domingo, maio 25, 2008

Cidadania

Um regime democrático, só pode ser entendido como tal, quando assenta no contrato do povo com a Lei, o Estado de Direito.

Se considerarmos povo, os habitantes naturais do país, então povo será o conjunto de todos os cidadãos.

E o Estado de Direito define como cidadãos, todas as pessoas com personalidade jurídica, isto é, com direitos e deveres consagrados constitucionalmente, onde os direitos são uma consequência do cumprimento dos deveres.

Neste pressuposto, não há direito jurídico para rotular povo por oposição a burguesia, ou confronto de classes em vez de confronto de cidadãos.

Todas e quaisquer classes sociais diluem-se na cidadania.

Assim sendo, as classes que, num determinado momento sejam detentoras de qualquer tipo de poder, são diluídas na perspectiva do indivíduo com direitos e deveres (o cidadão).

Este é o maior desafio que os regimes, ditos democráticos, têm de enfrentar.

domingo, maio 18, 2008

Liberdade

Convêm concluir que:

Liberdade não é um bem individual nem absoluto de utilização indiscriminada.

Liberdade é acima de tudo uma interacção entre os homens que se pauta pelo respeito mútuo, respeito esse, que é assegurado pela ordem.

Liberdade sem ordem não passaria de um mero exercício anárquico de consequências graves para os valores civilizacionais.

Liberdade evocada como um direito, em prejuízo dos outros com quem interage, seria só por si, uma atitude que prejudicaria a liberdade.

Liberdade não é fazer o que se quer, mas fazer quilo que a razão do respeito pelos outros permite.

Liberdade é um bem que só lhe reconhecemos o valor quando o perdemos, e a perda é o resultado da falta de respeito.

domingo, maio 11, 2008

O Tempo e a Verdade

Verdade é um saber que, devido à convicção, achamos irrefutável. Todos a procuram, acabando por conceber a sua ou adoptar como sua a verdade de outrem.

O desejo de conhecer a Verdade tornou-se no principal fundamento da humanidade à medida que toma consciência de si própria, isto é, se vai individualizando da Natureza.

A humanidade, enquanto parte integrante da Natureza, sem consciência do todo harmonioso e interactivo de que fazia parte, o Tempo não existia, não havia verdades a saber, a inconsciência da sua existência, diluía-se no Todo Natural.

Com aquilo a que chamamos evolução, a humanidade atingiu o seu primeiro e maior estágio evolutivo ao reconhecer a sua própria existência. Deixar de fazer parte inconsciente do Todo, para se individualizar dele e, consciente de si própria, tornar-se-lhe exterior.

Assim, a evolução é a manifestação de um egoísmo em relação à Natureza, que leva a não se considerar parte integrante, e como tal, superior.

A separação do homem da Natureza, tem como consequência primeira a criação do Tempo. Passou do intemporal para o temporal.

Na Natureza a noção de Tempo não existe, a “existência” é intemporal, sem princípio nem fim, somente as mutações constantes são a sua própria essência. Na Natureza “nada se perde, nada se ganha, tudo se transforma”, nenhum fim ou princípio está presente, só a mutação.

Com a humanidade, apesar da sua pertença individualização em relação à Natureza, acontece o mesmo, a essência que a rege, o ADN, não desaparece, prossegue a sua existência passando de hospedeiro para hospedeiro.

A Natureza é um Todo incriado, como tal nada pode ser acrescentado nem nada lhe pode ser retirado. Ela interage com ela própria.

A criação do Tempo acontece quando a humanidade ao reconhecer a sua existência, adquire a noção do nascimento, da vida e da morte, as primeiras etapas da cronometragem do tempo. Estas são as suas primeiras verdades.

Verdades temporais, que nada têm a haver com a Verdade intemporal, inatingível pela temporalidade.

Uma existência individualizada da Natureza, sem Tempo, é impossível, pois ele é a sua definição. Imaginar uma existência sem Tempo, era imaginar conhecer a Natureza e a Natureza só ela se conhece a si própria.

Acantonada no sensitivo, o mesmo que dizer no temporal, a humanidade nunca poderá ter consciência do todo em que está inserida, a sua individualização origina a criação.


O cognoscível fundamenta-se num criador, a “verdade”, e para atingir essa verdade, cria a temporalidade sujeitando a ela toda a “existência”.

Temporalidade é condicionar tudo a um princípio e um fim, estabelecer uma “verdade”, como se o incognoscível pudesse passar a ser cognoscível, ou seja, a Natureza compreender-se a ela própria.

Existir na existência, querer ter consciência dentro da inconsciência, é o “pecado original” da Natureza, crer ser a criadora de si própria, porque ao criarmos a criação, implicitamente somos o próprio criador. Nós seríamos a Verdade em si mesma.

Esta veleidade da humanidade paga-se caro, ficarmos prisioneiros do Tempo, regidos pelo Tempo, condicionados pelo Tempo, criando tantas “verdades” quantas as existências, em que a multiplicidade é a própria negação da verdadeira Verdade.

Seremos um acaso ou erro da própria Natureza?
Penso que não, admito mais sermos a consciência que a Natureza tem de si, ou por outras palavras, a Natureza a questionar-se a ela própria.

A temporalidade com a sua noção de princípio e de fim, aspira eternizar-se procurando a compreensão do primeiro para medicar o segundo.

O regresso à intemporalidade só será possível com o desaparecimento do temporal e, tal só pode acontecer, se a Natureza retroceder, se aquilo a que chamamos evolução nunca tivesse acontecido.