terça-feira, setembro 27, 2005

Ensaio sobre o amor

O uso e a interpretação abusiva da palavra amor, a que assistimos, tende a banalizar o seu significado, reduzindo-o a uma palavra que pela sua universalidade de aplicação, está perdendo o seu verdadeiro sentido.
Amor é um forte afecto com o objecto amado que estabelece uma vinculação afectiva, manifestando-se desde a forma mais espiritual, à mais material, passando pela sensualidade.
Ao admitirmos esta definição, estamos também a sujeitá-lo à nossa arbitrariedade subjectiva, impregnando-lhe uma forte carga egoísta, da qual pode derivar um afecto de efeito completamente pernicioso, como a ambição e a cobiça.
Contrariamente ao que muita gente pensa, a essência do amor não deriva do instinto sexual, caso contrário não teríamos o amor maternal e filial e até o amor-próprio.
Na psicanálise não naturista distingue-se entre impulso sexual e amor espiritual, sendo impossível o amor sexual propriamente dito sem uma participação de amor espiritual, ou seja, sem conteúdos ou vivências de valor. Este amor espiritual é efectivo e simultaneamente um acto de vontade, está dirigido para algo de bom. “O que é digno de ser amado”. É a componente platónica indispensável, livre do apetite sexual, para fundamentar o amor.
Em contraste, a cega paixão sensual e a volúpia sexual, vazias desse afecto, não são amor, não são mais do que puros actos de auto satisfação, à margem dos afectos. Chamar amor a isto, é a distorção do próprio amor.
Nestas circunstâncias, rotular um simples acto sexual, como “fazer amor”, é tentar dar a esse acto um significado que não tem, na esperança de uma possível entrega amorosa, que prestaria uma mais valia ao nosso ego. O amor não se faz, sente-se.
Na sua função social, aquilo que chamamos amor pelo próximo, não é mais do que a manifestação de um grau superior da simpatia, que fomenta o espírito de solidariedade e de fraternidade.

17 Comments:

Blogger xipsocial said...

BABA NAM KEVALAM, em português 'O amor é tudo'.

11:58 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Este tema dá azo a resmas e resmas de retórica, discussões e afins. Por muito que se fale, nunca se chegará a uma conclusão definitiva. Só tenho certeza de uma coisa: sem Amor, não somos nada. Seja lá o que ele fôr.

12:54 da tarde  
Blogger A. Narciso said...

Antes de mais nada os meus parabéns pela excelente abordagem a um tema tão subjectivo como o é o amor.

Li e reli o ensaio e sou absolutamente de acordo. Brinca-se muito com a palavra amor e confunde-se demasiado uma "simples" paixão/atracção fisica com o amor. Como dizes e muito bem "o amor não se faz, sente-se".
Abraço

2:08 da tarde  
Blogger AMAFAS said...

Ok, em parte concordo. Mas também é verdade que havia grande pudor em dizer amo-te. Hoje já não é bem assim. Mais vale banalizar do que extinguir (pelo menos para mim). Vamos em frente sem exageros.

2:51 da tarde  
Blogger Unknown said...

Ama-se muito muito, mas n/ se tem amor, as pessoas baralham as palavras, o desejo e a atração fisica chamam amor, o habito de estarem juntas chamam amor, acho que a palavra amor n/ é uma palavra certa é uma palavra que está vicíada, não corresponde aquilo que os poetas tentar fazer entender que era,
Beijokas

4:38 da tarde  
Blogger Maria Carvalho said...

Exactamente. Quando se amou alguém que a nossa vontade designou como 'digno de ser amado', onde a componente sexual estava num outro plano, dificilmente se encontrará um outro amor, a que chamemos amor...Beijos

10:22 da tarde  
Blogger trintapermanente said...

se formos ver o amor em termos de ego, todo ele , até a amizade tem como fim o nosso prazer. e não só a satisfação sexual. um amigo é fruto duma empatia, bem como da expectativa de que essa amizade nos irá proporcionar companheirismo, ajuda nos tempos difíceis, prazer no dar e receber...
infelizmente, nós seres humanos nascemos desprovidos de ego, mas ao longo da nossa vivência vamo-lo adquirindo, fruto da nossa imperfeição. a pureza da satisfação de um amor desprovido de expectativa de retorno, só é possível se conseguirmos voltar à nossa infancia, em termos de sabedoria interior. o verdadeiro amor é incondicional, e vive na compaixão.
" paixão sensual e a volúpia sexual, vazias desse afecto, não são amor, não são mais do que puros actos de auto satisfação, à margem dos afectos. Chamar amor a isto, é a distorção do próprio amor." quanto a esta afirmação, desculpa, mas não podia estar mais em desacordo. estás a reduzir o prazer sexual a uma mera satisfação carnal, uma necessidade fisiológica!? quando é muito mais do que isso, é sim a vivência do amor, paixão, desejo que sentimos pelo o outro, perfeitamente inserido no mundo dos afectos. afecto não é só amor

8:20 da manhã  
Blogger Biranta said...

Eureka! Há temas em que a nossa concordância de opiniões é total...
(Não ligue! Isto é mesmo uma provocação! hoje deu-me para ser má! Sabe como é... toda a alma tem uma face negra...)

12:48 da tarde  
Blogger Passaro Azul said...

Um tema que parece tão fácil de abordar e que afinal é tão dificil.
Muito bem abordado por ti.
Quase todos os aspectos foram tocados.
É que, amores há tantos mas amados, tão poucos!
Um abraço com admiração pela forma como escreves.

10:19 da tarde  
Blogger Unknown said...

Amigo Augusto... tenho que reverenciar-me a ti e dizer-te que concordo em absolutamente tudo o que escrevestes neste teu texto... em especial com o que dizes de "O amor não se faz, sente-se"... Felicito-te por tao belo texto, sobre tao belo sentimento, caríssimo amigo!
Deixo-te muitos beijos e sorrisos e as desculpas por haver-me demorado tanto em aparecer, o fato é que estive bem gripada nos últimos dias, mas cá já estou bem outra vez... :)

6:22 da tarde  
Blogger Peter said...

Uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente: "Ao pensar sobre a possibilidade do casamento, cada um deveria fazer a si mesmo a seguinte pergunta: "Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até à sua velhice?
Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar."

10:10 da tarde  
Blogger sem medo said...

Identifico-me com o conjunto de aspectos realçados, contudo penso que sendo, para mim, um sinalágma, muito dificilmente amaria alguém que não me correspondesse, pelo que poría de parte esse prismaque encontramos não raras vezes no amor platónico, a inacessibilidade; Por outro lado o amor será sempre uma amálgama de sensações e confusões pelo que muitas vezes e voltando à base da reciprocidade, creio que o acto sexual poderá ser incluído no rol dos gestos afectivos e no âmbito dos laços de intimidade;

É a minha humilde opinião;

Um bem-haja

12:55 da tarde  
Blogger Leonor said...

ola augusto.

pois não, ja viste. nao comi o cuzcuz de que gosto tanto e nem visitei a mesquita. foi uma excursão muito apressada muito virada para o negócio.

bom... quanto ao teu artigo. costumo fazer uma distinçao entre amor e paixão. camões nao a fazia, rssssssss

abraço da leonor

10:00 da tarde  
Blogger Leonor said...

augusto
venho aqui dizer que adorei o teu comentario. é verdade, por onde andei? rsssssssssssss

marrocos se calhar não foi, rsssssssssssss

abraço da leonor

1:20 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Peço desculpa pelo atraso do aviso, mas não vou poder participar no jantar que está a organizar juntamente com o Fernando. Espero que num próximo jantar já possa estar presente. Cumprimentos e que tudo corra bem.

3:54 da tarde  
Blogger BlueShell said...

Obrigada!
Deixo um beijo e vou agora para um comício. Sou candidata…estou em campanha. Desculpa a minha aus~encia. É só por isso.
Jinho, BShell

7:58 da tarde  
Blogger Mitsou said...

Também embirro com essa do "fazer amor". O amor já está feito, quando se sente. Belíssimo ensaio, Augusto.
Um beijinho de fugida desta tua amiga tão ausente.

12:11 da manhã  

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