sábado, março 05, 2005

ANAXÁGORAS

Quando hoje nos empenhamos na busca da explicação científica para as nossas origens e existência, é um injustiça esquecermos os antigos pensadores gregos, que há cerca de 2500 anos, se preocuparam em encontrar uma lógica para a existência das coisas.
De entre tantos, hoje destaco Anaxágoras, paradigma perfeito do pensamento antigo, que mais se aproximou da compreensão do universo.
O que proponho é uma viagem ao pensamento de Anaxágoras, revisitando as suas teorias e concepções a respeito da origem e fim das coisas.
Nascido em Clazómens, na Costa da Ásia Menor, 500 a.C., aos vinte anos foi estudar para Atenas. Influenciado pelas doutrinas da escola jónica e, especialmente, pela de Anaxímenes, procurava a causa de todas as coisas num ser supremo, mais exactamente, numa inteligência primeira, o Nous, que move todas as coisas.
Aos 40 anos de idade abriu em Atenas uma escola filosófica e teve como discípulos, entre outros, Péricles e Sócrates. Foi ele quem introduziu na Ática a filosofia e a ciência jónias.
No seu tratado Da Natureza expôs que o Sol era uma enorme bola de fogo e que a Lua era da mesma natureza da Terra. A Lua recebia a luz do Sol, o que permitia dar uma primeira explicação coerente dos eclipses.
Ele provou que a teria do Big Bang, pertença criação do universo, não é tão moderna como se pode pensar. A este respeito a sua filosofia dizia o seguinte:
«Todas as coisas estavam juntas, ilimitadas em número e pequenez; pois o pequeno era ilimitado. E enquanto todas elas estavam juntas, nenhuma delas podia ser reconhecida devido à sua pequenez. Pois o ar e o éter prevaleciam sobre todas as coisas, ambos ilimitados. Pois no conjunto de todas as coisas, estas são as maiores, tanto em quantidade como em grandeza».E continua.
«Antes, contudo, de se separarem, quando todas ainda estavam juntas, nenhuma cor se podia distinguir, nem uma única. Após terem sido estas coisas separadas, devemos reconhecer que todas as coisas juntas não são menos nem mais, e que todas as coisas são sempre iguais.»
Agora o que Anaxágoras dizia do tempo após separação das coisas que estavam juntas no período inicial do Universo:
«Estas coisas giram e são separadas pela força e pela velocidade. E a força produz a velocidade. A sua velocidade, contudo, não se compara à velocidade de nenhuma das coisas que existem agora entre os homens, pois é muito mais rápida. Também sobre toda a revolução tem o Espírito poder, foi ele quem deu o impulso a esta revolução. E esta revolução moveu-se em um pequeno começo; agora estende-se mais e estender-se-á ainda mais.»
O mais extraordinário em Anaxágoras, era além de declarar que no início todas as coisas estavam juntas, era saber que o Universo está em aceleração e expansão constantes.
Sustentava que só a experiência sensorial põe o ser humano em contacto com uma realidade cambiante, cuja constituição última ele pretende encontrar. O que significa homem encontrar-se limitado ao mundo dos sentidos.
Afirmava que só o Ser é e o Não-ser não é, porque ao Ser, enquanto totalidade, não se pode acrescentar nem tirar nada.
Anaxágoras considerava o nascimento e a morte como a união ou a separação dos elementos. Acreditava numa infinidade de elementos, a que dava o nome de sementes.
As sementes de Anaxágoras são o que nós chamaríamos hoje de átomos, o que perfila o atomismo de Leucipo e Demócrito, uma intuição para o conhecimento atómico das coisas.
Nada pode chegar a ser aquilo que não é ou deixar de ser o que é: «como poderia chegar a ser carne aquilo que não é carne ou pêlo aquilo que não é pêlo?»
Por toda aparte se encontram corpúsculos, elementos infinitamente pequenos, invisíveis à vista desarmada. O corpo humano, por exemplo, com os seus ossos, sua carne, seus músculos e sua pele, é elaborado a partir dos alimentos que absorve. Isso é possível porque todos os elementos do corpo se encontram, em quantidade reduzida, nos alimentos. «Tudo existe em tudo»
O que ele quer dizer é que o homem não pode ser separado do todo em que existe, por fazer parte integrante desse todo.
O papel que em Empédocles era desempenhado pelo amor e pelo ódio aparece atribuído por Anaxágoras a uma potência a que ele chama Nous (inteligência), a matéria mais subtil, causa o movimento sem se misturar com os elementos, e, deste modo, governa-os. O Nous, «o perfeito, o absolutamente puro», agita a massa elementar num movimento perpétuo e desordenado que “desassocia” as diferentes coisas.
Os filósofos gregos tinham como base do seu pensamento a desassociação a qualquer concepção com cunho religioso ou divino. A noção de Deus, como nós a entendemos, para eles não existia, mas sim a explicação racional e lógica dos factos.
É extraordinário como estes homens, sem qualquer espécie de instrumentos de experimentação e comprovação, usando somente o pensamento puro, conseguiram intuir as bases da ciência moderna.
Acusado de ateísmo, foi condenado à morte e teve de fugir para Lâmpsaco, onde morreu em 428 a.C.

5 Comments:

Blogger Politikus said...

Andam meninos a tirar Doutoramentos para descobrir o que alguns já sabiam há 2500 anos. PS- A busca continua, sempre...

4:52 da tarde  
Blogger oasis dossonhos said...

Olá Augusto. Agradeço as tuas palavras ali para as bandas das "Águas do Sul". Tive pena de não vos conhecer, teria sido uma delícia. Fica para o próximo livro. Obrigado também pela presença amiga sempre.Até breve.
Abraço
Luís

7:55 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

os gregos realmente eram qualquer de extraordinário. sempre me fascinaram.

3:45 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

3:45 da tarde  
Blogger augustoM said...

Olá Carla
A busca não será tanto do "porquê existencial", mas mais do porquê da criação.
Um abraço. Augusto

Olá Polittikus
Há 2.500 anos e mais nasceu a coisa mais importante do homem: pensar.
Um abraço. Augusto

Olá Luís
Tive mesmo muita pena de não ter ido. Talvez um dia destes nos encontremos para tomar um copo.
Um abraço. Augusto

Olá Susana
Sem dúvida, foram os primeiros a libertar a ciência do foro religioso.
Um abraço. Augusto

Olá Ana Maria
Não conhecias Anaxágoras? Então vou apresentar-te mais uns quantos gregos com muito interesse.
Um beijo. Augusto

Olá Trintapermanente
Olha lê o livro que te ofereci, e que tanto trabalho me deu, e logo saberás como.
Um beijinho do pai

10:35 da tarde  

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