esta nova maneira de viver e o Cardeal Patriarca foi convidado do Papa em Roma. Aos padres foi-lhes dado escolher, ou passavam a viver com mulheres ou iam ter com o Patriarca; a maior parte preferiu continuara a comer sardinhas assadas a comer pasta. As freiras foram quem mais lucrou, nesta república das mulheres. Acabaram-se as vestes conventuais tradicionais e passaram a andar, não de mini-saia mas por cima do joelho, e serem elas próprias a governar a economia do convento, que passou a chamar casa de retiro. Nos retiros apareceu pela primeira vez, oficialmente claro está, a figura do camareiro, nome adequado às funções que exerciam, não nas celas que deixaram de existir mas em quartos individuais. Eram grandes activistas.
Tudo parecia auspicioso para república no feminino, se reclamações houvessem já não podiam culpar os homens, eram elas que mandavam.
Nas vésperas do primeiro conselho de ministro em que Ana iria apresentar as grandes linhas mestras da sua governação, a presidente do Instituto Nacional de Estatística, solicitou-lhe uma audiência, com a recomendação de muito urgente e de interesse nacional.
Pela gravidade apresentada não podia recusar nem adiar a audiência, que foi marcada para essa noite.
- Muito bem senhora presidente, o que é que a senhora me tem para dizer de tão grande urgência e de interesse nacional?
- Senhora Primeiro-ministro, estou em posse de alguns dados estatísticos que pela sua gravidade, tomei a iniciativa de os ocultar quer dos governos anteriores, quer do domínio público.
- Se são assim tão graves, porquê os ocultou dos governos anteriores?
-Porque eram governos masculinos, senhora Primeiro-ministro.
- Não vejo o porquê, mas diga-me lá que dados são esses assim tão graves?
- De há cerca de cinco anos para cá, inexplicavelmente, o número de nascimentos masculinos tem vindo a aumentar de tal forma, que actualmente está quase a igualar o número dos femininos, o que as projecções indicam que dentro de 15 a 20 anos a proporção entre homens e mulheres voltará a ser igual à que era em 2006.
- Tem a certeza do que me está a dizer?
- Tenho Senhora Primeiro-ministro.
Com o semblante apreensivo, visivelmente perturbada, Ana deu por encerrada a audiência.
No dia seguinte a reunião ministerial foi aberta com a exposição pela Primeiro-ministro, da situação apresentada pela presidente do Instituto Nacional de Estatística. A consternação perante a gravidade do problema foi geral.
- Senhores ministros estamos perante uma situação de excepção, que poderá vir a pôr em risco toda a nossa estrutura social. A medida que viermos a tomar será sem dúvida a mais difícil das nossas vidas, pelo que quero que ela seja participada por todos. O que eu coloco à vossa consideração é se ignoramos o facto, ou tomamos medidas para que o facto não ocorra. Amanhã voltamos a reunir para decidir. Boa tarde.
16 Comments:
A todas as mamaes do Mundo,
A todas as mulheres que ainda nao o sao, mas que têm em si este desejo latente,
A todos os homens, filhos, esposos, irmaos, netos,
Aos que ainda têm a alegria desta presença-companhia tao especial,
Aos que choram sua ausência,
A todos que reconhecem a importância deste Ser Divino em nossas vidas,
Deixo muitos beijos, muitas flores e muitos sorrisos neste dia tao lindo!
Amigo, muito obrigada por teu comentario tao terno e bonito! Beijos e sorrisos para ti!
Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura… A esperança neste canto, já não existe, foi-se embora para lado incerto, era mais dura que a própria água. Apenas somos salpicados pela incoerência…
Abraços Augusto, bom post !
Belíssimo post, Augusto!
Espero que no dia que as mulheres estiverem de pleno direito nos lugares que hoje são ocupados pelos homens, não copiem o estilo masculino e sejam elas próprias, com todos os defeitos e qualidades de um verdadeiro ser himano, pois só da mescla perfeita do homem e mulher trabalhando em paralelo e não como antagonistas poderá nascer uma sociedade nova e mais justa para os nossos filhos e netos. Pode parecer ingenuidade mas ainda continuo a pensar que será dificil mas não irrealizável!
Beijinhos Augusto!
A meio dei um Ufa!!! por estares a falar de 2035 e comecei a pensar "os meus netos que hão-de vir que se cuidem".
A ficção está óptima. Tem muito de real e quem sabe, se mais ainda do que possamos imaginar. Afinal de contas tudo é cíclico.
Beijos para ti
Augusto mereces uma ovação por este post. Desta ficção um dia quiçá se
tornará realidade. Mas não se pode tornar só pelo simples facto de as mulheres serem maioritáriamente que
os mesmos. Elas têm que se afirmar pelo seu valor, competência, inteligência e sobretudo honestidade.
Pessoalmente não me repugna a ideia de num futuro próximo serem as mulheres a assumirem o poder, desde que a ele ascendam por mérito próprio e não por razões de favorecimento. Com um abraço do Raul
subscrevo na íntegra as palavras de lazuli.
e, lamentavelmente, tenho de reconhecer que as palavras que se seguem são verdade:"O feminino ao quer ser igual ao masculino, enveredou pelo caminho errado, em vez de impor o seu feminismo, não, copiou tudo o que o masculino tem de pior, tendendo a ser não o feminino na sua diferença, para passar a ser um feminino, cópia do masculino."
é uma pena que a mulher não aceite que jamais poderá ser igual ao homem no seu papel na sociedade.*
*que fique claro que falo "guerra de sexos". no que concerne aos direitos, enquanto pessoa, sempre deveriam ter sido iguais. o que é um facto é que nem esses são, hoje em dia, paralelos.
gostei imenso da história.
ler-te faz sentir bem...
espantoso...a ficção no seu melhor, ressalvando o facto de que acredito que o futuro pertence às mulheres...
boa semana para ti, Augusto.
ainda estou de "quatro" com esta tua incursão ao mundo do amanhã...
FICÇÃO??????????
_______________________pois parece.me bem real. e não falo da pujança da escrita....:=)
que inveja ser capaz de adivinhar assim o que irá acontecer...ACONTECE.
beijo. rendido.
Os meus parabéns, amigo Augusto. São estas ficções que nos fazem ver o ridículo de certas situações actuais. Mas os nossos políticos e governantes nem se apercebem disso porque lhes falta "imaginação".
Augusto,
Adorei ler este teu texto. Está simplesmente espectacular. Fazes aqui um pouco de futurologia, mas infelizmente pelo andar das coisas é para isso mesmo que caminhamos. Espero que ainda se vá a tempo de inverter um pouco a situação, para que a tua razão não seja total.
Já alguém dizia, e eu partilho dessa máxima, que o problema dos homens são as mulheres, e que os problemas das mulheres também...!!!
Boa semana.
Abraço.
bom dia....hoje é mesmo só para reiterar. ternuras. pois. no feminino....:)
abraço. extensível.
obrigado.muito. por tudo...volto uns tempos...mais tarde. e se puder mando beijos... fique bem e tome conta da "rapariga" a quem tb deixo um beijo. grande.
... pena que por essa altura já esteja de gatas...
Mas que gostava de viver a experiência de uma sociedade governada no feminino, gostava.
Mas fica aqui uma dúvida (se assim lhe posso chamar... ): apesar da mulher não ter ainda chegado aos lugares de decisão absoluta, não é mais ou menos consensual que por detrás de um grande?! homem está sempre uma mulher?!
O que me leva ao passo seguinte -tendo em conta a problemática social actual da natalidade e esperança de vida, esta tua ficção, não será real muito antes das tuas previsões?
Abraço.
Meu caro Augusto
Talvez não seja preciso esperar até 2020/35 para se verificar isto que dizes:
"A crise não pára de se agudizar com o contínuo aumento da população feminina em relação à masculina, que já tende a ultrapassar a proporção de um homem para cada três mulheres."
É que, neste momento, não são só as mulheres a sentir a "crise". São também os homens ...
Abraço
... sorri ao ler o teu texto, porque ao ano que se reporta, se calhar quem irá andar de barriguinha ao léu e o corpo cheio de plástica para se impôr no mercado, será mesmo o sexo masculino...porque as mulheres, cada vez mais agem por inteligência do que pela apresentação de um decote generoso, ou umas calças transparentes. Penso que não faltará muito (e, a ver-se por aí alguns exemplos) que o sexo oposto irá ter muita dificuldade na competitividade da mulher…porque afinal, o Mundo tem sido gerido pelo homem e, o que tem acontecido?
Olha, acredito sinceramente que a mulher vence melhor o homem pela inteligência e sensibilidade, que pela estética… mas isto é a minha opinião, claro…
Um abraço e bom fim de semana ;)
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