sábado, fevereiro 17, 2007

O Tempo e a memória


A problemática do Tempo, essa abstracção, tão sobejamente investigada e debatida, continua, apesar de tudo, a ser uma inquietude para mim, talvez por o Tempo que me resta não ser igual ao que já consumi.

Abstraí-me do que diz a ciência e suas leis e procurei uma explicação, mesmo que não seja definitiva, pelo menos abra uma janela para a sua compreensão.

Recorrendo à Lógica, rabisquei algumas premissas que pudessem levar a uma conclusão, no mínimo, verosímil.

E assim sendo...

Sempre que analisamos um facto que ocorreu, obviamente, situamo-lo num tempo que passou.

A presunção da ocorrência de um facto futuro, será uma probabilidade que só se realizará num tempo futuro.

Sendo o facto futuro, a probabilidade, uma projecção de um facto conhecido, o passado, sem a utilização da memória, o facto futuro não pode ser presumido.

Como o Tempo não existe sem o facto, se este não fosse preservado pela memória, também o Tempo não o seria, era como o tempo nunca tivesse existido.

Por outro lado, a inexistência do facto memorizado, impossibilitará a presunção do facto futuro e com ele o Tempo.

Se a memória é uma relação com o passado, o Tempo também o que terá de ser.

Assim, num presente sem memória, o tempo passado não existe e consequentemente a inexistência do tempo futuro.

Um indivíduo que subitamente passasse a padecer de amnésia, nesse momento o Tempo não existe para ele, só voltaria a ter a noção à medida que fosse construindo uma nova memória.

Assim, se estiverem de acordo, talvez possamos concluir que o Tempo não passará de uma criação da memória, que sem ela nunca existiria, o que nos leva a concluir que para haver Tempo é imperioso haver memória, e que sem esta o Tempo esfuma-se.

Este texto é dedicado à Isabel Mendes Ferreira, a dona das palavras sentidas do Piano.

22 Comments:

Anonymous Anónimo said...

"Sempre que analisamos um facto que ocorreu, obviamente, situamo-lo num tempo que passou". Eu penso que é exactamente o contrário. O facto analisado é sintoma de permanência do facto. Logo, o tempo em que ele ocorreu, não passa. Veja por exemplo o "25 de Abril". Quantas vezes analisado? E existe independente da memória. Eu não era nascida. E estudei o facto. Esse tempo nunca passou... Desculpe o comentário. Boa tarde.

2:44 da tarde  
Blogger isabel mendes ferreira said...

todo um tempo não bastaria para dizer da minha surpresa.....

não mereço Augusto...mas fico "derretida"....



e nenhum outro tempo apagará a memória do que tenho recebido....aqui....e lá.


abraço. de saudade.


e


obrigada.


mesmo.

6:41 da tarde  
Blogger Fátima Santos said...

pronto apague! tinha lido mal! lá tens escrito :"Abstraí-me do que diz a ciência e suas leis e procurei uma explicação" Mesmo assim...o tempo existe por si e não por cada um! o tempo não existe (ou é!) porque o homem (um homem) o apreende (ou conta! sim porque a perda de memória é a perda da capacidade de contar o tempo) enfim...

10:36 da tarde  
Blogger Å®t Øf £övë said...

Augusto,
Nós enquanto seres humanos somos muito estranhos. Há muito que tento chegar a uma conclusão sobre a força mais poderosa que podemos experimentar.
Por ser o mais antigo, e ser o mais respeitável, o Tempo lidera esta tabela.
O Tempo cura tudo, segundo dizem. O Tempo, apazigua tudo, e cola os cacos. O Tempo é o braço direito da Natureza e do Pai de tudo, acirra-nos o ódio, mas também nos purifica a alma.
E o Amor. Ah sim, o Amor. Apesar de ser mais jovem que o Tempo, apesar de ser mentiroso, o Amor ainda é a razão pela qual o Tempo existe. Para o provar, para o desmentir, para o fazer morrer e ressuscitar. O Tempo e o Amor têm uma relação que nunca será bem percebida, uma ligação cúmplice que aponta o caminho e o desnorteia a seguir. Todos nós, pequenos seres, similares na nossa insignificância, apenas podemos esperar ser bafejados por um e pelo outro... pelo Amor e pelo Tempo.
Abraço.

1:59 da manhã  
Blogger Ulisses Martins said...

É uma boa argumentação a sua Augustom, mas o tempo não é uma simples abstracção. O tempo existe, independentemente da memória.
Postular que o tempo existe porque simplesmente temos consciência dele, é uma das premissas do Principio Antrópico forte e basta pensar que mesmo sem consciência o tempo continua a existir e no universo nascem, evoluem e morrem entidades.
O tempo não só faz parte do nosso universo como é intrínseco a ele.

Vemos o universo da maneira como ele é porque, se fosse diferente, não estaríamos aqui para vê-lo".
(Uma Breve História do Tempo, Stephen W Hawking).
1 Abraço

2:20 da tarde  
Blogger AJB - martelo said...

Este comentário foi removido pelo autor.

7:14 da tarde  
Blogger AJB - martelo said...

os dois conceitos conjugam-se intimamente, mas João de Barros tinha razão quando disse:
" O tempo passa sem regresso..."
um abç

7:16 da tarde  
Blogger Unknown said...

Boa noite e um bjinho.

10:14 da tarde  
Blogger H. Sousa said...

Caro Augusto, apraz-me realçar este trecho:
«Sendo o facto futuro, a probabilidade, uma projecção de um facto conhecido, o passado, sem a utilização da memória, o facto futuro não pode ser presumido.»,
onde dizes de forma clara aquilo que sentes.
Bem, sobre esse assunto, escrevi algumas coisas, e esse tempo psicológico a que te referes é uma condição básica dos outros tempos. Mas o Homem é a medida de todas as coisas, e para um homem sem memória não há qualquer tempo.
Abraços

6:49 da tarde  
Blogger Choninha said...

Repito-me. A vírgula antes do ponto final. Sem lógica.

O tempo que passou existiu ou que sentimos dele/nele?. O que corre é o tempo? O que vem depois deste que corre é o quê? A repetição deste que corre ou do que passou? E se o que passou apenas foi sentido?

Beijo à Isabel e ao Augusto, um amigo novo. Se considerarmos o tempo, pois claro!

10:39 da tarde  
Blogger Simbelmune said...

Como referia George Orwell, quem controla o passado estabelece o presente e, assim, constrói o futuro.

Que seria das ciências sem a consciência observando as experiências que - como crianças entretidas a misturar água e areia para fazer bolos - lá vai dizendo o que "é" e o que "não é"... um matemático - Gödel - já tinha deixado bem claro que não vai a consciencia inserida num sistema definir o sistema no que se inclui.

Para além disto, fica-nos a "saudade"... essa memória de um futuro provável no que cheguemos a casa (home, em bom anglo-saxónico) depois deste périplo pelas periferias do ser...

Bem haja pelas tuas reflexões.

3:58 da manhã  
Blogger isabel mendes ferreira said...

...Pois...mas a mim bastam-me as tuas palavras e a tua presença...:))))



o resto é poalha de alguma


paisagem....:))))




beijo Augusto.

6:01 da tarde  
Blogger hfm said...

Augusto, hoje não percebi o teu comentário na Cabotagem, será que não podemos (devemos) exprimir as nossas opiniões? eu penso que o devemos. Nem todas as exposições são as melhores, nem todos os pintores são os "nossos" preferidos. Se não te entendi bem, desculpa.

7:06 da tarde  
Blogger Leonor said...

ola augusto
o que eu aprecio nos teus posts, principalmente estes, em que fazes considerçoes especificamente tuas é a sua complexidade: por outras palavras, nao brincas em serviço.
o tempo e o acaso e o destino sao questoes que me perseguirao ate ao fim da minha vida.
se dizem que o tempo é intempora,perdoa o pleonasmo, contudo existe o cronologico. sem tempo linear o homem sentir-se-ia perdido pela sua aptidao de planificar.
o maior problema é o tempo psicologico. esse... esse...

abraço da leonoreta

8:48 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Augusto, tens razão. E, além disso, não tenho nada que andar a fazer publicidade a dicionários comerciais. Vou retirar o post e, agarrado a ele, o teu comentário :-(

Entretanto, se puderes, manda-me os tais dicionários para jmmg@netcabo.pt. São sempre úteis. Obrigado.

Ao ler o teu texto, lembrei-me de uma citação de Séneca: "Nada nos pertence: de nosso só temos o tempo." Verdadeira sabedoria, a tua e a da Séneca.

Um abraço

9:52 da tarde  
Blogger Peter said...

Meu caro Augusto, obrigado pela tua visita.
Tal como a minha "sócia", a "bluegift", somos da opinião que:

- ninguém sabe o que é o TEMPO, apenas sabemos medi-lo.

Abraço

10:41 da tarde  
Blogger Kalinka said...

OLÁ AMIGO AUGUSTO

Fizeste-me reflectir na tua 1ª frase e está certíssima...e, digo-te francamente, não pensava nisso.

A problemática do Tempo, continua, apesar de tudo, a ser uma inquietude para mim, talvez por o Tempo que me resta não ser igual ao que já consumi.

ORA BEM...MAS QUE VERDADE tão certa
É isso, eu já consumi meio século e...não terei outro tanto de Vida, por isso, vou começar a aproveitar melhor todos os meus segundos e minutos de Vida.

Quero agradecer as tuas palavras gentis lá no kalinka...és um doce.
Beijokas.
Até sempre.

11:58 da tarde  
Blogger Lord of Erewhon said...

O tempo, a memória... nada seriam sem a Palavra...

Abraço.

2:42 da tarde  
Blogger isabel mendes ferreira said...

para neste tempo único...deixar um beijo.





sempre.


mesmo que o tempo seja escasso.

4:23 da tarde  
Blogger Diogo said...

O tempo é uma medida de movimento em função de outro movimento. Se não houver movimento, não há tempo.

6:28 da tarde  
Blogger Unknown said...

Adorei o teu texto... Está fabuloso, como sempre, mas uma parte em particular, está absolutamente fantástica:
"Assim, se estiverem de acordo, talvez possamos concluir que o Tempo não passará de uma criação da memória, que sem ela nunca existiria, o que nos leva a concluir que para haver Tempo é imperioso haver memória, e que sem esta o Tempo esfuma-se."
Lindo! Muito lindo!
Beijos, flores e muitos sorrisos sempre... e um lindo fim de semana! :)

7:57 da tarde  
Blogger saisminerais said...

Ola Augusto
Hoje sentei aqui e li a tua problematica do tempo... Sabes, axo que se alguerm existe que vai nas questões até ao pormenor! Tu vais. Gostei de como abordas, sabes a memoria é algo que me aflige, Tem dias em que me deixa ficar mal... Mas uma questão que me ocoreu. Quando será que se começou a contabilizar o tempo? não foi com certeza desde que existe memória! mas provávelmente quando a memória se deu conta que de já faz tempo... Eu sei complexo.
Sou assim refugio-me do passado para enfrentar o futuro e dou comigo no agora neste momento... E sem tempo para muito mais te deixo aqui um abraço e o meu obrigado pela tua asssidua visita,. E olha que lá por não gostares de fado, não deixas de ser um bom português, e continuo a axar-te uma pessoa bem interssante. Admiro-te

10:46 da tarde  

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