O soldado Milhões
Hoje venho-vos apresentar, para quem não conhecer, um dos nossos maiores heróis dos tempos modernos, cuja fama e respeitabilidade, passaram além fronteiras. Refiro-me a Aníbal Augusto Milhais, mais conhecido pelo “Soldado Milhões”.
Natural de Valongo, concelho de Murça, em Trás dos Montes, filho de simples e honestos agricultores, assentou praça em Bragança sendo incorporado no regimento de infantaria 9, onde mostrou ser exímio especialista no manejo de metralhadoras.
A Primeira Grande Guerra Mundial, foi sem dúvida o conflito mais sangrento da memória humana, onde ocorreram as maiores carnificinas da história militar europeia. Guerra de transição entre os conceitos militares que presidiram às guerras anteriores, e os que viriam a ter lugar mais tarde, apesar de dispor já de uma grande evolução tecnológica, tacticamente mostrou ser um autêntico desastre, não passando de um impasse permanente em que para além da destruição mútua, a evolução para a vitória ou para a derrota praticamente não existia.
Portugal ainda não havia muito tempo, tinha sido vexado ao perder as terras do Mapa Cor de Rosa para os Ingleses em África. Com medo de vir a perder o que restava das suas colónias africanas, viu como única saída, a sua entrada na guerra ao lado dos Aliados, evitando assim ser vítima futura da partilha dos vencedores.
É este o motivo que nos levou a entrar na guerra, não sendo o nosso pedido de adesão inicialmente aceite pelos Ingleses, acabou por o ser, por influência dos Franceses que convenceram aqueles de que poderíamos ser utilizados como carne para canhão. Carne para canhão significava estar na primeira linha a sofrer os primeiros embates provenientes dos ataques alemães. Uma espécie de tropa de segunda para ser sacrificada.
A guerra primava por uma táctica estática, onde os soldados entrincheirados, aguardavam ordens para assaltar as trincheiras inimigas, não muito distantes, ou defender as suas dos ataques do inimigo. Estes ataques de trincheira a trincheira não obtinham resultados práticos, para além de um amontoado de corpos, na terra de ninguém entre as trincheiras, dos soldados mortos nas operações.
A vida na trincheira era do mais desconfortável que possa imaginar. A paredes meias com ratos, pulgas e outras espécies de parasitas, os soldados tinham de suportar Invernos muito frios, com chuvas copiosas que as transformavam em infernais lamaceiros. A comida além de escassa era de má qualidade, e os cuidados médicos quase inexistentes. A inacção temperada com a saudade, levava muitas vezes ao abaixamento do moral.
No dia 9 de Abril de 1918, por considerar a posição insustentável, o comando britânico ordenou a retirada da segunda divisão do contingente português, comandada pelo general Gomes da Costa. Naquela madrugada, ainda ensonados e trôpegos, mal haviam iniciado o cumprimento da ordem de retirada, deu-se a hecatombe.
Em poucas horas, milhares de soldados desmoralizados eram dizimados pela artilharia alemã, que entretanto tinha iniciado uma ofensiva sob o comando do general Ludendorff. Sob o fogo alemão, os homens caiam mortos na lama. Era a célebre Batalha de La Lys, em que no sector português composto por 7.500 homens mais de mil perderam a vida.
Após o fogo de barragem alemão, deu-se o assalto propriamente dito pelas tropas do Kaiser, em maior número, com o moral elevado, apostadas em conseguir uma vitória. Quando as coisas estavam a parecer impossíveis para a retirada das nossas tropas em face do ataque imparável alemão, eis que um homem, bem posicionado, munido de uma metralhadora pesa Lwis, sozinho no seu nincho, conseguia só por si próprio fazer frente à tropa de assalto alemã, dizimando-a, impedindo que esta progredisse no terreno, dando assim tempo ao nosso contingente concluir a retirada.
Após a retirada, continuou sozinho, segundo rezam os relatos, por mais cinco dias, vigiando qualquer ataque inimigo.
Só quando o seu comande chegou ao pé dele, é que largou a sua “menina”, como chamava à metralhadora, com que tinha disparado em todas as direcções, para dar cobertura à retirada dos companheiros que caiam como tordos. O comandante olhou para ele e disse “ Tens o nome de Milhais, mas vales por milhões”, nome porque ficaria conhecido, não só no contingente português mas nos estrangeiros especialmente no inglês.
A sua bravura foi reconhecida não só pelo exército português, como pelos aliados, recebendo as mais altas condecorações.
20 Comments:
Conhecia, Augusto. Mas gostei de ler a história pelas tuas palavras
Um abração
Não sabia.Uma merecida homenagem,...
Quase que se qualifica para os que eu gosto de chamar de "Jooes Garcia" deste mundo. Nao fora ficar famoso...
Muita cultura neste blog. Passarei por cá para aprender algumas coisas. Obrigado.
...Augusto venho-te desejar uma boa semana...mas não li o post...é muito grande...e eu hoje não estou com disposição para grandes leituras...mas hei-de voltar com mais calma...tá?
Aqui fica um beijinhO*.
Gostei muito de ler esta história! Está a ver, meu amigo Augusto, como tenho razão? Há, sempre, a pessoas certa para cada "tarefa". Isto acontece assim quando, por acaso, (porque a sociedade não quer optar por sistematizá-lo) se encontra a pessoa certa no lugar certo...
Foi uma boa surpresa, este texto, porque eu vinha para reler "Anaxágoras", para escrevinhar umas coisitas...
Gostei muito de ler esta história! Está a ver, meu amigo Augusto, como tenho razão? Há, sempre, a pessoas certa para cada "tarefa". Isto acontece assim quando, por acaso, (porque a sociedade não quer optar por sistematizá-lo) se encontra a pessoa certa no lugar certo...
Foi uma boa surpresa, este texto, porque eu vinha para reler "Anaxágoras", para escrevinhar umas coisitas...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Olá Yardbird
De vez em quando vale a pena lembrar que também temos heróis.
Um abraço. Augusto
Olá Polittikus
Homenagear os heróis faz parte integrante da Pátria.
Um abraço. Augusto
Olá Kwan
Obrigado pela visita
Um abraço. Augusto
Olá Estrela do Mar
Pois devias ter lido para ficares a saber que também há portugueses rijos.
Um abraço. Augusto
Olá Paopbocca
É sempre interessante conhecer os nossos heróis.
Um abraço. Augusto
Olá Biranta
Há sempre a pessoa certa para algo, quando a pessoa certa se encontra no lugar certo, mas o pior é que a pessoa certa nem sempre está no lugar certo.
Um abraço. Augusto
Olá Fernando
Quanto eu gostaria de acreditar que essa luta desse resultados.
Um abraço. Augusto
Olá Yardbird
De vez em quando vale a pena lembrar que também temos heróis.
Um abraço. Augusto
Olá Polittikus
Homenagear os heróis faz parte integrante da Pátria.
Um abraço. Augusto
Olá Kwan
Obrigado pela visita
Um abraço. Augusto
Olá Estrela do Mar
Pois devias ter lido para ficares a saber que também há portugueses rijos.
Um abraço. Augusto
Olá Paopbocca
É sempre interessante conhecer os nossos heróis.
Um abraço. Augusto
Olá Biranta
Há sempre a pessoa certa para algo, quando a pessoa certa se encontra no lugar certo, mas o pior é que a pessoa certa nem sempre está no lugar certo.
Um abraço. Augusto
Olá Fernando
Quanto eu gostaria de acreditar que essa luta desse resultados.
Um abraço. Augusto
Olá Stillforty
Até parece impossível não conheceres o soldado Milhões, o teu avô andou na guerra com ele.
Beijinho
o de minha ascendência portuguesa e, no tocante ao heroísmo, o Soldado Milhões é o mais lídimo representante do espírito camoniano dos Lusíadas.
Que sua memória seja imortal!
Álvaro Bragança - Rio de Janeiro - Brasil
Muito orgulho em ser uma neta Milhões, fico contente por conhecerem esta "história".
Muito bom este blog
Obrigada
Bela história do meu primo. Pena que poucos a conhecem. O pai do Milhões seria o meu tataravô paterno. Tenho orgulho disso. Mauro (médico) (Rio de Janeiro / Brasil).
Olá,
Gostei muito da sua história, no entanto de frisar que A Primeira Grande Guerra Mundial não foi o conflito mais sangrento da história da humanidade, mas sim a Segunda, e Portugal não entrou na guerra "só" para não perder as suas colónias tendo outros objectivos.
Bom trabalho
Cpts
Enviar um comentário
<< Home